domingo, 28 de março de 2021

NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO

São Luís - Paris, 1859

25. Será a encarnação uma punição e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a ela?

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que possam cumprir, por meio de ações materiais, os planos cuja execução Deus lhes confiou. Isto é necessário para eles mesmos, pois a atividade que estão obrigados a desempenhar ajuda o desenvolvimento da sua inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, considera igualmente todos os seus filhos. É por isso que Ele dá a todos um mesmo ponto de partida, a mesma capacidade, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de ação. Qualquer privilégio seria uma preferência e qualquer preferência, uma injustiça. Mas a encarnação é para todos os Espíritos apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impôs no início de suas vidas, como primeira prova do uso que farão de seu livre-arbítrio. Aqueles que cumprem essa tarefa com zelo vencem mais rapidamente e de maneira menos aflitiva esses primeiros degraus da iniciação e colhem mais cedo os frutos de seu trabalho. Aqueles que, ao contrário, fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede retardam seu adiantamento, e é assim que, pela sua teimosia, podem prolongar indefinidamente a necessidade de reencarnar, e é quando então ela se torna um castigo.

26. Observação: uma comparação simples ajudará a entender melhor as duas possibilidades. O estudante apenas chega aos graus superiores da Ciência após ter percorrido as séries que conduzem até lá. Essas séries, qualquer que seja o trabalho que exijam, são um meio de chegar ao objetivo e não uma punição. O estudante esforçado encurta a caminhada e nela encontra menos dificuldades, contrariamente àquele cujo desleixo e preguiça obrigam a repetir algumas séries. Não é o trabalho da repetição que constitui uma punição, mas a obrigação de ter de fazer tudo outra vez.

Assim tem sido com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está quase no início da vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver sua inteligência. Porém, para o homem esclarecido, no qual o sentido moral está mais desenvolvido e que é obrigado a repetir as etapas de uma vida corporal cheia de angústias, quando já poderia ter alcançado o objetivo, torna-se um castigo, pela necessidade de prolongar sua permanência nos mundos inferiores e infelizes. Ao contrário, aquele que trabalha ativamente para o seu progresso moral pode não somente encurtar a duração da encarnação material, mas vencer de uma só vez os graus intermediários que o separam dos mundos superiores.

Pergunta-se: os Espíritos não poderiam encarnar uma única vez num mesmo globo e cumprir outras existências em outros mundos diferentes? Essa situação só poderia ser admitida se todos os homens encarnados na Terra fossem exatamente do mesmo padrão intelectual e moral. As diferenças que existem entre eles, desde o selvagem até o homem civilizado, mostram quais os degraus que têm de subir, e a encarnação tem de ter um objetivo útil. Então, qual seria a finalidade das encarnações de curta duração, das crianças que morrem pequeninas? Sofreriam sem proveito para si mesmas, nem para os outros. Mas Deus, cujas leis são soberanamente sábias, não faz nada de inútil. Pela reencarnação no mesmo globo, quis que os mesmos Espíritos se reencontrassem e pudessem ter oportunidade de reparar os erros que cometeram entre si. Tendo em conta suas relações anteriores, Deus quis estabelecer e fixar os laços de família sobre

uma base espiritual e, sobre uma lei natural, apoiar os princípios de solidariedade, de fraternidade e de igualdade.

EXAMINA-TE

“Nada faças por contenda ou por vanglória, mas por humildade.” -

Paulo. (FILIPENSES, capítulo 2, versículo 3.)

O serviço de Jesus é infinito. Na sua órbita, há lugar para todas as criaturas e para todas as ideias sadias em sua expressão substancial.

Se, na ordem divina, cada árvore produz segundo a sua espécie, no trabalho cristão, cada discípulo contribuirá conforme sua posição evolutiva.

A experiência humana não é uma estação de prazer. O homem permanece em função de aprendizado e, nessa tarefa, é razoável que saiba valorizar a oportunidade de aprender, facilitando o mesmo ensejo aos semelhantes.

O apóstolo Paulo compreendeu essa verdade, afirmando que nada deveremos fazer por espírito de contenda e vanglória, mas, sim, por ato de humildade.

Quando praticares alguma ação que ultrapasse o quadro das obrigações diárias, examina os móveis que a determinaram. Se resultou do desejo injusto de supremacia, se obedeceu somente à disputa desnecessária, cuida de teu coração para que o caminho te seja menos ingrato. Mas se atendeste ao dever, ainda que hajas sido interpretado como rigorista e exigente, incompreensivo e infiel, recebe as observações indébitas e passa adiante.

