Lázaro - Paris, 1863
7.
O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo e, em seguida, para
com os outros. O dever é a lei da vida: encontra-se desde os menores detalhes,
assim como nos mais elevados atos. Refiro-me apenas ao dever moral e não ao
dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos o dever é
muito difícil de ser cumprido, pois se encontra em antagonismo com as seduções
do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhos e suas derrotas
não estão sujeitas à repressão. O dever íntimo do homem é governado pelo seu
livre-arbítrio, este aguilhão da consciência, guardião da integridade interior,
o adverte e o sustenta, mas permanece, muitas vezes, impotente perante os
enganos da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem, mas,
como este dever pode ser determinado? Onde ele começa? Onde termina? O dever
começa precisamente no ponto onde ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de
vosso próximo, e termina no limite em que não desejaríeis vê-lo transposto em
relação a vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais
perante a dor; pequenos ou grandes, incultos ou esclarecidos, sofrem todos
pelas mesmas causas, a fim de que cada um avalie com sensatez o mal que pôde
fazer. O critério para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões, não é o mesmo. A igualdade perante a dor é uma sublime providência de
Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam
o mal, alegando a ignorância de seus efeitos.
O dever reflete, na prática, todas as virtudes
morais; é uma fortaleza da alma que enfrenta as angústias da luta; é severo e
dócil; pronto para dobrar-se às diversas complicações, mas permanece inflexível
perante suas tentações. O homem que cumpre seu dever ama mais a Deus do que às
criaturas, e às criaturas mais do que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e
escravo em sua própria causa.
O dever é o mais belo laurel* da razão; provém
dela, como um filho nasce de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o preserve
dos males da vida, aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas sim por dar
à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e se irradia, sob forma mais elevada, em cada uma das etapas superiores da Humanidade; a obrigação moral da criatura para com Deus nunca cessa; ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, pois quer que a beleza de sua obra resplandeça perante Ele.
NÃO SOMENTE
“Nem só de pão vive o homem.” – Jesus. (Mateus, 4:4.)
Não somente agasalho que proteja o corpo, mas
também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma.
Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente
a formosura e nobreza dos sentimentos.
Não apenas a eugenia que aprimora os
músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras.
Não somente a cirurgia que extirpa o defeito
orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito íntimo.
Não só o domicílio confortável para a vida
física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o
espírito se faça útil, estimado e respeitável.
Não apenas os títulos honrosos que ilustram a
personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta
objetiva, que enriqueçam a consciência eterna.
Não somente claridade para os olhos mortais,
mas também luz divina para o entendimento imperecível.
Não só aspecto agradável, mas igualmente
utilidade viva.
Não apenas flores, mas também frutos. Não
somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa.
Não só teoria excelente, mas também prática
santificante.
Não apenas nós, mas igualmente os outros.
Disse o Mestre: – “Nem só de pão vive o
homem.”
Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo
do mundo.
Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.
Livro Fonte
Viva – Médium Chico Xavier – Espírito Emmanuel.
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