segunda-feira, 25 de abril de 2022

O DUELO

Adolfo, Bispo de Argel - Marmande, 1861

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que o deve levar a um destino certo, faz pouco caso das contrariedades do caminho e dele nunca se desvia. De olhos fixos na meta a que se destina, pouco lhe importa se os obstáculos e os espinhos do caminho podem lhe causar danos, já que eles apenas o roçam sem o ferir e não o impedem de avançar. Arriscar a vida em duelo para se vingar é uma injúria, é recuar diante das provações que tem que passar. É sempre um crime aos olhos de Deus. Se não fôsseis enganados, como sois, pelos vossos preconceitos, o veríeis como uma coisa ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens.

É crime o homicídio pelo duelo; até mesmo a vossa legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em nenhum caso, de tirar a vida de seu semelhante. É crime aos olhos de Deus, que vos indica vossa linha de conduta. Neste caso, mais do que em qualquer outro, sois juízes em causa própria. Lembrai-vos de que sereis perdoados conforme o que perdoardes. Pelo perdão vos aproximais da Divindade, pois a clemência é irmã do poder. Enquanto uma gota de sangue correr na Terra pela mão do homem, o verdadeiro reino de Deus não terá chegado, reino de paz e de amor que deverá afastar para sempre de vosso Planeta o rancor, a discórdia e a guerra. Então, a palavra duelo existirá em vossa língua apenas como uma lembrança vaga e distante de um passado que não existirá mais, e os homens só admitirão disputar entre si, em competições, a nobre prática do bem.

Santo Agostinho - Paris, 1862

12. O duelo pode, sem dúvida, em alguns casos, ser considerado como uma prova de coragem física, de desprezo pela vida, mas é de forma indiscutível a prova de uma covardia moral semelhante ao suicídio: o suicida não tem a coragem de encarar de frente as contrariedades e aflições da vida, e o duelista não a tem para suportar as ofensas. O Cristo não vos disse que há mais honra e coragem em oferecer a face esquerda àquele que bateu na direita do que em se vingar de uma injúria? Cristo não disse a Pedro no Jardim das Oliveiras: Coloca a tua espada na bainha, pois aquele que matar pela espada, pela espada morrerá? Por estas palavras, Jesus não condena o duelo? De fato, meus filhos, que coragem é essa, nascida de um caráter violento, sanguinário e colérico, que reage à primeira ofensa? Onde está, então, a grandeza da alma daquele que, à menor injúria, quer lavá-la em sangue? Mas que ele trema! porque sempre, no fundo de sua consciência, uma voz lhe gritará: “Caim! Caim! Que fizeste de teu irmão?” “Foi necessário sangue para salvar minha honra”, dirá ele a essa voz. Mas ela lhe responderá: “Tu quiseste salvá-la diante dos homens pelos poucos instantes que te restavam a viver na Terra e não pensaste em salvá-la perante Deus!” Pobre tolo! Quanto sangue o Cristo vos pediria por todas as ofensas que Lhe tendes feito! Não somente O machucastes com os espinhos e a lança, não somente O pregastes na cruz infamante, mas ainda em meio à agonia, Ele pôde escutar as zombarias que Lhe foram dirigidas. Que reparação, após tantas ofensas, vos pediu Ele? O último grito do Cordeiro foi uma prece para seus carrascos. Tal como Ele, perdoai e orai por aqueles que vos ofendem.

Amigos, lembrai-vos deste preceito: Amai-vos uns aos outros, e, então, ao golpe dado pelo ódio, respondereis com um sorriso, e, à ofensa, com o perdão. Sem dúvida, o mundo se voltará furioso contra vós e vos chamará de covardes. Elevai a cabeça bem ao alto e mostrai que a vossa fronte também não receia ser coroada de espinhos a exemplo do Cristo. No entanto, que vossa mão nunca queira ser cúmplice de um homicídio, que permite, digamos, uma falsa aparência de honra, mas que é apenas orgulho e amor-próprio. Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte uns aos outros? Não! Esse direito somente a Natureza o tem, para se reformar e se reconstruir a si mesma, mas quanto a vós, nem sobre o vosso corpo tendes direitos. Como o suicida, o duelista estará marcado de sangue quando comparecer perante Deus e, tanto sobre um como sobre o outro, a Soberana Justiça atuará em longos e dolorosos sofrimentos. Se Ele ameaçou com sua justiça aquele que dissesse a seu irmão: És louco, quanto mais não será severa a pena para aquele que se apresentar diante d’Ele com as mãos manchadas do sangue de seu irmão!

