domingo, 28 de janeiro de 2018

Esquecimento do passado

11. É sem razão que se aponta o fato de o Espírito não se lembrar das suas vidas anteriores como um obstáculo para que ele possa tirar proveito das experiências que nelas viveu. Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso deve ser útil. De fato, essa lembrança provocaria inconvenientes muito graves; poderia, em alguns casos, nos humilhar muito, ou ainda excitar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso livre-arbítrio. Em outros casos ocasionaria inevitável perturbação às relações sociais.
Muitas vezes, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu e se encontra relacionado com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse outra vez, e sempre se sentiria humilhado diante daqueles que tivesse ofendido.
Para o nosso aperfeiçoamento, Deus nos dá precisamente o que necessitamos e nos é suficiente: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, e nos tira o que poderia prejudicar-nos.
O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu; nasce como se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal.
Suas más tendências atuais indicam-lhe o que deve corrigir em si mesmo e é nisso que deve concentrar toda a sua atenção, já que o que for completamente corrigido nenhum traço deixará. A voz da consciência o adverte do bem e do mal e para que tome boas resoluções, e lhe dá as forças para resistir às más tentações.
Além disso, esse esquecimento acontece apenas durante a vida corpórea. Ao voltar à vida espiritual, o Espírito readquire a lembrança do passado: trata-se apenas de uma interrupção temporária, tal como acontece na vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no dia seguinte, o que fizemos na véspera e nos dias anteriores.
Mas não é apenas depois da morte que o Espírito recobra a lembrança de seu passado. Pode-se dizer que ele nunca a perde, pois a experiência prova que quando encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de uma certa liberdade e tem consciência de seus atos anteriores. Ele sabe por que sofre, e da justiça desse sofrimento. Assim, ele pode adquirir novas forças nestes instantes do sono do corpo, da emancipação da alma, desde que saiba aproveitar esses momentos dos quais guardará uma leve lembrança, que se apagará durante o dia, para não lhe causar sofrimento e não prejudicar suas relações sociais.


O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Item 11.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES

