domingo, 24 de fevereiro de 2019

OS INIMIGOS DESENCARNADOS


5. O espírita tem ainda outros motivos de indulgência para com os seus inimigos. Primeiramente, sabe que a maldade não é o estado permanente dos homens, mas que é devida a uma imperfeição momentânea e, do mesmo modo que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau um dia reconhecerá os seus erros e se tornará bom.

Sabe também que a morte apenas o livra da presença material de seu inimigo e que este pode persegui-lo com seu ódio, mesmo após ter deixado a Terra. Sabe que qualquer vingança que faça não atingirá o seu objetivo, ao contrário, ela terá por efeito produzir uma irritação ainda maior, capaz de passar de uma existência à outra. Cabia ao Espiritismo provar, pela experiência e pelas leis que regem as relações do mundo visível com o mundo invisível, que a expressão extinguir o ódio com sangue é completamente falsa, pois a verdade é que o sangue realimenta o ódio, mesmo além-túmulo, na erraticidade. O Espiritismo apresenta, em vista disto, um argumento positivo, uma utilidade prática no perdão e no sublime ensinamento do Cristo: Amai os vossos inimigos. De fato, não há coração tão perverso que não se deixe tocar pelas boas ações, mesmo a contragosto. Pelas boas ações, elimina-se o motivo da vingança contra um inimigo e pode-se fazer dele um amigo antes e depois da sua morte. Com os maus procedimentos o homem irrita seu inimigo, que então se constitui em instrumento da justiça de Deus, para punir aquele que não perdoou.

6. Podemos assim ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua maldade pelas obsessões e subjugações às quais tantas pessoas estão sujeitas e que são algumas das várias provas da vida, contribuindo para o adiantamento do homem no globo terrestre e que, por isso, deve aceitá-las com resignação e como consequência da natureza inferior do nosso planeta. Se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao seu redor. Devemos ter, portanto, indulgência e benevolência para com os inimigos encarnados e desencarnados.

Antigamente, para apaziguar os deuses infernais, depois chamados demônios, mas que não passavam de espíritos maus, sacrificavam-se animais e até pessoas. O Espiritismo vem provar que esses demônios são apenas almas de homens perversos que ainda não se livraram dos instintos materiais, e que somente se pode pacificá-los sacrificando-se o ódio que possuem, por meio da caridade; que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal, mas também de conduzi-los ao caminho do bem e contribuir para sua salvação. É assim que o ensinamento de Jesus: Amai os vossos inimigos, não está unicamente limitado ao Planeta Terra e à vida presente, mas inclui também a grande lei de solidariedade e fraternidade universais.

COMPAIXÃO PARA OS OFENSORES

Realmente, a compaixão é o tratamento mais elevado e mais justo que devemos prestar àqueles que nos ofendem.
*
Quem sofre com paciência e perdão, solve a dívida do passado ou acumula créditos no porvir, todavia, quem gera flagelação para os outros, não sabe quando conseguirá extinguir a flagelação em si mesmo.
*
Sempre que insultado pelas trevas da incompreensão, guarda a serenidade e auxilia sempre.
*
A cabeça do calculista, que se aproveita do raciocínio para estender a penúria, pode amanhã transformar-se no esconderijo da loucura, e as mãos que apedrejam serão talvez mirradas pela atrofia.
A alma do desertor encontra os fantasmas que teme e o verbo do maldizente talvez amanhã será compelido a dolorosa mudez.
Os olhos que se alegram na crueldade conhecerão a cegueira e os pés que se movimentam na distribuição da calúnia passarão, muitas vezes, por terríveis mutilações.
*
Compadece-te de todos os que se confiam ao mal, porque ninguém sabe quantas lágrimas chorará o mandante do sofrimento nas grades do remorso, para lavar-se contra o lodo da culpa.
*
Arma-te de coragem para fazer o bem, ainda mesmo que espinheiro e nuvens, fogo e fel te cruzem a jornada escabrosa na Terra, porque só o bem é capaz de fundir as algemas do ódio, convertendo-as em divinos laços de amor.
*
Recorda o Cristo, bendizendo aqueles que Lhe chagaram o coração e segue adiante, abençoando e servindo sempre, na certeza de que os carrascos de hoje serão, sem dúvida, os penitentes de amanhã, sentenciados não por ti mas pelo estigma do remorso que lavram, desprevenidos e insensatos, em desfavor de si mesmos.

