domingo, 27 de março de 2022

OS INIMIGOS DESENCARNADOS

5. O espírita tem ainda outros motivos de indulgência para com os seus inimigos. Primeiramente, sabe que a maldade não é o estado permanente dos homens, mas que é devida a uma imperfeição momentânea e, do mesmo modo que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau um dia reconhecerá os seus erros e se tornará bom.

Sabe também que a morte apenas o livra da presença material de seu inimigo e que este pode persegui-lo com seu ódio, mesmo após ter deixado a Terra. Sabe que qualquer vingança que faça não atingirá o seu objetivo, ao contrário, ela terá por efeito produzir uma irritação ainda maior, capaz de passar de uma existência à outra. Cabia ao Espiritismo provar, pela experiência e pelas leis que regem as relações do mundo visível com o mundo invisível, que a expressão extinguir o ódio com sangue é completamente falsa, pois a verdade é que o sangue realimenta o ódio, mesmo além-túmulo, na erraticidade.

O Espiritismo apresenta, em vista disto, um argumento positivo, uma utilidade prática no perdão e no sublime ensinamento do Cristo: Amai os vossos inimigos. De fato, não há coração tão perverso que não se deixe tocar pelas boas ações, mesmo a contragosto. Pelas boas ações, elimina-se o motivo da vingança contra um inimigo e pode-se fazer dele um amigo antes e depois da sua morte. Com os maus procedimentos o homem irrita seu inimigo, que então se constitui em instrumento da justiça de Deus, para punir aquele que não perdoou.

6. Podemos assim ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua maldade pelas obsessões e subjugações às quais tantas pessoas estão sujeitas e que são algumas das várias provas da vida, contribuindo para o adiantamento do homem no globo terrestre e que, por isso, deve aceitá-las com resignação e como consequência da natureza inferior do nosso planeta. Se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao seu redor. Devemos ter, portanto, indulgência e benevolência para com os inimigos encarnados e desencarnados.

Antigamente, para apaziguar os deuses infernais, depois chamados demônios, mas que não passavam de espíritos maus, sacrificavam-se animais e até pessoas. O Espiritismo vem provar que esses demônios são apenas almas de homens perversos que ainda não se livraram dos instintos materiais, e que somente se pode pacificá-los sacrificando-se o ódio que possuem, por meio da caridade; que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal, mas também de conduzi-los ao caminho do bem e contribuir para sua salvação. É assim que o ensinamento de Jesus: Amai os vossos inimigos, não está unicamente limitado ao Planeta Terra e à vida presente, mas inclui também a grande lei de solidariedade e fraternidade universais.

VEM!

“E quem o ouve, diga: – Vem. E quem tem sede, venha.”

(Apocalipse, 22:17.)

A Terra é a grande escola das almas em que se educam alunos de todas as idades.

Se atingiste o nível das grandes experiências, não te inquiete a incessante extensão do trabalho.

Não enxergues inimigos nos semelhantes de entendimento imperfeito. Muitos deles não saíram ainda do jardim de infância espiritual.

Dá sempre o bem pelo mal, a verdade pela mentira e o amor pela indiferença.

A inexperiência e a ignorância dos corações que se iniciam na luta fazem, frequentemente, grande algazarra em torno do espírito que procura a si mesmo.

Por isso, padecerás muitas vezes aflição e desânimo.

Não te perturbes, porém.

Se as ilusões e os brinquedos da maioria não mais te satisfazem, é que a madureza te inclina a horizontes mais vastos.

Recorda que somente Jesus é bastante sábio e bastante forte para acalmar-te.

Ouve-lhe o apelo divino, formulado nas derradeiras palavras do seu Testamento de Amor: – “Vem!”

Ninguém te pode impedir o acesso à fonte da luz infinita.

O Mestre é o Eterno Amigo que nos rompe as algemas e nos abre portas renovadoras...

Entretanto, é preciso saibas querer.

O Senhor jamais nos fará violência.

