domingo, 26 de julho de 2020

CARREGAR A CRUZ. QUEM QUISER SALVAR A VIDA, A PERDERÁ.

17. Sereis bem felizes, quando os homens vos odiarem, vos separarem, vos tratarem injuriosamente, rejeitarem vosso nome como mau por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos nesse dia, e alegrai-vos, pois uma grande recompensa vos está reservada no Céu, pois foi assim que os pais deles trataram os profetas. (Lucas, 6:22 e 23)
18. Ao chamar a si o povo e os discípulos, Jesus disse: Se alguém quiser me seguir, que renuncie a si mesmo, que carregue sua cruz e siga-me; pois aquele que quiser salvar a si mesmo se perderá; e aquele que se perder por amor a mim e ao Evangelho se salvará. De fato, de que serviria a um homem ganhar tudo e perder a si mesmo? (Marcos, 8:34 a 36; Lucas, 9:23 a 25; Mateus, 10:39; João, 12:25 e 26)
19. Alegrai-vos, disse Jesus, quando os homens vos odiarem e vos perseguirem por minha causa, porque sereis recompensados no Céu. Estas palavras podem ser interpretadas do seguinte modo: “Sede felizes quando os homens, pela má vontade manifestada para convosco, vos derem a ocasião de provar a sinceridade de vossa fé, porque o mal que vos fizerem reverterá em vosso proveito. Lamentai-os, por sua cegueira, e não os amaldiçoeis”.
Depois, acrescenta: Aquele que quer me seguir carregue sua cruz, ou seja, que suporte corajosamente as dificuldades que sua fé lhe acarretar; pois aquele que quiser salvar sua vida e seus bens renunciando a mim perderá as vantagens do reino dos Céus, enquanto aqueles que tiverem perdido tudo na Terra, até mesmo a vida, para o triunfo da verdade, receberão na vida futura o prêmio da coragem, da perseverança e do desprendimento demonstrados. Mas, àqueles que sacrificam os bens celestes aos prazeres terrenos, Deus dirá: Já recebestes a vossa recompensa.

APÓS JESUS

“E, quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu,
que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas,
para que a levasse após Jesus.” – (Lucas, 23:26.)

A multidão que rodeava o Mestre, no dia supremo, era enorme.
Achavam-se ali os gozadores impenitentes do mundo, os campeões da usura, os ridicularizadores, os ignorantes, os espíritos fracos que reconheciam a superioridade do Cristo e temiam anunciar as próprias convicções, os amigos vacilantes do Evangelho, as testemunhas acovardadas, os beneficiados pelo Divino Médico, que se ocultavam, medrosos, com receio de sacrifícios.
Mas um estrangeiro, instado pelo povo, aceitou o madeiro, embora constrangidamente, e seguiu carregando-o, após Jesus.
A lição, entretanto, seria legada aos séculos do futuro...
O mundo ainda é uma Jerusalém enorme, congregando criaturas dos mais variados matizes, mas se te aproximas do Evangelho, com sinceridade e fervor, colocam-te a cruz sobre o coração.
Daí em diante, serás compelido às maiores demonstrações de renúncia, raros te observarão o cansaço e a angústia e, não obstante a tua condição de servidor, com os mesmos problemas dos outros, exigir-te-ão espetáculos de humildade e resistência, heroísmo e lealdade ao bem.
Sofre e trabalha, de olhos voltados para a Divina Luz.
Do Alto descerão para o teu Espírito as torrentes invisíveis das fontes celestes, e vencerás valorosamente.
Por enquanto, a cruz ainda é o sinal dos aprendizes fiéis.
Se não tens contigo as marcas do testemunho pela responsabilidade, pelo trabalho, pelo sacrifício ou pelo aprimoramento íntimo, é possível que ames profundamente o Mestre, mas é quase certo que ainda não te colocaste, junto dele, na jornada redentora.
Abençoemos, pois, a nossa cruz e sigamo-lo, destemerosos, buscando a vitória do amor e a ressurreição eterna.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 19 de julho de 2020