Continua trabalhando em teu ministério, recordando que, por servir aos outros, com humildade, sem contendas e vanglórias, Jesus foi tido por imprudente e rebelde, traidor da lei e inimigo do povo, recebendo com a cruz a coroa gloriosa. 

Livro Caminho, Verdade e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.

sábado, 20 de março de 2021

LIMITES DA ENCARNAÇÃO - São Luís

 INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

LIMITES DA ENCARNAÇÃO

São Luís - Paris, 1859

24. Quais são os limites da encarnação?

A encarnação não tem limites precisamente traçados, se nos referirmos ao envoltório material que constitui o corpo do Espírito. A materialidade desse envoltório diminui à medida que o Espírito se purifica.

Em mundos mais avançados do que a Terra, ele já é menos denso, menos pesado e menos grosseiro e, por conseguinte, menos sujeito aos infortúnios da vida. Num grau mais elevado, é transparente e quase fluídico.

De grau em grau, ele se desmaterializa e acaba por se confundir com o perispírito. Dependendo do mundo no qual o Espírito é chamado a viver, toma um corpo apropriado à natureza desse mundo.

O próprio perispírito sofre transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais fluídico até a completa purificação, que constitui a natureza dos Espíritos puros. Embora os mundos especiais sejam destinados aos Espíritos mais avançados, eles não estão ali prisioneiros como nos mundos inferiores; o estado de pureza em que se encontram lhes permite transportarem-se por todas as partes onde realizam as missões que lhes são confiadas.

Considerando-se a encarnação do ponto de vista material, tal qual é na Terra, pode-se dizer que ela está limitada aos mundos inferiores.

Portanto, depende do próprio Espírito libertar-se mais ou menos rapidamente da encarnação, trabalhando por sua purificação.

Além do mais, deve-se considerar que na erraticidade, isto é, no intervalo das existências corporais, a situação do Espírito permanece relacionada com a natureza do mundo ao qual ele está ligado pelo seu grau de adiantamento. Deste modo, na erraticidade, ele é mais ou menos feliz, livre e esclarecido, conforme esteja mais ou menos desmaterializado.

REENCARNAÇÃO

Reencarnação nem sempre é sucesso expiatório, como nem toda luta no campo físico expressa punição.

Suor na oficina é acesso à competência.

Esforço na escola é aquisição de cultura.

Porque alguém se consagre hoje à Medicina, não quer isso dizer que haja ontem semeado moléstias e sofrimentos.

Muitas vezes, o Espírito, para senhorear o domínio das ciências que tratam do corpo, voluntariamente lhes busca o trato difícil, no rumo de mais elevada ascensão.

Porque um homem se dedique presentemente às atividades da engenharia, não exprime semelhante escolha essa ou aquela dívida do passado na destruição dos recursos da Terra.

Em muitas ocasiões, o Espírito elege esse gênero de trabalho, tentando crescer no conhecimento das leis que regem o plano material, em marcha para mais altos postos na Vida Superior.

Entretanto, se o médico ou o engenheiro sofrem golpes mortais no exercício da profissão a que se devotam, decerto nela possuem serviço reparador que é preciso atender na pauta das corrigendas necessárias e justas.

Toda restauração exige dificuldades equivalentes. Todo valor evolutivo reclama serviço próprio.

Nada existe sem preço.

Por esse motivo, se as paixões gritam jungidas aos flagelos que lhes extinguem a sombra, as tarefas sublimes fulgem ligadas às renunciações que lhes acendem a luz.

À vista disso, não te habitues a medir as dores alheias pelo critério de expiação, porque, quase sempre, almas heróicas que suportam o fogo constante das grandes dores morais, no sacrifício do lar ou nas lutas do povo, apenas obedecem aos impulsos do bem excelso, a fim de que a negação do homem seja bafejada pela esperança de Deus.

Recorda que, se fosses arrebatado ao Céu, não tolerarias o gozo estanque, sabendo que os teus filhos se agitam no torvelinho infernal. De imediato, solicitarias a descida aos tormentos da treva para ajudá-los na travessia da angústia...

Lembra-te disso e compreenderás, por fim, a grandeza do Cristo que, sem débito algum, condicionou-se às nossas deficiências, aceitando, para ajudar-nos, a cruz dos ladrões, para que todos consigamos, na glória de seu amor, soerguer-nos da morte no erro à bênção da Vida Eterna.