INIMIGOS

“Amai, pois, os vossos inimigos.”

Jesus. (Lucas, Capítulo 6, Versículo 35.)

A afirmativa do Mestre Divino merece meditação em toda parte. Naturalmente que a recomendação, quanto ao amor aos inimigos, pede análise especial.

A multidão, em geral, não traduz o verbo amar senão pelas atividades cariciosas. Para que um homem demonstre capacidade afetiva, ante os olhos vulgares, precisará movimentar imenso cabedal de palavras e atitudes ternas, quando sabemos que o amor pode resplandecer no coração das criaturas sem qualquer exteriorização superficial. Porque o Pai nos confira experiências laboriosas e rudes, na Terra ou noutros mundos, não lhe podemos atribuir qualquer negação de amor.

No terreno a que se reporta o Amigo Divino, é justo nos detenhamos em legítimas ponderações.

Onde há luta há antagonismo, revelando a existência de circunstâncias com as quais não seria lícito concordar em se tratando do bem comum. Quando o Senhor nos aconselhou amar os inimigos, não exigiu aplausos ao que rouba ou destrói, deliberadamente, nem mandou multiplicarmos as asas da perversidade ou da má-fé.

Recomendou, realmente, auxiliarmos os mais cruéis; no entanto, não com aprovação indébita e sim com a disposição sincera e fraternal de ajudá-los a se reerguerem para a senda divina, através da paciência, do recurso reconstrutivo ou do trabalho restaurador. O Mestre, acima de tudo, preocupou-se em preservar-nos contra o veneno do ódio, evitando-nos a queda em disputas inferiores, inúteis ou desastrosas.

Ama, pois, os que se mostram contrários ao teu coração, amparando-os fraternalmente com todas as possibilidades de socorro ao teu alcance, convicto de que semelhante medida te livrará do calamitoso duelo do mal contra o mal.

Livro Pão Nosso – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 17 de abril de 2022

O ÓDIO

Fénelon - Bordeaux, 1861 

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Fazei por amar aqueles que vos inspiram indiferença, ódio e desprezo. O Cristo, que deveis ter como modelo, vos deu o exemplo desse devotamento.

Missionário do amor, amou até dar seu sangue e a vida. O sacrifício de amar aqueles que vos ofendem e vos perseguem é difícil, mas é, exatamente, o que vos torna superior a eles. Se os odiais como eles vos odeiam, não valeis mais do que eles. Amá-los, esta é a substância que deveis oferecer a Deus no altar de vossos corações; essência de agradável fragrância, cujos perfumes sobem até Ele. Mas, ainda que a lei do amor nos mande amar indistintamente a todos nossos irmãos, ela não nos livra o coração do convívio e da ação dos maus; esta é uma das provas mais difíceis, bem o sei, uma vez que durante minha última existência passei por essa tortura. Mas Deus está presente e pune, nesta vida e na outra, aqueles que falham na lei do amor. Não vos esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima-nos de Deus, e o ódio nos afasta d’Ele.

NO FUTURO

“E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão,

dizendo: — Conhece o Senhor! porque todos me conhecerão, desde o menor

deles até ao maior.” — Paulo. (HEBREUS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 11.)

Quando o homem gravar na própria alma

Os parágrafos luminosos da Divina Lei,

O companheiro não repreenderá o companheiro,

O irmão não denunciará outro irmão.

O cárcere cerrará suas portas,

Os tribunais quedarão em silêncio.

Canhões serão convertidos em arados,

Homens de armas volverão à sementeira do solo.

O ódio será expulso do mundo,

As baionetas repousarão,

As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,

Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.

A justiça será ultrapassada pelo amor.

Os filhos da fé não somente serão justos,

Mas bons, profundamente bons.

A prece constituir-se-á de alegria e louvor

E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.

A pregação da Lei

Viverá nos atos e pensamentos de todos,

Porque o Cordeiro de Deus

Terá transformado o coração de cada homem

Em tabernáculo de luz eterna,

Em que o seu Reino Divino

Resplandecerá para sempre.

