domingo, 12 de julho de 2020

OS SÃOS NÃO TÊM NECESSIDADE DE MÉDICO

11. Jesus, estando à mesa na casa deste homem (Mateus), vieram muitos publicanos e pessoas de má vida que se colocaram à mesa com Jesus e seus discípulos; e vendo isso, os fariseus disseram a seus discípulos: Por que vosso Mestre come com os publicanos e pessoas de má vida? Mas Jesus, os tendo escutado, lhes disse: Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. (Mateus, 9:10 a 12)
12. Jesus dirigia-se, principalmente, aos pobres e aos deserdados, pois são eles os que têm maior necessidade de consolação; aos cegos dóceis e de boa-fé, porque pedem para ver, e não aos orgulhosos, que acreditam possuir toda luz e não ter necessidade de nada.
Estas palavras causam admiração como tantas outras, mas aplicam-se perfeitamente ao Espiritismo. A mediunidade está neste caso. Parece estranho que ela seja concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela; costuma-se dizer que um dom tão precioso deveria ser dado somente aos mais merecedores.
Digamos, primeiramente, que a mediunidade faz parte da condição orgânica de qualquer pessoa. Qualquer um a pode ter, assim como vê, ouve e fala, e qualquer criatura, em virtude do seu livre-arbítrio, pode delas abusar. Se Deus tivesse concedido a palavra apenas àqueles que fossem capazes de dizer coisas boas, haveria na Terra mais mudos do que falantes. Deus deu aos homens os dons, e os deixou livres para usá-los, embora sempre puna os que deles abusam.
Se o dom de comunicar-se com os Espíritos fosse dado apenas aos mais dignos, quem ousaria pretendê-lo? Onde estaria o limite da dignidade e da indignidade? A mediunidade é, portanto, dada a todos, a fim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, tanto ao pobre quanto ao rico; aos sábios para fortalecê-los no bem, aos viciosos para corrigi-los. Não são estes últimos, os doentes, que têm necessidade de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria da ajuda que pode tirá-lo do lamaçal? Os bons Espíritos vêm ajudá-lo, e os conselhos que recebe diretamente são de natureza a impressioná-lo mais vivamente do que se os recebesse por outros caminhos. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir procurar a luz ao longe, a coloca em suas mãos; não será bem mais culpado se não quiser ver? Poderá se desculpar por sua ignorância, quando ele mesmo tiver escrito, visto com seus olhos, ouvido com seus ouvidos e pronunciado com a própria boca sua condenação? Se não aproveita, é então punido pela perda ou pela perversão do seu dom, do qual os maus Espíritos se aproveitam para obsediá-lo e enganá-lo, além das aflições comuns com que a Lei de Deus atinge seus servidores indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores; é simplesmente uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos útil aos Espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos, e que só deles recebe assistência. É somente nesse sentido que a excelência das qualidades morais tem influência sobre a mediunidade.

Mediunidade

Mediunidade sem exercício no bem, é semelhante ao título profissional sem a função que lhe corresponde.
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A medicina é venerável em suas finalidades, mas se o médico abomina os doentes, não lhe vale o ingresso no apostolado da cura.
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A lavoura é serviço que assegura à comunidade o pão de cada dia, contudo, se o homem do campo odeia o arado, preferindo acomodar-se com a inércia, debalde a gleba em suas mãos recolherá o apoio do sol e a bênção da chuva.
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Mediunidade não é pretexto para situar-se a criatura no fenômeno exterior ou no êxtase inútil, à maneira da criança atordoada no deslumbramento da festa vulgar.
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É, acima de tudo, caminho de árduo trabalho em que o espírito, chamado a servi-la, precisa consagrar o melhor das próprias forças para colaborar no desenvolvimento do bem.
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O médium, por isso, será vigilante cultor do progresso, assistindo-lhe a obrigação de aprimorar-se incessantemente para refletir com mais segurança a palavra ou o alvitre, o pensamento ou a sugestão da Vida Maior.
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Nesse sentido, sabendo que a experiência humana é vasta colmeia de luta na qual enxameiam desencarnados de toda sorte, urge saiba ajustar-se à companhia de ordem superior, buscando no convívio de Espíritos Benevolentes e Sábios o clima ideal para a missão que lhe compete cumprir, significando isso disciplina constante no estudo nobre e ação incansável na beneficência em favor dos outros.
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Essa é a única senda de acesso à vida mais alta, através da qual, auxiliando sem a preocupação de ser auxiliado, servindo sem exigência e distribuindo, sem retribuição, os talentos que recebe, poderá o medianeiro honrar efetivamente a mediunidade, por ela espalhando os frutos de Paz e Amor que lhe repontam da vida, em marcha gradativa para a Grande Luz.

Livro Mediunidade e Sintonia – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

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