segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O EGOÍSMO

Emmanuel - Paris, 1861

11. O egoísmo, esta chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, pois retarda seu progresso moral, e é ao Espiritismo que está reservada a tarefa de fazê-la elevar-se nas ordens dos mundos.

O egoísmo é, então, o objetivo para o qual todos os verdadeiros cristãos devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem. Digo coragem, pois é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer aos outros. Que cada um empregue todos os seus esforços em combatê-lo em si mesmo, já que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a causa de todas as misérias aqui na Terra. É a negação da caridade e, consequentemente, o maior obstáculo para a felicidade dos homens.

Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos, o do egoísmo. Enquanto o Justo vai percorrer as santas estações de seu martírio, Pilatos lava as mãos, dizendo: Que me importa? E disse aos judeus: Este homem é justo, por que quereis crucificá-Lo? E, no entanto, deixa-O ser conduzido ao suplício.

Se o Cristianismo ainda não cumpriu sua missão por completo, é por causa da luta que se trava entre a caridade e o egoísmo, que invadiu o coração humano como uma praga. É a vós, novos apóstolos da fé esclarecidos pelos Espíritos Superiores, que cabe a tarefa e o dever de destruir este mal para dar ao Cristianismo toda sua força e limpar o caminho dos obstáculos que impedem sua marcha. Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa elevar-se na escala dos mundos, pois está no tempo de a Humanidade envergar seu traje de luta. Mas, para isso, é preciso inicialmente expulsar o egoísmo dos vossos corações. 

Pascal - Sens, 1862

12. Se houvesse amor entre os homens, a caridade seria melhor praticada. Mas, para isso, seria preciso que vos esforçásseis no sentido de libertar os vossos corações dessa couraça, a fim de ficardes mais sensíveis ao sofrimento do próximo. A indiferença mata todos os bons sentimentos. O Cristo atendia a todos. Qualquer um que a Ele se dirigisse era sempre atendido: a mulher adúltera ou o criminoso eram igualmente socorridos. Ele nunca temia que sua própria reputação viesse a sofrer com isso. Quando, então, o tomareis como modelo de todas as vossas ações? Se a caridade reinasse na Terra, o mal não dominaria. Ele fugiria envergonhado e se esconderia, pois se encontraria deslocado em toda a parte. O mal então desapareceria, ficai bem convencidos disto.

Começai dando o exemplo vós mesmos. Sede caridosos para com todos. Esforçai-vos para não vos preocupar com aqueles que vos desprezam. Deixai a Deus o cuidado de toda justiça, pois a cada dia, em seu reino, Ele separa o joio do trigo.

O egoísmo é o sentimento oposto da caridade. Sem a caridade não haverá paz alguma na sociedade; e digo mais: não haverá segurança.

Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, haverá sempre uma corrida favorável ao espertalhão, uma luta de interesses em que são pisoteadas as mais santas afeições, em que nem sequer os laços sagrados da família são respeitados.

PROBLEMAS DO AMOR

 “... que vosso amor cresça cada vez mais no pleno conhecimento

e em todo o discernimento.” – Paulo (Filipenses, 1:9.)

O amor é a força divina do Universo.

É imprescindível, porém, muita vigilância para que não a desviemos na justa aplicação.

Quando um homem se devota, de maneira absoluta, aos seus cofres perecíveis, essa energia, no coração dele, denomina-se “avareza”; quando se atormenta, de modo exclusivo, pela defesa do que possui, julgando-se o centro da vida, no lugar em que se encontra, essa mesma força converte-se nele em “egoísmo”;

quando só vê motivos para louvar o que representa, o que sente e o que faz, com manifesto desrespeito pelos valores alheios, o sentimento que predomina em sua órbita chama-se “inveja”.

Paulo, escrevendo à amorosa comunidade filipense, formula indicação de elevado alcance.

Assegura que “o amor deve crescer, cada vez mais, no conhecimento e no discernimento, a fim de que o aprendiz possa aprovar as coisas que são excelentes”.

Instruamo-nos, pois, para conhecer.

Eduquemo-nos para discernir.

Cultura intelectual e aprimoramento moral são imperativos da vida, possibilitando-nos a manifestação do amor, no império da sublimação que nos aproxima de Deus.

