segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A QUEM MUITO FOI DADO, MUITO SERÁ PEDIDO


10. O servidor que soube a vontade de seu mestre e que não se apercebeu, e não fez o que lhe foi pedido, apanhará rudemente; mas aquele que não soube de sua vontade e que fizer coisas dignas de castigo, apanhará menos. Pedir-se-á muito àquele que muito recebeu, e prestará contas aquele a quem foram confiadas muitas coisas. (Lucas, 12:47 e 48)
11. Vim a este mundo para fazer um julgamento, a fim de que aqueles que não veem vejam, e aqueles que veem se tornem cegos. Alguns fariseus que com Ele estavam, ouviram estas palavras e Lhe disseram: Somos nós, acaso, também cegos? Jesus lhes respondeu: Se fôsseis cegos, não teríeis pecados; mas agora dizeis que vedes, e é por isso que o pecado permanece em vós. (João, 9:39 a 41)
12. É principalmente aos ensinamentos dos Espíritos que se aplicam estas palavras de Jesus. Todo aquele que conhece os ensinamentos do Cristo é certamente culpado se não os praticar, mas, além do Evangelho que os contém estar somente divulgado entre as religiões cristãs, mesmo entre estas muitas pessoas não o leem e, entre as que o leem, muitas não o compreendem! Disso resulta que as palavras de Jesus ficam perdidas para grande número de pessoas.
O ensino dos Espíritos reproduz estas palavras de Jesus sob diferentes formas e por isso desenvolve-as e comenta-as para colocá-las ao alcance de todos e tem uma característica própria: é universal. Qualquer um, letrado ou não, tenha ou não uma crença, cristão ou não, pode recebê-lo, porque os Espíritos se manifestam em todos os lugares. Nenhum daqueles que recebe o ensinamento, diretamente ou por intermédio de outras pessoas, pode alegar ignorância ou desculpar-se, nem por sua falta de instrução, nem por falta de clareza ou sentido alegórico. Aquele, pois, que conhece os ensinamentos de Jesus e não os coloca em prática para melhorar-se, que os admira como coisas interessantes e curiosas, sem que o coração seja tocado por eles, que ao seu contato não se torna menos fútil, menos orgulhoso, menos egoísta, menos apegado aos bens materiais, nem melhor para com seu próximo, é tanto mais culpado quanto mais haja tido meios de conhecer a verdade.
Os médiuns que obtêm boas comunicações são ainda mais repreensíveis se persistirem no mal, pois, muitas vezes, escrevem sua própria condenação e, se não fossem cegos pelo orgulho, reconheceriam que é a eles mesmos que os Espíritos se dirigem. Mas, ao invés de tomar para si as lições que escrevem ou que vem escrever, seu único pensamento é aplicá-las aos outros, confirmando, assim, estas palavras de Jesus: Vedes um argueiro no olho de vosso próximo e não vedes a trave no vosso.
Por estas outras palavras: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, Jesus quer dizer que a culpa existe em razão do conhecimento que se possui. Portanto, os fariseus, que tinham a pretensão de ser, e que eram de fato, a parte mais esclarecida da nação, eram mais repreensíveis aos olhos de Deus do que o povo sem esclarecimento, inculto. O mesmo acontece hoje.
Aos espíritas, muito será pedido, porque muito receberam, mas, àqueles que aproveitarem os ensinamentos, muito será dado.
O primeiro pensamento de todo espírita sincero deve ser o de procurar nos conselhos dados pelos Espíritos se não há algo que lhe diga respeito.
O Espiritismo vem multiplicar o número dos chamados; pela fé que proporciona, multiplicará também o número dos escolhidos.

