domingo, 29 de abril de 2018

DEVE-SE PÔR UM FIM ÀS PROVAS DO PRÓXIMO?


27. Deve-se pôr um fim às provas do próximo, ou é preciso, por respeito às vontades de Deus, deixá-las seguir o seu curso?
Dissemos e repetimos muitas vezes que estais na Terra de expiação para concluir vossas provas, e tudo o que vos acontece é uma consequência de vossas existências anteriores, é o peso e obrigação da dívida que tendes a pagar. Mas este pensamento provoca reflexões em algumas pessoas, ideias as quais é necessário combater, pois poderiam ter consequências desastrosas.
Alguns pensam que, a partir do momento em que se está na Terra para expiar, é preciso que as provas sigam seu curso. Existem mesmo os que até acreditam que não somente é preciso não fazer nada para atenuá-las, mas que, ao contrário, é preciso contribuir para torná-las mais proveitosas, agravando-as. É um grande erro. Sim, vossas provas devem seguir o curso que Deus lhes traçou, mas conheceis esse curso? Sabeis até que ponto elas devem ir, ou se vosso Pai Misericordioso não disse ao sofrimento deste ou daquele de vossos irmãos: “Não irás mais além?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como um instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o alívio de consolação que deve cicatrizar as chagas que Sua justiça tinha aberto? Quando virdes, pois, um de vossos irmãos feridos, não deveis dizer: “É a justiça de Deus, é preciso que ela siga seu curso”; mas dizei, ao contrário: “Vejamos que meios nosso Pai Misericordioso colocou em meu poder para suavizar o sofrimento de meu irmão. Vejamos se minhas consolações morais, meu apoio material, meus conselhos não poderão ajudá-lo a transpor esta prova com ânimo, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não colocou em minhas mãos os meios de fazer parar esse sofrimento; se não me foi dado também como prova, ou expiação, deter o mal e substituí-lo pela paz”.
Ajudai-vos uns aos outros, sempre, em vossas provas. Nunca vos torneis instrumento de tortura para ninguém. Este pensamento deve revoltar todo homem de bom coração, principalmente os espíritas, pois estes devem entender o alcance infinito da bondade de Deus. O espírita deve pensar que toda a sua vida tem de ser um ato de amor e de dedicação, e que qualquer coisa que faça não contrariará, não causará embaraços às decisões do Senhor, não alterará o curso da Justiça Divina. Pode, sem receio, usar todos os seus esforços para suavizar a amargura da expiação do seu próximo, mas somente Deus pode detê-la ou prolongá-la, segundo julgue necessário.
Não haveria um extremo orgulho por parte do homem ao se acreditar no direito de remexer, por assim dizer, a lâmina na ferida? De aumentar a dose de amargura no peito daquele que sofre, sob o pretexto de que isso é sua expiação? Olhai-vos sempre como um instrumento escolhido para fazê-la parar. Resumamos desse modo: Estais todos na Terra para expiar•; mas todos, sem exceção, deveis empregar todos os vossos esforços para suavizar a expiação de vossos irmãos, segundo a lei de amor e de caridade. (Bernardin, Espírito Protetor - Bordeaux, 1863).

O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Item 27.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

PROVAS VOLUNTÁRIAS. O VERDADEIRO CILÍCIO.


