domingo, 8 de dezembro de 2019

O HOMEM NO MUNDO

Um Espírito Protetor - Bordeaux, 1863
10. Um sentimento de piedade deve sempre orientar o coração daqueles que se reúnem sob os olhos do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, vossos corações; não vos deixeis perturbar por nenhum pensamento fútil ou de prazeres materiais; elevai vosso Espírito em direção àqueles que vós chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias condições, possam lançar em quantidade a semente que deve germinar em vossos corações, e nele produzir os frutos da caridade e da justiça. Não acrediteis, contudo, que, incentivando vossa dedicação à prece e à evocação mental, desejamos vos levar a viver uma vida mística, que vos coloque fora das leis da sociedade, onde estais obrigados a viver. Não; vivei com os homens de vossa época, como devem viver os homens. Mas se renunciardes às necessidades, ou mesmo às banalidades do dia-a-dia, fazei-o com um sentimento de pureza que possa santificá-las.
Se sois obrigados a estar em contato com homens cujos espíritos são de natureza diferente da vossa e de caracteres opostos, não deveis afrontá-los; não os contrarieis. Sede alegres, felizes, mas com a alegria que provém da consciência limpa da felicidade de um herdeiro do Céu que conta os dias que o aproximam de sua herança.
A virtude não consiste em assumir um aspecto severo e sombrio, em rejeitar os prazeres que a vossa condição humana permite; basta reger todos os vossos atos pela lei do Criador, que vos deu a vida. Quando se começa ou termina uma obra, deveis elevar o pensamento a Ele e pedir-Lhe, num impulso da alma, a proteção para nela ter êxito ou sua bênção para a obra acabada. O que quer que façais, ligai vosso pensamento à fonte suprema de todas as coisas e não façais nada sem que a lembrança de Deus purifique e santifique vossos atos.
A perfeição encontra-se inteiramente, como disse o Cristo, na prática da caridade sem limites, porém, os deveres da caridade se estendem a todas as posições sociais, desde a mais elevada à mais simples. O homem, se vivesse só, não teria como exercitar a caridade, e, somente no contato com seus semelhantes, nas lutas mais difíceis é que ele encontra a ocasião de exercê-la. Aquele que se isola, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se e, pensando apenas nele, sua vida é a de um egoísta.
Não imagineis que, para viver em comunicação constante conosco, para viver sob a observação do Senhor, seja preciso entregar-se ao martírio e cobrir-se de cinzas. Não; mais uma vez não! Sede felizes, de acordo com as necessidades humanas, mas que na vossa felicidade nunca entre um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou entristecer a face daqueles que vos amam e vos dirigem. Deus é amor e abençoa aqueles que amam com pureza.

ORAÇÃO POR ENTENDIMENTO

Senhor Jesus!
Auxilia-nos a compreender mais, a fim de que possamos servir melhor, já que, somente assim, as bênçãos que nos concedes podem fluir, através de nós, em nosso apoio e em favor de todos aqueles que nos compartilham a existência.
Induze-nos à prática do entendimento que nos fará observar os valores que, porventura, conquistemos, não na condição de propriedade nossa e sim por manancial de recursos que nos compete mobilizar no amparo de quantos ainda não obtiveram as vantagens que nos felicitam a vida.
E ajuda-nos, oh! Divino Mestre, a converter as oportunidade de tempo e trabalho com que nos honraste em serviço aos semelhantes, especialmente na doação de nós mesmos, naquilo que sejamos ou naquilo que possamos dispor, de maneira a sermos hoje melhores do que ontem, permanecendo em ti, tanto quanto permaneces em nós, agora e sempre.

Assim seja.

Resguarda-te em paz e segue demonstrando bondade para com todos.

