domingo, 5 de dezembro de 2021

A CÓLERA

Um Espírito Protetor - Bordeaux, 1863

9. Levados pelo orgulho, vos julgais mais do que sois a ponto de não suportardes uma comparação que possa vos rebaixar, e vos considerais tão acima de vossos irmãos, seja como Espírito, seja em posição social ou em superioridade pessoal, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece então? Ficais encolerizados.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira que vos igualam aos brutos e vos fazem perder a razão e o sangue frio. Procurai o porquê disso, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido.

Não é o orgulho ferido por uma opinião contrária que vos faz rejeitar as observações justas, que vos faz repelir com cólera os mais sábios conselhos? A própria impaciência, decorrente das contrariedades frequentemente fúteis, prende-se à importância que cada um atribui à sua própria personalidade, diante da qual acreditais que tudo deve se curvar.

Na sua impaciência, o homem colérico se volta contra tudo: desde a natureza bruta até os objetos, que acaba por destruir, por não lhe obedecerem. Se nesse momento ele pudesse ver-se a sangue frio, teria medo de si próprio, ou se acharia ridículo. Que julgue por aí a impressão que deve causar aos outros. Ainda que seja por respeito a si mesmo, cumpre-lhe esforçar-se para vencer uma tendência que faz dele objeto de piedade.

Se soubesse que a impaciência e a exaltação não resolvem nada, que alteram sua saúde e até mesmo comprometem sua vida, veria que ele próprio é sua primeira vítima. Além disso, uma outra consideração deveria detê-lo: o pensamento de que torna infelizes todos aqueles que o rodeiam. Se tem coração, não sentirá remorso em fazer sofrer os seres que mais ama? E que desgosto mortal se, num acesso de raiva, cometer um ato do qual tiver de se arrepender por toda a sua vida!

Em resumo, o homem que tem um temperamento colérico não deixa de ter certas qualidades no coração, mas pode impedi-lo de praticar muito o bem e pode levá-lo a praticar muito o mal. Isto basta para fazer esforços para dominá-la. O espírita deve ainda levar em conta uma outra razão: ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Hahnemann - Paris, 1863

10. Segundo a ideia muito falsa de que não se pode alterar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos nos quais se satisfaz de bom grado, ou que lhe exigiriam muita perseverança para serem eliminados. É desse modo, por exemplo, que aquele que é inclinado à cólera quase sempre se desculpa por seu temperamento. Antes de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus de seus próprios defeitos. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra ligado a todas as suas imperfeições.

Não há dúvida de que há temperamentos que se prestam, mais do que outros, a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam às exibições de força. Mas não acrediteis que aí esteja a causa principal da cólera, e podeis ter a certeza de que um Espírito pacífico, mesmo num corpo guerreiro, será sempre pacífico; e que um Espírito violento, num corpo debilitado, não será por isso mais dócil. A violência tomará apenas uma outra feição; se não possuir um organismo apropriado para se manifestar, a cólera ficará contida e, no outro caso, será expansiva.

O corpo não dá cólera àquele que não a possui, assim como também não lhe dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são próprios da natureza do Espírito. Do contrário, onde estaria o mérito e a responsabilidade? O homem que tem uma deformação física não pode tornar-se sadio porque o Espírito nada tem a ver com isso; mas pode modificar o que é do Espírito, quando tem uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que vedes acontecer? Convencei-vos, portanto, de que o homem apenas permanece vicioso porque assim o quer; mas aquele que quer se corrigir sempre tem a oportunidade. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

NA OBRA DE SALVAÇÃO

“Porque Deus não nos tem designado para a ira, mas

para a aquisição da salvação por Nosso Senhor Jesus-

Cristo”. – Paulo. (2ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:9.)

Por que não somos compreendidos?

Por que motivo a solidão nos invade a existência?

Por que razões a dificuldade nos cerca?

Por que tanta sombra e tanta aspereza, em torno de nossos passos?

E a cada pergunta, feita de nós para nós mesmos, seguem-se, comumente, o desespero e a inconformação, reclamando, sob os raios mortíferos da cólera, as vantagens de que nos sentimos credores.

Declaramo-nos decepcionados com a nossa família, desamparados por nossos amigos, incompreendidos pelos companheiros e até mesmo perseguidos por nossos irmãos.

A intemperança mental carreia para nosso íntimo os espinhos do desencanto e os desequilíbrios orgânicos inabordáveis, transformando-nos a existência num rosário de queixas preguiçosas e enfermiças.

Isso, porém, acontece porque não fomos designados pelo Senhor para o despenhadeiro escuro da ira e sim para a obra de salvação.

Ninguém restaura um serviço sob as trevas da desordem.

Ninguém auxilia ferindo sistematicamente, pelo simples prazer de dilacerar.

Ninguém abençoará as tarefas de cada dia amaldiçoando-as, ao mesmo tempo.

Ninguém pode ser simultaneamente amigo e verdugo.

Se tens noticia do Evangelho, no mundo de tua alma, prepara-te para ajudar, infinitamente...

A Terra é a nossa escola e a nossa oficina.

A Humanidade é a nossa família.

Cada dia é o ensejo bendito de aprender e auxiliar.

Por mais aflitiva seja a tua situação, ampara sempre e estarás agindo no abençoado serviço de salvação a que o Senhor nos chamou. 

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

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