26. Perguntais se é permitido ao homem suavizar suas próprias provas? Essa questão lembra estas outras: É permitido àquele que se afoga procurar se salvar? Àquele que tem um espinho cravado, retirá-lo? Àquele que está doente, chamar um médico? As provas têm por objetivo exercitar a inteligência, a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa posição humilde e difícil, precisamente para o obrigar a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em suportar sem lamentação as consequências dos males que não se podem evitar, em continuar na luta, em não se desesperar se não for bem sucedido, sem nunca, porém, agir com displicência, o que seria antes preguiça do que virtude.
Esta questão conduz naturalmente a uma outra, uma vez que Jesus disse: Bem-aventurados os aflitos, há mérito em procurar aflições, agravando suas provas com sofrimentos voluntários? A isso responderei muito claramente: sim, há um grande mérito quando os sofrimentos e as privações têm por objetivo o bem do próximo, pois isto é a caridade por meio do sacrifício. Não, quando visa apenas favorecer a si mesmo, porque é egoísmo vaidoso.
Aqui, há uma grande distinção a se fazer: para vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos envia e não aumenteis a carga por vezes já tão pesada; aceitai-as sem lamentação e com fé, é tudo o que Ele vos pede. Não enfraqueçais vosso corpo com privações
inúteis e mortificações sem objetivo, pois tendes necessidade de todas as vossas forças para realizar vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente e martirizar vosso corpo é transgredir a Lei de Deus, que vos dá os meios de sustentá-lo e fortificá-lo; enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: esta é a lei. O abuso das melhores coisas traz sua punição, que acarreta consequências inevitáveis.
Outra coisa são os sofrimentos que alguém impõe a si próprio em favor de outrem. Se suportais o frio e a fome para reanimar e alimentar aquele que tem necessidade do alimento e do agasalho, e se vosso corpo padece em consequência disso, eis o sacrifício que é abençoado por Deus. Vós, que deixais vossos aposentos perfumados para ir a uma habitação miserável levar a consolação, que sujais vossas mãos delicadas cuidando de chagas, que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus, enfim, vós que usais vossa saúde na prática das boas obras, eis vosso sacrifício abençoado, pois as alegrias do mundo não ressecaram vosso coração; não adormecestes em meio aos prazeres ilusórios da riqueza, mas vos fizestes anjos consoladores dos pobres abandonados.
Mas vós, que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, que utilidade tendes na Terra? Onde está vossa coragem nas provas, uma vez que fugis da luta e desertais do combate? Se quiserdes um sacrifício, aplicai-o sobre vossa alma e não sobre vosso
corpo; mortificai vosso Espírito e não vossa carne; castigai vosso orgulho, recebei as humilhações sem vos lamentardes; pisai em vosso amor-próprio; resisti à dor das ofensas e à calúnia mais torturante que a dor física. Eis a verdadeira penitência, cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão vossa coragem e vossa submissão à vontade de Deus. (Um Anjo Guardião - Paris - 1863.)

O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Item 26.

A ESCOLHA DAS PROVAÇÕES

Várias vezes já têm sido repetidos os ensinamentos que estou transmitindo sobre as provações terrenas de cada indivíduo.
Muito antes da encarnação, o Espírito faz o cômputo de suas possibilidades, estuda o caminho que melhor se lhe afigura na luta da perfectibilidade e, de acordo com as suas vocações e segundo o grau de evolução já alcançado, escolhe, em plena posse de sua consciência, a estrada que se lhe desenha no porvir, fecunda de progressos espirituais.
Dentro do infinito do Universo e com as faculdades integrais do seu próprio “eu”, reconhece a alma que somente a luta lhe oferta inúmeras possibilidades de evolução, em todos os setores da atividade humana; e, dai, a preferência pelos ambientes de dor e privação, abençoados corretivos que a Providência lhe oferece para a redenção do passado ou para o desenvolvimento das suas forças latentes e imprecisas; cada Espírito, voluntariamente, escolhe as suas sendas futuras, conforme o seu progresso e de acordo com os desígnios superiores.

Livro EMMANUEL – Médium Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 8 de abril de 2018

A VERDADEIRA INFELICIDADE


24. Todos falam da infelicidade, já a sentiram alguma vez e acreditam conhecer seus vários aspectos. Eu venho vos dizer que quase todas as pessoas se enganam e que a verdadeira infelicidade não é aquilo que os homens, ou seja, os infelizes supõem. Eles a veem na miséria, na lareira sem fogo, no credor exigente, no berço vazio do anjo que sorria nas lágrimas, no caixão que se acompanha com a fronte descoberta e o coração partido, na angústia da traição, na miséria do orgulhoso que gostaria de se vestir de ouro e que esconde com dificuldade sua nudez sob os farrapos da vaidade. Tudo isso e ainda a muitas outras coisas dá-se o nome de infelicidade na linguagem humana. Sim, é a infelicidade para aqueles que apenas veem o presente; mas a verdadeira infelicidade está mais nas consequências de um fato do que nele próprio. Dizei-me se o acontecimento mais feliz para o momento, mas que depois resulta em consequências desastrosas, não é na realidade mais infeliz do que aquele que à primeira vista causa uma viva contrariedade, mas acaba produzindo o bem?  Dizei-me se a tempestade que quebra as árvores, mas que saneia o ar ao eliminar os vírus insalubres que causam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade?
Para julgar algo é preciso ver-lhe as consequências. É assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, pois é lá que as consequências se fazem sentir. Portanto, tudo o que ele chama de infelicidade, segundo sua curta visão, cessa com a vida corporal e encontra sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova face, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais, com todas as forças de vossas almas iludidas. A infelicidade é essa alegria falsa, esse prazer egoísta, a fama enganadora, a agitação fútil, a louca satisfação da vaidade que faz calar a consciência, que perturba a ação do pensamento, que confunde o homem quanto ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que buscais incessantemente.
Esperai, vós que chorais! Acautelai-vos, vós que rides, pois vosso corpo está satisfeito! Ninguém transgride impunemente as leis de Deus; ninguém foge das responsabilidades de seus atos. As provações, essas credoras impiedosas e cruéis, com a sequência de desgraças que nos atinge na miséria, observam o vosso repouso enganador, para vos mergulhar, de repente, na agonia da verdadeira infelicidade, aquela que surpreende a alma enfraquecida pela indiferença e pelo egoísmo. Que o Espiritismo vos esclareça e recoloque no seu verdadeiro lugar a verdade e o erro, tão estranhamente desfigurados pela vossa cegueira! Então, agireis como bravos soldados que, ao invés de fugir do perigo, preferem as lutas em combates arriscados à paz que não lhes pode dar nem glória, nem promoções. O que importa ao soldado perder durante a ação suas armas, seus equipamentos e suas roupas, contanto que saia vencedor e com glória? O que importa àquele que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida sua fortuna e sua veste carnal, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? (Delphine de Girardin - Paris, 1861)