Livro Pão Nosso – Emmanuel – Médium Chico Xavier. 

sábado, 9 de abril de 2022

A VINGANÇA

Jules Olivier - Paris, 1862

9. A vingança é um dos últimos vestígios dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. Ela é, juntamente com o duelo, um dos últimos vestígios desses costumes selvagens que faziam a Humanidade sofrer no início da era cristã. Por isso a vingança é um sinal da inferioridade dos homens que se deixam levar por ela e dos Espíritos que também podem sugeri-la. Portanto, meus amigos, esse sentimento nunca deve fazer vibrar o coração daquele que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, totalmente contrário ao ensinamento do Cristo: Perdoai aos vossos inimigos, e aquele que se recusa a perdoar não é espírita, como também não é cristão. A vingança é um sentimento tão nocivo quanto a falsidade e a baixeza, que são suas companheiras constantes. De fato, todo aquele que se entrega a essa paixão cega e fatal quase nunca se vinga a céu aberto. Se ele é o mais forte, ataca ferozmente aquele a quem chama de inimigo, bastando para isso a simples presença do desafeto para que nele se inflamem a cólera, a paixão e o ódio. Porém, na maioria das vezes, ele toma uma aparência fingida, disfarçando no fundo de seu coração os maus sentimentos que o animam. Segue caminhos tortuosos, espreita na sombra o inimigo e, sem que ele sequer desconfie, espera o momento mais favorável para, sem correr nenhum risco e sem receio, executar a sua vingança. Ocultando-se, vigia-o sem cessar, prepara-lhe armadilhas odiosas e, na ocasião propícia, derrama-lhe no copo o veneno mortal. Quando seu ódio não vai até a esses extremos, então ataca sua honra e suas afeições. Não recua diante da calúnia e das falsas insinuações que, habilmente semeadas aos quatro ventos, vão aumentando pelo caminho. Desta forma, quando o perseguido se apresenta nos lugares onde aquele sopro envenenado passou, se admira de encontrar rostos frios, onde encontrava antigamente rostos amigos e benevolentes. Fica surpreso quando as mãos, que procuravam a sua, agora se recusam a apertá-la; enfim, fica arrasado quando seus amigos mais caros e mais próximos se desviam e fogem dele. O covarde que se vinga desta maneira é cem vezes mais culpado do que aquele que vai direto a seu inimigo e o insulta de cara limpa.

Parem, portanto, com estes costumes selvagens! Parem com estes costumes de outros tempos! Todo espírita que hoje pretender ainda ter o direito de se vingar será indigno de figurar por mais tempo entre aqueles que tomaram por lema: Fora da caridade não há salvação! Recuso-me a aceitar a simples ideia que um membro da grande família espírita possa ceder ao impulso da vingança ao invés de perdoar.

OBRA INDIVIDUAL

 "Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador,

salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados."

(TIAGO, 5:20.)

Quando um homem comete uma ação má, os reflexos dela perduram, por muito tempo, na atmosfera espiritual em que ele vive.

A criatura ignorante que a observa se faz pior.

Os olhos menos benevolentes que a veem se tornam mais duros.

O homem quase retificado que a identifica estaciona e desanima.

O missionário do bem que a surpreende encontra mais dificuldades para socorrer os outros.

Em derredor de um gesto descaridoso, congregam-se a indisciplina, o despeito, a revolta e a vingança, associando-se em operações mentais malignas e destrutivas.

Uma boa ação, contudo, edifica e ilumina sempre.

A criatura ignorante que a observa aprende a elevar-se.

Os olhos menos benevolentes que a veem recebem nova claridade para a vida íntima.

O homem quase retificado que a identifica adquire mais fortaleza para restaurar-se.

O missionário do bem que a surpreende nela se exalta, a benefício do seu apostolado de luz.

Em torno da manifestação cristã, enlaçam-se a gratidão, a alegria, a esperança e o otimismo, organizando criações mentais iluminativas e santificantes.

Se desejas, portanto, propagar o espírito sublime do Cristianismo, atende à obra individual com Jesus.

Afasta os corações amados do campo escuro do erro, através de teus atos que constituem lições vivas do amor edificante.

Recorda-te de que pela conversão verdadeira e substancial de um só espírito ao Infinito Bem, escuras multidões de males poderão desaparecer para sempre. 