Sofres? Estás fatigado? Tropeças sob os fardos do mundo?

Vem!

Jesus reserva-te os braços abertos.

Vem e atende ainda hoje! É verdade que sempre alcançaste ensejos de serviço, que o Mestre sempre foi abnegado e misericordioso para contigo, mas não te esqueças de que as circunstâncias se modificam com as horas e que nem todos os dias são iguais.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier. 

domingo, 20 de março de 2022

PAGAR O MAL COM O BEM

1. Aprendestes o que foi dito: Amareis vosso próximo e odiareis vossos inimigos. E eu vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam; a fim de que sejais filhos de vosso Pai que está nos Céus, que faz erguer o Sol sobre os bons e os maus e faz chover sobre os justos e os injustos. Pois, se amais apenas os que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos também não fazem isso? E se vós apenas cumprimentais vossos irmãos, o que fazeis mais do que os outros? Os pagãos também não fazem o mesmo? Eu vos digo que, se vossa justiça não for maior do que a dos escribas e dos fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus. (Mateus, 5:5 a 20, 43 a 47)

2. Se amardes apenas os que vos amam, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida também amam aqueles que as amam? E se vós fazeis o bem apenas aos que vos fazem, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida fazem a mesma coisa? E se vós emprestais apenas àqueles de quem esperais receber a mesma graça, que recompensa tereis, uma vez que as pessoas de má vida também se emprestam mutuamente para receber a mesma vantagem?

Quanto a vós, amai os vossos inimigos, fazei o bem a todos e emprestai sem nada esperar e então vossa recompensa será bem maior e sereis os filhos do Altíssimo, pois Ele é bom com os ingratos e até mesmo com os maus. Sede, pois, misericordiosos, como vosso Pai o é. (Lucas, 6:32 a 36)

3. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação máxima, pois esta virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.

Entretanto, o sentido da palavra amar, utilizada neste ensinamento, pode não ser corretamente entendida. Jesus não quis dizer com estas palavras que devemos ter pelo inimigo a ternura que temos por um irmão ou por um amigo. A ternura dá a entender confiança e não podemos confiar naquele que sabemos que nos quer mal. Não podemos ter para com ele as mesmas demonstrações de amizade, pois sabemos que ele é capaz de abusar disso. Entre as pessoas que desconfiam umas das outras não poderá haver os mesmos laços de simpatia que existem entre aqueles que têm a mesma maneira de pensar. Quando encontramos um inimigo, não podemos ter, para com ele, a mesma alegria que sentimos quando encontramos um amigo.

Este sentimento resulta de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento maldoso carrega em si mesmo uma corrente fluidica que causa má influência. O pensamento benevolente nos envolve com uma agradável impressão; daí a diferença de sensações que experimentamos ao nos aproximar de um amigo ou de um inimigo. Amar aos inimigos não pode significar, portanto, que não devamos diferenciá-los dos amigos. Este ensinamento só nos parece difícil, até mesmo impossível de ser praticado, porque acreditamos que ele manda dar a uns e a outros o mesmo lugar no coração, quando não é isso. Se a pobreza das línguas humanas obriga a nos servirmos de uma mesma palavra para expressar diversas formas de sentimentos, a razão nos diz que de acordo com o caso devemos diferenciar os seus significados.

Amar aos inimigos não é ter para com eles uma afeição forçada, que não é natural, já que o contato com um inimigo faz bater o coração de uma maneira totalmente diferente. Amar aos inimigos segundo este ensinamento de Jesus é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. É perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem impor condições, o mal que nos fazem. É não colocar nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem no lugar do mal. É alegrar-se pelo bem que lhes aconteça ao invés de se entristecer. É socorrê-los em caso de necessidade. É não fazer nada que possa prejudicá-los em palavras ou em atos. É, enfim, pagar-lhes todo mal com o bem, sem intenção de os humilhar. Quem fizer isto, estará seguindo o mandamento: Amai aos vossos inimigos.