Livro Religião dos Espíritos – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 14 de março de 2021

OS LAÇOS DE FAMÍLIA SÃO FORTALECIDOS PELA REENCARNAÇÃO E ROMPIDOS PELA UNICIDADE DA EXISTÊNCIA

18. Os laços de família não são destruídos pela reencarnação, tal como pensam algumas pessoas. Ao contrário, são fortalecidos e entrelaçados. O princípio oposto, sim, é que os destrói.

Os Espíritos formam no espaço grupos ou famílias, unidos pela afeição, simpatia e semelhança de tendências. Esses Espíritos, felizes por estarem juntos, procuram-se. A encarnação apenas os separa momentaneamente, pois, após sua volta à erraticidade, reencontram-se como amigos que retornam de uma viagem. Às vezes, uns seguem a outros juntos na encarnação, em que se reúnem numa mesma família, ou num mesmo círculo, trabalhando juntos para seu mútuo adiantamento.

Se uns estão encarnados e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que estão livres preocupam-se com aqueles que estão encarnados, cativos da carne. Os mais adiantados procuram fazer progredir os que se atrasam. Após cada existência, terão dado mais um passo na busca da perfeição. Cada vez menos ligados à matéria, seu afeto é mais vivo, por isso mesmo mais puro, e não é mais perturbado pelo egoísmo, nem pelo arrastamento das paixões. Podem, assim, percorrer um número ilimitado de existências corporais sem que nada afete sua mútua afeição.

Deve-se entender que se trata aqui da verdadeira afeição de alma a alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, pois os seres que se unem na Terra só pelos interesses materiais não têm nenhum motivo para se procurarem no mundo dos Espíritos. Apenas as afeições espirituais são duráveis; as afeições carnais acabam com a causa que as fez nascer, e essa causa não existe mais no mundo dos Espíritos, ao passo que a alma sempre existe. Quanto às pessoas unidas só por interesses, realmente não são nada umas para as outras: a morte as separa na Terra e no Céu.

19. A união e a afeição que existe entre parentes são sinais da simpatia anterior que os aproximou. Por isso, diz-se, ao falar de uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não têm nenhuma semelhança com os de seus parentes, que ela não é da família. Ao dizer-se isso, declara-se uma verdade maior do que se acredita. Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e de meio de adiantamento para outros. Além disso, os maus melhoram-se pouco a pouco ao contato com os bons, e pelos cuidados que recebem. Seu caráter se suaviza, seus costumes se educam, as antipatias se apagam. É assim que se estabelece a união entre as diferentes categorias de Espíritos, como se estabelece na Terra entre as raças e os povos.

20. O temor de um grande aumento da parentela, em consequência da reencarnação, é um temor egoísta, que prova não se sentir um amor suficientemente desenvolvido para alcançar um grande número de pessoas. Um pai que tem muitos filhos, os amaria menos do que se tivesse apenas um? Mas que os egoístas se tranquilizem; esse temor não tem fundamento. Supondo que um homem tenha tido dez encarnações, isso não significa que ele encontrará no mundo dos Espíritos dez pais, dez mães, dez esposas e um número proporcional de filhos e de novos parentes. Reencontrará apenas aqueles a quem amou, aos quais esteve ligado na Terra por laços de parentesco ou de algum outro modo.

21. Vejamos agora as consequências da doutrina anti-reencarnacionista. Essa doutrina nega com toda certeza e de forma categórica a preexistência da alma. Acontece que, se as almas fossem criadas ao mesmo tempo que os corpos, nenhum laço anterior existiria entre elas. Seriam, portanto, completamente estranhas umas às outras. O pai seria estranho ao seu filho, e, deste modo, a filiação das famílias se encontraria reduzida apenas à filiação corporal, sem nenhum laço espiritual. Resultaria que não haveria nenhum motivo para se orgulhar por ter tido como antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes poderão já ter se conhecido, ter vivido juntos, se amado, e poderão se reencontrar, noutras reencarnações, para estreitar seus laços de simpatia.

22. Isto tudo, em relação ao passado. Quanto ao futuro, de acordo com um dos dogmas fundamentais que resultam da não reencarnação, a sorte das almas estaria irrevogavelmente fixada após uma única existência. A fixação definitiva da sorte da alma resultaria na interrupção de todo o progresso, pois, desde que se considera que há progresso, já não há mais sorte definida, marcada. Conforme tenham vivido bem ou mal, elas vão imediatamente para a morada dos bem-aventurados, ou para o inferno eterno. Assim, elas são imediatamente separadas para sempre, e sem esperança de algum dia se aproximarem, de tal modo que pais, mães, filhos, maridos e esposas, irmãos, irmãs, amigos, nunca terão a certeza de se reverem: significa a mais completa quebra dos laços de família.

