segunda-feira, 30 de julho de 2018

VERDADEIRA PUREZA. MÃOS NÃO LAVADAS.


8. Então os escribas e os fariseus que tinham vindo de Jerusalém se aproximaram de Jesus e disseram: Por que vossos discípulos violam a tradição dos antigos? Por que eles não lavam as mãos quando tomam suas refeições?
Jesus lhes respondeu: Por que, vós mesmos, violais o mandamento de Deus para seguir a vossa tradição? Porque Deus disse: Honra a teu pai e à tua mãe, e o que amaldiçoar a seu pai ou à sua mãe, morra de morte. Vós outros, porém, dizeis: Qualquer um que disser a seu pai ou à sua mãe: toda oferta que faço a Deus te aproveitará a ti, está cumprindo a lei. Pois é certo que o tal não honrará a seu pai ou à sua mãe. Assim é que vós tendes feito vão o mandamento de Deus, pela vossa tradição. Hipócritas, bem profetizou Isaías de vós outros, quando disse: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens. E chamando a si o povo, lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem. Então, chegando-se a Ele, os discípulos disseram: Os fariseus, depois que ouviram o que disseste, ficaram escandalizados. Ele lhes disse: Toda planta que meu Pai não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os; são cegos e condutores de cegos. E se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no abismo. E Pedro Lhe disse: Explica-nos essa parábola. E respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência? Não compreendeis que tudo que entra pela boca desce ao ventre e se lança depois num lugar escuso? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo; porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O comer, porém, com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem. (Mateus, 15:1 a 20)
9. Enquanto falava, um fariseu pediu-Lhe que jantasse em sua casa; e Jesus, indo até lá, colocou-se à mesa. O fariseu começou então a dizer a si próprio: Por que Ele não lavou as mãos antes do jantar? Mas o Senhor lhe disse: Vós outros, fariseus, tendes grande cuidado em limpar o exterior do copo e do prato, mas o interior de vossos corações está repleto de roubos e iniquidades. Como sois insensatos! Aquele que fez o exterior também não fez o interior? (Lucas, 11:37 a 40)
10. Os judeus haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus, para se apegarem à prática dos regulamentos estabelecidos pelos homens, fazendo da sua prática rígida caso de consciência. Qualquer ensinamento, ainda que fosse de compreensão simples, tornava-se complicado por causa das exigências formais exteriores. Como era mais fácil seguir essa práticas do que realizar a reforma moral e íntima, isto é, lavar as mãos do que limpar seu coração, os homens se iludiam a si mesmos e acreditavam estar quites para com Deus. Acomodavam-se, assim, às práticas exteriores, continuando a ser como eram, já que era-lhes ensinado que Deus não pediria mais nada do que isso. Eis porque o profeta dizia: É em vão que este povo me honra com os lábios, ensinando mandamentos e leis dos homens. (Isaías, 29:13)
Assim também aconteceu com a doutrina moral do Cristo, que acabou sendo colocada para trás, esquecida, a exemplo do que haviam feito os antigos judeus, que acreditavam que sua salvação era mais garantida pelas práticas exteriores do que pelas morais. É a esses acréscimos, feitos pelos homens à Lei de Deus, que Jesus se refere quando disse: Toda planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada pela raiz.
O propósito da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem só chega a Deus quando está perfeito; portanto, toda religião que não torna o homem melhor não atinge seu objetivo, e aquela sobre a qual o homem pensa poder se apoiar para fazer o mal ou é falsa, ou foi falsificada em seus fundamentos, e é esse o resultado a que chegam todas aquelas em que a forma se impõe ao fundo. A crença, seja ela qual for, na eficiência dos símbolos exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios, roubos, calúnias e o mal ao próximo. Ela faz supersticiosos, hipócritas ou fanáticos; mas não faz homens de bem.
Não basta, portanto, ter aparência de pureza; é preciso, antes de mais nada, ter a pureza de coração.