A EXEMPLO DO CRISTO

"Ele bem sabia o que havia no homem." - JOÃO. 2:25

Sim, Jesus não ignorava o que existia no homem, mas nunca se deixou impressionar negativamente.
Sabia que a usura morava com Zaqueu, contudo, trouxe-o da sovinice para a benemerência.
Não desconhecia que Madalena era possuída pelos gênios do mal, entretanto, renovou-a para o amor puro.
Reconheceu a vaidade intelectual de Nicodemos, mas deu-lhe novas concepções da grandeza e da excelsitude da vida.
Identificou a fraqueza de Simão Pedro, todavia, pouco a pouco instala no coração do discípulo a fortaleza espiritual que faria dele o sustentáculo do Cristianismo nascente.
Vê as dúvidas de Tomé, sem desampará-lo.
Conhece a sombra que habita em Judas, sem negar-lhe o culto da afeição.
Jesus preocupou-se, acima de tudo, em proporcionar a cada alma uma visão mais ampla da vida e em quinhoar cada espírito com eficientes recursos de renovação para o bem.
Não condenes, pois, o próximo porque nele observes a inferioridade e a imperfeição.
A exemplo do Cristo, ajuda quanto possas.
O Amigo Divino sabe o que existe em nós...
Ele não desconhece a nossa pesada e escura bagagem do pretérito, nas dificuldades do nosso presente, recheado de hesitações e de erros, mas nem por isso deixa de estender-nos amorosamente as mãos.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 19 de janeiro de 2020

NEM TODOS AQUELES QUE DIZEM: SENHOR! SENHOR! ENTRARÃO NO REINO DOS CÉUS.


6. Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos Céus; mas apenas entrará aquele que faz a vontade de meu pai que está nos Céus. Muitos me dirão: Senhor! Senhor! Não profetizamos em vosso nome? Não expulsamos os demônios em vosso nome, e não fizemos diversos milagres em vosso nome? E então lhes direi em voz alta: Afastai-vos de mim, vós que cometeis atos de iniquidade. (Mateus, 7:21 a 23)
7. Todo aquele que ouvir estas palavras que Eu digo e as praticar, será comparado a um homem sábio que construiu sua casa sobre a rocha; e quando a chuva caiu, e os rios transbordaram, e os ventos sopraram e se abateram sobre esta casa, ela não caiu, pois foi fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve estas palavras que Eu digo e não as pratica, será como o homem insensato que construiu sua casa sobre a areia; e quando a chuva veio, e os rios transbordaram, e os ventos sopraram e se abateram sobre essa casa, ela então desmoronou e foi grande a sua ruína. (Mateus 7:24 a 27; Lucas, 6:46 a 49)
8. Aquele, pois, que violar um desses menores mandamentos, e que ensinar aos homens a violá-los, será tido como o último no reino dos Céus; porém, aquele que os cumprir e ensinar, será grande no reino dos Céus. (Mateus, 5:19)
9. Todos aqueles que reconhecem a missão de Jesus dizem: Senhor! Senhor! Mas de que serve chamá-Lo de Mestre ou Senhor se seus ensinamentos não são seguidos? São cristãos aqueles que o honram por seus atos exteriores de devoção e o sacrificam, ao mesmo tempo, no altar do orgulho, do egoísmo, da ambição e de todas as paixões? São seus discípulos aqueles que passam dias orando e não são nem melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com seus semelhantes? Não, porque, assim como os fariseus, têm a prece nos lábios e não no coração. Com a forma cerimonial podem impor-se aos homens, mas não a Deus. É em vão que dirão a Jesus: “Senhor, profetizamos, ou seja, ensinamos em vosso nome; expulsamos os demônios em vosso nome; bebemos e comemos convosco”; Ele responderá: “Não sei quem sois; afastai-vos de mim, vós que cometeis iniquidades, vós que desmentis as vossas palavras com as vossas ações, que caluniais vosso próximo, que espoliais as viúvas e cometeis adultério; afastai-vos de mim, vós cujo coração destila ódio e fel, vós que derramais o sangue de vossos irmãos em meu nome, que fazeis correr as lágrimas ao invés de secá-las. Para vós, haverá choro e ranger de dentes, pois o reino de Deus é para aqueles que são dóceis, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade de vossas palavras e vossas genuflexões; o único caminho que está aberto para vós, para encontrar a graça perante Ele, é a prática sincera da lei do amor e da caridade.”
As palavras de Jesus são eternas, pois são a verdade. Elas são não somente a salvaguarda da vida celeste como também são a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilidade para os homens nas coisas da vida terrena. Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas que se apoiarem nas suas palavras serão estáveis como a casa construída sobre a rocha, e os homens as conservarão, pois nelas encontrarão a felicidade; mas as que, porém, forem violação daquelas palavras, serão como a casa construída sobre a areia: o vento das transformações e o rio do progresso as levarão de arrastão.

