domingo, 24 de setembro de 2017

O PONTO DE VISTA



5. A ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem enormes consequências sobre a moralização dos homens, uma vez que muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que uma passagem, uma curta permanência em um país ingrato. Os reveses e as amarguras da vida terrena não são mais do que incidentes que recebe com paciência, pois sabe que são de curta duração e devem ser seguidos por um estado mais feliz. A morte não tem mais nada de assustador; não é mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre para o exilado a entrada de uma morada de felicidade e de paz. Sabendo que está num lugar temporário e não definitivo, recebe as preocupações da vida com mais tolerância, resultando daí, para ele, uma calma de espírito que suaviza a amargura.
Sem a certeza da vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto quanto ao futuro, dedica tudo ao presente. Não enxergando bens mais preciosos do que os da Terra, faz como a criança que não vê outra coisa além de seus brinquedos. Eis porque tudo faz para conseguir os únicos bens que para ele tem valor. A perda do menor de seus bens é um doloroso desgosto. Um descontentamento, uma esperança frustrada, uma ambição não satisfeita, uma injustiça de que é vítima, a vaidade ou o orgulho feridos constituem os tormentos que fazem de sua vida uma eterna angústia, entregando-se assim, voluntariamente, a uma verdadeira tortura todos os instantes. Sob o ponto de vista da vida terrena, no centro do qual o homem está colocado, tudo toma, ao seu redor, enormes proporções. O mal que o atinja, assim como o bem que toque aos outros, tudo adquire aos seus olhos uma grande importância, tal como para aquele que está no interior de uma cidade, tudo parece grande: os homens que ocupam altos cargos e também os monumentos; mas, ao subir uma montanha, homens e coisas vão lhe parecer bem pequenos.
Assim ocorre com aquele que encara a vida terrena do ponto de vista da vida futura: a Humanidade, como as estrelas do firmamento, perde-se na imensidão. Percebe, então, que grandes e pequenos se confundem como formigas sobre um monte de terra; que proletários e soberanos são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas frágeis e transitórias se preocupem tanto para conseguir um lugar que os eleve tão pouco e que por tão pouco tempo conservarão. Assim é que a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa da fé na vida futura.

Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo II - Item 5.

POSSES DEFINITIVAS


“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” — Jesus. (JOÃO, capítulo 10, versículo 10.)


Se a paz da criatura não consiste na abundância do que possui na Terra, depende da abundância de valores definitivos de que a alma é possuída.
Em razão disso, o Divino Mestre veio até nós para que sejamos portadores de vida transbordante, repleta de luz, amor e eternidade.
Em favor de nós mesmos, jamais deveríamos esquecer os dons substanciais a serem amealhados em nosso próprio espírito.
No jogo de forças exteriores jamais encontraremos a iluminação necessária.
Maravilhosa é a primavera terrena, mas o inverno virá depois dela.
A mocidade do corpo é fase de embriagantes prazeres; no entanto, a velhice não tardará.
O vaso físico mais íntegro e harmonioso experimentará, um dia, a enfermidade ou a morte.
Toda a manifestação de existência na Terra é processo de transformação permanente.
É imprescindível construir o castelo interior, de onde possamos erguer sentimentos aos campos mais altos da vida.
Encheu-nos Jesus de sua presença sublime, não para que possuamos facilidades efêmeras, mas para sermos possuídos pelas riquezas imperecíveis; não para que nos cerquemos de favores externos e, sim, para concentrarmos em nós as aquisições definitivas.
Sejamos portadores da vida imortal.
Não nos visitou o Cristo, como doador de benefícios vulgares. Veio ligar-nos a lâmpada do coração à usina do Amor de Deus, convertendo-nos em luzes inextinguíveis.

Do Livro Caminho, Verdade e Vida – Chico Xavier – Pelo Espírito Emmanuel. 

domingo, 10 de setembro de 2017

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO - A Vida Futura


1. Tornou a entrar Pilatos no palácio, e chamou a Jesus, e disse: Tu és o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, certo que os meus ministros haveriam de pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui. Disse então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes. Eu sou rei. Eu não nasci nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. (João, 18:33, 36 e 37)