Livro Paciência – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 24 de novembro de 2019

OS SUPERIORES E OS INFERIORES


François, Nicolas, Madeleine, Cardeal Morlot - Paris, 1863

9. A autoridade, assim como a riqueza, é uma delegação da qual terá que prestar contas aquele que dela estiver investido. Não acrediteis que ela seja dada para satisfazer o vão prazer de mandar, nem tampouco, conforme acredita falsamente a maior parte dos poderosos da Terra, como um direito ou uma propriedade.
Deus tem lhes provado constantemente que não é nem uma coisa nem outra, pois as retira deles quando quer. Se fosse um privilégio ligado à pessoa, seria intransferível. Ninguém pode dizer que uma coisa lhe pertence, quando ela pode lhe ser tirada sem o seu consentimento.
Deus concede a autoridade a título de missão ou de prova, quando quer, e a retira do mesmo modo.
Todo aquele que é depositário da autoridade, seja qual for em grau de importância, desde um senhor para com seu servidor até o soberano para com seu povo, não deve esquecer-se de que é um encarregado de almas e responderá pela boa ou a má orientação que der a seus subordinados. Vai arcar com as culpas das faltas que estes poderão cometer, dos vícios aos quais serão arrastados em consequência dessa orientação ou dos maus exemplos recebidos; mas, também, colherá os frutos do seu esforço por conduzi-los ao bem. Todo homem tem, na Terra, uma missão pequena ou grande; seja qual for, sempre lhe é dada para o bem; desviá-la do seu verdadeiro sentido é fracassar no seu cumprimento.
Se Deus pergunta ao rico: Que fizeste da riqueza que deveria ser nas tuas mãos uma fonte espalhando fecundidade ao seu redor?
Também perguntará àquele que dispõe de alguma autoridade: Que uso fizeste dessa autoridade? Que mal impediste? Que progresso promoveste? Se te dei subordinados, não foi para fazer deles escravos de tua vontade, nem instrumentos dóceis dos teus caprichos ou de tua ambição; te fiz forte e te confiei os fracos para que, amparando-os, os ajudasses a subir até mim.
Aquele que, investido de autoridade, segue as palavras do Cristo não despreza nenhum dos que estão abaixo dele, porque sabe que as diferenças sociais não existem perante Deus. O Espiritismo lhe ensina que, se hoje eles lhe obedecem, já puderam tê-lo comandado, ou poderão vir a comandá-lo mais tarde e, então, será tratado como os tratou.
Se o superior tem deveres a cumprir, o subordinado também os tem por sua vez e não menos sagrados. Se este último é espírita, sua consciência lhe dirá, melhor ainda, que não está dispensado de os cumprir, mesmo que seu chefe não cumpra os que lhe competem, pois sabe que não se deve pagar o mal com o mal, e que as faltas de um não justificam as faltas de outros. Se sofre na sua condição de subalterno, sabe que é merecido, porque ele mesmo pode já ter também abusado da autoridade que tinha, e agora deve sentir, por sua vez, os inconvenientes daquilo que fez os outros sofrerem. Se é obrigado a suportar essa situação, na falta de encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se a isso, como uma prova para sua humildade, necessária a seu adiantamento. Sua crença o guia na sua conduta; ele age como gostaria que seus subordinados agissem para com ele, se fosse o chefe.
Por isso mesmo, é mais cuidadoso no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe é confiado é um prejuízo para aquele que o remunera, a quem deve seu tempo e seus esforços. Em resumo, é guiado pelo sentimento do dever, que lhe advém de sua fé, e a certeza de que todo desvio do caminho correto é uma dívida que deverá pagar cedo ou tarde.


EM NOSSO TRABALHO
"Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as
coisas é Deus." - Paulo. (HEBREUS, 3:4.)

O Supremo Senhor criou o Universo, entretanto, cada criatura organiza o seu mundo particular.
O Arquiteto Divino é o possuidor de todas as edificações, todavia, cada Espírito constrói a habitação que lhe é própria.
O Doador dos Infinitos Bens espalha valores ilimitados na Criação, contudo, cada um de nós outros deverá criar valores que nos sejam inerentes à personalidade.
A natureza maternal, rica de bênçãos, em toda parte constitui a representação do patrimônio imensurável do Poder Divino e, em todo lugar, onde exista alguém, aí palpita a vontade igualmente criadora do homem, que é o herdeiro de Deus.
O Pai levanta fundamentos e estabelece leis.
Os filhos contribuem na construção das obras e operam interferências.
É compreensível, portanto, que empenhemos todo o cuidado em nosso esforço individualista, nas edificações do mundo, convictos de que responderemos pela nossa atuação pessoal, em todos os quadros da vida.
Colaboremos no bem com o entusiasmo de quem reconhece a utilidade da própria ação, nos círculos do serviço, mas sem paixões destruidoras que nos amarrem às ilhas do isolacionismo.
Apresentemos nosso trabalho ao Senhor, diariamente, e peçamos a Ele destrua as particularidades em desacordo com os seus propósitos soberanos e justos, rogando-Lhe visão e entendimento.
Seremos compelidos a formar o campo mental de nós mesmos, a erguer a casa de nossa elevação e a construir o santuário que nos seja próprio.
No desdobramento desse serviço, porém, jamais nos esqueçamos de que todos os patrimônios da vida pertencem a Deus.

