domingo, 31 de março de 2019

O DUELO


Adolfo, Bispo de Argel - Marmande, 1861

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que o deve levar a um destino certo, faz pouco caso das contrariedades do caminho e dele nunca se desvia. De olhos fixos na meta a que se destina, pouco lhe importa se os obstáculos e os espinhos do caminho podem lhe causar danos, já que eles apenas o roçam sem o ferir e não o impedem de avançar. Arriscar a vida em duelo para se vingar é uma injúria, é recuar diante das provações que tem que passar. É sempre um crime aos olhos de Deus. Se não fôsseis enganados, como sois, pelos vossos preconceitos, o veríeis como uma coisa ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens.
É crime o homicídio pelo duelo; até mesmo a vossa legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em nenhum caso, de tirar a vida de seu semelhante. É crime aos olhos de Deus, que vos indica vossa linha de conduta. Neste caso, mais do que em qualquer outro, sois juízes em causa própria. Lembrai-vos de que sereis perdoados conforme o que perdoardes. Pelo perdão vos aproximais da Divindade, pois a clemência é irmã do poder. Enquanto uma gota de sangue correr na Terra pela mão do homem, o verdadeiro reino de Deus não terá chegado, reino de paz e de amor que deverá afastar para sempre de vosso Planeta o rancor, a discórdia e a guerra. Então, a palavra duelo existirá em vossa língua apenas como uma lembrança vaga e distante de um passado que não existirá mais, e os homens só admitirão disputar entre si, em competições, a nobre prática do bem.

Santo Agostinho - Paris, 1862

12. O duelo pode, sem dúvida, em alguns casos, ser considerado como uma prova de coragem física, de desprezo pela vida, mas é de forma indiscutível a prova de uma covardia moral semelhante ao suicídio: o suicida não tem a coragem de encarar de frente as contrariedades e aflições da vida, e o duelista não a tem para suportar as ofensas. O Cristo não vos disse que há mais honra e coragem em oferecer a face esquerda àquele que bateu na direita do que em se vingar de uma injúria? Cristo não disse a Pedro no Jardim das Oliveiras: Coloca a tua espada na bainha, pois aquele que matar pela espada, pela espada morrerá? Por estas palavras, Jesus não condena o duelo? De fato, meus filhos, que coragem é essa, nascida de um caráter violento, sanguinário e colérico, que reage à primeira ofensa? Onde está, então, a grandeza da alma daquele que, à menor injúria, quer lavá-la em sangue? Mas que ele trema! Porque sempre, no fundo de sua consciência, uma voz lhe gritará: “Caim! Caim! Que fizeste de teu irmão?” “Foi necessário sangue para salvar minha honra”, dirá ele homens pelos poucos instantes que te restavam a viver na Terra e não pensaste em salvá-la perante Deus!” Pobre tolo! Quanto sangue o Cristo vos pediria por todas as ofensas que Lhe tendes feito! Não somente O machucastes com os espinhos e a lança, não somente O pregastes na cruz infamante, mas ainda em meio à agonia, Ele pôde escutar as zombarias que Lhe foram dirigidas. Que reparação, após tantas ofensas, vos pediu Ele? O último grito do Cordeiro foi uma prece para seus carrascos. Tal como Ele, perdoai e orai por aqueles que vos ofendem.
Amigos, lembrai-vos deste preceito: Amai-vos uns aos outros, e, então, ao golpe dado pelo ódio, respondereis com um sorriso, e, à ofensa, com o perdão. Sem dúvida, o mundo se voltará furioso contra vós e vos chamará de covardes. Elevai a cabeça bem ao alto e mostrai que a vossa fronte também não receia ser coroada de espinhos a exemplo do Cristo. No entanto, que vossa mão nunca queira ser cúmplice de um homicídio, que permite, digamos, uma falsa aparência de honra, mas que é apenas orgulho e amor-próprio. Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte uns aos outros? Não! Esse direito somente a Natureza o tem, para se reformar e se reconstruir a si mesma, mas quanto a vós, nem sobre o vosso corpo tendes direitos. Como o suicida, o duelista estará marcado de sangue quando comparecer perante Deus e, tanto sobre um como sobre o outro, a Soberana Justiça atuará em longos e dolorosos sofrimentos. Se Ele ameaçou com sua justiça aquele que dissesse a seu irmão: És louco, quanto mais não será severa a pena para aquele que se apresentar diante d’Ele com as mãos manchadas do sangue de seu irmão!