FIDELIDADE A DEUS

Depois das primeiras prédicas de Jesus, respeito aos trabalhos ingentes que a edificação do reino de Deus exigia dos seus discípulos, esboçou-se na fraterna comunidade um leve  movimento de incompreensão. Quê? Pois a Boa Nova reclamaria tamanhos sacrifícios? Então o Senhor, que sondava o íntimo de seus companheiros diletos, os reuniu, uma noite, quando a turba os deixara a sós e já algumas horas haviam passado sobre o pôr do Sol.
Interrogando-os vivamente, provocou a manifestação dos seus pensamentos e dúvidas mais íntimas. Após escutar-lhes as confidências simples e sinceras, o Mestre ponderou:
— Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes.
Onde o filho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?
Como os discípulos o escutassem atentos, bebendo-lhe os ensinos, o Mestre acrescentou:
— Tudo na vida tem o preço que lhe corresponde. Se vacilais receosos ante as bênçãos do sacrifício e as alegrias do trabalho, meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o preço que o mundo reclama ao gozador e ao mentiroso?
Ao clarão alvacento da Lua, como pai bondoso rodeado de seus filhinhos, Jesus reconheceu que os discípulos, diante das suas cariciosa perguntas, haviam transformado a atitude mental, como que iluminados por súbito clarão.
Timidamente, Tiago, filho de Alfeu, contou a história de um amigo que arruinara a saúde, por excessos nos prazeres condenáveis.
Tadeu falou de um conhecido que, depois de ganhar grande fortuna, se havia tornado avarento e mesquinho a ponto de privar-se do necessário, para multiplicar o número de suas moedas, acabando assassinado pelos ladrões.
Pedro recordou o caso de um pescador de sua intimidade, que sucumbira tragicamente, por efeito de sua desmedida ambição.
Jesus, depois de ouvi-los, satisfeito, perguntou:
— Não achais enorme o tributo que o mundo exige dos que se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto, por que não poderia Deus pedir-nos lealdade ao coração? Trabalhamos agora pela instituição divina do seu reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai trabalhando por nós?
As interrogativas pairavam no espaço sem resposta dos discípulos, porque, acima de tudo, eles ouviam a que lhes dava o próprio coração. Do firmamento infinito os reflexos do luar se projetavam no lençol tranquilo do lago, dando a impressão de encantador caminho para o horizonte, aberto sobre as águas, por entre deslumbramentos de luz.
Enquanto os companheiros meditavam no que dissera Jesus, Tiago se lhe dirigiu, nestes termos:
— Mestre, tenho um amigo, de Corazim, que vos ouviu a palavra santificante e desejava seguir-vos; porém, asseverou-me que o reino pregado pela vossa bondade está cheio de numerosos obstáculos, acrescentando que Deus deve mostrar-se a nós outros somente na vitória e na ventura. Devo confessar que hesitei ante as suas observações, mas, agora, esclarecido pelos vossos ensinamentos, melhor vos compreendo e afirmo-vos que nunca esquecerei minha fidelidade ao reino!...
A voz do apóstolo, na sua confissão espontânea, se revelava tocada de entusiasmo doce e amigo e o Senhor, aproveitando a hora para a semeadura divina, exclamou, bondoso:
— Tiago, nem todos podem compreender a verdade de uma só vez.
Devemos considerar que o mundo está cheio de crentes que não entendem a proteção do céu, senão nos dias de tranquilidade e de triunfo. Nós, porém, que conhecemos a vontade suprema, temos que lhe seguir o roteiro. Não devemos pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que recompensa, sim no Pai que aperfeiçoa. Daí se segue quea nossa batalha pela redenção tem de ser perseverante e sem trégua...
Nesse ínterim, todos os companheiros de apostolado, manifestando o interesse que os esclarecimentos da noite lhes causavam, se puseram a perguntar, com respeito e carinho:
— Mestre exclamou um deles —, não seria melhor fugirmos do mundo para viver na incessante contemplação do reino?...
— Que diríamos do filho que se conservasse em perpétuo repouso, junto de seu pai que trabalha sem cessar, no labor da grande família? — respondeu Jesus.
— Mas, de que modo se há de viver como homem e como apóstolo do reino de Deus na face deste mundo? — inquiriu Tadeu.
Em verdade esclareceu o Messias —, ninguém pode servir, simultaneamente, a dois senhores. Fora absurdo viver ao mesmo tempo para os prazeres condenáveis da Terra e para as virtudes sublimes do céu.
O discípulo da Boa Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste mundo. Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo, propriedade de seu Pai, que o observa com carinho e atenta com amor nos seus trabalhos. Imaginemos que esse campo estivesse cheio de inimigos: por toda parte, vermes asquerosos, víboras peçonhentas, tratos de terra improdutiva. E certo que as forças destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e boa-vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do reino que traz no coração plantará uma flor onde haja um espinho; abrirá uma senda, embora estreita, onde estejam em confusão os parasitos da Terra; cavará pacientemente, buscando as entranhas do solo, para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com atenção.
— Qual a primeira qualidade a cultivar no coração perguntou um dos filhos de Zebedeu —, para que nos sintamos plenamente identificados com a grandeza espiritual da tarefa?
— Acima de todas as coisas — respondeu o Mestre — é preciso ser fiel a Deus.
A pequena assembléia parecia altamente enlevada e satisfeita; mas, André inquiriu:
— Mestre, nestes últimos dias, tenho-me sentido doente e receio não poder trabalhar como os demais companheiros. Como poderei ser fiel a Deus, estando enfermo?
— Ouve — replicou o Senhor com certa ênfase. Nos dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e confiança. Não se prova, porém, dedicação, verdadeiramente, senão nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. O enfermo tem consigo diversas possibilidades de trabalhar para Nosso Pai, com mais altas probabilidade de êxito no serviço. Tateando ou rastejando, busquemos servir ao Pai que está nos céus, porque nas suas mãos divinas vive o Universo inteiro!...
André, se algum dia teus olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos; se ficares mudo, toma, assim mesmo, a charrua. valendo-te das tuas mãos. Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!
O grupo dos apóstolos calara-se, impressionado, ante aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas silenciosas. O mais leve ruído não traía o silêncio augusto da hora.
André chorava de emoção, enquanto os outros observavam a figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando entrever um amoroso sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força interior, disseram, quase a um só tempo:
Senhor, seremos fiéis!...

Do Livro Boa Nova – Médium Chico Xavier – Espírito Humberto de Campos.

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