domingo, 18 de outubro de 2020

DA PRECE PELOS MORTOS E PELOS ESPÍRITOS SOFREDORES

18. Os Espíritos sofredores clamam por preces, e elas lhes são proveitosas, porque, ao ver que são lembrados, sentem-se mais reconfortados e menos infelizes. Além disso, a prece tem para eles uma ação mais direta: reanima sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo arrependimento, pela reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode aliviar e abreviar-lhes os sofrimentos.

19. Há pessoas que não admitem a prece pelos mortos porque conforme creem, há para a alma duas alternativas apenas: ser salva ou condenada às penalidades eternas, resultando, em ambos os casos, na inutilidade da prece. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos, por um instante, a existência dos sofrimentos eternos e imperdoáveis e que nossas preces sejam impotentes para pôr um fim a isso. Perguntamos se, nesta hipótese, é lógico, é caridoso, é cristão não orar pelos condenados? Essas preces, por mais impotentes que sejam para libertá-los, não são para eles um sinal de piedade que pode suavizar seus sofrimentos? Na Terra, quando um homem é condenado à prisão perpétua, mesmo quando não se tenha nenhuma esperança de obter para ele o perdão, é proibido a uma pessoa caridosa ir aliviar-lhe os sofrimentos? Quando alguém é atingido por um mal incurável, e só porque não há nenhuma esperança de cura, deve-se abandoná-lo sem nenhuma consolação? Lembrai-vos de que entre os condenados pode estar uma pessoa que vos foi querida, um amigo, talvez um pai, uma mãe ou um filho, e, só porque alguns pensam que ele não poderá ser perdoado, acaso lhe recusaríeis uma copo d’água para matar a sede? Um remédio para curar suas feridas? Não faríeis por ele o que faríeis por um prisioneiro? Não lhe daríeis uma prova de amor e de consolação? Negando-lhe tudo isso, não seríeis cristãos.

Uma crença que endurece o coração não pode estar unida à de um Deus que coloca em primeiro lugar os deveres de amor ao próximo.

Negar a eternidade dos sofrimentos não quer dizer que não existam penalidades temporárias, porque Deus, na sua justiça, não confunde o bem com o mal. Portanto, negar, neste caso, a eficiência da prece seria negar a eficiência da consolação, dos encorajamentos e dos bons conselhos; seria negar a força que se recebe da assistência moral daqueles que nos querem bem.

20. Outros se baseiam numa razão mais enganadora: a imutabilidade dos decretos divinos. Deus, dizem eles, não pode mudar suas decisões a pedido das criaturas, porque, nesse caso, nada seria estável no mundo. O homem, portanto, não tem nada que pedir a Deus senão somente submeter-se e adorá-Lo.

Há nesta ideia uma falsa compreensão da imutabilidade da lei divina, ou melhor, há ignorância da lei no que diz respeito à penalidade futura. Essa lei hoje nos está sendo revelada pelos Espíritos do Senhor, agora que o homem está maduro para compreender o que, na fé, está de conformidade ou contrário aos propósitos divinos.

Segundo o dogma da eternidade absoluta dos sofrimentos, não se levam em conta a favor do culpado nem seus remorsos, nem seu arrependimento. Todo desejo que tenha de melhorar-se será inútil: está condenado a permanecer no mal para sempre. Se é condenado por um tempo determinado, o sofrimento acabará quando o tempo se tiver cumprido. Mas quem garantirá que ele terá mudado para melhorar seus sentimentos? Quem poderá afirmar que, a exemplo de muitos condenados na Terra, ao ser liberto da prisão, não será ele tão mau quanto o era antes? No caso daquele que se arrependeu, seria manter na dor do castigo um homem que retornou ao bem, e, no outro, daquele que continuou mau, seria premiar um culpado. A Lei de Deus é mais previdente e sábia: sempre justa, igual para todos e misericordiosa, não fixa nenhuma duração ao sofrimento, qualquer que ele seja, e pode se resumir assim:

21. “O homem sempre sofre a consequência de suas faltas e não há uma única infração à Lei de Deus que não tenha a sua punição.”

– “A severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta.”