Com a reencarnação e o progresso, que é a sua consequência, todos os que se amaram se reencontram na Terra e no espaço, e progridem juntos para chegar até Deus. Se falharem no caminho, retardarão seu adiantamento e sua felicidade, mas nem por isso suas esperanças  estarão perdidas. Ajudados, encorajados e amparados por aqueles que os amam, um dia sairão do lamaçal em que se afundaram. Enfim, com a reencarnação, há eterna solidariedade entre os encarnados e os desencarnados, do que resulta o estreitamento dos laços de amor.

23. Em resumo, são apresentadas quatro alternativas para o homem, sobre seu futuro de além-túmulo:

1ª-) o nada, conforme afirma a doutrina materialista;

2ª-) ser integrado ao todo universal, conforme afirma a doutrina panteísta;

3ª-) a individualidade da alma, com a fixação definitiva do destino, de acordo com a doutrina da Igreja;

4ª-) individualidade da alma, com progresso ao infinito, conforme a Doutrina Espírita.

De acordo com as duas primeiras, os laços de família são rompidos após a morte e não há nenhuma esperança de reencontro; com a terceira, há chance de se rever, contanto que se esteja no mesmo lugar, que pode ser o inferno ou o paraíso. Com a pluralidade das existências, que é inseparável da progressão contínua, existe a certeza de que as relações entre aqueles que se amaram não se interrompem, e é isso o que constitui a verdadeira família.

LAÇOS ETERNOS

A reencarnação estreita os vínculos do amor, tornando-os laços eternos, pelo quanto faculta de experiência na área da afetividade familiar.

Enquanto as ligações de sangue favorecem o egoísmo, atando as criaturas às algemas das paixões possessivas, a pluralidade das existências ajuda, mediante a superação das conveniências pessoais, a união fraternal.

Os genitores e nubentes, os irmãos e primos, os avós e netos de uma etapa trocarão de lugar no grupo de companheiros que se afinam, permanecendo os motivos e emulações da amizade superior.

O desligamento físico pela desencarnação faz que se recomponham, no além-túmulo, as famílias irmanadas pelo ideal da solidariedade, ensaiando os primeiros passos para a construção da imensa família universal.

Quando a força do amor vigilante detecta as necessidades dos corações que mergulharam na carne, sem egoísmo, pedem aos programadores espirituais das vidas que lhes permitam acompanhar aqueles afetos que os anteciparam, auxiliando-os nos cometimentos encetados, e reaparecem na parentela corporal ou naquela outra, a da fraternidade real que os une e faculta os exemplos de abnegação, renúncia e devotamento.

*

Este amigo que te oferece braço forte; esse companheiro a quem estimas com especial carinho; aquele conhecido a quem te devotas com superior dedicação; estoutro colega que te sensibiliza; essoutro discreto benfeitor da tua vida; aqueloutro vigilante auxiliar que se apaga para que apareças, são teus familiares em espírito, que ontem envergaram as roupagens de um pai abnegado ou de uma mãe sacrificada, de um irmão zeloso ou primo generoso, de uma esposa fiel e querida ou de um marido cuidadoso, ora ao teu lado, noutra modalidade biológica e familiar, alma irmã da tua alma, diminuindo as tuas dores, no carreiro da evolução e impulsionando-te para cima, sem pensarem em si...

Os adversários gratuitos que te sitiam e perturbam, os que te buscam sedentos e esfaimados, vencidos por paixões mesquinhas, são, também, familiares outros a quem ludibriaste e traíste, que agora retornam, necessitados do teu carinho, da tua reabilitação moral, a fim de que se refaça o grupo espiritual, que ascenderá contigo no rumo da felicidade.

*

Jesus, mais de uma vez, confirmou a necessidade dessa fusão dos sentimentos acima dos vínculos humanos, exaltando a superior necessidade da união familiar pelos laços eternos do espírito. A primeira, fê-lo, ao exclamar, respondendo à solicitação dos que lhe apontavam a mãezinha amada que O buscava, referindo-se: — “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos, senão aqueles que fazem a vontade do Pai?” Posteriormente, na cruz, quando bradou, num sublime testemunho, em resposta direta à Mãe angustiada que O inquirira: — “Meu filho, meu filho, que te fizeram os homens?” elucidando-a e doando-a à Humanidade: — “Mulher, eis aí teu filho” — “Filho, eis aí tua mãe”, entregando-o ao seu cuidado, através de cuja ação inaugurou a Era da fraternidade universal acima de todos os vínculos terrenos.

