LIMITES DA ENCARNAÇÃO
São Luís
Paris, 1859
24. Quais são os limites da encarnação?
- A encarnação não tem, propriamente falando,
limites nitidamente traçados, se por isto se entende o envoltório que constitui
o corpo do Espírito, pois a materialidade desse envoltório diminui à medida que
o Espírito se purifica. Em certos mundos, mais avançados que a Terra, ele já se
apresenta menos compacto, menos pesado e menos grosseiro, e consequentemente menos
sujeito a vicissitudes. Num grau mais elevado, desmaterializa-se e acaba por se
confundir com o perispírito. De acordo com o mundo a que o Espírito é chamado a
viver, ele se reveste do envoltório apropriado à natureza desse mundo.
O perispírito mesmo sofre transformações
sucessivas. Eteriza-se mais e mais, até a purificação completa, que constitui a
natureza dos Espíritos puros. Se mundos especiais estão destinados, como
estações, aos Espíritos mais avançados, estes não ficam sujeitos a eles, como
nos mundos inferiores; o estado de libertação que já atingiram permite-lhes
viajar para toda parte, onde quer que sejam chamados pelas missões que lhes
foram confiadas.
Se considerarmos a encarnação do ponto de vista
material, tal como a vemos na Terra, podemos dizer que ela se limita aos mundos
inferiores. Depende do Espírito, portanto, libertar-se mais ou menos
rapidamente da encarnação, trabalhando pela sua purificação.
Temos ainda a considerar que, no estado de
erraticidade, ou seja, no intervalo das existências corporais, a situação do
Espírito está em relação com a natureza do mundo a que o liga o seu grau de
adiantamento. Assim, na erraticidade, ele é mais ou menos feliz, livre e
esclarecido, segundo for mais ou menos desmaterializado.
NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO
São Luís
Paris, 1859
25. A encarnação é uma punição, e somente os Espíritos culpados é que
lhe estão sujeitos?
A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é
necessária, para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material, os
propósitos cuja execução Deus lhes confiou. É ainda necessária por eles mesmos,
pois a atividade que então se veem obrigados a desempenhar ajuda-os a
desenvolver a inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve aquinhoar equitativamente
a todos os seus filhos. É por isso que Ele concede a todos o mesmo ponto de
partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de
ação.
Todo privilégio seria uma preferência, e toda
preferência uma injustiça. Mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas
um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, no princípio da
existência, como primeira prova do uso que farão do seu livre-arbítrio.
Os que executam essa tarefa com zelo, sobem
rapidamente, e de maneira menos penosa, os primeiros degraus da iniciação, e
gozam mais cedo o resultado do seu trabalho. Os que, ao contrário, fazem mau
uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam o seu progresso. E é assim que
por sua obstinação, podem prolongar indefinidamente a necessidade de se reencarnarem.
E é então que a encarnação se torna um castigo.
26. OBSERVAÇÃO - Uma comparação vulgar nos
fará melhor compreender esta diferença. O estudante não atinge os graus
superiores, sem ter percorrido a série de classes que o levam até lá.
Essas classes, por mais trabalho que exijam, são o
meio de atingir o fim, e não uma punição. O estudante laborioso abrevia a
caminhada, encontrando menos dificuldades. Acontece o contrário com aquele que
a negligência e a preguiça obrigam a repetir certas classes. Não é, porém, o
estudo que constitui uma punição, mas a obrigação de recomeçá-lo em cada
classe. É o que se passa com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que
está quase no começo da vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver
a inteligência. Mas, para o homem esclarecido, em que o senso moral está
largamente desenvolvido, e que se vê obrigado a repetir as etapas de uma vida
corporal cheia de angústias, enquanto já podia ter atingido o fim, é um castigo,
pela necessidade em que se acha de prolongar a sua permanência nos mundos
inferiores e infelizes. Aquele que, ao contrário, trabalha ativamente para o
seu progresso moral, pode não somente abreviar a duração de sua encarnação
material, mas franquear de uma vez os graus intermediários, que o distanciam
dos mundos superiores.
Os Espíritos não poderiam encarnar-se uma só vez
num mesmo globo, e passar suas diferentes esferas? Esta opinião seria
admissível, se todos os homens estivessem na Terra, exatamente no mesmo nível
intelectual e moral. As diferenças existentes entre eles, desde o selvagem até
o homem civilizado, revelam os graus que têm de percorrer. A encarnação, aliás,
deve ter uma finalidade útil. Ora, qual seria a finalidade das encarnações
efêmeras, das crianças que morrem em tenra idade?
Teriam sofrido sem qualquer proveito, nem para elas
nem para os outros? Deus, cujas leis são todas soberanamente sábias, nada faz
de inútil. Pelas reencarnações no mesmo globo, quis que os mesmos Espíritos se
ponham de novo em contato, tendo assim ocasião de reparar as suas faltas
recíprocas. E tendo em conta as suas relações anteriores, quis, ainda, fundar
sobre uma base espiritual os laços de família, apoiando numa lei natural os
princípios de solidariedade, fraternidade e igualdade.
O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo IV – Itens 24 a 26.
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