Atendamos ao conselho apostólico e cresçamos em valores espirituais para a eternidade, porque, muitas vezes, o nosso amor é simplesmente querer e tão-somente com o “querer” é possível desfigurar, impensadamente, os mais belos quadros da vida.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

A LEI DO AMOR

Lázaro, Paris - 1862

8. O amor é o sentimento que acima de tudo resume, de forma completa, a doutrina de Jesus, e os sentimentos são os instintos que se elevam de acordo com o progresso realizado. Na sua origem, o homem possui instintos; mais avançado e corrompido, possui sensações; mais instruído e purificado, possui sentimentos. No ponto mais delicado e evoluído dos seus sentimentos, surge o amor, não o amor no sentido vulgar da palavra, mas sim o sol interior que condensa e reúne em seu foco ardente todos os anseios e todas as sublimes revelações. A lei de amor substitui o individualismo pela integração das criaturas e acaba com as misérias sociais. Feliz daquele que, no decorrer de sua vida, ama amplamente seus irmãos em sofrimento! Feliz daquele que ama, pois não conhece nem a angústia da alma, nem a do corpo. Seus pés são leves e vive como se estivesse transportado fora de si mesmo.

Quando Jesus pronunciou a divina palavra, amor, os povos se emocionaram, e os mártires, cheios de esperança, desceram ao circo.

O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Ficai atentos, pois esta palavra ergue a laje das sepulturas vazias: é a reencarnação, que, triunfando sobre a morte, revela ao homem deslumbrado seu patrimônio intelectual. Ela já não o conduz mais aos suplícios, mas sim à conquista de seu ser, elevado e transformado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito deve agora resgatar o homem da matéria.

Disse-lhes eu que, na sua origem, o homem possuía apenas instintos, e aquele em que os instintos dominam está mais próximo do ponto de partida do que da chegada. Para alcançar a meta a que o homem se destina, é preciso vencer os instintos aperfeiçoando os sentimentos, ou seja, melhorando-os, sufocando os germens latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos e trazem consigo o progresso, assim como a semente contém em si a árvore. Os seres menos avançados são aqueles que, libertando-se pouco a pouco de sua crisálida, estão escravizados aos seus instintos. O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda riqueza futura depende do trabalho atual e, mais do que os bens terrenos, ele vos levará à gloriosa elevação. É então que, entendendo a lei de amor que une todos os seres, encontrareis os suaves prazeres da alma, que são o início das alegrias celestes.

Fénelon - Bordeaux, 1861

9. O amor é de essência divina. Desde o maior até o menor, todos vós possuís, no fundo do coração, a chama desse fogo sagrado. É um fato que já haveis constatado muitas vezes: o pior dos homens, o mais perverso, o mais criminoso tem por um ser ou por um objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de tudo que tente diminuí-la, e muitas vezes atingindo proporções admiráveis.

Dissemos por um ser ou por um objeto qualquer, porque existem entre vós indivíduos que dedicam tesouros de amor, que lhes transbordam do coração, aos animais, às plantas e até mesmo a objetos materiais: são os solitários, críticos da sociedade, reclamando da Humanidade em geral. Eles resistem contra a tendência natural de sua alma, que procura ao seu redor afeição e simpatia; rebaixam a lei de amor ao estado de instinto. Mas, façam o que fizerem, não serão capazes de sufocar o gérmen vivo que Deus depositou em seus corações ao criá-los. Este gérmen se desenvolve e cresce com a moralidade e com a inteligência e, ainda que frequentemente comprimido pelo egoísmo, é a origem das santas e doces virtudes que fazem as afeições sinceras e duráveis, que vos ajudam a percorrer a difícil e dura estrada da existência humana.

Para algumas pessoas a prova da reencarnação é inaceitável e causa horror, por acharem que outros participarão de afetuosas simpatias das quais são ciumentas. Pobres irmãos! O vosso afeto é que vos torna egoístas. Vosso amor é limitado a um círculo íntimo de parentes ou de amigos e todos os demais são indiferentes para vós. Pois bem!

Para praticar a lei de amor tal qual Deus a estabelece, é preciso que passeis progressivamente a amar todos os vossos irmãos indistintamente.

