Um Espírito Protetor - Paris, 1863
12.
A fé é o sentimento que nasce com o homem sobre o seu destino futuro. É a
consciência que ele tem das suas imensas capacidades, cujo gérmen foi nele
depositado, a princípio adormecido, e que lhe cumpre no tempo fazer germinar e
crescer por força de sua vontade ativa.
Até o presente, a fé foi apenas
compreendida em seu sentido religioso, porque o Cristo a revelou como uma
poderosa alavanca, mas apenas viram n'Ele o chefe de uma religião. O Cristo,
que realizou milagres verdadeiros, mostrou, por esses mesmos milagres, o quanto
pode o homem quando tem fé, ou seja, quando tem a vontade de querer e a
certeza de que essa vontade pode se realizar. Os apóstolos, assim como Ele,
também não fizeram milagres? E o que eram esses milagres senão efeitos
naturais, cuja causa era desconhecida dos homens de então, mas que, hoje, em
grande parte se explicam e se compreendem completamente pelo estudo do
Espiritismo e do Magnetismo?
A fé é humana ou divina, conforme o
homem aplique as suas capacidades em relação às necessidades terrenas ou aos
seus anseios celestes e futuros. O homem de muita inteligência, o gênio, que
persegue a realização de algum grande empreendimento, triunfa se tem fé, pois
sente que pode e deve atingir sua meta, e essa certeza lhe dá uma imensa força.
O homem de bem que, acreditando no seu futuro celeste, quer preencher sua vida
com nobres e belas ações, tira de sua fé, na certeza da felicidade que o
espera, a força necessária, e, aí então, se realizam os milagres de caridade,
de devotamento e de renúncia. Enfim, com a fé, não há tendências más que não
possam ser vencidas.
O Magnetismo é uma das maiores provas
do poder da fé colocada em ação. É pela fé que ele cura e produz esses
fenômenos que antigamente eram qualificados como milagres.
Eu repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados estivessem cientes da força que trazem em si mesmos e se quisessem pôr sua vontade a serviço desta força, seriam capazes de realizar o que, até agora, chamamos de prodígios, e que não passam de um desenvolvimento dos dons e capacidades humanas.
OBJETIVO DA FÉ
"Alcançando o fim da vossa fé, que é a salvação das vossas
almas." - Pedro.
(I PEDRO, 1:9.)
"Qual a finalidade do esforço religioso em
minha vida?" Esta é a interrogação que todos os crentes deveriam formular
a si mesmos, frequentemente.
O trabalho de autoesclarecimento abriria novos
caminhos à visão espiritual.
Raramente se entrega o homem aos exercícios da
fé, sem espírito de comercialismo inferior. Comumente, busca-se o templo
religioso com a preocupação de ganhar alguma coisa para o dia que passa.
Raciocínios elementares, contudo, conduziriam o
pensamento a mais vastas ilações.
Seria a crença tão-somente recurso para facilitar
certas operações mecânicas ou rudimentares da vida humana? Os irracionais,
porventura, não as realizam sem maior esforço? Nutrir-se, repousar, dilatar a
espécie, são característicos dos próprios seres embrionários.
O objetivo da fé constitui realização mais
profunda. É a "salvação" a que se reporta a Boa Nova, por excelência.
E como Deus não nos criou para a perdição, salvar, segundo o Evangelho,
significa elevar, purificar e sublimar, intensificando-se a iluminação do espírito
para a Vida Eterna.
Não há vitória da claridade sem expulsão das
sombras, nem elevação sem suor da subida.
A fé representa a bússola, a lâmpada acesa a orientar-nos os passos através dos obstáculos; localizá-la em ângulos inferiores do caminho é um engano de consequências desastrosas, porque, muito longe de ser uma alavanca de impulsão para baixo, é asa libertadora a conduzir para cima.
Livro Vinha
de Luz – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.