Elisabeth de França - Havre, 1862
14. A verdadeira caridade é um dos mais sublimes
ensinamentos que Deus deu ao mundo por Jesus, e deve existir entre os
autênticos discípulos de sua doutrina uma completa fraternidade. Deveis amar os
infelizes e os criminosos como criaturas de Deus, aos quais o perdão e a
misericórdia serão dados, desde que se arrependam, como também a vós mesmos
pelas faltas que cometeis contra Sua lei. Imaginai que sois mais repreensíveis,
mais culpados que aqueles aos quais recusais o perdão e a compaixão, pois,
muitas vezes, eles não conhecem a Deus como vós e, por essa razão, menos se
exigirá deles.
Não julgueis! Não julgueis meus queridos amigos, pois o
julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente! E tendes
necessidade de indulgência para as faltas que cometeis com frequência. Não
sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o
mundo não as considera sequer como faltas leves?
A verdadeira caridade não está apenas na esmola que
dais, nem mesmo nas palavras de consolação que lhe acrescentais. Não, não é apenas
isso o que Deus exige de vós! A caridade divina ensinada por Jesus baseia-se
também na benevolência permanente e em tudo mais para com o vosso próximo.
Podeis praticar essa sublime virtude com muitas criaturas que não precisam de
esmolas e sim de palavras de amor, consolação e de encorajamento que as
conduzirão ao Senhor.
Os tempos estão próximos, volto a dizer, em que a
grande fraternidade reinará neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os
homens, será a moderação e a esperança e conduzirá as almas às moradas bem aventuradas.
Amai-vos, portanto, como filhos do mesmo Pai. Não
façais distinção entre vós, pois Deus quer que todos sejam iguais; não
desprezeis a ninguém. A presença de criminosos encarnados entre vós é um meio
de que Deus se utiliza para que as más ações deles vos mostrem lições e
ensinamentos. Brevemente, quando os homens praticarem as verdadeiras leis de
Deus, não haverá mais necessidade destes ensinamentos e todos os Espíritos
impuros e revoltados serão dispersados para mundos inferiores, de acordo com
suas tendências.
Deveis, aos criminosos de quem falo, o socorro de
vossas preces; esta é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um
criminoso: “É um miserável; é preciso eliminá-lo da Terra; a morte que lhe é
imposta é muito suave para um ser dessa espécie”. Não, não é assim que deveis
falar. Observai Jesus, vosso modelo. Que diria Ele se visse este infeliz ao seu
lado: o lamentaria; o consideraria como um doente miserável e lhe estenderia a
mão. Em verdade, não podeis fazer isso, mas ao menos podeis orar por ele e dar assistência
ao seu Espírito arrependimento pode tocar seu coração, se orardes com fé. Ele é
vosso próximo também, como o melhor dentre os homens; sua alma desnorteada e
revoltada foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar.
Ajudai-o, então, a sair do lamaçal e orai por ele.
Lamennais - Paris, 1862
15. Um homem corre perigo de morte. Para salvá-lo, é
preciso arriscar a nossa própria vida; sabe-se que aquele homem é um malfeitor,
e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Devemos, apesar disso, arriscar-nos
para salvá-lo?
Esta é uma questão muito importante e que naturalmente
pode ocorrer. Responderei segundo meu adiantamento moral, uma vez que se trata
de saber se devemos arriscar a nossa vida ainda que seja por um malfeitor. O
devotamento é cego. Se socorremos a um inimigo, devemos, portanto, socorrer um
inimigo da sociedade, numa palavra, um malfeitor. Acreditais que é apenas à
morte que se vai arrancar esse infeliz? É, talvez, a toda sua vida passada.
Pensai que, nesses rápidos instantes em que se acabam
os últimos minutos de vida, o homem perdido revê sua vida passada, ou melhor,
ela se ergue diante dele. Quem sabe, a morte estará chegando muito cedo para
ele. A reencarnação poderá ser-lhe terrível.
Coragem, portanto, homens! Vós a quem a ciência
espírita esclareceu; socorrei-o, arrancai-o à sua condenação e, então, talvez
esse homem, que morreria vos insultando, se lançará em vossos braços. No
entanto, não é preciso perguntar se ele o fará ou não; salvando-o, obedeceis a
essa voz do coração que vos diz: “Podeis salvá-lo, salvai-o!”
CONVITE À CARIDADE
“Filho, vai hoje trabalhar na minha Vinha.” (Mateus: capítulo 21º,
versículo 28.)
Enquanto a saúde enfloresce as tuas possibilidades de
bem estar, reserva um dia por mês, ao menos, para visitar os irmãos enfermos,
que ressarcem pesados tributos pretéritos, muitas vezes em dolorosa soledade,
com o espírito tomado de apreensões e angústias.
Companheiros tuberculosos que expungem em leitos de
asfixiante espera, em duros intervalos de hemoptises rudes.
Amigos leprosos em isolamento compulsório, acompanhando
a dissolução dos tecidos que se desfazem em purulência desagradável.
Irmãos cancerosos sem esperança de recuperação orgânica
entre dores e ásperas ansiedades.
Homens e mulheres em delírios de loucura ou presos por
cruéis obsessões coercitivas, longe da lucidez, à margem do equilíbrio, em
desoladora situação.
Crianças surpreendidas por enfermidades que as
ferreteiam impiedosamente, roubando-lhes o frescor juvenil e macerando-as vigorosamente.
Anêmicos e penfigosos, operados em situação
irreversível e distônicos vários que enxameiam nos leitos dos hospitais
públicos e particulares, nos Nosocômios de Convênio governamental ou em
Clínicas diversas sob azorrague incessante.
Seja teu o sorriso de cordialidade franca, através da
lembrança de uma palavra fraterna, de uma flor delicada, de uma pergunta gentil
em que esteja expresso o interesse pela sua recuperação, de uma prece discreta
ao lado do seu leito, de uma vibração refazente com que podes diminuir os males
que inquietam esses seres em necessário resgate.
Lembra-te, porém, que acima do bem que lhes possas
fazer, a ti fará muito bem verificar o de que dispões e pouco consideras, bem
precioso e de alto valor com que o Senhor te concede a honra de crescer: a
saúde!
Vai desde hoje trabalhar na vinha do Senhor.
Caridade para com os que sofrem, em última análise é
caridade para contigo mesmo.
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