sábado, 4 de janeiro de 2020

PARÁBOLA DA FESTA DE NÚPCIAS


1. Jesus falando ainda em parábolas lhes disse: O reino dos Céus é semelhante a um rei que, querendo fazer as bodas de seu filho, enviou seus servidores para chamar às bodas aqueles que foram convidados; mas eles se recusaram a ir. Ele ainda enviou outros servidores com ordem de dizer de sua parte aos convidados: preparei meu banquete; matei meus bois e tudo o que tinha engordado; tudo está pronto, vinde às bodas. Mas eles, desprezando o convite, se foram, um à casa de campo e o outro para seu negócio. Os outros lançaram mão de seus servidores e os mataram, após lhes terem feito vários ultrajes. O rei, tendo ouvido isto, irou-se e, tendo enviado seus soldados, exterminou esses homicidas e queimou a cidade deles.
Então disse a seus servidores: a festa de bodas está pronta; mas os que foram convidados não foram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas, e chamai às núpcias todos que encontrardes. Seus servidores foram então para as ruas e chamaram todos aqueles que encontraram, bons e maus; e a sala de bodas ficou repleta de pessoas que se sentaram à mesa.
Entrou o rei, em seguida, para ver aqueles que estavam à mesa e, tendo percebido um homem que não estava vestido com a roupa nupcial, lhe disse: Meu amigo, como entraste aqui sem ter a roupa nupcial? E esse homem ficou mudo. Então o rei disse às pessoas: Atai-lhe as mãos e os pés, e lançai-o nas trevas exteriores: lá, haverá prantos e ranger de dentes; pois muitos são os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, 22:1 a 14)
2. O incrédulo ri desta parábola, que lhe parece de uma ingenuidade pueril, pois não compreende que possa haver tanta dificuldade para ir a uma festa, e ainda mais quando os convidados chegam ao ponto de massacrar os enviados do dono da casa. “As parábolas” – diz o incrédulo – “são, sem dúvida, alegorias, mas é preciso que elas não saiam do limite do aceitável”.
O mesmo se pode dizer de todas as alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não tirarmos do seu enredo o sentido oculto. Jesus compunha as suas, com os fatos usuais e vulgares da vida, e as adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava. A maioria delas tinha como objetivo fazer o povo compreender a ideia da vida espiritual. O significado só é incompreensível quando aqueles que as interpretam não as observam desse ponto de vista.
Nesta parábola, Jesus compara o reino dos Céus, onde tudo é alegria e felicidade, a uma festa de núpcias. Em relação aos primeiros convidados, refere-se aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus para o conhecimento de sua Lei. Os enviados do rei são os profetas, que convidaram os judeus a seguir o caminho da verdadeira felicidade, mas suas palavras eram pouco escutadas, suas advertências eram desprezadas e muitos foram mesmo massacrados como os servidores da parábola. Os convidados que se desculpam, por terem de ir cuidar dos campos e de seu negócio, representam as pessoas que, absorvidas pelas coisas do mundo, são indiferentes em relação às coisas celestes.
Era uma crença, para os judeus de então, de que sua nação deveria ter o domínio sobre todas as outras. Deus não tinha, de fato, prometido a Abraão que seus descendentes cobririam toda a Terra? Mas, como sempre, desprezando a substância, tomaram o ensinamento divino pelo lado dos seus interesses e acreditavam realmente no domínio da sua nação no plano material, sobre as outras.
Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens mais instruídos haviam atingido a ideia de unidade divina, esta ideia permaneceu no estado de opinião pessoal, pois em nenhuma parte foi aceita como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos sob o véu do mistério, impenetrável à compreensão do povo. Os hebreus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo. Foi a eles que Deus transmitiu sua lei, inicialmente por Moisés, depois por Jesus. E foi desse pequeno foco que partiu a luz, que deveria expandir-se pelo mundo inteiro, triunfar sobre o paganismo e dar a Abraão uma posteridade espiritual tão numerosa quanto as estrelas do firmamento. Mas os judeus, embora rejeitassem completamente a idolatria, haviam negligenciado a lei moral para se dedicar à prática mais fácil do culto exterior. O mal atingira o seu ponto mais extremo: a nação, dominada pelos romanos, estava desfigurada pelas lutas políticas, dividida pelas seitas. A incredulidade havia penetrado até mesmo no Templo. Foi então que apareceu Jesus, enviado para chamá-los à observância da Lei e abrir-lhes os novos horizontes da vida futura. Sendo os primeiros a serem convidados para o grande banquete da fé universal, rejeitaram a palavra do celeste Messias e sacrificaram-no; foi assim que perderam o fruto que deveriam ter colhido de sua própria iniciativa.
Seria injusto, entretanto, acusar todo o povo por esse estado de coisas; a responsabilidade coube principalmente aos fariseus e aos saduceus, que tinham arruinado a nação por orgulho e fanatismo de uns e pela incredulidade de outros. É a eles que Jesus compara os convidados que se recusam a comparecer à festa das núpcias. Depois, acrescenta: O rei, vendo isto, convidou todos àqueles que se encontravam nas encruzilhadas, bons e maus. Queria dizer com isso que a palavra iria ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e que estes, aceitando-a, seriam admitidos na festa no lugar dos primeiros convidados.
Mas não basta ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para fazer parte do banquete celestial. É preciso, antes de mais nada, e como condição primeira, estar vestido com a roupa nupcial, ou seja, ter a pureza de coração e praticar a lei conforme o espírito.
Acontece que essa Lei está totalmente contida nessas palavras: fora da caridade não há salvação; mas, entre todos os que ouvem a palavra divina, poucos são os que a guardam, colocando-a em prática, e poucos se tornam dignos de entrar no reino dos Céus! Foi por isso que Jesus disse: Muitos são chamados e poucos os escolhidos.

TESTEMUNHO

"Pois para isto é que tostes chamados, porque também o Cristo
padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que lhe sigais as
pegadas. - Pedro. I PEDRO, 2 :21

Muitos se queixam da luta moral em que se sentem envolvidos, depois da aceitação do Evangelho.
Em caminhos diferentes, sentem-se modificados.
Não mais mergulham nas correntes escuras da vaidade.
Não mais se comprazem no orgulho.
Não mais se compadecem com o egoísmo.
Não mais rendem culto à discórdia.
E, por isso, de alma desenfaixada, por perderem velhos envoltórios da ilusão, reconhecem que a sensibilidade se lhes aguça, agravando-lhes as aflições na romagem do mundo.
Sentem-se expostos a doloroso processo de burilamento e admitem padecer, mais que os outros, angustiosas provas. Mas, na sublimação espiritual de que oferecem testemunho, outros filhos da Terra tomam contacto com a Boa Nova, descobrindo as excelsitudes da vida cristã e estendendo-lhe a luz divina.
Se nos encontrarmos, pois, em extremos desajustes na vida íntima, à face dos problemas suscitados pela fé, saibamos superar corajosamente os conflitos da senda, optando sempre pelo sacrifício de nós mesmos, em favor do bem geral, de vez que não fomos trazidos à comunhão com Jesus, simplesmente para o ato de crer, mas para contribuir na extensão do Reino de Deus, ao preço de nossa própria renovação.
Ninguém recue, diante do sofrimento. Aprendamos a usá-lo, na edificação da vida mais eficiente, em frutos de paz e luz, serviço e fraternidade, bom ânimo e alegria, porque, segundo o Evangelho, "a isso fomos chamados", com o exemplo do Divino Mestre, que renunciou em nosso benefício, deixando-nos o padrão de altura espiritual que nos compete atingir.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Chico Xavier.

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