Livro Vinha de Luz – Emmanuel – Chico Xavier.

A VIRTUDE


François, Nicolas, Madeleine, Cardeal Morlot - Paris, 1863

8. A virtude, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caridoso, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Infelizmente são acompanhadas quase sempre de pequenas falhas morais que as desmerecem e as enfraquecem. Aquele que faz alarde de sua virtude não é virtuoso, pois lhe falta a principal qualidade: a modéstia. E tem o vício mais oposto: o orgulho. A virtude realmente digna desse nome não gosta de se exibir; ela é sentida, mas se esconde no anonimato e foge da admiração das multidões. São Vicente de Paulo era virtuoso; o digno Cura de Ars era virtuoso, e muitos outros não muito conhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam que eram virtuosos; deixavam-se ir pela corrente de suas santas inspirações e praticavam o bem com total desinteresse e completo esquecimento de si mesmos.
À virtude, assim compreendida e praticada, é que eu vos convido, meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita que eu vos convido a consagrar-vos. Afastai de vossos corações o sentimento do orgulho, da vaidade, do amor-próprio, que sempre desvalorizam as mais belas qualidades. Não imiteis o homem que se coloca como um modelo e se gaba de suas próprias qualidades para todos os ouvidos tolerantes. Essa virtude com ostentação esconde, muitas vezes, uma multidão de pequenas mesquinharias e odiosas fraquezas.
Em princípio, o homem que exalta a si mesmo, que ergue uma estátua à sua própria virtude, aniquila, por essa única razão, todo mérito efetivo que possa ter. Mas o que direi daquele que dá valor em parecer aquilo que não é? Compreendo muito bem que o homem que faz o bem sinta no fundo do coração uma satisfação íntima, mas, uma vez que essa satisfação se exteriorize para provocar elogios, degenera em amor-próprio.
Vós todos, a quem a fé espírita reanimou com seus raios, e que sabeis o quanto o homem está longe da perfeição, não façais nunca uma tolice dessas. A virtude é uma graça que eu desejo a todos os espíritas sinceros, mas advirto: Mais vale poucas virtudes com modéstia do que muitas com orgulho. Foi pelo orgulho que as humanidades se perderam sucessivamente, e será pela humildade que deverão um dia redimir-se.

JESUS E HUMILDADE

Reunião pública de 9/3/59
Questão nº 937

Estudando a humildade, vejamos como se comportava Jesus no exercício da sublime virtude.
Decerto, no tempo em que ao mundo deveria surgir a mensagem da Boa-Nova, poderia permanecer na glória celeste e fazer-se representar entre os homens pela pessoa de mensageiros angélicos, mas preferiu descer, Ele mesmo, ao chão da Terra, e experimentar-lhe as vicissitudes.
Indubitavelmente, contava com poder bastante para anular a sentença de Herodes que mandava decepar a cabeça dos recém-natos de sua condição, com o fim de impedir-lhe a presença; entretanto, afastou-se prudentemente para longínquo rincão, até que a descabida exigência fosse necessariamente proscrita.
Dispunha de vastos recursos para se impor em Jerusalém, ao pé dos doutores que lhe negavam autoridade no ensino das novas revelações; contudo, retirou-se sem mágoa em demanda de remota província, a valer-se dos homens rudes que lhe acolhiam a palavra consoladora.
Possuía suficiente virtude para humilhar a filha de Magdala, dominada pela força das sombras; no entanto, silenciou a própria grandeza moral para chama-la docemente ao reajuste da vida.
Atento à própria dignidade, era justo mandasse os discípulos ao encontro dos sofredores para consolá-los na angústia e sarar-lhes a ulceração; todavia, não renunciou ao privilégio de seguir, Ele mesmo, em cada canto de estrada, a fim de ofertar-lhes alívio e esperança, fortaleza e renovação.
Certo, detinha elementos para desfazer-se de Judas, o aprendiz insensato; porém, apesar de tudo, conservou-o até o último dia da luta, entre aqueles que mais amava.
Com uma simples palavra, poderia confundir os juizes que o rebaixavam perante Barrabás, autor de crimes confessos; contudo, abraçou a cruz da morte, rogando perdão para os próprios carrascos.
Por fim, poderia condenar Saulo de Tarso, o implacável perseguidor, a penas soezes, pela intransigência perversa com que aniquilava a plantação do Evangelho nascente; mas buscou-o, em pessoa, às portas de Damasco, visitando-lhe o coração, por sabê-lo enganado na direção em que se movia.
Com Jesus, percebemos que a humildade nem sempre surge da pobreza ou da enfermidade que tanta vez somente significam lições regeneradoras, e sim que o talento celeste é atitude da alma que olvida a própria luz para levantar os que se arrastam nas trevas e que procura sacrificar a si própria, nos carreiros empedrados do Mundo, para que os outros aprendam, sem constrangimento ou barulho, a encontrar o caminho para as bênçãos do Céu.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 17 de novembro de 2019