A tarefa é longa e difícil, mas se cumprirá. Deus assim o quer, e a lei de amor é o primeiro e o mais importante ensinamento de vossa nova doutrina, pois é ela que deve um dia destruir o egoísmo sob qualquer forma que se apresente, porque, além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Disse Jesus: Amai ao vosso próximo como a vós mesmos; pergunta-se, qual é o limite do próximo? Seria a família, a religião, a Pátria? Não. É toda a Humanidade. Nos mundos superiores é o amor mútuo que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam. E o vosso Planeta, destinado a um progresso que se aproxima, para sua transformação social, verá essa lei sublime ser praticada por seus habitantes, como um reflexo da Divindade.

Os efeitos da lei de amor são o aperfeiçoamento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrena. Os mais rebeldes e os mais viciosos deverão se reformar, quando virem os benefícios produzidos por esta prática: Não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem, mas sim fazei a eles todo o bem que está ao vosso alcance.

Não acrediteis na secura e no endurecimento do coração humano.

Ele cede, mesmo a contragosto, ao verdadeiro amor. É como se fosse um ímã ao qual não se pode resistir. O contato desse amor vivifica e fecunda os germens dessa virtude que estão nos vossos corações adormecidos. A Terra, morada de provações e de exílio, será então purificada por esse fogo sagrado e verá serem nela praticados a caridade, a humildade, a paciência, a dedicação, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor. Não vos canseis de ouvir as palavras de João, o Evangelista. Como sabeis, quando a enfermidade e a velhice suspenderam o curso de suas pregações, ele apenas repetia estas doces palavras: Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.

Caros irmãos amados, praticai estas lições; sua prática é difícil, mas a alma retira delas um imenso benefício. Acreditai em mim, fazei o sublime esforço que vos peço: “Amai-vos”, e vereis a Terra se transformar e tornar-se um novo paraíso, onde as almas virtuosas desfrutarão do repouso merecido.

Sansão - antigo membro da Sociedade Espírita de Paris - 1863

10. Meus caros companheiros de estudo, os Espíritos aqui presentes vos dizem por minha voz: Amai muito, para serdes amados.

Este pensamento é tão justo que encontrareis nele tudo o que consola e acalma as penas de cada dia. E mais ainda: praticando este ensinamento, vos elevareis de tal maneira acima da matéria que vos espiritualizareis antes mesmo de deixar o vosso corpo terreno. Tendo os estudos espíritas desenvolvido em vós a compreensão do futuro, tendes agora uma certeza: a ascensão até Deus, com todas as promessas que respondem aos desejos da vossa alma. Deveis vos elevar bem alto, para julgar sem as limitações da matéria e não condenar vosso próximo sem antes terdes elevado vosso pensamento até Deus.

Amar, no sentido profundo da palavra, é ser honrado, leal, consciencioso, e fazer aos outros o que se deseja para si mesmo. É procurar ao redor de si o verdadeiro sentido de todas as dores que afligem vossos irmãos, para levar-lhes alívio. É olhar a grande família humana como sendo a sua, porque, essa família, vós a encontrareis numa outra época, em mundos mais avançados. Os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, que estão predestinados a se elevar ao infinito. É por isso que não podeis recusar a nenhum de vossos irmãos o que Deus generosamente vos deu – o amor –, tal qual, por vossa parte, felizes seríeis se os vossos irmãos vos dessem tudo do que necessitais. Dai a todos os sofredores uma palavra de esperança e de apoio, para que sejais todo amor, todo justiça.

Acreditai que estas sábias palavras: “Amai muito, para serdes amados”, seguirão seu caminho. Elas são revolucionárias e obedecem a um traçado que é fixo, invariável. Mas vós, que, me escutais, já ganhastes algo. Sois infinitamente melhores hoje do que há cem anos. Mudastes de tal modo para melhor que aceitais de forma confiante uma grande quantidade de novas ideias sobre a liberdade e a fraternidade, que antigamente teríeis rejeitado. Assim é que, daqui a cem anos, aceitareis com a mesma facilidade outras ideias que ainda não puderam entrar na vossa cabeça.

Hoje, que o movimento espírita avançou a grandes passos, vede com que rapidez as ideias de justiça e de renovação contidas nos ensinamentos dos Espíritos são aceitas por boa parte do mundo inteligente.

É que essas ideias correspondem a tudo o que existe de divino em vós. É que estais preparados por uma semeadura produtiva: a do último século, que implantou na sociedade as grandes ideias de progresso.