Livro Vinha de Luz – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

sábado, 2 de abril de 2022

SE ALGUÉM VOS BATER NA FACE DIREITA, APRESENTAI-LHE TAMBÉM A OUTRA

7. Aprendestes o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. E eu vos digo para não resistir ao mal que quiserem vos fazer; mas se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra. E se alguém quiser demandar contra vós para tomar vossa túnica, dai-lhe também vosso manto. E se alguém quiser vos obrigar a andar mil passos com ele, andai ainda mais dois mil. Dai àquele que vos pede e não rejeiteis jamais aquele que vos pedir emprestado. (Mateus, 5:38 a 42)

8. Os preconceitos do mundo, sobre o que costumamos chamar de questão de honra, provocam esses melindres, nascidos do orgulho e da exaltação da personalidade, que levam o homem a pagar injúria por injúria, golpe por golpe, o que parece ser uma atitude justa para aquele cujo sentido moral não se eleva acima das paixões terrenas. Esta é a razão pela qual a lei de Moisés dizia: “Olho por olho, dente por dente”. Lei que estava de acordo com o seu tempo. Mas o Cristo veio e disse: Pagai o mal com o bem. E disse ainda: Não resistais ao mal que quiserem vos fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe também a outra. Ao orgulhoso, este ensinamento parece uma covardia, pois ele não entende que há mais coragem em suportar um insulto do que em se vingar, já que a sua noção do que é a vida alcança somente o momento presente. Devemos, então, entender ao pé da letra este ensinamento de Jesus? Não, da mesma maneira que aquele que diz para “arrancar o olho, se este for um motivo de escândalo”. Se o ensinamento fosse seguido literalmente, a consequência seria condenar toda ação da lei e deixar o campo livre aos maus, que nada temeriam. Se não colocarmos um freio às suas agressões, logo todos os bons serão suas vítimas. Até o próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, diz que não se deve desistir da vida sem luta. Por estas palavras, Jesus não quis proibir a defesa e sim condenar a vingança. Ao dizer para oferecer a face quando a outra for batida, quis dizer, de uma outra forma, que não é preciso pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que faz rebaixar seu orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido do que ferir, suportar pacientemente uma injustiça do que cometê-la; que é melhor ser enganado do que enganar, ser arruinado do que arruinar os outros. É ao mesmo tempo a condenação do duelo, que nada mais é do que uma das manifestações do orgulho. Apenas a fé na vida futura e na justiça de Deus, que nunca deixa o mal impune, pode dar a força para suportar-se pacientemente os golpes dados aos nossos interesses e ao nosso amor-próprio. Eis porque dizemos sempre: Elevai vossos olhares; quanto mais vos elevardes pelo pensamento acima da vida material, menos vos magoarão as coisas da Terra. 

ATRITOS FÍSICOS 

"Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra."

Jesus. (MATEUS, 5:39.)

Alguns humoristas pretendem descobrir na advertência do Mestre uma exortação à covardia, sem noção de respeito próprio.

O parecer de Jesus, no entanto, não obedece apenas aos ditames do amor, essência fundamental de seu Evangelho. É igualmente uma peça de bom senso e lógica rigorosa.

Quando um homem investe contra outro, utilizando a força física, os recursos espirituais de qualquer espécie já foram momentaneamente obliterados no atacante.

O murro da cólera somente surge quando a razão foi afastada. E sobrevindo semelhante problema, somente a calma do adversário consegue atenuar os desequilíbrios, procedentes da ausência de controle.

O homem do campo sabe que o animal enfurecido não regressa à naturalidade se tratado com a ira que o possui.

A abelha não ferretoa o apicultor, amigo da brandura e da serenidade.

O único recurso para conter um homem desvairado, compelindo-o a reajustar-se dignamente, é conservar-se o contendor ou os circunstantes em posição normal, sem cair no mesmo nível de inferioridade.

A recomendação de Jesus abre-nos abençoado avanço ...

Oferecer a face esquerda, depois que a direita já se encontra dilacerada pelo agressor, é chamá-lo à razão enobrecida, reintegrando-o, de imediato, no reconhecimento da perversidade que lhe é própria.

Em qualquer conflito físico, a palavra reveste-se de reduzida função nos círculos do bem. O gesto é a força que se expressará convenientemente.

Segundo reconhecemos, portanto, no conselho do Cristo não há convite à fraqueza, mas apelo à superioridade que as pessoas vulgares ainda desconhecem.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel – Médium Chico Xavier.