domingo, 30 de setembro de 2018

A CÓLERA


9. O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em Espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? Entregai-vos à cólera.
Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.
Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.
Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se por dominar. O espírita, ademais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. – Um Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)
10. Segundo a ideia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. É assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.
Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; somente a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva.
O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nisso não pode atuar; mas pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas? Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva vicioso, senão porque quer permanecer vicioso; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei do progresso. – Hahnemann. (Paris, 1863.)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

OBEDIÊNCIA E RESIGNAÇÃO


8. A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime (covarde) não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifício e da renúncia carnal.
Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto a atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! Porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego (Castigo/Chicote) e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. – Lázaro. (Paris, 1863.)

ACORDAR E ERGUER-SE
"Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará."
Paulo. (EFÉSIOS, 5:14.)

Há milhares de companheiros nossos que dormem, indefinidamente, enquanto se alonga debalde para eles o glorioso dia de experiência sobre a Terra.
Percebem vagamente a produção incessante da Natureza, mas não se recordam da obrigação de algo fazer em benefício do progresso coletivo.
Diante da árvore que se cobre de frutos ou da abelha que tece o favo de mel, não se lembram do comezinho dever de contribuir para a prosperidade comum.
De maneira geral, assemelham-se a mortos preciosamente adornados.
Chega, porém, um dia em que acordam e começam a louvar o Senhor, em êxtase admirável...
Isso, no entanto, é insuficiente.
Há muitos irmãos de olhos abertos, guardando, porém, a alma na posição horizontal da ociosidade.
É preciso que os corações despertos se ergam para a vida, se levantem para trabalhar na sementeira e na seara do bem, a fim de que o Mestre os ilumine.
Esforcemo-nos por alertar os nossos companheiros adormecidos, mas não olvidemos a necessidade de auxiliá-los no soerguimento.
É imprescindível saibamos improvisar os recursos indispensáveis em auxílio dos nossos afeiçoados ou não que precisam levantar-se para as bênçãos de Jesus.
Não basta recomendar.
Quem receita serviço e virtude ao próximo, sem antes preparar-lhe o entendimento, através do espírito de fraternidade, identifica-se com o instrutor exigente, que reclama do aluno integral conhecimento acerca de determinado e valioso livro, sem antes ensiná-lo a ler.
Disse Paulo: - "Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te iluminará."
E nós repetiremos: - "Acordemos para a vida superior e levantemo-nos na execução das boas obras e o Senhor nos ajudará, para que possamos ajudar os outros."

Livro Fonte Viva – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 16 de setembro de 2018

A PACIÊNCIA


7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu.
Sedes pacientes! A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: “a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.”
A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte.
Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu Ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro.
Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo. – Um Espírito amigo. (Havre, 1862.)
TENDE CALMA
“E disse Jesus: Mandai assentar os homens.” — (JOÃO, capítulo 6, versículo 10.)
Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas. Verifica-se quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de pão, no isolamento da natureza.
Os discípulos estão preocupados.
Filipe afirma que duzentos dinheiros não bastarão para atender à dificuldade imprevista.
André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada e dois peixes.
Todos discutem.
Jesus, entretanto, recebe a migalha sem descrer de sua preciosa significação e manda que todos se assentem, pede que haja ordem, que se faça harmonia. E distribuí o recurso com todos, maravilhosamente.
A grandeza da lição é profunda.
Os homens esfomeados de paz reclamam a assistência do Cristo. Falam nEle, suplicam-lhe socorro, aguardam-lhe as manifestações. Não conseguem, todavia, estabelecer a ordem em si mesmos para a recepção dos recursos celestes. Misturam Jesus com as suas imprecações, suas ansiedades loucas e seus desejos criminosos. Naturalmente se desesperam, cada vez mais desorientados, porquanto não querem ouvir o convite à calma, não se assentam para que se faça a ordem, persistindo em manter o próprio desequilíbrio.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 9 de setembro de 2018