– “A duração do castigo para qualquer falta é indeterminada; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno ao bem; a punição dura tanto quanto a sua permanência no mal. Será perpétua, se a permanência no mal também o for, ou de curta duração, se o arrependimento vier logo.”

– “Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe dá a esperança. Mas o simples arrependimento do mal não é suficiente: é preciso a reparação da falta. É por isso que o culpado é submetido a novas provas, nas quais pode, sempre pela ação da sua livre vontade, fazer o bem, reparando o mal que cometeu.”

– “O homem é, assim, constantemente o árbitro de sua própria sorte; pode abreviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente; sua felicidade ou sua infelicidade dependem da vontade que tenha de fazer o bem.”

Esta é a lei, lei imutável em concordância com a bondade e a justiça de Deus.

Portanto, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo, e a Lei de Deus lhe mostra quais as condições para isso. Na maioria das vezes, o que lhe falta é a vontade, a força e a coragem.

Se, por nossas preces, nós lhe inspirarmos essa vontade, se o ampararmos e o encorajarmos; se, por nossos conselhos, conseguir as luzes de que necessita, ao invés de solicitar a Deus a abolição de sua lei, tornamo-nos os instrumentos de outra lei também sua, a de amor e de caridade, da qual nos permite participar para darmos, nós mesmos, uma prova de caridade.

ALGUMA COISA

“Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim

os que estão enfermos.” – Jesus. (Lucas, 5:31.) 

Quem sabe ler não se esqueça de amparar o que ainda não se alfabetizou.

Quem dispõe de palavra esclarecida ajude ao companheiro, ensinando-lhe a ciência da frase correta e expressiva.

Quem desfruta o equilíbrio orgânico não despreze a possibilidade de auxiliar o doente.

Quem conseguiu acender alguma luz de fé no próprio espírito suporte com paciência o infeliz que ainda não se abriu à mínima noção de responsabilidade perante o Senhor, auxiliando-o a desvencilhar-se das trevas.

Quem possua recursos para trabalhar não olvide o irmão menos ajustado ao serviço, conduzindo-o, sempre que possível, a atividade digna.

Quem estime a prática da caridade compadeça-se das almas endurecidas, beneficiando-as com as vibrações da prece.

Quem já esteja entesourando a humildade não se afaste do orgulhoso, conferindo-lhe, com o exemplo, os elementos indispensáveis ao reajuste.

Quem seja detentor da bondade não recuse assistência aos maus, de vez que a maldade resulta invariavelmente da revolta ou da ignorância.

Quem estiver em companhia da paz ajude aos desesperados.

Quem guarde alegria divida a graça do contentamento com os tristes.

Asseverou o Senhor que os sãos não precisam de médico, mas, sim, os enfermos.

Lembra-te dos que transitam no mundo entre dificuldades maiores que as tuas.

A vida não reclama o teu sacrifício integral em favor dos outros, mas, a benefício de ti mesmo, não desdenhes fazer alguma coisa na extensão da felicidade comum.

Livro Pão Nosso – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 11 de outubro de 2020

PRECES QUE SE ENTENDAM

16. Se não entendo o que significam as palavras, serei um bárbaro para aquele com quem falo, e aquele que me fala será para mim um bárbaro. Se oro em uma língua que não entendo, meu coração ora, mas minha inteligência não colhe fruto. Se louvais a Deus apenas com o coração, como é que um homem dentre aqueles que só entendem sua própria língua responderá amém, no fim de vossa ação de graças, uma vez que não entende o que dizeis? Não é que vossa ação não seja boa, mas os outros não são edificados com ela. (Paulo, 1a. Epístola aos Coríntios, 14:11, 14, 16 e 17)

17. O valor da prece falada está ligado à compreensão que as palavras tenham para quem as ouve, porque é impossível ligar um pensamento àquilo que não se compreende e não se pode sentir com o coração. Para a grande maioria, as preces numa língua que não se entenda são simplesmente uma série de palavras que não dizem nada ao Espírito. Para que a prece toque o coração, é preciso que cada palavra transmita uma idéia e, se não é compreendida, não pode transmitir idéia nenhuma. Pode ser repetida como uma simples fórmula que tem mais ou menos virtudes, conforme o número de vezes que é repetida. Muitos oram por dever; alguns, até mesmo por hábito, pelo que se julgam quites, quando disseram uma prece um certo número de vezes predeterminado e nesta ou naquela ordem. Deus vê no íntimo dos corações, lê o pensamento e percebe a sinceridade, e é rebaixá-Lo acreditar que Ele seja mais sensível à maneira de orar do que à essência da prece. (Veja nesta obra Cap. 28:2.)