O DEVER

Lázaro – Paris,1863.
7. O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida: encontra-se desde os menores detalhes, assim como nos mais elevados atos. Refiro-me apenas ao dever moral e não ao dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos o dever é muito difícil de ser cumprido, pois se encontra em antagonismo com as seduções do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhos e suas derrotas não estão sujeitas à repressão. O dever íntimo do homem é governado pelo seu livre-arbítrio, este aguilhão(estimulante, provocador) da consciência, guardião da integridade interior, o adverte e o sustenta, mas permanece, muitas vezes, impotente perante os enganos da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem, mas, como este dever pode ser determinado? Onde ele começa? Onde termina? O dever começa precisamente no ponto onde ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de vosso próximo, e termina no limite em que não desejaríeis vê-lo transposto em relação a vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais perante a dor; pequenos ou grandes, incultos ou esclarecidos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um avalie com sensatez o mal que pôde fazer. O critério para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões, não é o mesmo. A igualdade perante a dor é uma sublime providência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal, alegando a ignorância de seus efeitos.
O dever reflete, na prática, todas as virtudes morais; é uma fortaleza da alma que enfrenta as angústias da luta; é severo e dócil; pronto para dobrar-se às diversas complicações, mas permanece inflexível perante suas tentações. O homem que cumpre seu dever ama mais a Deus do que às criaturas, e às criaturas mais do que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa.
O dever é o mais belo laurel(prêmio, distintivo) da razão; provém dela, como um filho nasce de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o preserve dos males da vida, aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas sim por dar à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e se irradia, sob forma mais elevada, em cada uma das etapas superiores da Humanidade; a obrigação moral da criatura para com Deus nunca cessa; ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, pois quer que a beleza de sua obra resplandeça perante Ele.

FELICIDADE E DEVER
Reunião pública de 13/7/59
Questão nº 922

A procura da felicidade assemelha-se, no fundo, a uma caçada difícil.
Taxando-a por dom facilmente apresável, há quem a procure entre os mitos do ouro, enferrujando as mais belas faculdades dá alma, na fossa da usura; quem a dispute no prazer dos sentidos, acordando no catre da enfermidade; quem lhe suponha a presença na exaltação do poder terrestre, acolhendo-se à dor de extrema desilusão, e quem a busque na retenção do supérfluo, apodrecendo de tédio, em câmaras de preguiça.
Não há felicidade, contudo, sem dever corretamente cumprido.
Observa, pois, o dever de que a vida te incumbe.
Vê-lo-ás, hora a hora, no quadro das circunstâncias.
Na fé que te pede serviço.
No serviço que te roga compreensão.
No ideal que te pede caráter.
No caráter que te roga firmeza.
No exemplo que te pede disciplina.
Na disciplina que te roga humildade.
No lar que te pede renúncia.
Na renúncia que te roga perseverança.
No caminho que te pede cooperação.
Na cooperação que te roga discernimento.
Por mais agressivos se façam os empeços da marcha, não te desvies da obrigação que te recomenda o bem de todos, sempre que puderes e quanto puderes, seja onde for.
Porque te mostres leal a ti mesmo, é possível que a maioria te categorize à conta de ingrato e rebelde, fanático e louco.
A maioria, no entanto, nem sempre abraça o direito.
Não podemos esquecer que, no instante supremo da Humanidade, ela, a maioria, estava com Barrabás e contra o Cristo.
Cumpre, assim, teu dever, e, tomando da Terra somente o necessário à própria manutenção, de modo a que te não apropries da felicidade dos outros, estarás atingindo a verdadeira felicidade, que fulge sempre, como bênção de Deus, na consciência tranquila.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