O OBREIRO DO SENHOR

Cada criatura mora espiritualmente na seara a que se afeiçoa.
É assim que, se o justo arrecada prêmios da retidão, o delinquente, em qualquer parte, recolhe os frutos do crime.
O obreiro do Senhor, por isso mesmo, onde surja, é conhecido por traços essenciais.
Não cogita do próprio interesse.
Não exige cooperação para fazer o bem.
Não cria problemas.
Não suspeita mal.
Não cobra tributos de gratidão.
Não arma ciladas.
Não converte o serviço em fardo insuportável nos ombros do companheiro.
Não transforma a verdade em lâmina de fogo no peito dos semelhantes.
Não reclama santidade nos outros, para ser útil.
Não fiscaliza o vintém que dá.
Não espia os erros do próximo.
Não promove o exame das consciências alheias.
Não se cansa de auxiliar.
Não faz greve por notar-se desatendido.
Não desconhece as suas fraquezas.
Não cultiva espinheiros de intolerância.
Não faz coleção de queixas.
Não perde tempo em lutas desnecessárias.
Não tem a boca untada com veneno.
Não sente cóleras sagradas.
Não ergue monumentos ao derrotismo.
Não se impacienta.
Não se exibe.
Não acusa.
Não critica.
Não se ensoberbece.
Entretanto, frequentemente aparece na Seara Divina quem condene os outros e iluda a si mesmo, supondo-se na posse de imaginária dominação.
O obreiro do Senhor, todavia, encarnado ou desencarnado, em qualquer senda de educação e em qualquer campo religioso, segue à frente, ajudando e compreendendo, perdoando e servindo, para cumprir-lhe, em tudo, a sacrossanta Vontade.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 12 de janeiro de 2020

A PORTA ESTREITA


3. Entrai pela porta estreita, pois a porta da perdição é larga e o caminho que a ela conduz é espaçoso, e há muitos que por ela entram. Como a porta da vida é pequena! Como o caminho que a ela conduz é estreito! E como há poucos que a encontram! (Mateus, 7:13 e 14)
4. Alguém da multidão Lhe perguntou: Senhor, são poucos os que se salvam? Ele respondeu: Fazei esforços para entrardes pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos procurarão por ela entrar, e não poderão. E quando o pai de família tiver entrado, e tiver fechado a porta, e que, estando do lado de fora, começardes a bater à porta dizendo: Senhor, abre-nos; Ele vos responderá: Eu não sei de onde sois. Então, recomeçareis a dizer: Comemos e bebemos em vossa presença, e ensinastes em nossas praças públicas. E Ele vos responderá: Não sei de onde sois; afastai-vos de mim, vós todos que cometeis iniquidades.
E então haverá choros e ranger de dentes quando virdes que Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas estarão no reino de Deus, e que vós outros ficareis excluídos. Virão do Oriente e do Ocidente, do Setentrião (Norte) e do Meio-dia (Sul), muitos que terão lugar na festa do reino de Deus. Então, aqueles que forem os últimos serão os primeiros, e os que forem os primeiros serão os últimos. (Lucas, 13:23 a 30)
5. Larga é a porta da perdição, porque as más paixões são numerosas e o caminho do mal é frequentado pela maioria. A da salvação é estreita, pois o homem que quer transpô-la deve fazer grandes esforços para vencer suas más tendências, e poucos se submetem a isso; é o complemento do ensinamento moral: muitos são os chamados e poucos os escolhidos.
Tal é o estado atual da Humanidade terrena, pois, sendo a Terra um mundo de expiação, nela o mal predomina, mas quando se transformar, o caminho do bem será o mais frequentado. Este ensinamento deve ser entendido na sua verdadeira significação e não no sentido que as palavras expressam. Se fosse esse o estado normal da Humanidade, Deus teria voluntariamente condenado à perdição a imensa maioria de suas criaturas; suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e bondade.
Mas de quais faltas esta Humanidade seria culpada para merecer uma sorte tão triste, no presente e no futuro, se estivesse na sua totalidade relegada à Terra e se a alma não tivesse tido outras existências? Por que tantos entraves no caminho? Por que essa porta tão estreita, para ser transposta por tão poucos, se a sorte da alma está definitivamente fixada após a morte? É assim que, com a ideia de uma única vida, o homem está sempre em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a vivência anterior da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; a luz ilumina os pontos menos esclarecidos da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado e, então, só assim se pode compreender toda a grandeza, toda a verdade e toda a sabedoria dos ensinamentos morais do Cristo.

