domingo, 7 de março de 2021

RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO

4. A reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição. Somente os saduceus, que pensavam que tudo acabava com a morte, não acreditavam nela. As ideias dos judeus sobre esse assunto, e sobre muitos outros, não estavam claramente definidas, pois apenas tinham noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Acreditavam que um homem que viveu podia reviver, sem entender, entretanto, de que modo isso podia acontecer. Designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo chama mais apropriadamente de reencarnação. De fato, a ressurreição supõe o retorno à vida do corpo que está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, porque os elementos desse corpo estão, desde há muito tempo, desintegrados na Natureza. A reencarnação é o retorno da alma ou Espírito à vida corporal, mas em um outro corpo, formado novamente para ele, e que não tem nada em comum com o que se desintegrou. A palavra ressurreição podia assim se aplicar a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas. Se, portanto, conforme se acreditava, João Batista era Elias, o corpo de João não podia ser o de Elias, porque João tinha sido visto desde criança e sabia-se quem eram seu pai e sua mãe. João, portanto, podia ser Elias reencarnado, mas não ressuscitado.

5. Ora, havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite encontrar Jesus e lhe disse: Mestre, sabemos que viestes da parte de Deus para nos instruir como um doutor, pois ninguém poderia fazer os milagres que fazes se Deus não estivesse com ele.

Jesus respondeu: Em verdade, em verdade, vos digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.

Nicodemos perguntou a Jesus: Como pode nascer um homem que já está velho? Pode ele entrar no ventre de sua mãe, para nascer uma segunda vez?

Jesus respondeu: Em verdade, em verdade, vos digo: Se um homem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é Espírito. Não vos espanteis se vos digo que é preciso que nasçais de novo. O Espírito sopra onde quer e escutais sua voz, mas não sabeis de onde ele vem, nem para onde vai. Ocorre o mesmo com todo homem que é nascido do Espírito.

Nicodemos perguntou: Como isso pode acontecer? Jesus lhe disse: Sois mestre em Israel e ignorais essas coisas! Em verdade, em verdade, vos digo que apenas dizemos o que sabemos e que apenas damos testemunho do que vimos; e, entretanto, não recebeis nosso testemunho.

Mas se não acreditais quando vos falo das coisas terrenas, como acreditareis quando vos falar das coisas do Céu? (João, 3:1 a 12.)

6. O pensamento de que João Batista era Elias, e de que os profetas podiam reviver na Terra, encontra-se em muitas passagens dos Evangelhos, notadamente nas relatadas acima (v. 1 a 3). Se essa crença fosse um erro, Jesus não teria deixado de combatê-la, como combateu tantas outras. Longe disso, Jesus a confirmou com toda a sua autoridade e colocou-a como ensinamento e como uma condição necessária quando disse: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. E insistiu, acrescentando: Não vos espanteis se vos digo que é preciso que nasçais de novo.

7. Estas palavras: “Se um homem não renascer da água e do Espírito”, foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. Porém o texto primitivo trazia simplesmente: Não renascer da água e do Espírito, enquanto, em algumas traduções, a expressão do Espírito foi substituída por do Espírito Santo, o que não corresponde mais ao mesmo pensamento. Esse ponto capital sobressai dos primeiros comentários feitos sobre os Evangelhos, assim como isso será um dia constatado sem equívoco possível.

8. Para compreender o verdadeiro sentido dessas palavras, é preciso igualmente entender o significado da palavra água, que foi empregado ali com um sentido diferente do que lhe é próprio.

Os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas eram muito imperfeitos. Acreditavam que a Terra tinha saído das águas, e por isso julgavam a água como elemento gerador absoluto. É assim que na Gênese* está escrito: O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre a superfície das águas. Que o firmamento seja feito no meio das águas. Que as águas que estão sob o céu se reúnam em um único lugar e que o elemento árido apareça. Que as águas produzam animais vivos que nadem na água, e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.

Conforme essa crença, a água tinha se tornado o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. Estas palavras: Se o homem não renascer da água e do Espírito, ou em água e em Espírito, significam então: “Se o homem não renascer com seu corpo e sua alma”. É neste sentido que foram entendidas naqueles tempos.

A mesma interpretação, aliás, é confirmada por estas outras palavras de Jesus: O que nasceu da carne é carne e o que nasceu do Espírito é Espírito, as quais dão a exata diferença entre o Espírito e o corpo. O que nasceu da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito é independente dele.

REENCARNAÇÃO

“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o

para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que,

tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.”

Jesus. (MATEUS, capítulo 18, versículo 8.)

Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.

Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.

É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada, quase morta.

No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão “melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.

Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.

Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

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