PARÁBOLA DO SEMEADOR


5. Nesse mesmo dia, Jesus, ao sair de casa, sentou-se à beira do mar; reuniu-se ao seu redor uma grande multidão de pessoas; foi por isso que subiu numa barca e todo o povo ficou em pé na margem; e Ele lhes disse, então, muitas coisas em parábolas:
Saiu aquele que semeia a semear; e enquanto semeava, caiu ao longo do caminho um pouco de semente, e os pássaros do céu vieram e comeram-na.
Uma outra quantidade caiu nas pedras, onde não havia muita terra; e logo germinou, pois a terra onde estava não era muito profunda. Mas queimou-se com o sol, pois tinha acabado de nascer; e, como não tinha raízes, secou.
Outra igualmente caiu nos espinhos, e os espinhos cresceram e afogaram-na.
Uma outra, enfim, caiu na boa terra que dava frutos, havendo grãos que rendiam cem por um, outros sessenta e outros trinta.
Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir. (Mateus, 13:1 a 9)
Escutai, pois, vós outros, a parábola do semeador.
Todo aquele que ouve a palavra do reino e não presta a menor atenção, surge o Espírito mau e arrebata o que se havia semeado em seu coração; este é aquele que recebeu a semente ao longo da estrada.
Aquele que recebeu a semente junto às pedras, é o que ouve a palavra e que a recebe na mesma hora com alegria; mas não tem raízes em si, e isso dura pouco tempo; e quando lhe sobrevêm tribulações e perseguições por causa da palavra, logo se escandaliza.
Aquele que recebeu a semente entre os espinhos, é o que ouve a palavra; mas, em seguida, as solicitudes deste século e a ilusão das riquezas sufocam nele essa palavra e a tornam infrutífera.
Mas aquele que recebeu a semente em uma boa terra, é aquele que ouve a palavra, que lhe dá atenção e ela frutifica, e rende cem ou sessenta, ou trinta por um. (Mateus, 13:18 a 23)
6. A parábola do semeador representa perfeitamente as várias faces que existem na maneira de se pôr em prática os ensinamentos do Evangelho. Quantas pessoas há, de fato, para as quais os ensinamentos não passam de letra morta e, semelhantes às sementes caídas sobre as pedras, nada produzem, nada frutificam!
A parábola encontra aplicação igualmente justa nas diferentes categorias de espíritas. Não é o símbolo daqueles que apenas se apegam aos fenômenos materiais, e deles não tiram nenhuma consequência?
Que apenas os veem como objeto de curiosidade? Não simboliza os que procuram o lado brilhante nas comunicações dos Espíritos, interessando-se somente enquanto lhes satisfazem a imaginação, mas que, após ouvi-las, continuam frios e indiferentes como antes? Daqueles que acham os conselhos muito bons e os admiram, aplicados a outrem e não a si mesmos? E, finalmente, daqueles para quem os ensinamentos são como a semente que caiu em terra boa e produz frutos?


PENSA UM POUCO

“As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas testificam de mim.” — Jesus.
(JOÃO, CAPÍTULO 10, VERSÍCULO 25.)

É vulgar a preocupação do homem comum, relativamente às tradições familiares e aos institutos terrestres a que se prende, nominalmente, exaltando-se nos títulos convencionais que lhe identificam a personalidade.
Entretanto, na vida verdadeira, criatura alguma é conhecida por semelhantes processos. Cada Espírito traz consigo a história viva dos próprios feitos e somente as obras efetuadas dão a conhecer o valor ou o demérito de cada um.
Com o enunciado, não desejamos afirmar que a palavra esteja desprovida de suas vantagens indiscutíveis; todavia, é necessário compreender-se que o verbo é também profundo potencial recebido da Infinita Bondade, como recurso divino, tornando-se indispensável saber o que estamos realizando com esse dom do Senhor Eterno.
A afirmativa de Jesus, nesse particular, reveste-se de imperecível beleza.
Que diríamos de um Salvador que estatuísse regras para a Humanidade, sem partilhar-lhe as dificuldades e impedimentos?
O Cristo iniciou a missão divina entre homens do campo, viveu entre doutores irritados e pecadores rebeldes, uniu-se a doentes e aflitos, comeu o duro pão dos pescadores humildes e terminou a tarefa santa entre dois ladrões.
Que mais desejas? Se aguardas vida fácil e situações de evidência no mundo, lembra-te do Mestre e pensa um pouco.