Autodefesa

Desde épocas imemoriais, o homem imagina e constrói recursos de autoproteção e defesa, sem que lhe possamos desconsiderar as razões para isso.
O recinto emparedado que lhe serve de moradia não é somente o refúgio em que delibera viver no regime de comunhão familiar, mas se lhe erige também como sendo o processo de livrar-se da intempérie.
O cofre é o recipiente que lhe segrega os bens contra possíveis assaltos, no entanto, é igualmente o vaso que lhe garante instruções e documentários contra incêndios.
A fim de preservar-se e preservar valores e propriedades sobre os quais convenciona a riqueza externa, inventa fechaduras, cadeados, ferrolhos, trancas, armas, trincheiras, muralhas e alçapões. Realiza mais ainda: vacina-se contra as moléstias contagiosas; estabelece apoio ao comércio e protege-se contra a fome; cria meios de intercâmbio e extingue a solidão.
Para todos os meios suscetíveis de afligi-lo no campo exterior da existência elege recursos defensivos claramente justificáveis no tocante aos domínios da vigilância e da prudência com que lhe cabe agir e discernir, entretanto, para a insegurança e para o medo, antigos adversários que lhe dilapidam o equilíbrio e a vida e tantas vezes o arrastam a suicídio e loucura não encontra estabelecimentos o medidas terrestres com os quais se municie contra eles.
De modo a forrar-nos contra semelhantes flagelos, só existe um recurso: confiarmo-nos a Deus, cujas leis nos presidem as horas.
Nos momentos de crise, provação, angústia ou desencanto, cumpre os deveres que as circunstâncias te reservam e jamais desesperes.
Lembra-te de que não há noite na terra que não se dissolva no clarão solar.
Nos instantes amargos, descansa o coração e o cérebro em Deus, cuja misericórdia e justiça nos acompanham os dias, e Deus te resguardará.

Livro Encontro de Paz – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 17 de março de 2019

O ÓDIO


10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Fazei por amar aqueles que vos inspiram indiferença, ódio e desprezo. O Cristo, que deveis ter como modelo, vos deu o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, amou até dar seu sangue e a vida. O sacrifício de amar aqueles que vos ofendem e vos perseguem é difícil, mas é, exatamente, o que vos torna superior a eles. Se os odiais como eles vos odeiam, não valeis mais do que eles. Amá-los, esta é a substância que deveis oferecer a Deus no altar de vossos corações; essência de agradável fragrância, cujos perfumes sobem até Ele. Mas, ainda que a lei do amor nos mande amar indistintamente a todos nossos irmãos, ela não nos livra o coração do convívio e da ação dos maus; esta é uma das provas mais difíceis, bem o sei, uma vez que durante minha última existência passei por essa tortura. Mas Deus está presente e pune, nesta vida e na outra, aqueles que falham na lei do amor. Não vos esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima-nos de Deus, e o ódio nos afasta d’Ele. (Fénelon - Bordeaux, 1861.)

SEMENTEIRAS E CEIFAS

"Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção." - Paulo.
(GÁLATAS, 6:8.)
Plantaremos todos os dias.
É da lei.
Até os inativos e ociosos estão cultivando o joio da imprevidência.
É necessário reconhecer, porém, que diariamente colheremos.
Há vegetais que produzem no curso de breves semanas, outros, no entanto, só revelam frutos na passagem laboriosa de muito tempo.
Em todas as épocas, a turba cria complicações de natureza material, acentuando o labirinto das reencarnações dolorosas, demorando-se nas dificuldades da decadência.
Ainda hoje, surgem os que pretendem curar a honra com o sangue alheio e lavar a injustiça com as represálias do crime. Daí, o ódio de ontem gerando as guerras de hoje, a ambição pessoal formando a miséria que há de vir, os prazeres fáceis reclamando as retificações de amanhã.
Até hoje, decorridos mais de dezenove séculos sobre o Cristianismo, apenas alguns discípulos, de quando em quando, compreendem a necessidade da sementeira da luz espiritual em si mesmos, diferente de quantas se conhecem no mundo, e avançam a caminho do Mestre dos Mestres.
Se desejas, pois, meu amigo, plantar na Lavoura Divina, foge ao velho sistema de semeaduras na corrupção e ceifas na decadência.
Cultiva o bem para a vida eterna.
Repara as multidões, encarceradas no antigo processo de se levantarem para o erro e caírem para a corrigenda, e segue rumo ao Senhor, organizando as próprias aquisições de dons imortais.