A VIDA FUTURA

2 Jesus diz claramente, por estas palavras, que a vida futura, à qual em muitas circunstâncias se referiu, é a meta a que se destina a Humanidade, devendo ser o objeto das principais preocupações do homem na Terra. Em todos os seus ensinamentos ressalta este grande princípio. Sem a vida futura, de fato, a maioria de seus ensinamentos morais não teriam nenhuma razão de ser. É por isso que aqueles que não acreditam na vida futura, imaginando que Jesus só falava da vida presente, não os entendem, ou os acham ingênuos.
Este dogma pode, portanto, ser considerado como o principal ponto do ensinamento do Cristo. Por isso foi colocado como um dos primeiros, no início desta obra, pois deve ser o objetivo de todos os homens; apenas ele pode justificar as anormalidades da vida terrena e ajustar-se de conformidade com a justiça de Deus.
3 Os judeus tinham ideias muito incertas em relação à vida futura. Acreditavam nos anjos como os seres privilegiados da Criação, mas não sabiam que, um dia, os homens pudessem tornar-se anjos e partilhar da felicidade deles. Pensavam que o cumprimento das leis de Deus era recompensado pelos bens da Terra, pela supremacia de sua nação; pelas vitórias sobre seus inimigos, enquanto as calamidades coletivas e as derrotas eram o castigo da sua desobediência àquelas leis. Moisés não poderia dizer mais a um povo pastor, inculto, que devia estar interessado, antes de mais nada, nas coisas deste mundo. Mais tarde, Jesus veio lhes revelar que há um outro mundo onde a Justiça de Deus segue seu curso, e é este mundo que promete aos que respeitam os mandamentos de Deus e onde os bons acharão sua recompensa. Esse mundo é o seu reino; é lá que Jesus está em toda a sua glória e para onde retornou ao deixar a Terra.
No entanto, Jesus, ajustando seu ensinamento ao estado dos homens de sua época, julgou conveniente não lhes dar uma luz completa, que os ofuscaria ao invés de esclarecê-los, pois não O teriam entendido. Limitou-se a colocar, de algum modo, a vida futura como um princípio, como uma lei da Natureza à qual ninguém pode escapar. Aquele que crê acredita de algum modo numa vida futura, mas a ideia que muitos fazem disso é pouco clara, incompleta, e por isso mesmo em muitos pontos falsa. Para uma grande maioria, é apenas uma crença sem certeza absoluta; daí as dúvidas e, até mesmo, a incredulidade.
O Espiritismo veio completar nesse ponto, como em muitos outros, o ensinamento do Cristo, quando os homens já estavam maduros para compreender a verdade. Com o Espiritismo, a vida futura não é mais um simples artigo de fé, uma incerteza: é uma realidade material demonstrada pelos fatos. São as testemunhas oculares que vêm descrevê-la em todas as suas fases e em todos os seus detalhes, de tal modo que não há mais possibilidade de dúvidas, e a mais simples das inteligências pode compreendê-la sob seu aspecto verdadeiro, tal como imaginamos um país do qual lemos apenas uma descrição detalhada. Assim é que essa descrição da vida futura é de tal maneira mostrada, são tão racionais as condições de existência feliz ou infeliz dos que lá se encontram, que reconhecemos não poder ser de outra forma e que, afinal, aí reside a verdadeira Justiça de Deus.
Na construção do futuro 
 
“Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo...”
Jesus. (João, 18:36.)
 “Todo cristão, pois, firmemente crê na vida futura, mas a ideia que muitos fazem dela é ainda vaga, incompleta e, por isso mesmo, falsa em diversos pontos. Para grande número de pessoas, não há, a tal respeito, mais do que uma crença, balda de certeza absoluta, donde as dúvidas e mesmo a incredulidade. O Espiritismo veio completar, nesse ponto, como em vários outros, o ensino do Cristo, fazendo-o quando os homens já se mostram maduros bastante para apreenderem a verdade.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 11, item 3.

Esperavas pelos irmãos do caminho a fim de te entregares à construção da Terra melhor e quedas-te, muita vez, em amargoso desalento porque tardem a vir.
Observa, porém, a estrada longa da evolução, para que o entendimento te pacifique. Milhares deles são corações de pensamento verde que te rogam apoio e outros muitos seguem trilha adiante, inibidos por névoas interiores que desconhecem.
Repara os que se renderam às lágrimas excessivas. Choraram tanto que turvaram os olhos, não mais divisando os companheiros infinitamente mais desditosos a lhes suplicarem auxilio nas vascas da aflição.
Contempla os que passam vaidosos, sem saberem utilizar, construtivamente, os favores da fortuna. Habituaram-se tanto às enganosas vantagens da moeda abundante que perderam o senso íntimo.
Enumera os que se embriagam do poder transitório. Abusaram tanto da autoridade que caíram na exaltação da paranoia sem se darem conta disso.
Relaciona os que asseveram amar, transformando a afetividade no egoísmo envolvente. Apaixonaram-se tanto por criaturas e coisas, cultivando exigências, que deliram positivamente sem perceber.
Anota os que avançam hipnotizados pelas dignidades que receberam do mundo. Fascinaram-se tanto pelas honras exteriores que olvidaram os semelhantes a quem lhes compete o dever de servir.
Nenhum deles se atrasou por maldade. Foram vítimas da ilusão que, frequentemente, se agiganta qual imenso nevoeiro na periferia da vida, mas regressarão depois à verdade triunfante para atenderem às tarefas que realizas.
Para todos eles que ainda não conseguiram chegar à grande renovação é compreensível o adiamento do trabalho a fazer. Entretanto, nada nos justificaria desânimo ou deserção na Obra do Cristo, porque, embora estejamos consideravelmente distantes da sublimação necessária, transportamos conosco o raciocínio lúcido e liberto no sustento da fé.

Do Livro da Esperança, de Emmanuel, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.