Livro Pão Nosso – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 3 de novembro de 2019

OS BONS ESPÍRITAS


4. O Espiritismo bem compreendido e bem sentido leva o homem naturalmente às qualidades mencionadas, que caracterizam o verdadeiro espírita, o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma coisa.
O Espiritismo não estabelece nenhuma nova ordem moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, dando a fé inabalável e esclarecida àqueles que duvidam ou vacilam.
Muitos daqueles que acreditam nos fatos das manifestações espíritas não compreendem nem suas consequências, nem seu alcance moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos. Por que isso acontece? Será falta de clareza da Doutrina? Não. A Doutrina Espírita não contém nem alegorias, nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é sua própria essência, e é de onde vem a sua força, pois vai diretamente à inteligência. Ela não tem nada de misteriosa, e seus seguidores não estão de posse de nenhum segredo oculto ao povo.
É preciso, então, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não. Há homens de uma reconhecida capacidade que não a compreendem, enquanto inteligências simples, até mesmo jovens, mal saídos da adolescência, apreendem-na com uma admirável exatidão, nos seus mais delicados detalhes. Isso acontece porque a parte por assim dizer material da Ciência não requer mais do que olhos para ser observada. Enquanto a parte essencial do Espiritismo exige um certo grau de sensibilidade, que independe da idade ou do grau de instrução da criatura, ao qual podemos chamar de maturidade do senso moral, essa maturidade lhe é própria porque, de certa forma, corresponde ao grau de desenvolvimento que o Espírito encarnado já possui.
Os laços da matéria, em alguns, estão ainda muito fortes para permitir ao Espírito libertar-se das coisas da Terra; o nevoeiro que o envolve impede-lhe a visão do infinito. Eis porque ele não rompe facilmente nem com seus gostos, nem com seus hábitos, não percebendo que possa haver qualquer coisa de melhor do que aquilo que possui. A crença nos Espíritos é, para eles, um simples fato, que modifica muito pouco, ou quase nada, suas tendências instintivas.
Numa palavra: vêem apenas um raio de luz, insuficiente para orientá-los e lhes dar uma vontade determinada, capaz de vencer suas tendências. Eles prendem-se mais aos fenômenos do que à moral, que lhes parece banal e monótona; pedem aos Espíritos para ter acesso de imediato aos novos mistérios, sem perguntar a si mesmos se são dignos para penetrar nas vontades e mistérios do Criador. São espíritas imperfeitos, alguns deles estacionam no caminho ou se distanciam de seus irmãos em crença, pois recuam diante da obrigação de se reformarem, ou então reservam suas simpatias para aqueles que compartilham das suas fraquezas e prevenções. Entretanto, a aceitação dos princípios da Doutrina Espírita é um primeiro passo que lhes permitirá um segundo mais fácil numa outra existência.
Aquele que pode, com razão, ser qualificado como verdadeiro e sincero espírita está num grau superior de adiantamento moral; o Espírito, já dominando mais completamente a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina Espírita fazem nele vibrar os sentimentos, que permanecem adormecidos nos outros; em uma palavra, foi tocado no coração e a sua fé é inabalável. Um é como o músico que se comove com os acordes, enquanto o outro ouve apenas sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más tendências; enquanto um se satisfaz em seu horizonte limitado, o outro, que compreende um pouco mais, esforça-se para se libertar dele e sempre o consegue, quando tem uma vontade firme.

