domingo, 27 de junho de 2021

A VERDADEIRA INFELICIDADE

Delphine de Girardin - Paris, 1861

24. Todos falam da infelicidade, já a sentiram alguma vez e acreditam conhecer seus vários aspectos. Eu venho vos dizer que quase todas as pessoas se enganam e que a verdadeira infelicidade não é aquilo que os homens, ou seja, os infelizes, supõem. Eles a veem na miséria, na lareira sem fogo, no credor exigente, no berço vazio do anjo que sorria, nas lágrimas, no caixão que se acompanha com afronte descoberta e o coração partido, na angústia da traição, na miséria do orgulhoso que gostaria de se vestir de ouro e que esconde com dificuldade sua nudez sob os farrapos da vaidade. Tudo isso e ainda a muitas outras coisas dá-se o nome de infelicidade na linguagem humana. Sim, é a infelicidade para aqueles que apenas veem o presente; mas a verdadeira infelicidade está mais nas consequências de um fato do que nele próprio. Dizei-me se o acontecimento mais feliz para o momento, mas que depois resulta em consequências desastrosas, não é na realidade mais infeliz do que aquele que à primeira vista causa uma viva contrariedade, mas acaba produzindo o bem? Dizei-me se a tempestade que quebra as árvores, mas que saneia o ar ao eliminar os vírus insalubres que causam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade?

Para julgar algo é preciso ver-lhe as consequências. É assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, pois é lá que as consequências se fazem sentir. Portanto, tudo o que ele chama de infelicidade, segundo sua curta visão, cessa com a vida corporal e encontra sua compensação na vida futura.

Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova face, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais, com todas as forças de vossas almas iludidas. A infelicidade é essa alegria falsa, esse prazer egoísta, a fama enganadora, a agitação fútil, a louca satisfação da vaidade que faz calar a consciência, que perturba a ação do pensamento, que confunde o homem quanto ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que buscais incessantemente.

Esperai, vós que chorais! Acautelai-vos, vós que rides, pois vosso corpo está satisfeito! Ninguém transgride, impunemente, as leis de Deus; ninguém foge das responsabilidades de seus atos. As provações, essas credoras impiedosas e cruéis, com a sequência de desgraças que nos atinge na miséria, observam o vosso repouso enganador, para vos mergulhar, de repente, na agonia da verdadeira infelicidade, aquela que surpreende a alma enfraquecida pela indiferença e pelo egoísmo.

Que o Espiritismo vos esclareça e recoloque no seu verdadeiro lugar a verdade e o erro, tão estranhamente desfigurados pela vossa cegueira! Então, agireis como bravos soldados que, ao invés de fugir do perigo, preferem as lutas em combates arriscados à paz que não lhes pode dar nem glória, nem promoções. O que importa ao soldado perder durante a ação suas armas, seus equipamentos e suas roupas, contanto que saia vencedor e com glória? O que importa àquele que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida sua fortuna e sua veste carnal, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? 

ALGUMA COISA 

“Não necessitam de médico os que estão sãos,

mas sim os que estão enfermos.”

Jesus. (Lucas, 5:31.)

Quem sabe ler não se esqueça de amparar o que ainda não se alfabetizou.

Quem dispõe de palavra esclarecida ajude ao companheiro, ensinando-lhe a ciência da frase correta e expressiva.

Quem desfruta o equilíbrio orgânico não despreze a possibilidade de auxiliar o doente.

Quem conseguiu acender alguma luz de fé no próprio espírito suporte com paciência o infeliz que ainda não se abriu à mínima noção de responsabilidade perante o Senhor, auxiliando-o a desvencilhar-se das trevas.

Quem possua recursos para trabalhar não olvide o irmão menos ajustado ao serviço, conduzindo-o, sempre que possível, a atividade digna.

Quem estime a prática da caridade compadeça-se das almas endurecidas, beneficiando-as com as vibrações da prece.

Quem já esteja entesourando a humildade não se afaste do orgulhoso, conferindo-lhe, com o exemplo, os elementos indispensáveis ao reajuste.