4. Amar aos inimigos é um absurdo para o incrédulo. Aquele para quem a vida presente é tudo vê apenas em seu inimigo um ser nocivo e perturbador de sua tranquilidade e do qual somente a morte, pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingança. Ele só terá motivo para perdoar se for para satisfazer seu orgulho aos olhos do mundo. O próprio ato de perdoar, em certos casos, parece-lhe uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de guardar rancor e um secreto desejo de fazer o mal.

Para aquele que crê e, especialmente, para o espírita, a maneira de ver é completamente diferente, pois observa as coisas com as vistas do passado e sobre o futuro, e percebe que a vida presente não passa de um momento. Ele sabe que pela própria destinação da Terra é natural encontrar nela homens maus e perversos; que as maldades das quais é vítima fazem parte de provas que deve passar, e essa noção mais esclarecida que tem o faz ver os problemas da vida de forma menos cruel, venham eles dos homens ou das coisas. E se ele não reclama das provas, não deve reclamar contra aqueles que dela são os instrumentos. Se, ao invés de se lamentar, agradecer a Deus por pô-lo à prova, deve agradecer a mão que lhe fornece a ocasião de mostrar sua paciência e sua resignação. Este pensamento o leva a perdoar naturalmente e o faz sentir que, quanto mais generoso for, mais se engrandece aos seus próprios olhos e fica fora do alcance do ódio do seu inimigo.

O homem que ocupa no mundo uma posição de destaque não se ofende com insultos dos seus inferiores. Assim ocorre com aquele que se eleva, no mundo moral, acima da Humanidade material. Ele compreende que o ódio e o rancor o fariam sentir-se desprezível e o rebaixariam. Portanto, para ser superior a seu adversário, é preciso que tenha a alma maior, mais nobre e mais generosa. (Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 12.) 

APASCENTA

“Apascenta as minhas ovelhas.” – Jesus. (João, 21:17.) 

Significativo é o apelo do Divino Pastor ao coração amoroso de Simão Pedro para que lhe continuasse o apostolado.

Observando na Humanidade o seu imenso rebanho, Jesus não recomenda medidas drásticas em favor da disciplina compulsória.

Nem gritos, nem xingamentos.

Nem cadeia, nem forca.

Nem chicote, nem vara.

Nem castigo, nem imposição.

Nem abandono aos infelizes, nem flagelação aos transviados.

Nem lamentação, nem desespero. “Pedro, apascenta as minhas ovelhas!” Isso equivale a dizer:

– Irmão, sustenta os companheiros mais necessitados que tu mesmo.

Não te desanimes perante a rebeldia, nem condenes o erro, do qual a lição benéfica surgirá depois.

Ajuda ao próximo, ao invés de vergastá-lo.

Educa sempre.

Revela-te por trabalhador fiel.

Sê exigente para contigo mesmo e ampara os corações enfermiços e frágeis que te acompanham os passos.

Se plantares o bem, o tempo se incumbirá da germinação, do desenvolvimento, da florescência e da frutificação, no instante oportuno.

Não analises, destruindo.

O inexperiente de hoje pode ser o mentor de amanhã.

Alimenta a “boa parte” do teu irmão e segue para diante. A vida converterá o mal em detritos e o Senhor fará o resto.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier. 

domingo, 13 de março de 2022

CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS

Elisabeth de França - Havre, 1862

14. A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo por Jesus, e deve existir entre os autênticos discípulos de sua doutrina uma completa fraternidade. Deveis amar os infelizes e os criminosos como criaturas de Deus, aos quais o perdão e a misericórdia serão dados, desde que se arrependam, como também a vós mesmos pelas faltas que cometeis contra Sua lei. Imaginai que sois mais repreensíveis, mais culpados que aqueles aos quais recusais o perdão e a compaixão, pois, muitas vezes, eles não conhecem a Deus como vós e, por essa razão, menos se exigirá deles.

Não julgueis! Não julgueis, meus queridos amigos, pois o julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente! E tendes necessidade de indulgência para as faltas que cometeis com frequência. Não sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo não as considera sequer como faltas leves?