E como tudo se encadeia sob a orientação do Altíssimo, todas as lições recebidas e aceitas estarão contidas na troca universal de amor ao próximo. Por ele, os Espíritos encarnados melhor compreendendo e sentindo-se unidos como irmãos, fraternalmente, até os extremos de vosso Planeta, se reunirão para se entender e se amar, para acabar com todas as injustiças e todas as causas de desentendimentos entre os povos.

Este grande pensamento de renovação pelo Espiritismo, tão bem exposto n’O Livro dos Espíritos, produzirá o extraordinário milagre dos próximos séculos vindouros: o da união de todos os interesses materiais e espirituais dos homens, pela aplicação deste ensinamento bem entendido: “Amai muito, para serdes amados”.

O MENSAGEIRO DO AMOR

Falava-se na reunião, com respeito à preponderância dos sábios na Terra, quando Jesus tomou a palavra e contou, sereno e simples:

— Há muitos anos, quando o mundo perigava em calamitosa crise de ignorância e perversidade, o Poderoso Pai enviou-lhe um mensageiro da ciência, com a missão de entregar-lhe gloriosa mensagem de vida eterna. Tomando forma, nos círculos da carne, o esclarecido obreiro fez-se professor e, sumamente interessado em letras, apaixonou-se exclusivamente pelas obras da inteligência, afastando-se, enojado, da multidão inconsciente e declarando que vivia numa vanguarda luminosa, inacessível à compreensão das pessoas comuns.

Observando-o incapaz de atender aos compromissos assumidos, o Senhor Compassivo providenciou a viagem de outro portador da ciência que, decorrido algum tempo, se transformou em médico admirado. O novo arauto da Providência refugiou-se numa sala de ervas e beberagens, interessando-se tão-somente pelo contato com enfermos importantes, habilitados à concessão de grandes recompensas, afirmando que a plebe era demasiado mesquinha para cativar-lhe a atenção. O Todo-Bondoso determinou, então, a vinda de outro emissário da ciência, que se converteu em guerreiro célebre. Usou a espada do cálculo com mestria, pôs-se à ilharga de homens astuciosos e vingativos e, afastando-se dos humildes e dos pobres, afirmava que a única finalidade do povo era a de salientar a glória dos dominadores sanguinolentos. Contristado com tanto insucesso, o Senhor Supremo expediu outro missionário da ciência, que, em breve, se fêz primoroso artista.

Isolou-se nos salões ricos e fartos, compondo música que embriagasse de prazer o coração dos homens provisoriamente felizes e afiançou que o populacho não lhe seduzia a sensibilidade que ele mesmo acreditava excessivamente avançada para o seu tempo.

Foi, então, que o Excelso Pai, preocupado com tantas negações, ordenou a vinda de um mensageiro de amor aos homens.

Esse outro enviado enxergou todos os quadros da Terra, com imensa piedade.

Compadeceu-se do professor, do médico, do guerreiro e do artista, tanto quanto se comoveu ante a desventura e a selvageria da multidão e, decidido a trabalhar em nome de Deus, transformou-se no servo diligente de todos. Passou a agir em benefício geral e, identificado com o povo a que viera servir, sabia desculpar infinitamente e repetir mil vezes o mesmo esforço ou a mesma lição. Se era humilhado ou perseguido, buscava compreender na ofensa um desafio benéfico à sua capacidade de desdobrar-se na ação regeneradora, para testemunhar reconhecimento à confiança do Pai que o enviara. Por amar sem reservas os seus irmãos de luta, em muitas situações foi compelido a orar e pedir o socorro do Céu, perante as garras da calúnia e do sarcasmo; entretanto, entendia, nas mais baixas manifestações da natureza humana, dobrados motivos para consagrar-se, com mais calor, à melhoria dos companheiros animalizados, que ainda desconheciam a grandeza e a sublimidade do Pai Benevolente que lhes dera o ser.

Foi assim, fazendo-se o último de todos, que conseguiu acender a luz da fé renovadora e da bondade pura no coração das criaturas terrestres, elevando-as à mais alto nível, com plena vitória na divina missão de que fora investido.