Livro Escrínio de Luz – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

PAGAR O MAL COM O BEM


1. Aprendestes o que foi dito: Amareis vosso próximo e odiareis vossos inimigos. E eu vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam; a fim de que sejais filhos de vosso Pai que está nos Céus, que faz erguer o Sol sobre os bons e os maus e faz chover sobre os justos e os injustos. Pois, se amais apenas os que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos também não fazem isso? E se vós apenas cumprimentais vossos irmãos, o que fazeis mais do que os outros? Os pagãos também não fazem o mesmo? Eu vos digo que, se vossa justiça não for maior do que a dos escribas e dos fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus. (Mateus, 5:5 a 20, 43 a 47)
2. Se amardes apenas os que vos amam, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida também amam aqueles que as amam? E se vós fazeis o bem apenas aos que vos fazem, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida fazem a mesma coisa? E se vós emprestais apenas àqueles de quem esperais receber a mesma graça, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida também se emprestam mutuamente para receber a mesma vantagem?
Quanto a vós, amai os vossos inimigos, fazei o bem a todos e emprestai sem nada esperar e então vossa recompensa será bem maior e sereis os filhos do Altíssimo, pois Ele é bom com os ingratos e até mesmo com os maus. Sede, pois, misericordiosos, como vosso Pai o é. (Lucas, 6:32 a 36)
3. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação máxima, pois esta virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.
Entretanto, o sentido da palavra amar, utilizada neste ensinamento, pode não ser corretamente entendida. Jesus não quis dizer com estas palavras que devemos ter pelo inimigo a ternura que temos por um irmão ou por um amigo. A ternura dá a entender confiança e não podemos confiar naquele que sabemos que nos quer mal. Não podemos ter para com ele as mesmas demonstrações de amizade, pois sabemos que ele é capaz de abusar disso. Entre as pessoas que desconfiam umas das outras não poderá haver os mesmos laços de simpatia que existem entre aqueles que têm a mesma maneira de pensar. Quando encontramos um inimigo, não podemos ter, para com ele, a mesma alegria que sentimos quando encontramos um amigo.
Este sentimento resulta de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento maldoso carrega em si mesmo uma corrente fluidica que causa má influência. O pensamento benevolente nos envolve com uma agradável impressão; daí a diferença de sensações que experimentamos ao nos aproximar de um amigo ou de um inimigo. Amar aos inimigos não pode significar, portanto, que não devamos diferenciá-los dos amigos. Este ensinamento só nos parece difícil, até mesmo impossível de ser praticado, porque acreditamos que ele manda dar a uns e a outros o mesmo lugar no coração, quando não é isso. Se a pobreza das línguas humanas obriga a nos servirmos de uma mesma palavra para expressar diversas formas de sentimentos, a razão nos diz que de acordo com o caso devemos diferenciar os seus significados.
Amar aos inimigos não é ter para com eles uma afeição forçada, que não é natural, já que o contato com um inimigo faz bater o coração de uma maneira totalmente diferente. Amar aos inimigos segundo este ensinamento de Jesus é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. É perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem impor condições, o mal que nos fazem. É não colocar nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem no lugar do mal. É alegrar-se pelo bem que lhes aconteça ao invés de se entristecer. É socorrê-los em caso de necessidade. É não fazer nada que possa prejudicá-los em palavras ou em atos. É, enfim, pagar-lhes todo mal com o bem, sem intenção de os humilhar. Quem fizer isto, estará seguindo o mandamento: Amai aos vossos inimigos.
4. Amar aos inimigos é um absurdo para o incrédulo. Aquele para quem a vida presente é tudo vê apenas em seu inimigo um ser nocivo e perturbador de sua tranquilidade e do qual somente a morte, pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingança. Ele só terá motivo para perdoar se for para satisfazer seu orgulho aos olhos do mundo. O próprio ato de perdoar, em certos casos, parece-lhe uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de guardar rancor e um secreto desejo de fazer o mal.
Para aquele que crê e, especialmente, para o espírita, a maneira de ver é completamente diferente, pois observa as coisas com as vistas do passado e sobre o futuro, e percebe que a vida presente não é natural encontrar nela homens maus e perversos; que as maldades das quais é vítima fazem parte de provas que deve passar, e essa noção mais esclarecida que tem o faz ver os problemas da vida de forma menos cruel, venham eles dos homens ou das coisas. E se ele não reclama das provas, não deve reclamar contra aqueles que dela são os instrumentos. Se, ao invés de se lamentar, agradecer a Deus por pô-lo à prova, deve agradecer a mão que lhe fornece a ocasião de mostrar sua paciência e sua resignação. Este pensamento o leva a perdoar naturalmente e o faz sentir que, quanto mais generoso for, mais se engrandece aos seus próprios olhos e fica fora do alcance do ódio do seu inimigo.
O homem que ocupa no mundo uma posição de destaque não se ofende com insultos dos seus inferiores. Assim ocorre com aquele que se eleva, no mundo moral, acima da Humanidade material. Ele compreende que o ódio e o rancor o fariam sentir-se desprezível e o rebaixariam. Portanto, para ser superior a seu adversário, é preciso que tenha a alma maior, mais nobre e mais generosa.