A verdadeira caridade não está apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolação que lhe acrescentais. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós! A caridade divina ensinada por Jesus baseia-se também na benevolência permanente e em tudo mais para com o vosso próximo. Podeis praticar essa sublime virtude com muitas criaturas que não precisam de esmolas e sim de palavras de amor, consolação e de encorajamento que as conduzirão ao Senhor.

Os tempos estão próximos, volto a dizer, em que a grande fraternidade reinará neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os homens, será a moderação e a esperança e conduzirá as almas às moradas bem aventuradas.

Amai-vos, portanto, como filhos do mesmo Pai. Não façais distinção entre vós, pois Deus quer que todos sejam iguais; não desprezeis a ninguém. A presença de criminosos encarnados entre vós é um meio de que Deus se utiliza para que as más ações deles vos mostrem lições e ensinamentos. Brevemente, quando os homens praticarem as verdadeiras leis de Deus, não haverá mais necessidade destes ensinamentos e todos os Espíritos impuros e revoltados serão dispersados para mundos inferiores, de acordo com suas tendências.

Deveis, aos criminosos de quem falo, o socorro de vossas preces; esta é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; é preciso eliminá-lo da Terra; a morte que lhe é imposta é muito suave para um ser dessa espécie”. Não, não é assim que deveis falar. Observai Jesus, vosso modelo. Que diria Ele se visse este infeliz ao seu lado: o lamentaria; o consideraria como um doente miserável e lhe estenderia a mão. Em verdade, não podeis fazer isso, mas ao menos podeis orar por ele e dar assistência ao seu Espírito durante os poucos instantes que ainda deva passar em vossa Terra. O arrependimento pode tocar seu coração, se orardes com fé. Ele é vosso próximo também, como o melhor dentre os homens; sua alma desnorteada e revoltada foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar.

Ajudai-o, então, a sair do lamaçal e orai por ele.

Lamennais - Paris, 1862

15. Um homem corre perigo de morte. Para salvá-lo, é preciso arriscar a nossa própria vida; sabe-se que aquele homem é um malfeitor, e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Devemos, apesar disso, arriscar-nos para salvá-lo?

Esta é uma questão muito importante e que naturalmente pode ocorrer. Responderei segundo meu adiantamento moral, uma vez que se trata de saber se devemos arriscar a nossa vida ainda que seja por um malfeitor. O devotamento é cego. Se socorremos a um inimigo, devemos, portanto, socorrer um inimigo da sociedade, numa palavra, um malfeitor. Acreditais que é apenas à morte que se vai arrancar esse infeliz? É, talvez, a toda sua vida passada.

Pensai que, nesses rápidos instantes em que se acabam os últimos minutos de vida, o homem perdido revê sua vida passada, ou melhor, ela se ergue diante dele. Quem sabe, a morte estará chegando muito cedo para ele. A reencarnação poderá ser-lhe terrível.

Coragem, portanto, homens! Vós a quem a ciência espírita esclareceu; socorrei-o, arrancai-o à sua condenação e, então, talvez esse homem, que morreria vos insultando, se lançará em vossos braços.

No entanto, não é preciso perguntar se ele o fará ou não; salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: “Podeis salvá-lo, salvai-o!”

 ESPEREMOS

“Não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão

que fumega, até que faça triunfar o juízo.”

(Mateus, cap. 12, vers. 20.)

Evita as sentenças definitivas, em face dos quadros formados pelo mal.

Da lama do pântano, o Supremo Senhor aproveita a fertilidade.

Da pedra áspera, vale-se da solidez.

Da areia seca, retira utilidades valiosas. Da substância amarga, extrai remédio salutar. O criminoso de hoje pode ser prestimoso companheiro amanhã.

O malfeitor, em certas circunstâncias, apresenta qualidades nobres, até então ignoradas, de que a vida se aproveita para gravar poemas de amor e luz.