Livro SOS Família – Médium Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

domingo, 7 de março de 2021

RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO

4. A reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição. Somente os saduceus, que pensavam que tudo acabava com a morte, não acreditavam nela. As ideias dos judeus sobre esse assunto, e sobre muitos outros, não estavam claramente definidas, pois apenas tinham noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Acreditavam que um homem que viveu podia reviver, sem entender, entretanto, de que modo isso podia acontecer. Designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo chama mais apropriadamente de reencarnação. De fato, a ressurreição supõe o retorno à vida do corpo que está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, porque os elementos desse corpo estão, desde há muito tempo, desintegrados na Natureza. A reencarnação é o retorno da alma ou Espírito à vida corporal, mas em um outro corpo, formado novamente para ele, e que não tem nada em comum com o que se desintegrou. A palavra ressurreição podia assim se aplicar a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas. Se, portanto, conforme se acreditava, João Batista era Elias, o corpo de João não podia ser o de Elias, porque João tinha sido visto desde criança e sabia-se quem eram seu pai e sua mãe. João, portanto, podia ser Elias reencarnado, mas não ressuscitado.

5. Ora, havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite encontrar Jesus e lhe disse: Mestre, sabemos que viestes da parte de Deus para nos instruir como um doutor, pois ninguém poderia fazer os milagres que fazes se Deus não estivesse com ele.

Jesus respondeu: Em verdade, em verdade, vos digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.

Nicodemos perguntou a Jesus: Como pode nascer um homem que já está velho? Pode ele entrar no ventre de sua mãe, para nascer uma segunda vez?

Jesus respondeu: Em verdade, em verdade, vos digo: Se um homem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é Espírito. Não vos espanteis se vos digo que é preciso que nasçais de novo. O Espírito sopra onde quer e escutais sua voz, mas não sabeis de onde ele vem, nem para onde vai. Ocorre o mesmo com todo homem que é nascido do Espírito.

Nicodemos perguntou: Como isso pode acontecer? Jesus lhe disse: Sois mestre em Israel e ignorais essas coisas! Em verdade, em verdade, vos digo que apenas dizemos o que sabemos e que apenas damos testemunho do que vimos; e, entretanto, não recebeis nosso testemunho.

Mas se não acreditais quando vos falo das coisas terrenas, como acreditareis quando vos falar das coisas do Céu? (João, 3:1 a 12.)

6. O pensamento de que João Batista era Elias, e de que os profetas podiam reviver na Terra, encontra-se em muitas passagens dos Evangelhos, notadamente nas relatadas acima (v. 1 a 3). Se essa crença fosse um erro, Jesus não teria deixado de combatê-la, como combateu tantas outras. Longe disso, Jesus a confirmou com toda a sua autoridade e colocou-a como ensinamento e como uma condição necessária quando disse: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. E insistiu, acrescentando: Não vos espanteis se vos digo que é preciso que nasçais de novo.

7. Estas palavras: “Se um homem não renascer da água e do Espírito”, foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. Porém o texto primitivo trazia simplesmente: Não renascer da água e do Espírito, enquanto, em algumas traduções, a expressão do Espírito foi substituída por do Espírito Santo, o que não corresponde mais ao mesmo pensamento. Esse ponto capital sobressai dos primeiros comentários feitos sobre os Evangelhos, assim como isso será um dia constatado sem equívoco possível.

8. Para compreender o verdadeiro sentido dessas palavras, é preciso igualmente entender o significado da palavra água, que foi empregado ali com um sentido diferente do que lhe é próprio.

Os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas eram muito imperfeitos. Acreditavam que a Terra tinha saído das águas, e por isso julgavam a água como elemento gerador absoluto. É assim que na Gênese* está escrito: O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre a superfície das águas. Que o firmamento seja feito no meio das águas. Que as águas que estão sob o céu se reúnam em um único lugar e que o elemento árido apareça. Que as águas produzam animais vivos que nadem na água, e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.

Conforme essa crença, a água tinha se tornado o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. Estas palavras: Se o homem não renascer da água e do Espírito, ou em água e em Espírito, significam então: “Se o homem não renascer com seu corpo e sua alma”. É neste sentido que foram entendidas naqueles tempos.

A mesma interpretação, aliás, é confirmada por estas outras palavras de Jesus: O que nasceu da carne é carne e o que nasceu do Espírito é Espírito, as quais dão a exata diferença entre o Espírito e o corpo. O que nasceu da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito é independente dele.

REENCARNAÇÃO

“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o

para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que,

tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.”

Jesus. (MATEUS, capítulo 18, versículo 8.)

Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.

Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.

É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada, quase morta.

No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão “melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.

Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.

Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.