ENTENDAMOS O BEM

"Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem." - Paulo. (ROMANOS, 12 :21.)
Repara que, em plena casa da Natureza, todos os elementos, em face do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento da harmonia e para a vitória do bem.
Quando o temporal parece haver destruído toda a paisagem, congregam-se as forças divinas da vida para a obra do refazimento.
O Sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas do chão.
O vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos.
O cântico das aves substitui a voz do trovão.
A planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso.
O ar que suporta o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora, torna à leveza e à suavidade.
A árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos frutos.
A terra, nossa mãe comum, sofre a chuva de granizos e o banho de Iodo, periodicamente, mas nem por isso deixa de engrandecer o bem cada vez mais.
Por que conservaremos, por nossa vez, o fel e o azedume do mal, na intimidade do coração?
Aprendamos a receber a visita da adversidade, educando-lhe as energias para proveito da vida.
A ignorância é apenas uma grande noite que cederá lugar ao sol da sabedoria.
Usa o tesouro de teu amor, em todas as direções, e estendamos o bem por toda parte.
A fonte, quando tocada de lama, jamais se dá por vencida. Acolhe os detritos no próprio seio e, continuando a fluir, transforma-os em bênçãos, no curso de suas águas que prosseguem correndo, com brandura e humildade, para benefício de todos.