CORAGEM DA FÉ


13. Todo aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos Céus; e todo aquele que me renegar diante dos homens, eu o renegarei também, diante de meu Pai que está nos Céus. (Mateus, 10:32 e 33)
14. Se alguém se envergonha de mim e de minhas palavras, o Filho do Homem se envergonhará dele também, quando vier em sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos. (Lucas, 9:26)
15. A coragem de manifestar opinião própria sempre foi estimada entre os homens, pois há mérito em enfrentar os perigos, as perseguições, as contradições, e até mesmo as simples ironias, aos quais se expõe, quase sempre, aquele que não teme proclamar abertamente as ideias que não são as de todos. Nisto, como em tudo, o mérito está na razão das circunstâncias e da importância do resultado.
Há sempre fraqueza em recuar diante das dificuldades de defender sua opinião e de renegá-la, mas há casos em que isto equivale a uma covardia tão grande quanto a de fugir no momento do combate.
Jesus destaca essa covardia, do ponto de vista especial da sua doutrina, ao dizer que, se alguém se envergonha de suas palavras, Ele se envergonhará também dele; que renegará aquele que O tiver renegado; que aquele que O confessar diante dos homens, Ele o reconhecerá diante do Pai que está nos Céus; em outras palavras: Aqueles que tiverem medo de se confessar discípulos da verdade não são dignos de ser admitidos no reino da verdade. Perderão, assim, a vantagem de sua fé, porque é uma fé egoísta, que guardam para si mesmos, mas que escondem com medo que lhes acarrete prejuízo neste mundo, ao passo que, ao colocar a verdade acima de seus interesses materiais, proclamando-a abertamente, trabalham ao mesmo tempo pelo seu futuro e pelo dos outros.
16. Assim será com os adeptos do Espiritismo, uma vez que sua doutrina é o desenvolvimento e a aplicação do Evangelho. É a eles, portanto, que também se dirigem as palavras do Cristo: Semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual; lá, recolherão os frutos de sua coragem ou de sua fraqueza.

NA GRANDE ROMAGEM

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para
um lugar que havia de receber por herança; e saiu,
sem saber para onde ia.” – Paulo. (Hebreus, 11:8.)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é destinada.
A conscrição atinge a todos.
O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia...
E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partir igualmente.
Ignoramos as estações de contacto na romagem enorme, mas estamos informados de que o nosso objetivo é Cristo Jesus.
Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia? Quantas vezes transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?
Insolúvel a resposta.
Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento.
Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão...
Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.
Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros.
Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude.
Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:
- vencendo desertos;
- superando dificuldades;
- varando nevoeiros;
- eliminando obstáculos.
Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.
Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de que o Senhor nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 12 de julho de 2020