ANTE O CRISTO LIBERTADOR

"Eu sou a porta." . JESUS - JOÃO 10:7

Segundo os léxicos, a palavra "porta" designa "uma abertura em parede, ao rés-do-chão ou na base de um pavimento, oferecendo entrada e saída".
Entretanto, simbolicamente, o mundo está repleto de portas enganadoras. Dão entrada sem oferecerem saída.
Algumas delas são avidamente disputadas pelos homens que, afoitos na conquista de posses efêmeras, não se acautelam contra os perigos que representam.
Muitos batem à porta da riqueza amoedada e, depois de acolhidos, acordam encarcerados nos tormentos da usura.
Inúmeros forçam a passagem para a ilusão do poder humano e despertam detidos pelas garras do sofrimento.
Muitíssimos atravessam o portal dos prazeres terrestres e reconhecem-se, de um momento para outro, nas malhas da aflição e da morte.
Muitos varam os umbrais da evidência pública, sequiosos de popularidade e influência, acabando emparedados na masmorra do desespero.
O Cristo, porém, é a porta da Vida Abundante.
Com ele, submetemo-nos aos desígnios do Pai Celestial e, nessa diretriz, aceitamos a existência como aprendizado e serviço, em favor de nosso próprio crescimento para a Imortalidade.
Vê, pois, a que porta recorres na luta cotidiana, porque apenas por intermédio do ensinamento do Cristo alcançarás o caminho da verdadeira libertação.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Chico Xavier.

sábado, 4 de janeiro de 2020

PARÁBOLA DA FESTA DE NÚPCIAS


1. Jesus falando ainda em parábolas lhes disse: O reino dos Céus é semelhante a um rei que, querendo fazer as bodas de seu filho, enviou seus servidores para chamar às bodas aqueles que foram convidados; mas eles se recusaram a ir. Ele ainda enviou outros servidores com ordem de dizer de sua parte aos convidados: preparei meu banquete; matei meus bois e tudo o que tinha engordado; tudo está pronto, vinde às bodas. Mas eles, desprezando o convite, se foram, um à casa de campo e o outro para seu negócio. Os outros lançaram mão de seus servidores e os mataram, após lhes terem feito vários ultrajes. O rei, tendo ouvido isto, irou-se e, tendo enviado seus soldados, exterminou esses homicidas e queimou a cidade deles.
Então disse a seus servidores: a festa de bodas está pronta; mas os que foram convidados não foram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas, e chamai às núpcias todos que encontrardes. Seus servidores foram então para as ruas e chamaram todos aqueles que encontraram, bons e maus; e a sala de bodas ficou repleta de pessoas que se sentaram à mesa.
Entrou o rei, em seguida, para ver aqueles que estavam à mesa e, tendo percebido um homem que não estava vestido com a roupa nupcial, lhe disse: Meu amigo, como entraste aqui sem ter a roupa nupcial? E esse homem ficou mudo. Então o rei disse às pessoas: Atai-lhe as mãos e os pés, e lançai-o nas trevas exteriores: lá, haverá prantos e ranger de dentes; pois muitos são os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, 22:1 a 14)
2. O incrédulo ri desta parábola, que lhe parece de uma ingenuidade pueril, pois não compreende que possa haver tanta dificuldade para ir a uma festa, e ainda mais quando os convidados chegam ao ponto de massacrar os enviados do dono da casa. “As parábolas” – diz o incrédulo – “são, sem dúvida, alegorias, mas é preciso que elas não saiam do limite do aceitável”.
O mesmo se pode dizer de todas as alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não tirarmos do seu enredo o sentido oculto. Jesus compunha as suas, com os fatos usuais e vulgares da vida, e as adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava. A maioria delas tinha como objetivo fazer o povo compreender a ideia da vida espiritual. O significado só é incompreensível quando aqueles que as interpretam não as observam desse ponto de vista.
Nesta parábola, Jesus compara o reino dos Céus, onde tudo é alegria e felicidade, a uma festa de núpcias. Em relação aos primeiros convidados, refere-se aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus para o conhecimento de sua Lei. Os enviados do rei são os profetas, que convidaram os judeus a seguir o caminho da verdadeira felicidade, mas suas palavras eram pouco escutadas, suas advertências eram desprezadas e muitos foram mesmo massacrados como os servidores da parábola. Os convidados que se desculpam, por terem de ir cuidar dos campos e de seu negócio, representam as pessoas que, absorvidas pelas coisas do mundo, são indiferentes em relação às coisas celestes.
Era uma crença, para os judeus de então, de que sua nação deveria ter o domínio sobre todas as outras. Deus não tinha, de fato, prometido a Abraão que seus descendentes cobririam toda a Terra? Mas, como sempre, desprezando a substância, tomaram o ensinamento divino pelo lado dos seus interesses e acreditavam realmente no domínio da sua nação no plano material, sobre as outras.
Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens mais instruídos haviam atingido a ideia de unidade divina, esta ideia permaneceu no estado de opinião pessoal, pois em nenhuma parte foi aceita como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos sob o véu do mistério, impenetrável à compreensão do povo. Os hebreus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo. Foi a eles que Deus transmitiu sua lei, inicialmente por Moisés, depois por Jesus. E foi desse pequeno foco que partiu a luz, que deveria expandir-se pelo mundo inteiro, triunfar sobre o paganismo e dar a Abraão uma posteridade espiritual tão numerosa quanto as estrelas do firmamento. Mas os judeus, embora rejeitassem completamente a idolatria, haviam negligenciado a lei moral para se dedicar à prática mais fácil do culto exterior. O mal atingira o seu ponto mais extremo: a nação, dominada pelos romanos, estava desfigurada pelas lutas políticas, dividida pelas seitas. A incredulidade havia penetrado até mesmo no Templo. Foi então que apareceu Jesus, enviado para chamá-los à observância da Lei e abrir-lhes os novos horizontes da vida futura. Sendo os primeiros a serem convidados para o grande banquete da fé universal, rejeitaram a palavra do celeste Messias e sacrificaram-no; foi assim que perderam o fruto que deveriam ter colhido de sua própria iniciativa.
Seria injusto, entretanto, acusar todo o povo por esse estado de coisas; a responsabilidade coube principalmente aos fariseus e aos saduceus, que tinham arruinado a nação por orgulho e fanatismo de uns e pela incredulidade de outros. É a eles que Jesus compara os convidados que se recusam a comparecer à festa das núpcias. Depois, acrescenta: O rei, vendo isto, convidou todos àqueles que se encontravam nas encruzilhadas, bons e maus. Queria dizer com isso que a palavra iria ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e que estes, aceitando-a, seriam admitidos na festa no lugar dos primeiros convidados.
Mas não basta ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para fazer parte do banquete celestial. É preciso, antes de mais nada, e como condição primeira, estar vestido com a roupa nupcial, ou seja, ter a pureza de coração e praticar a lei conforme o espírito.
Acontece que essa Lei está totalmente contida nessas palavras: fora da caridade não há salvação; mas, entre todos os que ouvem a palavra divina, poucos são os que a guardam, colocando-a em prática, e poucos se tornam dignos de entrar no reino dos Céus! Foi por isso que Jesus disse: Muitos são chamados e poucos os escolhidos.

