segunda-feira, 20 de agosto de 2018

BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE TEM OS OLHOS FECHADOS


Vianney, Cura de Ars - Paris, 1863
20. Meus bons amigos, por que me chamastes? Será para que eu imponha as mãos sobre esta pobre sofredora que está aqui e curá-la? Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a visão, e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ore e espere. Não sei fazer milagres sem a vontade do bom Deus. Todas as curas que pude obter e que vos foram anunciadas devem ser atribuídas apenas ao Senhor, Pai de todos nós.
Em vossas aflições, portanto, olhai sempre o Céu e dizei, do fundo de vosso coração: “Meu Pai, curai-me, mas fazei com que minha alma doente seja curada antes das enfermidades de meu corpo; que minha carne seja castigada se for preciso, para que minha alma se eleve até vós com a brancura que tinha quando a criastes.” Após esta prece, meus bons amigos, que o bom Deus sempre ouvirá, a força e a coragem vos serão dadas e talvez também a cura que pedistes apenas timidamente, como recompensa ao vosso devotamento.
Mas, uma vez que estou aqui, em uma assembleia onde se trata, acima de tudo, de estudos, eu vos direi que aqueles que estão privados da visão deveriam considerar-se como os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse que seria preciso arrancar vosso olho se ele fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo do que ser a causa de vossa perdição. Quantos há em vossa Terra que amaldiçoarão um dia, nas trevas, terem visto a luz! Como são felizes os que, na expiação, são atingidos na vista! Seu olho não será de modo algum motivo de escândalo e de queda. Podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais do que vós, que vedes claramente... Quando Deus me permite abrir as pálpebras de algum desses pobres sofredores e lhes devolver a visão, digo a mim mesmo: alma querida, por que tu não conheces todas as delícias do Espírito, que vive de meditação e de amor? Então, não pedirias para ver imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que podes perceber em tua cegueira.
Bem-aventurado o cego que quer viver com Deus! Mais feliz do que vós que estais aqui, ele sente a alegria, pode tocá-la, vê as almas e pode se lançar com elas nas esferas espirituais, que nem mesmo os predestinados da Terra conseguem ver. O olho aberto está sempre pronto a fazer com que a alma caia; o olho fechado, pelo contrário, está sempre pronto a fazê-la se elevar a Deus. Acreditai em mim, meus bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, enquanto a visão é, frequentemente, o anjo tenebroso que conduz à morte.
E agora, algumas palavras para ti, minha pobre sofredora: Espera e tem coragem! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão se abrir, como ficarias feliz! E quem sabe se esta alegria não te poria a perder? Tem confiança no bom Deus que fez a felicidade e permite a tristeza! Farei por ti tudo o que me for permitido; mas, por tua vez, ora e reflete sobre o que acabo de te dizer.
Antes que me afaste, vós que estais aqui, recebei minha bênção.

21. Nota: Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, é preciso procurar a sua causa em uma vida anterior. O que chamamos de caprichos da sorte nada mais são do que os efeitos da justiça de Deus, que não aplica punições injustas e determina que, entre a falta e a pena, sempre haja uma relação. Se, em sua bondade, lançou um véu sobre nossos atos passados, aponta-nos, entretanto, o caminho, dizendo: “Quem matou pela espada, pela espada morrerá”. Palavras que podem ser traduzidas assim: “Sempre se é punido naquilo em que se pecou”. Se, porém, alguém é afligido pela perda da visão, é que a visão foi para ele um motivo de queda. Talvez também tenha sido o motivo da perda da visão para um outro; talvez alguém tenha se tornado cego pelo excesso de trabalho que lhe impôs, ou em consequência de maus tratos, de falta de cuidado, etc. É desse modo que ele sofre agora a pena de talião. Ele mesmo, em seu arrependimento, pôde escolher essa expiação, aplicando a si próprio estas palavras de Jesus: Se teu olho é motivo de escândalo, arranca-o.

* N. E. - “Os erros explicados se transformarão em verdades.” Erros são erros, nunca se transformarão em verdades. O sentido deve ser este: Os erros que vos foram apresentados como verdades cairão. A verdade triunfará.
* N. E. - “E eis aqui o seu enviado, que vai resplandecer...” Também aqui ficamos fiéis ao texto original, porém, o sentido deve ser este: Eis-me aqui (João), como seu enviado, ela, a manifestação Espírita, resplandecerá como o Sol acima das montanhas.
(1) Esta comunicação foi dada a respeito de uma pessoa cega, para a qual havia sido evocado o
Espírito de J. B. Vianney, Cura de Ars.

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