Houve ligeira pausa na palavra doce do Messias e, ante a quietude que se fizera espontânea no ruidoso ambiente de minutos antes, concluiu ele, com expressivo acento na voz:

— Cultura e santificação representam forças inseparáveis da glória espiritual. A sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono Divino, mas, em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente sabe. 

Livro Jesus no Lar – Neio Lúcio – Médium Chico Xavier.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

5. Então os fariseus, ao se retirarem, decidiram entre si comprometê-Lo em suas palavras. Juntaram-se aos herodianos, para lhe dizer: Senhor, sabemos que sois verdadeiro e que ensinais o caminho de Deus pela verdade, sem considerar a quem quer que seja, pois não discriminais a ninguém entre os homens; dizei-nos, então, qual é vossa opinião sobre o seguinte: Devemos ou não pagar o tributo a César?

Mas Jesus, conhecendo sua malícia, lhes disse: Hipócritas, por que quereis me tentar? Mostrai-me a moeda exigida para o tributo. E então, tendo eles mostrado a moeda, disse-lhes: De quem é esta imagem e esta inscrição? De César, disseram. Então Jesus lhes respondeu: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Ao ouvirem isso, admiraram-se com sua resposta e, deixando-o, se retiraram. (Mateus, 22:15 a 22; Marcos, 12:13 a 17)

6. A pergunta feita a Jesus era motivada pelo fato de que os judeus, tendo horror ao pagamento dos impostos que os romanos os obrigavam a pagar, haviam feito disto uma questão religiosa. Um numeroso partido havia se formado para lutar contra o pagamento do imposto. O pagamento do tributo era, portanto, para eles, um tema de discussões daqueles dias que os enfurecia, sem o que a pergunta a Jesus: Devemos ou não pagar o tributo a César?, não teria o menor sentido. A pergunta em si já era uma cilada, e, conforme a resposta, pretendiam jogar contra Ele a autoridade romana e os judeus discordantes. Mas Jesus, conhecendo sua malícia, contornou a dificuldade, dando-lhes uma lição de justiça, mandando que se dê a cada um o que se lhe deve.

7. Este ensinamento: Dai a César o que é de César, não deve ser entendido de uma maneira ilimitada e indiscutível. Neste, como em todos os ensinamentos de Jesus, há um princípio geral, resumido sob forma prática e usual, extraído de uma situação particular. Esse princípio é consequente daquele que nos diz: devemos agir para com os outros como gostaríamos que eles agissem para conosco. Ele condena todo prejuízo material e moral que se possa causar ao próximo e toda violação dos seus interesses, determinando que se respeitem os direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os seus. Este princípio estende-se ao cumprimento dos deveres em relação à família, à sociedade, à autoridade, bem como a todos os indivíduos. 

NÓS E CÉSAR 

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a César o que é de César, e a

Deus o que é de Deus.” — (Marcos, Capítulo 12, Versículo 17.)

Em todo lugar do mundo, o homem encontrará sempre, de acordo com os seus próprios merecimentos, a figura de César, simbolizada no governo estatal.

Maus homens, sem dúvida, produzirão maus estadistas.

Coletividades ociosas e indiferentes receberão administrações desorganizadas.

De qualquer modo, a influência de César cercará a criatura, reclamando-lhe a execução dos compromissos materiais.

É imprescindível dar-lhe o que lhe pertence.

O aprendiz do Evangelho não deve invocar princípios religiosos ou idealismo individual para eximir-se dessas obrigações.

Se há erros nas leis, lembremos a extensão de nossos débitos para com a Providência Divina e colaboremos com a governança humana, oferecendo-lhe o nosso concurso em trabalho e boa-vontade, conscientes de que desatenção ou revolta não nos resolvem os problemas.

Preferível é que o discípulo se sacrifique e sofra a demorar-se em atraso, ante as leis respeitáveis que o regem, transitoriamente, no plano físico, seja por indisciplina diante dos princípios estabelecidos ou por doentio entusiasmo que o tente a avançar demasiadamente na sua época.

Há decretos iníquos?

Recorda se já cooperaste com aqueles que te governam a paisagem material.

Vive em harmonia com os teus superiores e não te esqueças de que a melhor posição é a do equilíbrio.

Se pretendes viver retamente, não dês a César o vinagre da crítica acerba. Ajuda-o com o teu trabalho eficiente, no sadio desejo de acertar, convicto de que ele e nós somos filhos do mesmo Deus.