A AFABILIDADE E A DOÇURA


6. A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que são as formas de sua manifestação. Entretanto, nem sempre se deve confiar nas aparências; a educação e a vivência do mundo podem dar o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bondade nada mais é do que uma máscara para o exterior, uma roupagem, cuja aparência bem talhada e calculada disfarça as deformidades escondidas! O mundo está repleto de pessoas que têm o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são mansas sob a condição de nada lhes machucar, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua dourada, quando falam face a face, se transforma em dardo envenenado, quando estão por detrás.
A essa classe pertencem ainda aqueles homens benignos por fora e que, tiranos domésticos, fazem sua família e seus subordinados sofrer com o peso de seu orgulho e de sua tirania, querendo compensar assim o constrangimento a que se submetem fora de casa. Não ousando agir autoritariamente com estranhos, que os recolocariam no seu lugar, querem pelo menos ser temidos pelos que não podem resistir-lhes. Sua vaidade alegra-se por poderem dizer: “Aqui, eu mando e sou obedecido”; sem se lembrar de que poderiam acrescentar com mais razão: “E sou detestado”.
Não basta que os lábios falem leite e mel; se o coração nada tem a ver com isso, trata-se de hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se contradiz. É o mesmo, sempre, diante do mundo e na intimidade. Ele sabe, aliás, que pode enganar os homens pelas aparências, mas não pode enganar a Deus. (Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 9 - Item 6 - Instruções dos Espíritos - Lázaro - Paris - 1861).

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA
“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.”
— (TIAGO, capítulo 4, versículo 8.)
Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.
O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.
Em regra geral somos todos portadores de graves deficiências íntimas, necessitadas de retificação.
Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.
Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão-somente à custa de palavras brilhantes.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 2 de setembro de 2018

INJÚRIAS E VIOLÊNCIAS


1. Bem-aventurados aqueles que são mansos, porque possuirão a Terra. (Mateus, 5:4)
2. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (Mateus, 5:9)
3. Aprendestes o que foi dito aos antigos: Não matarás; todo aquele que matar merecerá ser condenado pelo julgamento. Porém, eu vos digo que aquele que se encolerizar contra seu irmão merecerá ser condenado pelo julgamento; que aquele que disser a seu irmão: "racca", merecerá ser condenado pelo conselho. E que aquele que lhe disser: "és louco", merecerá ser condenado ao fogo do inferno. (Mateus, 5:21 e 22)
4. Por estes ensinamentos morais, Jesus estabeleceu como lei a doçura, a moderação, a mansidão, a afabilidade e a paciência. Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até mesmo qualquer expressão descortês para com os nossos semelhantes. Raca era, entre os hebreus, um termo de desprezo que significava homem de má conduta e era pronunciado cuspindo-se e virando-se o rosto. Ele vai ainda mais longe, visto que ameaça lançar ao fogo do inferno aquele que disser a seu irmão: És louco.
É evidente que, nesta como em qualquer situação, a intenção agrava ou atenua a falta. Mas, por que uma simples palavra pode ser tão grave e suficiente para merecer uma reprovação tão severa? É que toda palavra que ofenda é a expressão de um sentimento contrário à lei de amor e de caridade, que deve estabelecer as relações entre os homens e manter entre eles a concórdia e a união; que é um insulto à benevolência recíproca e à fraternidade; que alimenta o ódio e o rancor; enfim, que, depois da humildade perante Deus, a caridade para com o próximo é a primeira lei de todo cristão.
5. Mas como entender o significado destas palavras: Bem-aventurados aqueles que são mansos, porque possuirão a Terra, se Jesus havia recomendado renunciar aos bens desse mundo e prometia os do Céu?
O homem, enquanto aguarda os bens do Céu, tem necessidade dos da Terra para viver. O que Jesus recomenda é não se dar aos bens da Terra mais importância do que aos do Céu.
Por estas palavras, Jesus quis dizer que, até agora, os bens da Terra foram um privilégio exclusivo dos quais os violentos se apossaram, em prejuízo daqueles que são mansos e pacíficos; que frequentemente estes não têm o necessário, enquanto os outros têm em excesso. Promete Jesus que a justiça lhes será feita assim na Terra como no Céu; porque eles serão chamados filhos de Deus. Quando a lei do amor e da caridade for a lei da Humanidade, não havendo mais egoísmo, o fraco e o pacífico não serão mais explorados nem esmagados pelo forte e pelo violento. Assim será a Terra, quando, de acordo com a lei do progresso e a promessa de Jesus, ela se tornar um mundo feliz em razão do afastamento dos maus.