Livro Fonte Viva – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS

Elisabeth de França - Havre, 1862

14. A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo por Jesus, e deve existir entre os autênticos discípulos de sua doutrina uma completa fraternidade. Deveis amar os infelizes e os criminosos como criaturas de Deus, aos quais o perdão e a misericórdia serão dados, desde que se arrependam, como também a vós mesmos pelas faltas que cometeis contra Sua lei. Imaginai que sois mais repreensíveis, mais culpados que aqueles aos quais recusais o perdão e a compaixão, pois, muitas vezes, eles não conhecem a Deus como vós e, por essa razão, menos se exigirá deles.
Não julgueis! Não julgueis meus queridos amigos, pois o julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente! E tendes necessidade de indulgência para as faltas que cometeis com frequência. Não sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo não as considera sequer como faltas leves?
A verdadeira caridade não está apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolação que lhe acrescentais. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós! A caridade divina ensinada por Jesus baseia-se também na benevolência permanente e em tudo mais para com o vosso próximo. Podeis praticar essa sublime virtude com muitas criaturas que não precisam de esmolas e sim de palavras de amor, consolação e de encorajamento que as conduzirão ao Senhor.
Os tempos estão próximos, volto a dizer, em que a grande fraternidade reinará neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os homens, será a moderação e a esperança e conduzirá as almas às moradas bem aventuradas.
Amai-vos, portanto, como filhos do mesmo Pai. Não façais distinção entre vós, pois Deus quer que todos sejam iguais; não desprezeis a ninguém. A presença de criminosos encarnados entre vós é um meio de que Deus se utiliza para que as más ações deles vos mostrem lições e ensinamentos. Brevemente, quando os homens praticarem as verdadeiras leis de Deus, não haverá mais necessidade destes ensinamentos e todos os Espíritos impuros e revoltados serão dispersados para mundos inferiores, de acordo com suas tendências.
Deveis, aos criminosos de quem falo, o socorro de vossas preces; esta é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; é preciso eliminá-lo da Terra; a morte que lhe é imposta é muito suave para um ser dessa espécie”. Não, não é assim que deveis falar. Observai Jesus, vosso modelo. Que diria Ele se visse este infeliz ao seu lado: o lamentaria; o consideraria como um doente miserável e lhe estenderia a mão. Em verdade, não podeis fazer isso, mas ao menos podeis orar por ele e dar assistência ao seu Espírito arrependimento pode tocar seu coração, se orardes com fé. Ele é vosso próximo também, como o melhor dentre os homens; sua alma desnorteada e revoltada foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar.
Ajudai-o, então, a sair do lamaçal e orai por ele.

Lamennais - Paris, 1862

15. Um homem corre perigo de morte. Para salvá-lo, é preciso arriscar a nossa própria vida; sabe-se que aquele homem é um malfeitor, e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Devemos, apesar disso, arriscar-nos para salvá-lo?
Esta é uma questão muito importante e que naturalmente pode ocorrer. Responderei segundo meu adiantamento moral, uma vez que se trata de saber se devemos arriscar a nossa vida ainda que seja por um malfeitor. O devotamento é cego. Se socorremos a um inimigo, devemos, portanto, socorrer um inimigo da sociedade, numa palavra, um malfeitor. Acreditais que é apenas à morte que se vai arrancar esse infeliz? É, talvez, a toda sua vida passada.
Pensai que, nesses rápidos instantes em que se acabam os últimos minutos de vida, o homem perdido revê sua vida passada, ou melhor, ela se ergue diante dele. Quem sabe, a morte estará chegando muito cedo para ele. A reencarnação poderá ser-lhe terrível.
Coragem, portanto, homens! Vós a quem a ciência espírita esclareceu; socorrei-o, arrancai-o à sua condenação e, então, talvez esse homem, que morreria vos insultando, se lançará em vossos braços. No entanto, não é preciso perguntar se ele o fará ou não; salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: “Podeis salvá-lo, salvai-o!”

CONVITE À CARIDADE

“Filho, vai hoje trabalhar na minha Vinha.” (Mateus: capítulo 21º, versículo 28.)

Enquanto a saúde enfloresce as tuas possibilidades de bem estar, reserva um dia por mês, ao menos, para visitar os irmãos enfermos, que ressarcem pesados tributos pretéritos, muitas vezes em dolorosa soledade, com o espírito tomado de apreensões e angústias.
Companheiros tuberculosos que expungem em leitos de asfixiante espera, em duros intervalos de hemoptises rudes.
Amigos leprosos em isolamento compulsório, acompanhando a dissolução dos tecidos que se desfazem em purulência desagradável.
Irmãos cancerosos sem esperança de recuperação orgânica entre dores e ásperas ansiedades.
Homens e mulheres em delírios de loucura ou presos por cruéis obsessões coercitivas, longe da lucidez, à margem do equilíbrio, em desoladora situação.
Crianças surpreendidas por enfermidades que as ferreteiam impiedosamente, roubando-lhes o frescor juvenil e macerando-as vigorosamente.
Anêmicos e penfigosos, operados em situação irreversível e distônicos vários que enxameiam nos leitos dos hospitais públicos e particulares, nos Nosocômios de Convênio governamental ou em Clínicas diversas sob azorrague incessante.
Seja teu o sorriso de cordialidade franca, através da lembrança de uma palavra fraterna, de uma flor delicada, de uma pergunta gentil em que esteja expresso o interesse pela sua recuperação, de uma prece discreta ao lado do seu leito, de uma vibração refazente com que podes diminuir os males que inquietam esses seres em necessário resgate.
Lembra-te, porém, que acima do bem que lhes possas fazer, a ti fará muito bem verificar o de que dispões e pouco consideras, bem precioso e de alto valor com que o Senhor te concede a honra de crescer: a saúde!
Vai desde hoje trabalhar na vinha do Senhor.
Caridade para com os que sofrem, em última análise é caridade para contigo mesmo.