Livro Pão Nosso – Emmanuel – Médium Chico Xavier. 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

O MAIOR MANDAMENTO

1. Os fariseus, ao ouvirem que Jesus havia feito os saduceus se calarem, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, perguntou-Lhe para tentá-Lo: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nestes dois mandamentos. (Mateus, 22: 34 a 40)

2. Fazei aos homens tudo o que gostaríeis que eles vos fizessem; pois esta é a lei e os profetas. (Mateus, 7:12)

Tratai todos os homens da mesma maneira que gostaríeis que eles vos tratassem. (Lucas, 6:31)

3. O reino dos Céus é comparável a um rei que quis pedir contas aos seus servidores. E tendo começado a fazer isso, apresentaram-lhe um, que lhe devia dez mil talentos. Mas como ele não tinha condições de pagar-lhe, seu senhor lhe ordenou que vendesse sua mulher, seus filhos e tudo o que possuía, para liquidar sua dívida. O servidor, lançando-se aos seus pés, suplicou-lhe, dizendo: Senhor, tende um pouco de paciência, pois eu vos pagarei tudo.

Então o senhor desse servidor, ficando tocado de compaixão, deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. Mas, esse servidor, mal tendo saído, encontrando um de seus companheiros que lhe devia cem moedas, agarrou-o pelo pescoço sufocando-o e dizia: Paga-me o que me deves. E seu companheiro, atirando-se aos seus pés, suplicou-lhe dizendo: Tende um pouco de paciência que vos pagarei tudo. Mas ele não quis escutá-lo; e, indo embora, fez com que o prendessem, até que lhe pagasse o que devia.

Os outros servidores, seus companheiros, vendo o que se passava, ficaram extremamente aflitos e avisaram seu senhor de tudo o que tinha acontecido. Então o senhor, fazendo-o vir, disse-lhe: Mau servidor, perdoei tudo pelo que me devias, pois me pediste isso.

Não deverias então ter tido piedade do teu companheiro como tive de ti? E seu senhor, furioso, deixou-o nas mãos dos carrascos até que pagasse tudo o que lhe devia.

É deste modo que meu Pai que está no Céu vos tratará, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão, do fundo do coração, as faltas que tiverem cometido contra vós. (Mateus, 18:23 a 35)

4. Amar o próximo como a si mesmo; fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem por nós é a expressão mais completa da caridade, pois resume todos os deveres em relação ao próximo. Não há guia mais seguro sobre isso do que ter como regra fazer aos outros o que desejamos para nós. Com que direito exigiremos de nossos semelhantes bom procedimento, indulgência, benevolência, dedicação, se não lhes damos isso? A prática destes ensinamentos morais orienta e conduz à destruição do egoísmo. Quando os homens as tomarem como regra de conduta e como base de suas instituições, entenderão a verdadeira fraternidade e farão reinar entre eles a paz e a justiça. Não haverá mais ódios nem desavenças e sim união, concórdia e benevolência mútua.

SEJAMOS IRMÃOS

Meu amigo:

Guarda a luz divina nos olhos do entendimento, porque, no lar, na sociedade ou no mundo, somos sempre a grande família humana, cujos membros – sempre nós mesmos – se integram indissoluvelmente entre si.

Quando a reprovação ou a crítica te assomarem ao pensamento inquieto, recorda que somente vemos nos outros as imagens que conservamos dentro de nós e cada homem julga o próximo pelas medidas que estabeleceu para si mesmo.

Encontrarás o mau, quando a maldade ocultar-se em teu coração, à maneira de serpente invisível.

Ouvirás a irreverência, quando os teus ouvidos permanecerem tocados pela sombra espessa da desconfiança.

Identificaremos o procedimento censurável, quando ainda alimentamos em nós os motivos de tentação degradante, induzindo-nos às mesmas quedas que observamos naqueles que se tornaram passíveis de nossa crítica.

Quando nos irritamos, vemos a nossa própria má vontade naqueles que nos cercam.

Quando desanimados, encontraremos razões para o desalento nas mais belas notas de alegria em nosso ambiente.

“Amai-vos uns aos outros” – aconselhou o Divino Mestre.