OS SÃOS NÃO TÊM NECESSIDADE DE MÉDICO

11. Jesus, estando à mesa na casa deste homem (Mateus), vieram muitos publicanos e pessoas de má vida que se colocaram à mesa com Jesus e seus discípulos; e vendo isso, os fariseus disseram a seus discípulos: Por que vosso Mestre come com os publicanos e pessoas de má vida? Mas Jesus, os tendo escutado, lhes disse: Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. (Mateus, 9:10 a 12)
12. Jesus dirigia-se, principalmente, aos pobres e aos deserdados, pois são eles os que têm maior necessidade de consolação; aos cegos dóceis e de boa-fé, porque pedem para ver, e não aos orgulhosos, que acreditam possuir toda luz e não ter necessidade de nada.
Estas palavras causam admiração como tantas outras, mas aplicam-se perfeitamente ao Espiritismo. A mediunidade está neste caso. Parece estranho que ela seja concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela; costuma-se dizer que um dom tão precioso deveria ser dado somente aos mais merecedores.
Digamos, primeiramente, que a mediunidade faz parte da condição orgânica de qualquer pessoa. Qualquer um a pode ter, assim como vê, ouve e fala, e qualquer criatura, em virtude do seu livre-arbítrio, pode delas abusar. Se Deus tivesse concedido a palavra apenas àqueles que fossem capazes de dizer coisas boas, haveria na Terra mais mudos do que falantes. Deus deu aos homens os dons, e os deixou livres para usá-los, embora sempre puna os que deles abusam.
Se o dom de comunicar-se com os Espíritos fosse dado apenas aos mais dignos, quem ousaria pretendê-lo? Onde estaria o limite da dignidade e da indignidade? A mediunidade é, portanto, dada a todos, a fim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, tanto ao pobre quanto ao rico; aos sábios para fortalecê-los no bem, aos viciosos para corrigi-los. Não são estes últimos, os doentes, que têm necessidade de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria da ajuda que pode tirá-lo do lamaçal? Os bons Espíritos vêm ajudá-lo, e os conselhos que recebe diretamente são de natureza a impressioná-lo mais vivamente do que se os recebesse por outros caminhos. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir procurar a luz ao longe, a coloca em suas mãos; não será bem mais culpado se não quiser ver? Poderá se desculpar por sua ignorância, quando ele mesmo tiver escrito, visto com seus olhos, ouvido com seus ouvidos e pronunciado com a própria boca sua condenação? Se não aproveita, é então punido pela perda ou pela perversão do seu dom, do qual os maus Espíritos se aproveitam para obsediá-lo e enganá-lo, além das aflições comuns com que a Lei de Deus atinge seus servidores indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores; é simplesmente uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos útil aos Espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos, e que só deles recebe assistência. É somente nesse sentido que a excelência das qualidades morais tem influência sobre a mediunidade.

Mediunidade

Mediunidade sem exercício no bem, é semelhante ao título profissional sem a função que lhe corresponde.
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A medicina é venerável em suas finalidades, mas se o médico abomina os doentes, não lhe vale o ingresso no apostolado da cura.
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A lavoura é serviço que assegura à comunidade o pão de cada dia, contudo, se o homem do campo odeia o arado, preferindo acomodar-se com a inércia, debalde a gleba em suas mãos recolherá o apoio do sol e a bênção da chuva.
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Mediunidade não é pretexto para situar-se a criatura no fenômeno exterior ou no êxtase inútil, à maneira da criança atordoada no deslumbramento da festa vulgar.
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É, acima de tudo, caminho de árduo trabalho em que o espírito, chamado a servi-la, precisa consagrar o melhor das próprias forças para colaborar no desenvolvimento do bem.
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O médium, por isso, será vigilante cultor do progresso, assistindo-lhe a obrigação de aprimorar-se incessantemente para refletir com mais segurança a palavra ou o alvitre, o pensamento ou a sugestão da Vida Maior.
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Nesse sentido, sabendo que a experiência humana é vasta colmeia de luta na qual enxameiam desencarnados de toda sorte, urge saiba ajustar-se à companhia de ordem superior, buscando no convívio de Espíritos Benevolentes e Sábios o clima ideal para a missão que lhe compete cumprir, significando isso disciplina constante no estudo nobre e ação incansável na beneficência em favor dos outros.
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Essa é a única senda de acesso à vida mais alta, através da qual, auxiliando sem a preocupação de ser auxiliado, servindo sem exigência e distribuindo, sem retribuição, os talentos que recebe, poderá o medianeiro honrar efetivamente a mediunidade, por ela espalhando os frutos de Paz e Amor que lhe repontam da vida, em marcha gradativa para a Grande Luz.

Livro Mediunidade e Sintonia – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 5 de julho de 2020