Deus não é autor de esmagamento.

É Pai de misericórdia.

Não destrói a cana quebrada, nem apaga o morrão que fumega.

Suas mãos reparam estragos, seu hálito divino recompõe e renova sempre.

Não desprezes, pois, as luzes vacilantes e as virtudes imprecisas. Não abandones a terra pantanosa, nem desampares o arvoredo sufocado pela erva daninha.

Trabalha pelo bem e ajuda incessantemente.

Se Deus, Senhor Absoluto da Eternidade, espera com paciência, por que motivo, nós outros, servos imperfeitos do trabalho relativo, não poderemos esperar? 

Livro Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 6 de março de 2022

A FÉ E A CARIDADE

Um Espírito Protetor - Cracóvia, 1861 

13. Eu vos disse, recentemente, meus queridos filhos, que a caridade sem a fé não basta para manter entre os homens uma ordem social capaz de torná-los felizes. Deveria ter dito que a caridade é impossível sem a fé. Podereis encontrar, em verdade, impulsos generosos até mesmo junto a pessoas sem religião, mas essa caridade verdadeira, que apenas se exerce pela abnegação, pelo sacrifício constante de todo interesse egoísta, somente pela fé poderá ser inspirada.

Nada, além dela, nos dá condições para carregar com coragem e persistência a cruz desta vida.

Meus filhos, é em vão que o homem, ansioso de prazeres, tenta se iludir quanto ao seu destino aqui na Terra, achando que deve se ocupar apenas de sua felicidade. Deus nos criou com a certeza de sermos felizes na eternidade, por isso a vida terrena deve servir exclusivamente para o aperfeiçoamento moral, que se adquire mais facilmente com o auxílio dos órgãos físicos e as exigências do mundo material, que devem ser supridas. Além do mais, os problemas comuns da vida, a diversidade dos gostos, das tendências e das vossas necessidades são um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Portanto, apenas à custa de concessões e de sacrifícios mútuos é que podeis manter a harmonia entre elementos tão diversos.

Tendes toda a razão ao afirmar que a felicidade está destinada ao homem aqui na Terra, se a procurais na prática do bem e não nos prazeres materiais. A história da cristandade nos fala de mártires que foram para o suplício com alegria. Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não é necessário nem o sacrifício do mártir, nem o sacrifício da vida, mas única e simplesmente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar sempre, e se a fé for a vossa sustentação.

 ALÉM DOS OUTROS

 “Não fazem os publicanos também o mesmo?”

Jesus. (Mateus, 5:46.)

Trabalhar no horário comum irrepreensivelmente, cuidar dos deveres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção de proceder, fazendo o bastante na esfera das obrigações inadiáveis, são tarefas peculiares a crentes e descrentes na senda diária.

Jesus, contudo, espera algo mais do discípulo.

Correspondes aos impositivos do trabalho diuturno, criando coragem, alegria e estímulo, em derredor de ti?

Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram infrutíferas?

Aproveitas, com êxito, o material que outrem desprezou por imprestável?

Aguardas, com paciência, onde outros desesperaram?

Na posição de crente, conservas o espírito de serviço, onde o descrente congelou o espírito de ação?

Partilhas a alegria de teus amigos, sem inveja e sem ciúme, e participas do sofrimento de teus adversários, sem falsa superioridade e sem alarde?

Que dás de ti mesmo no ministério da caridade? Garantir o continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da vida são característicos dos próprios irracionais.

O homem vulgar, de muitos milênios para cá, vem comendo e bebendo, dormindo e agindo sem diferenças fundamentais, na ordem coletiva. De vinte séculos a esta parte, todavia, abençoada luz resplandece na Terra com os ensinamentos do Cristo, convidando-nos a escalar os cimos da espiritualidade superior. Nem todos a percebem, ainda, não obstante envolver a todos. Mas, para quantos se felicitam em suas bênçãos extraordinárias, surge o desafio do Mestre, indagando sobre o que de extraordinário estamos fazendo. 

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.