ORAÇÃO

A oração é divino movimento do espelho de nossa alma no rumo da Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza.

Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do espírito às Potências Celestes, quer vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa mensagem da vibração.

Imaginemos a face de um espelho voltada para o Sol, desviando-lhe o fulgor na direção do abismo.

Esta, na essência, é a função da prece, buscando o Amor Divino para concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorância e do sofrimento, da miséria e do ódio, que ainda se estendem no mundo.

Graduada, desde o mais simples desejo, a exteriorizar-se dos mais ínfimos seres, até a exaltação divina dos anjos, nada se faz na Terra sem o impulso da aspiração que orienta o passo de todas as criaturas...

No corpo ciclópico do Planeta, a oração é o movimento que o mantém na tela cósmica; no oceano, é o fenômeno da maré, pelo qual as águas aspiram ao grande equilíbrio. Na planta, é a chamada fototaxia ou anseio com que o vegetal se levanta para a luz, incorporando-lhe os princípios; no animal, é o instinto de curiosidade e indagação que lhe alicerçam as primeiras conquistas da inteligência, tanto quanto, no homem comum, é a concentração natural, antes de qualquer edificação no caminho humano.

O professor planeando o ensinamento e o médico a ensimesmar-se no estudo para sanar determinada moléstia, o administrador programando a execução desse ou daquele serviço, e o engenheiro engolfado na confecção de uma planta para certa obra, estão usando os processos da oração, refletindo na própria mente os propósitos da educação e da ciência de curar, da legislação e do progresso, que fluem do plano invisível, à feição de imagens abstratas, antes de se revelarem substancialmente ao mundo.

Orar é identificar-se com a maior fonte de poder de todo o Universo, absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da renovação permanente que governam os fundamentos da vida.

A prece impulsiona as recônditas energias do coração, libertando-as com as imagens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, ascendendo às Esferas Superiores, tocam as inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais comumente recebemos as respostas do Plano Divino, porquanto o Pai Todo-Bondoso se manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons.

A vontade que ora, tange o coração que sente, produzindo reflexos iluminativos através dos quais o espírito recolhe em silêncio, sob a forma de inspiração e socorro íntimo, o influxo dos Mensageiros Divinos que lhe presidem o território evolutivo, a lhe renovarem a emoção e a ideia, com que se lhe aperfeiçoa a existência.

Dispomos na oração do mais alto sistema de intercâmbio entre a Terra e o Céu.

Pelo divino circuito da prece, a criatura pede o amparo do Criador e o Criador responde à criatura pelo princípio inelutável da reflexão espiritual, estendendo-lhe os Braços Eternos, a fim de que ela se erga dos vales da vida fragmentária para os cimos da Vida Vitoriosa.

Livro Pensamento e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 4 de outubro de 2020

AÇÃO DA PRECE - TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO.

9. A prece é uma invocação. Ao fazê-la o homem entra em comunicação pelo pensamento com o ser ao qual se dirige; pode ser para pedir, para agradecer ou para glorificar. Podemos orar por nós mesmos, por outras pessoas, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das vontades d'Ele, e as que são dirigidas aos bons Espíritos são igualmente levadas a Deus. Quando oramos para outros seres que não a Deus, é somente na qualidade de intermediários que eles as recebem, pois nada pode se realizar sem a vontade de Deus.

