Adolfo, Bispo de Argel - Marmande, 1861
11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que o deve levar a um destino certo, faz pouco caso das contrariedades do caminho e dele nunca se desvia. De olhos fixos na meta a que se destina, pouco lhe importa se os obstáculos e os espinhos do caminho podem lhe causar danos, já que eles apenas o roçam sem o ferir e não o impedem de avançar. Arriscar a vida em duelo para se vingar é uma injúria, é recuar diante das provações que tem que passar. É sempre um crime aos olhos de Deus. Se não fôsseis enganados, como sois, pelos vossos preconceitos, o veríeis como uma coisa ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens.
É crime o homicídio pelo duelo; até mesmo a vossa legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em nenhum caso, de tirar a vida de seu semelhante. É crime aos olhos de Deus, que vos indica vossa linha de conduta. Neste caso, mais do que em qualquer outro, sois juízes em causa própria. Lembrai-vos de que sereis perdoados conforme o que perdoardes. Pelo perdão vos aproximais da Divindade, pois a clemência é irmã do poder. Enquanto uma gota de sangue correr na Terra pela mão do homem, o verdadeiro reino de Deus não terá chegado, reino de paz e de amor que deverá afastar para sempre de vosso Planeta o rancor, a discórdia e a guerra. Então, a palavra duelo existirá em vossa língua apenas como uma lembrança vaga e distante de um passado que não existirá mais, e os homens só admitirão disputar entre si, em competições, a nobre prática do bem.
Santo Agostinho - Paris, 1862
12.
O duelo pode, sem dúvida, em alguns casos, ser considerado como uma prova de
coragem física, de desprezo pela vida, mas é de forma indiscutível a prova de
uma covardia moral semelhante ao suicídio: o suicida não tem a coragem de
encarar de frente as contrariedades e aflições da vida, e o duelista não a tem
para suportar as ofensas. O Cristo não vos disse que há mais honra e coragem em
oferecer a face esquerda àquele que bateu na direita do que em se vingar de uma
injúria? Cristo não disse a Pedro no Jardim das Oliveiras: Coloca a tua
espada na bainha, pois aquele que matar pela espada, pela espada morrerá? Por
estas palavras, Jesus não condena o duelo? De fato, meus filhos, que coragem é
essa, nascida de um caráter violento, sanguinário e colérico, que reage à
primeira ofensa? Onde está, então, a grandeza da alma daquele que, à menor
injúria, quer lavá-la em sangue? Mas que ele trema! porque sempre, no fundo de
sua consciência, uma voz lhe gritará: “Caim! Caim! Que fizeste de teu irmão?”
“Foi necessário sangue para salvar minha honra”, dirá ele a essa voz. Mas ela lhe responderá: “Tu quiseste salvá-la diante dos homens
pelos poucos instantes que te restavam a viver na Terra e não pensaste em
salvá-la perante Deus!” Pobre tolo! Quanto sangue o Cristo vos pediria por
todas as ofensas que Lhe tendes feito! Não somente O machucastes com os
espinhos e a lança, não somente O pregastes na cruz infamante, mas ainda em
meio à agonia, Ele pôde escutar as zombarias que Lhe foram dirigidas. Que
reparação, após tantas ofensas, vos pediu Ele? O último grito do Cordeiro foi
uma prece para seus carrascos. Tal como Ele, perdoai e orai por aqueles que vos
ofendem.
Amigos, lembrai-vos deste preceito: Amai-vos uns aos outros, e, então, ao golpe dado pelo ódio, respondereis com um sorriso, e, à ofensa, com o perdão. Sem dúvida, o mundo se voltará furioso contra vós e vos chamará de covardes. Elevai a cabeça bem ao alto e mostrai que a vossa fronte também não receia ser coroada de espinhos a exemplo do Cristo. No entanto, que vossa mão nunca queira ser cúmplice de um homicídio, que permite, digamos, uma falsa aparência de honra, mas que é apenas orgulho e amor-próprio. Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte uns aos outros? Não! Esse direito somente a Natureza o tem, para se reformar e se reconstruir a si mesma, mas quanto a vós, nem sobre o vosso corpo tendes direitos. Como o suicida, o duelista estará marcado de sangue quando comparecer perante Deus e, tanto sobre um como sobre o outro, a Soberana Justiça atuará em longos e dolorosos sofrimentos. Se Ele ameaçou com sua justiça aquele que dissesse a seu irmão: És louco, quanto mais não será severa a pena para aquele que se apresentar diante d’Ele com as mãos manchadas do sangue de seu irmão!
INIMIGOS
“Amai, pois, os vossos inimigos.”
Jesus. (Lucas, Capítulo 6, Versículo 35.)
A afirmativa do Mestre Divino merece meditação
em toda parte. Naturalmente que a recomendação, quanto ao amor aos inimigos,
pede análise especial.
A multidão, em geral, não traduz o verbo amar
senão pelas atividades cariciosas. Para que um homem demonstre capacidade afetiva,
ante os olhos vulgares, precisará movimentar imenso cabedal de palavras e
atitudes ternas, quando sabemos que o amor pode resplandecer no coração das
criaturas sem qualquer exteriorização superficial. Porque o Pai nos confira
experiências laboriosas e rudes, na Terra ou noutros mundos, não lhe podemos
atribuir qualquer negação de amor.
No terreno a que se reporta o Amigo Divino, é justo
nos detenhamos em legítimas ponderações.
Onde há luta há antagonismo, revelando a
existência de circunstâncias com as quais não seria lícito concordar em se
tratando do bem comum. Quando o Senhor nos aconselhou amar os inimigos, não
exigiu aplausos ao que rouba ou destrói, deliberadamente, nem mandou
multiplicarmos as asas da perversidade ou da má-fé.
Recomendou, realmente, auxiliarmos os mais
cruéis; no entanto, não com aprovação indébita e sim com a disposição sincera e
fraternal de ajudá-los a se reerguerem para a senda divina, através da
paciência, do recurso reconstrutivo ou do trabalho restaurador. O Mestre, acima
de tudo, preocupou-se em preservar-nos contra o veneno do ódio, evitando-nos a
queda em disputas inferiores, inúteis ou desastrosas.
Ama, pois, os que se mostram contrários ao teu coração, amparando-os fraternalmente com todas as possibilidades de socorro ao teu alcance, convicto de que semelhante medida te livrará do calamitoso duelo do mal contra o mal.
Livro Pão Nosso – Emmanuel – Médium Chico Xavier.