NÃO PROCUREIS OS GENTIOS


8. Jesus enviou seus doze apóstolos, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não procureis os gentios, e não entreis nas cidades dos samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e nos lugares onde fordes, pregai dizendo que o reino dos Céus está próximo. (Mateus, 10:5 a 7)
9. Jesus prova, em muitas circunstâncias, que os seus ensinamentos não estão voltados somente ao povo judeu, mas abrangem toda a Humanidade. Se Ele disse aos apóstolos para não irem aos pagãos, não foi por desprezar a conversão deles, o que seria pouco caridoso. É que os judeus já acreditavam num único deus e esperavam um messias, estando preparados, pela lei de Moisés e pelos profetas, para receber essas promessas. Entre os pagãos, como não houvesse base, tudo estava por fazer, e os apóstolos ainda não estavam suficientemente esclarecidos para uma tarefa tão difícil; é por isso que lhes diz: Ide às ovelhas desgarradas de Israel, ou seja, ide semear em terreno já desbravado, sabendo que a conversão dos gentios viria a seu tempo. De fato, mais tarde, foi no próprio centro do paganismo que os apóstolos foram plantar a cruz.
10. Estas palavras podem também se aplicar aos seguidores e aos propagadores do Espiritismo, para os quais os incrédulos sistemáticos, os zombadores obstinados, os adversários interesseiros são o que eram os gentios para os apóstolos, e, seguindo-lhes o exemplo, devem procurar, primeiramente, seguidores entre as pessoas de boa vontade, que desejam a luz, e que têm um gérmen fecundo de fé, e cujo número é grande. Não devem perder tempo com os que se recusam a ver e a ouvir, e tanto mais resistem por orgulho quanto mais se parece dar valor à sua conversão. Mais vale abrir os olhos a cem cegos que desejam ver claramente do que a um só que prefere as trevas. Disto resultará um maior número de sustentadores da Doutrina. Deixar os
outros tranquilos não é indiferença, mas boa política. A vez deles chegará, quando, dominados pela opinião geral, e ouvindo a mesma coisa sem parar, repetidamente, ao redor deles, acreditarão aceitar a ideia voluntariamente, por si mesmos, e não influenciados por outras pessoas. Além disso, ocorre com as ideias o mesmo que com as sementes: elas não podem germinar antes da estação, e somente em terreno preparado. Eis por que é melhor esperar o tempo propício e cultivar primeiro as que germinem, evitando perder as outras ao apressá-las muito.
No tempo de Jesus, em consequência das ideias restritas e materiais da época, tudo era limitado e localizado; a casa de Israel era um pequeno povo; os gentios eram também pequenos povos vizinhos. Hoje, as ideias se universalizam e se espiritualizam. A nova luz já não é privilégio de nenhuma nação; para ela não existe mais barreira; o seu foco está em todos os lugares, e todos os homens são irmãos. Mas os gentios também não são mais um pequeno povo, eles são agora uma opinião que encontramos em muitos lugares, sobre a qual a verdade triunfa pouco a pouco, como o Cristianismo triunfou sobre o paganismo. Não é mais com as armas de guerra que são combatidos, mas com a força da ideia.

* N. E. - Gentio: pagão, idólatra; (neste caso) que não aceitava a crença em um único deus.

ESTENDAMOS O BEM

“Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem”.
– Paulo. (Romanos, 12:21.)

Repara que, em plena casa da Natureza, todos os elementos, em face do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento da harmonia e para a vitória do bem.
Quando o temporal parece haver destruído toda a paisagem, congregam-se as forças divinas da vida para a obra do refazimento.
O Sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas do chão.
O vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos.
O cântico das aves substitui a voz do trovão.
A planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso.
O ar que suporta o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora, torna à leveza e à suavidade.
A árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos frutos.
A terra, nossa mãe comum, sofre a chuva de granizos e o banho de lodo, periodicamente, mas nem por isso deixa de engrandecer o bem cada vez mais.
Por que conservaremos, por nossa vez, o fel e o azedume do mal, na intimidade do coração?
Aprendamos a receber a visita da adversidade, educando-lhe as energias para proveito da vida.
A ignorância é apenas uma grande noite que cederá lugar ao sol da sabedoria.
Usa o tesouro de teu amor, em todas as direções, e estendamos o bem por toda parte.
A fonte, quando tocada de lama, jamais se dá por vencida.
Acolhe os detritos no próprio seio e, continuando a fluir, transforma-os em bênçãos, no curso de suas águas que prosseguem correndo, com brandura e humildade, para benefício de todos.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.