10. O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece ao explicar o modo de transmissão do pensamento, seja quando o ser chamado atenda ao nosso apelo, seja quando nosso pensamento chegue até ele. Para compreendermos como isso acontece, é preciso imaginar todos os seres encarnados e desencarnados mergulhados no fluido universal que ocupa todo o espaço, tal qual nos achamos envolvidos pela atmosfera aqui na Terra. Esse fluido recebe um impulso da nossa vontade e ele é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com uma diferença: as vibrações do ar são limitadas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Portanto, quando o pensamento é dirigido a um ser qualquer na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado ou de desencarnado para encarnado, uma corrente de fluidos se estabelece entre um e outro, transmitindo o pensamento entre eles como o ar transmite o som. A intensidade dessa corrente de fluidos será forte ou fraca de acordo com a força do pensamento e da vontade de quem ora. É desse modo que a prece é ouvida pelos Espíritos em qualquer lugar em que se encontrem; é desta maneira também que os Espíritos se comunicam entre si, nos transmitem suas inspirações, e que as relações se estabelecem a distância entre encarnados.

Esta explicação visa, em especial, esclarecer aos que não compreendem a utilidade da prece puramente espiritual, isto é, vinda da alma. Tem por finalidade separar a prece das coisas materiais e tornar compreensível o seu efeito, mostrando que pode ter uma ação direta e efetiva, mas sempre subordinada à vontade de Deus, juiz supremo de todas as coisas, a quem cabe tornar eficaz sua ação.

11. Pela prece, o homem atrai para si o auxílio dos bons Espíritos que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e lhe inspirar bons pensamentos. Ele adquire assim a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao bom caminho, se dele se afastou. Dessa forma, pode desviar de si os males que atrairia devido às suas próprias faltas.

Um homem, por exemplo, vê sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu e arrasta, até o fim de seus dias, uma vida de sofrimentos. Terá ele o direito de lamentar-se por não obter a cura? Não, já que poderia ter encontrado na prece a força para resistir às tentações.

12. Se dividirmos os males da vida em duas partes, teremos: uma, que o homem não pode evitar; outra, em que ele mesmo é o principal causador devido aos seus desleixos, excessos. Constataremos que, onde o homem é o agente, supera, em muito, a outra. Fica, portanto, bem evidente que o homem é o responsável pela maior parte das suas aflições, às quais se pouparia caso agisse com sabedoria e prudência.

É certo também que essas misérias são o resultado das nossas infrações às leis de Deus, que, se fossem repeitadas rigorosamente, nos fariam felizes. Se não ultrapassássemos o limite do necessário na satisfação de nossas necessidades, não teríamos as doenças que são consequência dos excessos, e nem as alternativas que elas ocasionam.

Se colocássemos limite à nossa ambição, não temeríamos a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não temeríamos cair; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho ferido; se praticássemos a lei da caridade, não seríamos nem maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos e evitaríamos as desavenças e as discussões; se não fizéssemos mal a ninguém, não temeríamos as vinganças.

Admitamos que o homem nada possa fazer em relação àqueles de quem não pode evitar males, e que toda prece seja inútil para se livrar deles. Já não seria o bastante estar livre de todos os males que decorrem de sua própria conduta? É neste caso que a ação da prece facilmente se compreende, já que ela tem por efeito atrair a inspiração salutar dos bons Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistir aos maus pensamentos, cuja realização pode nos ser funesta. Neste caso, não é o mal que eles afastam de nós, mas é a nós mesmos que eles afastam do mau pensamento que pode nos causar o mal; não impedem em nada os decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que infrinjamos essas leis, ao orientarem o nosso livre-arbítrio. Agem assim, de maneira oculta, sem que se deem a perceber, para não nos considerarmos submissos à sua vontade. O homem se encontra, então, na posição daquele que solicita bons conselhos e os coloca em prática, mas é sempre livre para segui-los ou não. Deus quer que assim seja, para que ele tenha a responsabilidade de seus atos e para deixar-lhe o mérito da escolha entre o bem e o mal. O homem sempre pode obter isso se orar com fervor, e é neste caso que se podem aplicar estas palavras: Pedi e obtereis.

A eficiência da prece, mesmo reduzida a esta proporção, não seria de um imenso resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação ao revelar as relações que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual. Mas não é a isso somente que se limitam os efeitos da prece. A prece é recomendada por todos os Espíritos; renunciar à prece é negar a bondade de Deus, é recusar para si mesmo a sua assistência, e, para os outros, o bem que lhes pode fazer.