Quem seja detentor da bondade não recuse assistência aos maus, de vez que a maldade resulta invariavelmente da revolta ou da ignorância.

Quem estiver em companhia da paz ajude aos desesperados.

Quem guarde alegria divida a graça do contentamento com os tristes.

Asseverou o Senhor que os sãos não precisam de médico, mas, sim, os enfermos.

Lembra-te dos que transitam no mundo entre dificuldades maiores que as tuas.

A vida não reclama o teu sacrifício integral em favor dos outros, mas, a benefício de ti mesmo, não desdenhes fazer alguma coisa na extensão da felicidade comum.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 20 de junho de 2021

OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS

Fénelon - Lyon, 1860

23. O homem está incessantemente à procura da felicidade que lhe foge sem parar, pois a felicidade pura não existe na Terra. Entretanto, apesar dos sofrimentos que formam o desfile inevitável desta vida, ele poderia pelo menos desfrutar de uma felicidade relativa se não condicionasse essa felicidade às coisas perecíveis e sujeitas às mesmas contrariedades, ou seja, aos prazeres materiais, ao invés de procurá-la nos prazeres da alma, que são uma antecipação dos prazeres celestes imperecíveis. Ao invés de procurar a paz do coração, única felicidade real aqui na Terra, é ávido por tudo aquilo que pode agitá-lo e perturbá-lo e, coisa curiosa, parece criar propositadamente tormentos que dependia só dele evitar.

Haverá maiores tormentos do que aqueles causados pela inveja e pelo ciúme? Para o invejoso e o ciumento não há repouso: estão sempre excitados pelo desejo, o que eles não têm e os outros possuem causa-lhes insônia. O sucesso de seus rivais lhes dá vertigem; seu único interesse é o de menosprezar os outros, toda a sua alegria está em excitar, nos insensatos como eles, a ira do ciúme de que estão possuídos. Pobres insensatos, de fato, nem sonham que talvez amanhã será preciso deixar todas essas futilidades cuja cobiça envenena suas vidas! Não é para eles que se aplicam estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados, visto que suas preocupações não têm recompensa no Céu.

De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja aquilo que não é seu, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico, pois, se olha abaixo de si, ao invés de olhar acima, verá sempre pessoas que têm menos. É calmo, pois não cria necessidades ilusórias, e não é a calma, em si mesma, uma felicidade em meio às tempestades da vida? 

ATRIBULADOS E PERPLEXOS

"Em tudo somos atribulados, mas não angustiados;

perplexos, mas não desanimados."

Paulo. (II CORÍNTIOS, 4:8.)

Desde os primeiros tempos do Evangelho, os leais seguidores de Jesus conhecem tribulações e perplexidades, por permanecerem na fé.

Quando se reuniam em Jerusalém, recordando o Mestre nos serviços do Reino Divino, conheceram a lapidação, a tortura, o exílio e o confisco dos bens; quando instituíram os trabalhos apostólicos de Roma, ensinando a verdade e o amor fraterno, foram confiados aos leões do circo, aos espetáculos sangrentos e aos postes de martírio.

Desde então, experimentam dolorosas surpresas em todas as partes do mundo. A idade medieval, envolvida em sombras, tentou desconhecer a missão do Cristo e acendeu-lhes fogueiras, conduzindo-os, além disso, a tormentos inesperados e desconhecidos, através dos tribunais políticos e religiosos da Inquisição.

E, ainda hoje, enquanto oram confiantes, exemplificando o amor evangélico, reparam o progresso dos ímpios e sofrem a dominação dos vaidosos de todos os matizes.

Enquanto triunfam os maus e os indiferentes, nas facilidades terrestres, são eles relegados a dificuldades e tropeços, à frente das situações mais simples.

Apesar da evolução inegável do direito no mundo, ainda são chamados a contas pelo bem que fazem e vigiados, com rudeza, devido à verdade consoladora que ensinam.

