Santo Agostinho – Paris, 1863.
19.
Será a vossa Terra um lugar de alegria, um paraíso de delícias? A voz do
profeta não ressoa mais aos vossos ouvidos? Não vos avisou que haveria pranto e
ranger de dentes para aqueles que nascessem neste vale de dores? Vós que
viestes viver aqui, esperai lágrimas sofridas e amarguras, e, quanto mais
vossas dores forem agudas e profundas, olhai o Céu e bendizei ao Senhor por ter
querido vos experimentar!... Homens! Será que apenas reconhecereis o poder de
vosso Mestre quando tiver curado as chagas de vosso corpo e coroado vossos dias
de bem-aventurança e alegria? Será que apenas reconhecereis seu amor quando
tiver enfeitado o vosso corpo com todas as glórias e lhe tiver devolvido o
brilho e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado como exemplo; chegado ao
último degrau do desprezo e da miséria, estendido no monte de lixo, disse a
Deus: “Senhor! Conheci todas as alegrias da riqueza e me reduzistes à miséria
mais profunda; obrigado, obrigado, meu Deus, por quererdes experimentar bem
este vosso servidor!” Até quando vossos olhares se fixarão nos horizontes cujo
limite é a morte? Quando vossa alma irá querer enfim se lançar além dos limites
do túmulo? Mas, mesmo se devêsseis chorar e sofrer toda uma vida, o que
representaria isso comparado à eterna glória reservada àquele que tiver
suportado a prova com fé, amor e resignação? Compreendei agora que as vossas
desventuras são as consequências dos vossos males no passado e elas terão
consolação no futuro que Deus vos prepara. Vós que mais sofreis, considerai-vos
os bem-aventurados da Terra.
No estado de desencarnados, quando
estáveis no Espaço, escolhestes vossa prova, pois acreditastes ser
suficientemente fortes para suportá-la; por que lamentar agora? Vós que
pedistes a fortuna e a glória, era para enfrentar a luta da tentação e
vencê-la. Vós que pedistes para lutar de corpo e alma contra o mal
moral e físico, sabíeis que quanto mais difícil fosse a prova, mais a vitória
seria gloriosa e que, se saísseis triunfantes, mesmo que o vosso corpo fosse
jogado num monte de lixo, quando de sua morte, deixaria escapar uma alma brilhante,
alva, purificada pela expiação e pelo sofrimento.
Que remédio receitar aos que são atacados por
obsessões cruéis e males dolorosos? Um só é infalível: a fé, o apelo ao Céu.
Se, no extremo dos vossos mais cruéis sofrimentos, vossa voz canta ao Senhor, o
anjo à vossa cabeceira, com sua mão, vos mostrará o sinal da salvação e o lugar
que vós devereis ocupar um dia. A fé é o remédio certo para o sofrimento; ela
sempre mostra os horizontes do infinito diante dos quais se apagam os poucos
dias sombrios do presente. Não pergunteis qual remédio é preciso empregar para
curar tal úlcera ou tal chaga, tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que
aquele que crê é forte pela certeza da fé e que aquele que duvida um segundo de
sua eficiência é punido na hora, pois experimenta no mesmo instante as
angústias dolorosas da aflição.
O Senhor marcou com seu selo todos aqueles que creem
n’Ele. Cristo vos disse que com a fé removem-se montanhas. Eu vos digo que
aquele que sofre e que tem a fé como base será colocado sob sua proteção e não
sofrerá mais. Os momentos de maior dor serão para ele as primeiras notas da
alegria da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal modo do seu corpo que,
enquanto este estiver morrendo, ela planará nas regiões celestes, cantando com
os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e os que choram! Que suas
almas se alegrem, pois serão abençoadas por Deus.
DENTRO DA LUTA
“Não peço para que os tires do mundo, mas que os livres do mal.”
Jesus. (João, 17:15.)
Não peças o afastamento de tua dor.
Roga forças para suportá-la, com serenidade e
heroísmo, a fim de que lhe não percas as vantagens do contato.
Não solicites o desaparecimento das pedras de
teu caminho.
Insiste na recepção de pensamentos que te
ajudem a aproveitá-las.
Não exijas a expulsão do adversário.
Pede recursos para a elevação de ti mesmo, a
fim de que lhe transformes os sentimentos.
Não supliques a extinção das dificuldades.
Procura meios de superá-las, assimilando-lhes as lições.
Nada existe sem razão de ser.
A Sabedoria do Senhor não deixa margem à
inutilidade.
O sofrimento tem a sua função preciosa nos
planos da alma, tanto quanto a tempestade tem o seu lugar importante na
economia da natureza física.
A árvore, desde o nascimento, cresce e
produz, vencendo resistências.
O corpo da criatura se desenvolve entre
perigos de variada espécie.
Aceitemos o nosso dia de serviço, onde e como
determine a Vontade Sábia do Senhor.
Apresentando os discípulos ao Pai Celestial,
disse o Mestre: – "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do
mal.”
A Terra tem a sua missão e a sua grandeza;
libertemo-nos do mal que opera em nós próprios e receber-lhe-emos o amparo sublime,
convertendo-nos junto dela em agentes vivos do Abençoado Reino de Deus.
Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.
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