13. Ao atender o pedido que Lhe é dirigido, Deus, frequentemente, tem em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. É por isso que a prece do homem de bem tem mais mérito aos olhos de Deus e maior eficiência. O homem vicioso e mau não consegue orar com o fervor e a confiança que só são alcançados pelo sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, daquele que apenas ora com os lábios, sairão de sua boca apenas palavras, mas não os sentimentos da caridade que dão à prece todo o seu poder. Compreende-se assim por que, instintivamente, pedimos preces em nosso favor àquelas pessoas cuja conduta nos parece ser agradável a Deus, pois serão melhor ouvidas.

14. A prece aciona uma espécie de ação magnética entre aquele que ora e aquele a quem ela se dirige. Poderia se pensar que o efeito da prece depende desse magnetismo, da força fluídica, daquele que ora, mas não é bem assim. Os Espíritos têm a condição de poder acionar essa ação magnética fluídica sobre os homens e em razão disso complementam, quando se faz necessário, a insuficiência daquele que ora, seja agindo diretamente “em seu próprio nome”, seja dando-lhes, naquele momento, uma força excepcional, desde que os julguem dignos dessa ajuda ou quando ela possa ser proveitosa.

O homem que não acredita ser suficientemente bom para praticar pela prece uma ação benéfica não deve, por isso, deixar de orar em favor de outro, por julgar-se indigno de ser escutado. A consciência de suas imperfeições é uma prova de humildade, sempre agradável a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e confiança em Deus são um primeiro passo de retorno ao bem e os bons Espíritos se sentem felizes por encorajá-lo. A prece que nunca alcança graças é a do orgulhoso, que só tem fé em seu poder, em seus méritos e que julga poder se sobrepor à vontade do Eterno.

15. O poder da prece está no pensamento, não depende nem de palavras, nem do lugar, nem do momento, nem da forma como é feita.

Pode-se orar em qualquer lugar e a qualquer hora, sozinho ou com mais pessoas. A influência do lugar ou do tempo de duração só se faz sentir nas condições que podem favorecer a meditação. A prece em conjunto tem uma ação mais poderosa quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e têm um mesmo objetivo, porque, então, é como se muitos clamassem a uma só voz. Mas o que valerá estarem reunidos num grande número para orar se cada um atuar isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, unidas por um ideal comum, orarão como verdadeiros irmãos, filhos de Deus, e sua prece terá mais poder do que a daquelas cem pessoas.

NO CULTO À PRECE

 

“E, tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam

reunidos e todos ficaram cheios de Espírito Santo.” (Atos, 4:31.)

 

Todos lançamos em torno de nós forças criativas ou destrutivas, agradáveis ou desagradáveis ao círculo pessoal em que nos movimentamos.

A árvore alcança-nos com a matéria sutil das próprias emanações.

A aranha respira no centro das próprias teias.

A abelha pode viajar intensivamente, mais não descansa a não ser nos compartimentos da própria colméia.

Assim também o homem vive no seio das criações mentais a que dá origem.

Nossos pensamentos são paredes em que nos enclausuramos ou asas com que progredimos na ascese.

Como pensas, viverás.

Nossa vida íntima – nosso lugar.

A fim de que não perturbemos as leis do Universo, a Natureza somente nos concede as bênçãos da vida de conformidade com as nossas concepções.

Recolhe-te e enxergarás o limite de tudo o que te cerca.

Expande-te e encontrarás o infinito de tudo o que existe.

Para que nos elevemos, com todos os elementos de nossa órbita, não conhecemos outro recurso além da oração, que pede luz, amor e verdade.

A prece, traduzindo aspiração ardente de subida espiritual, através do conhecimento e da virtude, é a força que ilumina o ideal e santifica o trabalho.

Narram os Atos que, havendo os apóstolos orado, tremeu o lugar em que se encontravam e ficaram cheios do Espírito Santo: iluminou-se-lhes o anseio de fraternidade, engrandeceram-se-lhes as mentes congregadas em propósitos superiores e a energia santificadora felicitou-lhes o espírito.

Não olvides, pois, que o culto à prece é marcha decisiva. A oração renovar-te-á para a obra do Senhor, dia a dia, sem que tu mesmo possas perceber.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.