O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Item 24.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS


23. O homem está incessantemente à procura da felicidade que lhe foge sem parar, pois a felicidade pura não existe na Terra. Entretanto, apesar dos sofrimentos que formam o desfile inevitável desta vida, ele poderia pelo menos desfrutar de uma felicidade relativa se não condicionasse essa felicidade às coisas perecíveis e sujeitas às mesmas contrariedades, ou seja, aos prazeres materiais, ao invés de procurá-la nos prazeres da alma, que são uma antecipação dos prazeres celestes imperecíveis. Ao invés de procurar a paz do coração, única felicidade real aqui na Terra, é ávido por tudo aquilo que pode agitá-lo e perturbá-lo e, coisa curiosa, parece criar propositadamente tormentos que dependia só dele evitar.
Haverá maiores tormentos do que aqueles causados pela inveja e pelo ciúme? Para o invejoso e o ciumento não há repouso: estão sempre excitados pelo desejo, o que eles não têm e os outros possuem causa-lhes insônia. O sucesso de seus rivais lhes dá vertigem; seu único interesse é o de menosprezar os outros, toda a sua alegria está em excitar, nos insensatos como eles, a ira do ciúme de que estão possuídos. Pobres insensatos, de fato, nem sonham que talvez amanhã será preciso deixar todas essas futilidades cuja cobiça envenena suas vidas! Não é para eles que se aplicam estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados, visto que suas preocupações não têm recompensa no Céu.
De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja aquilo que não é seu, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico, pois, se olha abaixo de si, ao invés de olhar acima, verá sempre pessoas que tem menos. É calmo, pois não cria necessidades ilusórias, e não é a calma, em si mesma, uma felicidade em meio às tempestades da vida? (Fénelon - Lyon, 1860.)

O Evangelho Segundo O Espiritismo – Capítulo V – Item 23.

ANTE O CRISTO LIBERTADOR
"Eu sou a porta." JESUS - JOÃO 10:7
Segundo os léxicos(1), a palavra "porta" designa "uma abertura em parede, ao rés-do-chão ou na base de um pavimento, oferecendo entrada e saída".
Entretanto, simbolicamente, o mundo está repleto de portas enganadoras. Dão entrada sem oferecerem saída.
Algumas delas são avidamente disputadas pelos homens que, afoitos na conquista de posses efêmeras, não se acautelam contra os perigos que representam.
Muitos batem à porta da riqueza amoedada e, depois de acolhidos, acordam encarcerados nos tormentos da usura.
Inúmeros forçam a passagem para a ilusão do poder humano e despertam detidos pelas garras do sofrimento.
Muitíssimos atravessam o portal dos prazeres terrestres e reconhecem-se, de um momento para outro, nas malhas da aflição e da morte.
Muitos varam os umbrais da evidência pública, sequiosos de popularidade e influência, acabando emparedados na masmorra do desespero.
O Cristo, porém, é a porta da Vida Abundante.
Com ele, submetemo-nos aos desígnios do Pai Celestial e, nessa diretriz, aceitamos a existência como aprendizado e serviço, em favor de nosso próprio crescimento para a Imortalidade.
Vê, pois, a que porta recorres na luta cotidiana, porque apenas por intermédio do ensinamento do Cristo alcançarás o caminho da verdadeira libertação.

Livro Fonte Viva – Chico Xavier – Emmanuel.

(1)  Conjunto dos vocábulos de uma língua, dispostos em ordem alfabética e com as respectivas significações.