6. Se há males dos quais o homem é a principal causa nesta vida, há outros que, pelo menos na aparência, lhe são completamente estranhos e parecem atingi-lo como que por fatalidade. Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos e dos que sustentam a família. Tais são também os acidentes que nenhuma precaução pode impedir; os reveses da vida que tornam inúteis todas as medidas de prudência; as calamidades naturais e as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Aqueles que nascem nessas condições seguramente não fizeram nada nesta vida para merecer uma sorte tão triste, sem solução, sem reparação e que não puderam evitar, estando impossibilitados de as mudarem por si mesmos, e que os expõe à caridade pública. Por que, então, seres tão desventurados e infelizes, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros tão favorecidos sob todos os aspectos?
O que dizer, enfim, dessas crianças que morrem ainda pequeninas e que apenas conheceram da vida o sofrimento? Estes são os problemas que nenhuma filosofia ainda pôde explicar ou resolver até agora, anormalidades que nenhuma religião pôde justificar e que parecem ser a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na suposição de que a alma e o corpo são criados ao mesmo tempo, e de ter sua sorte irrevogavelmente fixada após uma estada de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para suportar tantas misérias aqui na Terra e merecer no futuro ou uma recompensa, ou uma punição qualquer, se não fizeram nem o bem e nem o mal?
Entretanto, em virtude do princípio de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são o efeito que deve ter uma causa. E desde que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Portanto, como a causa vem sempre antes do efeito, se não está na vida atual, deve ser anterior a esta vida, ou seja, está numa existência anterior. É certo que Deus não pune o bem que se faz e nem o mal que não se faz; se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não o fizemos nesta vida, seguramente o fizemos em outra. É uma conclusão da qual é impossível fugir e que demonstra a lógica da justiça de Deus.
O homem nem sempre é punido, ou completamente punido em sua existência presente, mas nunca escapa às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentâneo; se não for punido no hoje, o será no amanhã, e, sendo assim, aquele que sofre está expiando os erros do seu passado. A infelicidade, que à primeira vista nos parece imerecida, tem, pois, sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer: “Perdoai-me, Senhor, porque errei”.
7. Os sofrimentos com que nos defrontamos na vida presente, devido às causas anteriores, são, na maioria das vezes, como também o são os das faltas atuais, a consequência natural de erros cometidos, ou seja: por uma rigorosa justiça distributiva, o homem suporta o que fez os outros suportarem. Se foi duro e desumano, poderá, por sua vez, ser tratado duramente e com desumanidade. Se foi orgulhoso, poderá nascer em uma condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se fez mau uso de sua fortuna, poderá ser privado do necessário. Se foi um mau filho, poderá sofrer com os seus próprios filhos, etc.
Assim, pela pluralidade das existências e da destinação da Terra como mundo expiatório, se explicam os absurdos que a divisão da felicidade e da infelicidade apresenta entre os bons e os maus neste mundo. Esse absurdo existe somente na aparência, pois é considerado apenas do ponto de vista da vida presente; mas, se nos elevarmos pelo pensamento, de modo a incluir uma série de existências, compreenderemos que cada um tem o que merece, sem prejuízo do que lhe está reservado no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca falha.
O homem não deve se esquecer nunca de que está num mundo inferior, ao qual está preso devido às suas imperfeições. A cada contrariedade ou sofrimento da vida, deve dizer de si para si mesmo que, se estivesse num mundo mais avançado, isso não aconteceria e que depende dele não retornar a este mundo, trabalhando por sua melhoria.
8. As tribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos endurecidos, isto é, teimosos no mal ou muito ignorantes, ainda incapazes de fazer uma escolha consciente, mas são livremente escolhidas e aceitas pelos Espíritos arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar fazer o bem, a exemplo daquele que, tendo feito mal sua tarefa, pede para recomeçá-la, para não perder o fruto do seu trabalho. Essas aflições são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que nos castigam, e provas que nos preparam para o futuro. Rendamos graças a Deus que, em sua bondade, dá ao homem a oportunidade da reparação e não o condena irremediavelmente pela primeira falta.
9. Entretanto, não se deve pensar que todos os sofrimentos suportados neste mundo sejam necessariamente a indicação de uma determinada falta. São, na maioria das vezes, provas escolhidas pelo Espírito para concluir sua purificação e apressar seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, porém a prova nem sempre é uma expiação. Contudo, provas e expiações são sempre sinais de uma relativa inferioridade, pois o que é perfeito não tem mais necessidade de ser provado. Um Espírito pode ter adquirido um certo grau de elevação, mas, querendo avançar ainda mais, solicita uma missão, uma tarefa a cumprir, da qual tanto mais será recompensado, se sair vitorioso, quanto mais difícil tiver sido a luta para vencê-la. Tais são essas pessoas de tendências naturalmente boas, de alma elevada, que têm nobres sentimentos, que parecem não ter trazido nada de mau de sua existência anterior e que suportam com uma resignação cristã as maiores dores, pedindo a Deus coragem para suportá-las sem lamentações. Ao contrário, podem-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e lamentos e fazem o homem se revoltar contra Deus.
Sem dúvida, o sofrimento sem lamentações pode ser uma expiação, mas é um sinal de que foi escolhido voluntariamente e não imposto. É uma prova de uma firme decisão, o que é um indício de progresso.
10. Os Espíritos só podem alcançar a perfeita felicidade quando são puros: qualquer impureza lhes impede a entrada nos mundos felizes. É como se fossem os passageiros de um navio atingido pela peste, aos quais a entrada numa cidade é interditada até que eles estejam descontaminados, purificados. Nas suas diversas existências corporais é que os Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provas da vida fazem avançar quando são bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam.
São os remédios que limpam a chaga e curam o doente; e quanto maior o mal, mais o remédio deve ser eficiente. Aquele, pois, que sofre muito deve dizer que tinha muito a expiar e se alegrar de ser curado logo. Depende dele, de sua resignação, tornar esse sofrimento proveitoso e não perder o seu fruto pelas lamentações. Caso contrário, terá de recomeçar.


O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Itens 6 a 10.

domingo, 14 de janeiro de 2018

CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES

4. As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se quisermos, têm duas origens bem diversas, que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.
Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitas são em consequências naturais, do caráter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caem por sua própria culpa!
Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau comportamento ou por não terem limitado os seus desejos!
Quantas uniões infelizes, porque resultaram dos cálculos do interesse ou da vaidade, nada tendo com isso o coração! Que de dissensões, de disputas funestas, poderiam ser evitadas com mais moderação e menos suscetibilidade! Quantas doenças e aleijões são o efeito da intemperança e dos excessos de toda ordem!
Quantos pais infelizes com os filhos, por não terem combatido as suas más tendências desde o princípio. Por fraqueza ou indiferença, deixaram que se desenvolvessem neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração. Mais tarde colhendo o que semearam, admiram-se e afligem-se com a sua falta de respeito e a sua ingratidão.
Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes e as decepções da vida, interroguem friamente a própria consciência. Que remontem passo a passo à fonte dos males que os afligem, e verão se, na maioria das vezes, não podem dizer: "Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa não estaria nesta situação".
A quem, portanto, devem todas essas aflições, senão a si mesmos? O homem é, assim, num grande número de casos, o autor de seus próprios infortúnios. Mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, e menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a falta de oportunidade, sua má estrela, enquanto, na verdade, sua má estrela é a sua própria incúria.
Os males dessa espécie constituem, seguramente, um número considerável das vicissitudes da vida. O homem os evitará, quando trabalhar para o seu adiantamento moral e intelectual.