Mas todos os discípulos fiéis sabem, com Paulo de Tarso, que "em tudo serão atribulados e perplexos", todavia, jamais se entregarão à angústia e ao desânimo. Sabem que o Mestre Divino foi o Grande Atribulado e aprenderam com Ele que da perplexidade, da aflição, do martírio e da morte, transfere-se a alma para a Ressurreição Eterna

Livro Vinha de Luz – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 13 de junho de 2021

SE FOSSE UM HOMEM DE BEM, TERIA MORRIDO.

22. Dizeis, muitas vezes, referindo-vos a um homem mau que escapa de um perigo: Se fosse um homem de bem, teria morrido. Pois bem, ao dizer isso podeis até estar com a verdade. Muitas vezes, Deus dá efetivamente a um Espírito, ainda jovem nos caminhos do progresso, uma prova mais longa do que a um bom, o qual poderá receber, como recompensa de seu mérito, o favor de uma prova tão curta quanto possível. De qualquer forma, quando dizeis: Se fosse um homem de bem, teria morrido, estais cometendo uma ofensa.

Se um homem de bem morre e se o vizinho da casa ao lado é um malvado, dizeis: Seria bem melhor que este se fosse. Acontece que estais julgando erroneamente, pois aquele que parte acabou sua tarefa, e aquele que fica talvez nem a tenha começado. Por que gostaríeis, então, que o mau não tivesse tempo de terminá-la e que o outro ficasse ligado à gleba terrena? Que diríeis de um prisioneiro que, tendo cumprido o tempo da sua pena, permanecesse na prisão e fosse dada a liberdade a um outro que não tivesse esse direito? Sabei, pois, que a verdadeira liberdade está na libertação dos laços corporais, e, enquanto estiverdes na Terra, estareis em cativeiro.

Habituai-vos a não julgar aquilo que não podeis compreender e acreditai que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes o que vos parece um mal é um bem; mas vossas capacidades são tão limitadas que o conjunto do grande todo escapa aos vossos rudes sentidos.

Esforçai-vos para deixar, pelo pensamento, vossa mesquinha visão, e, à medida que vos elevardes, a importância da vida material diminuirá aos vossos olhos e apenas vos parecerá um incidente, na duração infinita de vossa existência espiritual, a única existência verdadeira.

APASCENTA

“Apascenta as minhas ovelhas.” – Jesus. (João, 21:17.)

Significativo é o apelo do Divino Pastor ao coração amoroso de Simão Pedro para que lhe continuasse o apostolado.

Observando na Humanidade o seu imenso rebanho, Jesus não recomenda medidas drásticas em favor da disciplina compulsória.

Nem gritos, nem xingamentos.

Nem cadeia, nem forca.

Nem chicote, nem vara.

Nem castigo, nem imposição.

Nem abandono aos infelizes, nem flagelação aos transviados.

Nem lamentação, nem desespero. “Pedro, apascenta as minhas ovelhas!” Isso equivale a dizer:

– Irmão, sustenta os companheiros mais necessitados que tu mesmo.

Não te desanimes perante a rebeldia, nem condenes o erro, do qual a lição benéfica surgirá depois.

Ajuda ao próximo, ao invés de vergastá-lo.

Educa sempre.

Revela-te por trabalhador fiel.

Sê exigente para contigo mesmo e ampara os corações enfermiços e frágeis que te acompanham os passos.

Se plantares o bem, o tempo se incumbirá da germinação, do desenvolvimento, da florescência e da frutificação, no instante oportuno.

Não analises, destruindo.

O inexperiente de hoje pode ser o mentor de amanhã.

Alimenta a “boa parte” do teu irmão e segue para diante. A vida converterá o mal em detritos e o Senhor fará o resto.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 6 de junho de 2021

PERDA DAS PESSOAS AMADAS

Sansão, antigo membro da Sociedade Espírita de Paris - Paris, 1863

21. Quando a morte se faz presente nas vossas famílias, levando sem critério os jovens antes dos velhos, dizeis muitas vezes: “Deus não é justo, já que sacrifica aquele que é forte, e com um futuro pela frente, para conservar aqueles que já viveram longos anos cheios de decepções; leva aqueles que são úteis e deixa aqueles que não servem mais para nada; parte o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que fazia toda a sua alegria”.

Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidade de vos elevar acima do plano terreno da vida, para compreender que o bem está muitas vezes onde se acredita ver o mal, a sábia previdência, onde se acredita ver a cega fatalidade do destino! Por que medir a justiça divina pelo valor da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos mundos queira, por um simples capricho, vos impor penas cruéis? Nada se faz sem um objetivo inteligente e tudo o que acontece tem sua razão de ser. Se meditásseis melhor o porquê das dores que vos atingem, encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e vossos míseros interesses seriam uma consideração secundária que desprezaríeis ao último plano.

Acreditai em mim, a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a essas desordens vergonhosas que desolam famílias honradas, cortam o coração de uma mãe e fazem branquear os cabelos dos pais, antes do tempo. A morte prematura é muitas vezes um grande benefício que Deus dá àquele que se vai, e que se encontra assim poupado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à sua perdição. Aquele que morre na flor da idade não é vítima da fatalidade; é que Deus julga que não lhe é útil passar maior tempo na Terra.

É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada tão cedo! De quais esperanças quereis falar? Das da Terra, onde aquele que se foi teria brilhado, trilhado seu caminho e feito fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue se elevar acima da matéria! Acaso sabeis qual teria sido o destino dessa vida tão cheia de esperanças, segundo pensais? Quem vos garante que ela não poderia ter sido cheia de amarguras? Acaso considerais nulas as esperanças da vida futura, preferindo as da vida passageira que arrastais na Terra? Pensais, então, que vale mais ter uma posição entre os homens do que entre os Espíritos bem-aventurados? Alegrai-vos ao invés de vos lamentar quando Deus quiser retirar um de seus filhos desse vale de misérias. Não há egoísmo em desejar que ele permanecesse aí, para sofrer convosco? Essa dor compreende-se entre aqueles que não têm fé e que veem na morte uma separação eterna; porém vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor livre de seu envoltório corporal. Mães, sabeis que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão bem perto; seus corpos fluídicos vos rodeiam, seus pensamentos vos protegem, e a lembrança que tendes deles os enche de felicidade; assim como também vossas dores insensatas os perturbam, pois elas denotam uma falta de fé e são uma revolta contra a vontade de Deus.

Vós que entendeis a vida espiritual, fazei vibrar as pulsações de vosso coração em favor desses entes bem-amados, e, se pedirdes a Deus que os abençoe, sentireis em vós aquelas consolações poderosas que secam as lágrimas, aquela fé consoladora que vos mostrará o futuro prometido pelo soberano Senhor.

COMO PEDES?

“Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que

o vosso gozo se cumpra.” — Jesus. (JOÃO, capítulo 16, versículo 24.)

Em muitos recantos, encontramos criaturas desencantadas da oração.

Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem no seu nome?

Muitos corações permanecem desalentados porque a morte lhes roubou um ente amigo, porque desastres imprevistos lhes surgiram na estrada comum.

Entretanto, repitamos, o Mestre Divino ensinou que o homem deveria solicitar em seu nome.

Por isso mesmo, a alma crente, convicta da própria fragilidade, deveria interrogar a consciência sobre o conteúdo de suas rogativas ao Supremo Senhor, no mecanismo das manifestações espirituais.

Estará suplicando em nome do Cristo ou das vaidades do mundo?

Reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem os caminhos do coração, é atirar ao Divino Sol a poeira das inquietações terrenas; mas pedir, em nome de Jesus, é aceitar-lhe a vontade sábia e amorosa, é entregar-se-lhe de coração para que nos seja concedido o necessário.

Somente nesse ato de compreensão perfeita do seu amor sublime encontraremos o gozo completo, a infinita alegria.

Observa a substância de tuas preces. Como pedes? Em nome do mundo ou em nome do Cristo? Os que se revelam desanimados com a oração confessam a infantilidade de suas rogativas.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Chico Xavier.