TESTEMUNHO

"Pois para isto é que tostes chamados, porque também o Cristo
padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que lhe sigais as
pegadas. - Pedro. I PEDRO, 2 :21

Muitos se queixam da luta moral em que se sentem envolvidos, depois da aceitação do Evangelho.
Em caminhos diferentes, sentem-se modificados.
Não mais mergulham nas correntes escuras da vaidade.
Não mais se comprazem no orgulho.
Não mais se compadecem com o egoísmo.
Não mais rendem culto à discórdia.
E, por isso, de alma desenfaixada, por perderem velhos envoltórios da ilusão, reconhecem que a sensibilidade se lhes aguça, agravando-lhes as aflições na romagem do mundo.
Sentem-se expostos a doloroso processo de burilamento e admitem padecer, mais que os outros, angustiosas provas. Mas, na sublimação espiritual de que oferecem testemunho, outros filhos da Terra tomam contacto com a Boa Nova, descobrindo as excelsitudes da vida cristã e estendendo-lhe a luz divina.
Se nos encontrarmos, pois, em extremos desajustes na vida íntima, à face dos problemas suscitados pela fé, saibamos superar corajosamente os conflitos da senda, optando sempre pelo sacrifício de nós mesmos, em favor do bem geral, de vez que não fomos trazidos à comunhão com Jesus, simplesmente para o ato de crer, mas para contribuir na extensão do Reino de Deus, ao preço de nossa própria renovação.
Ninguém recue, diante do sofrimento. Aprendamos a usá-lo, na edificação da vida mais eficiente, em frutos de paz e luz, serviço e fraternidade, bom ânimo e alegria, porque, segundo o Evangelho, "a isso fomos chamados", com o exemplo do Divino Mestre, que renunciou em nosso benefício, deixando-nos o padrão de altura espiritual que nos compete atingir.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Chico Xavier.