O OBREIRO DO SENHOR

Cada criatura mora espiritualmente na seara a que se afeiçoa.
É assim que, se o justo arrecada prêmios da retidão, o delinquente, em qualquer parte, recolhe os frutos do crime.
O obreiro do Senhor, por isso mesmo, onde surja, é conhecido por traços essenciais.
Não cogita do próprio interesse.
Não exige cooperação para fazer o bem.
Não cria problemas.
Não suspeita mal.
Não cobra tributos de gratidão.
Não arma ciladas.
Não converte o serviço em fardo insuportável nos ombros do companheiro.
Não transforma a verdade em lâmina de fogo no peito dos semelhantes.
Não reclama santidade nos outros, para ser útil.
Não fiscaliza o vintém que dá.
Não espia os erros do próximo.
Não promove o exame das consciências alheias.
Não se cansa de auxiliar.
Não faz greve por notar-se desatendido.
Não desconhece as suas fraquezas.
Não cultiva espinheiros de intolerância.
Não faz coleção de queixas.
Não perde tempo em lutas desnecessárias.
Não tem a boca untada com veneno.
Não sente cóleras sagradas.
Não ergue monumentos ao derrotismo.
Não se impacienta.
Não se exibe.
Não acusa.
Não critica.
Não se ensoberbece.
Entretanto, frequentemente aparece na Seara Divina quem condene os outros e iluda a si mesmo, supondo-se na posse de imaginária dominação.
O obreiro do Senhor, todavia, encarnado ou desencarnado, em qualquer senda de educação e em qualquer campo religioso, segue à frente, ajudando e compreendendo, perdoando e servindo, para cumprir-lhe, em tudo, a sacrossanta Vontade.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 27 de outubro de 2019

O HOMEM DE BEM


3. O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Questiona sua consciência sobre seus próprios atos, perguntará se não violou essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se negligenciou voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem queixa dele, enfim, se fez aos outros tudo o que gostaria que lhe fizessem.
Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria divina. Sabe que nada acontece sem a sua permissão e submete-se, em todas as coisas, à sua vontade.
Tem fé no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as alternativas da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações, e as aceita sem lamentações.
O homem de bem que tem o sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar retorno, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sempre sacrifica seus interesses à justiça.
Encontra satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas alegrias que proporciona aos seus semelhantes, nas lágrimas que seca, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros antes de si, acudir aos interesses dos outros antes de procurar os seus. O egoísta, ao contrário, calcula os ganhos e as perdas de toda ação generosa.
É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, pois vê irmãos em todos os homens.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não amaldiçoa quem não pensa como ele.
Em todos os momentos, a caridade é o seu guia; tendo como certo que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que agride os sentimentos de alguém com seu orgulho e seu desdém, que não recua perante a ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando poderia evitá-la, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.
Não tem nem ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; a exemplo de Jesus perdoa e esquece as ofensas e apenas se recorda dos benefícios, pois sabe que será perdoado conforme perdoou.
É indulgente para com as fraquezas dos outros, porque sabe que ele mesmo precisa de indulgência, e se recorda das palavras do Cristo: Que aquele que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra.
Não se satisfaz em procurar defeitos nos outros, nem colocá-los em evidência. Se a necessidade o obriga a fazer isso, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha sem cessar para combatê-las. Emprega todos os seus esforços para poder dizer no dia seguinte que há nele algo de melhor do que no dia anterior.
Não se exalta a si mesmo nem seus talentos à custa de outrem, ao contrário, aproveita todas as ocasiões para ressaltar as qualidades dos outros.
Não se envaidece de sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, pois sabe que tudo o que lhe foi dado pode ser retirado.
Usa, sem exagero, dos bens que lhe são concedidos, pois sabe que se trata de um depósito do qual deverá prestar contas, e que o emprego, que resultaria mais prejudicial para si mesmo, seria o de fazê-los servir à satisfação de suas paixões.
Se, na ordem social, alguns homens estão sob seu mando, dependem dele, trata-os com bondade e benevolência, pois são seus semelhantes perante Deus; usa da sua autoridade para erguer-lhes o moral, e não para esmagá-los com seu orgulho; evita tudo o que poderia dificultar-lhes a posição subalterna.
O subordinado, por sua vez, compreende os deveres de sua posição e se empenha em cumpri-los conscientemente.
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que as leis da Natureza dão aos seus semelhantes, como gosta que os seus sejam respeitados.
Esta não é a relação completa de todas as qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las está no caminho que conduz a todas as outras.

Oração de São Francisco

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive
para a Vida Eterna.