Livro Convites da Vida – Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

A FÉ E A CARIDADE


13. Eu vos disse, recentemente, meus queridos filhos, que a caridade sem a fé não basta para manter entre os homens uma ordem social capaz de torná-los felizes. Deveria ter dito que a caridade é impossível sem a fé. Podereis encontrar, em verdade, impulsos generosos até mesmo junto a pessoas sem religião, mas essa caridade verdadeira, que apenas se exerce pela abnegação, pelo sacrifício constante de todo interesse egoísta, somente pela fé poderá ser inspirada.
Nada, além dela, nos dá condições para carregar com coragem e persistência a cruz desta vida.
Meus filhos é em vão que o homem, ansioso de prazeres, tenta se iludir quanto ao seu destino aqui na Terra, achando que deve se ocupar apenas de sua felicidade. Deus nos criou com a certeza de sermos felizes na eternidade, por isso a vida terrena deve servir exclusivamente para o aperfeiçoamento moral, que se adquire mais facilmente como auxílio dos órgãos físicos e as exigências do mundo material, que devem ser supridas. Além do mais, os problemas comuns da vida, adiversidade dos gostos, das tendências e das vossas necessidades são um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Portanto, apenas à custa de concessões e de sacrifícios mútuos é que podeis manter a harmonia entre elementos tão diversos.
Tendes toda a razão ao afirmar que a felicidade está destinada ao homem aqui na Terra, se a procurais na prática do bem e não nos prazeres materiais. A história da cristandade nos fala de mártires que foram para o suplício com alegria. Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não é necessário nem o sacrifício do mártir, nem o sacrifício da vida, mas única e simplesmente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar sempre, e se a fé for a vossa sustentação. (Um Espírito protetor - Cracóvia, 1861).

FÉ E CARIDADE

Fé sem caridade é a lâmpada sem o reservatório da força.
Caridade sem fé representa a usina sem a lâmpada.
Quem confia em Deus e não ajuda aos semelhantes recolhe-se na contemplação improdutiva à maneira de peça valiosa, mumificada em museu brilhante.
Quem pretende ajudar ao próximo, sem confiança em Deus, condena-se à secura, perdendo o contato com o suprimento da energia divina.
A fé constitui nosso patrimônio intimo de bênçãos.
A caridade é o canal que as espalha, enriquecendo-nos o caminho.
Uma confere-nos visão; a outra intensifica-nos o crescimento espiritual para a Eternidade.
Sem a primeira, caminharíamos nas sombras.
Sem a segunda, permaneceríamos relegados ao poço escuro do nosso egoísmo destruidor.
Jesus foi o protótipo da fé, quando afirmou: - "Eu e meu Pai somos Um".
E o nosso Divino Mestre foi ainda o paradigma da caridade quando nos ensinou: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei".
Desse modo, se somos efetivamente os aprendizes do Evangelho Redivivo, unamos o ideal superior e a ação edificante, em nossos sentimentos e atos de cada dia, e busquemos fundir numa só luz renovadora a fé e a caridade, em nossos corações, desde hoje.

Livro Escrínio de Luz– Chico Xavier – Espírito Emmanuel.