Amando fraternalmente, seremos, em verdade, irmãos do ignorante e do infeliz, do aleijado e do enfermo, de modo a ser-lhes efetivamente úteis.

Jesus, no Evangelho, não pede censores; aguarda companheiros de boa vontade que, olvidando todo o mal e surpreendendo o bem celeste em todos os escaninhos da Terra, com Ele colabore para que o mundo se faça mais feliz e para que o homem se faça realmente melhor.

Livro Escrínio de Luz – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

É PERMITIDO REPREENDER OS OUTROS?

São Luís - Paris, 1860

19. Se considerarmos que ninguém é perfeito, significa que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo?

Certamente não, uma vez que cada um de vós deve trabalhar para o progresso de todos e principalmente para aqueles cuja proteção vos está confiada. Mas isso é uma razão para o fazerdes com moderação, com um objetivo útil, e não como se faz, na maioria das vezes, pelo prazer de desacreditar. Nesse último caso, a repreensão é uma maldade. No primeiro, é um dever que a caridade manda realizar com todos os cuidados possíveis. E mais ainda, a repreensão que se lança sobre os outros deve ao mesmo tempo se dirigir a nós para ver se não a merecemos também.

São Luís - Paris, 1860

20. Será repreensível observar as imperfeições dos outros, quando disso não pode resultar nenhum proveito para eles, mesmo que não as divulguemos?

Tudo depende da intenção. Certamente não é proibido ver o mal, quando o mal exista. Seria inconveniente ver por toda parte somente o bem: seria uma ilusão que prejudicaria o progresso. O erro está em direcionar tal observação em prejuízo do próximo, rebaixando-o sem necessidade perante a opinião pública. Seria ainda condenável fazer isso apenas para satisfazer a nós mesmos com um sentimento de malevolência e de alegria, ao verificar o defeito dos outros. Ocorre o contrário quando, lançando um véu sobre o mal, ocultando-o do público, limitamo-nos a observá-lo para tirar dele lição pessoal, ou seja, para estudá-lo e evitar fazer o que repreendemos nos outros.

Esta observação, aliás, não é útil ao moralista? Como descreveria ele os problemas da Humanidade, se não estudasse os modelos?

São Luís - Paris, 1860 

21. Haverá casos em que pode ser útil revelar o mal dos outros?

Esta questão é muito delicada, é aí que é preciso fazer surgir a caridade bem entendida. Se as imperfeições de uma pessoa prejudicam apenas a ela mesma, não há nenhuma utilidade em revelálas.

Porém, se elas podem prejudicar aos outros, é preferível o interesse da maioria do que o interesse de um só. Conforme as condições, desmascarar a hipocrisia e a falsidade pode ser um dever, pois é preferível um homem cair do que vários serem enganados ou serem suas vítimas. Em semelhante caso, é preciso pesar a soma das vantagens e das desvantagens.

A EXEMPLO DO CRISTO

“Ele bem sabia o que havia no homem.” – (João, 2:25.)

Sim, Jesus não ignorava o que existia no homem, mas nunca se deixou impressionar negativamente.

Sabia que a usura morava com Zaqueu, contudo, trouxe-o da sovinice para a benemerência.

Não desconhecia que Madalena era possuída pelos gênios do mal, entretanto, renovou-a para o amor puro.

Reconheceu a vaidade intelectual de Nicodemos, mas deu-lhe novas concepções da grandeza e da excelsitude da vida.

Identificou a fraqueza de Simão Pedro, todavia, pouco a pouco instala no coração do discípulo a fortaleza espiritual que faria dele o sustentáculo do Cristianismo nascente. Vê as dúvidas de Tomé, sem desampará-lo.

Conhece a sombra que habita em Judas, sem negar-lhe o culto da afeição.

Jesus preocupou-se, acima de tudo, em proporcionar a cada alma uma visão mais ampla da vida e em quinhoar cada espírito com eficientes recursos de renovação para o bem.

Não condenes, pois, o próximo porque nele observes a inferioridade e a imperfeição.

A exemplo do Cristo, ajuda quanto possas.

O Amigo Divino sabe o que existe em nós... Ele não desconhece a nossa pesada e escura bagagem do pretérito, nas dificuldades do nosso presente, recheado de hesitações e de erros, mas nem por isso deixa de estender-nos amorosamente as mãos.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.