Livro Vinha de Luz – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

sábado, 9 de março de 2019

A VINGANÇA


9. A vingança é um dos últimos vestígios dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. Ela é, juntamente com o duelo, um dos últimos vestígios desses costumes selvagens que faziam a Humanidade sofrer no início da era cristã. Por isso a vingança é um sinal da inferioridade dos homens que se deixam levar por ela e dos Espíritos que também podem sugeri-la. Portanto, meus amigos, esse sentimento nunca deve fazer vibrar o coração daquele que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, totalmente contrário ao ensinamento do Cristo: Perdoai aos vossos inimigos, e aquele que se recusa a perdoar não é espírita, como também não é cristão. A vingança é um sentimento tão nocivo quanto a falsidade e a baixeza, que são suas companheiras constantes. De fato, todo aquele que se entrega a essa paixão cega e fatal quase nunca se vinga a céu aberto. Se ele é o mais forte, ataca ferozmente aquele a quem chama de inimigo, bastando para isso a simples presença do desafeto para que nele se inflamem a cólera, a paixão e o ódio. Porém, na maioria das vezes, ele toma uma aparência fingida, disfarçando no fundo de seu coração os maus sentimentos que o animam. Segue caminhos tortuosos, espreita na sombra o inimigo e, sem que ele sequer desconfie, espera o momento mais favorável para, sem correr nenhum risco e sem receio, executar a sua vingança. Ocultando-se, vigia-o sem cessar, prepara-lhe armadilhas odiosas e, na ocasião propícia, derrama-lhe no copo o veneno mortal. Quando seu ódio não vai até a esses extremos, então ataca sua honra e suas afeições. Não recua diante da calúnia e das falsas insinuações que, habilmente semeadas aos quatro ventos, vão aumentando pelo caminho. Desta forma, quando o perseguido se apresenta nos lugares onde aquele sopro envenenado passou, se admira de encontrar rostos frios, onde encontrava antigamente rostos amigos e benevolentes. Fica surpreso quando as mãos, que procuravam a sua, agora se recusam a apertá-la; enfim, fica arrasado quando seus amigos mais caros e mais próximos se desviam e fogem dele. O covarde que se vinga desta maneira é cem vezes mais culpado do que aquele que vai direto a seu inimigo e o insulta de cara limpa.
Parem, portanto, com estes costumes selvagens! Parem com estes costumes de outros tempos! Todo espírita que hoje pretender ainda ter o direito de se vingar será indigno de figurar por mais tempo entre aqueles que tomaram por lema: Fora da caridade não há salvação! Recuso-me a aceitar a simples ideia que um membro da grande família espírita possa ceder ao impulso da vingança ao invés de perdoar. (Jules Olivier - Paris, 1862)

INTRIGAS E ACUSAÇÕES

Quanto possível, abstém-te de assuntos infelizes.
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Muitas vezes, quem te fala contra os outros pode trazer a imaginação doente ou superexcitada.
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Quando alguém, porventura, se te faça veículo de alguma intriga, tanto é digna de compaixão a pessoa que te trouxe essa bomba verbal, quanto a outra que a teria criado.
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Uma frase imperfeitamente ouvida será sempre uma frase mal interpretada.
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A criatura que se precipita em julgamentos errôneos, a teu respeito, talvez seja vítima de lastimável engano.
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Muitas pessoas de hábitos cristalizados em comentários descaridosos em torno da vida alheia, estão a caminho de tratamentos médicos, dos mais graves.
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Se trazes a consciência tranquila, as opiniões negativas efetivamente não te alcançam.
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Diante de críticas recebidas, observa até que ponto são verídicas e aceitáveis, para que venhamos a retificar em nós aquilo que nos desagrada nos outros.
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Conhecendo algum desequilíbrio em andamento, auxilia em silêncio naquilo em que possas cooperar sem alarde, sem referir a ninguém, quanto ao esforço de reajuste que sejas capaz de desenvolver.
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Compadece-te dos acusadores e ora, em favor deles, rogando a Deus para que sejam favorecidos com a bênção de paz que desejamos para nós.
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Livro Calma – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.