5. A lei humana alcança certas faltas e as pune. O condenado pode então dizer que sofreu a consequência do que praticou. Mas a lei não alcança nem pode alcançar a todas as faltas. Ela castiga especialmente as que causam prejuízos à sociedade, e não as que prejudicam apenas os que as cometem. Mas Deus vê o progresso de todas as criaturas. Eis porque não deixa impune nenhum desvio do caminho reto. Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não tenha consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos consequentes são então uma advertência de que ele andou mal. Dão-lhe a experiência e o fazem sentir, a diferença entre o bem e o mal, bem como a necessidade de se melhorar, para evitar no futuro o que já foi para ele uma causa de mágoas. Sem isso, ele não teria nenhum motivo para se emendar, e confiante na impunidade, retardaria o seu adiantamento, e, portanto a sua felicidade futura.
Mas a experiência chega, algumas vezes, um pouco tarde; e quando a vida já foi desperdiçada e perturbada, gastas as forças, e o mal é irremediável, então o homem se surpreende a dizer: "Se no começo da vida eu soubesse o que hoje sei, quantas faltas teria evitado; se tivesse de recomeçar, eu me portaria de maneira inteiramente outra; mas já não há mais tempo!" Como o trabalhador preguiçoso que diz: "Perdi o meu dia", ele também diz: "Perdi a minha vida". Mas, assim como para o trabalhador o sol nasce no dia seguinte começa uma nova Jornada, em que pode recuperar o tempo perdido, para ele também brilhará o sol de uma vida nova, após a noite túmulo, e na qual poderá aproveitar a experiência do passado e em execução suas boas resoluções para o futuro.


O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Itens 4 e 5.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

JUSTIÇA DAS AFLIÇÕES - BEM AVENTURADOS OS AFLITOS

1. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V: 5, 6 e 10).
2. Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20,21).
Mas ai de vós, ricos, porque tendes no mundo a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis (Lucas, VI: 24, 25).
JUSTIÇA DAS AFLIÇÕES
3. As compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra só podem realizar-se na vida futura. Sem a certeza do porvir, essas máximas seriam um contrassenso, ou mais ainda, seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, compreende-se dificilmente a utilidade de sofrer para ser feliz. Diz-se que é para haver mais mérito. Mas então se pergunta por que uns sofrem mais do que outros; por que uns nascem na miséria e outros na opulência, sem nada terem feito para justificar essa posição; por que para uns nada dá certo, enquanto para outros tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos se compreende é ver os bens e os males tão desigualmente distribuídos entre o vício e a virtude; ver homens virtuosos sofrer ao lado de malvados que prosperam. A fé no futuro pode consolar e proporcionar paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.
Entretanto, desde que se admite a existência de Deus, não é possível concebê-lo sem suas perfeições infinitas. Ele deve ser todo-poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente justo e bom, não pode agir por capricho ou com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois, uma causa, e como Deus é justo, essa causa deve ser justa. Eis do que todos devem compenetrar-se. Deus encaminhou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus, e hoje, considerando-se suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a por completo através do Espiritismo, ou seja, pela voz dos Espíritos.

O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Itens 1 a 3.

Guarda-te em Deus

Lembra-te de Deus para que saibas agradecer os talentos da vida.
Se fatigado, pensa Nele, o Eterno Pai que jamais desfalece na Criação.
Se triste, eleva-Lhe os sentimentos, meditando na alegria solar com que toda manhã, Sua Infinita Bondade dissolve das trevas.
Se doente, centraliza-te no perfeito equilíbrio com que sua compaixão reajusta os quadros da Natureza, ainda mesmo quando a tempestade haja destruído todos os recursos que os milênios acumularam.
Se incompreendido, volta-te para Ele, o Eterno Doador de todas as bênçãos, quantas vezes escarnecido por nossas próprias fraquezas, sem que se Lhe desanime a paciência incomensurável, quanto aos arrastamentos de nossas imperfeições animalizantes.
Se humilhado, entrega-Lhe as dores da sensibilidade ferida ou do brio menosprezado, refletindo no celeste anonimato em que se Lhe esconde a inconcebível grandeza, para que nos creiamos autores do bem que a Ele pertence, em todas as circunstâncias.
Se sozinho, busca-Lhe a companhia sublime na pessoa daqueles que te seguem na retaguarda, cambaleantes de sofrimento, mais solitários que tu mesmo, na provação e na miséria que lhes vergastam as horas e lhes crucificam as esperanças.
Se aflito, confia-Lhe as ansiedades, compreendendo que Nele, o Imperecível Amor, todas as tormentas se apaziguam.
Seja qual for a dificuldade, recorda o Todo-misericordioso que não nos esquece.
E, abraçando o próprio dever como sendo expressão de Sua Divina Vontade para os teus passos de cada dia, encontrarás na oração a força verdadeira de tua fé, a erguer-te das obscuridades e problemas da Terra para a rota de luz que te aponta as sendas do céu.

Emmanuel