domingo, 3 de novembro de 2019

OS BONS ESPÍRITAS


4. O Espiritismo bem compreendido e bem sentido leva o homem naturalmente às qualidades mencionadas, que caracterizam o verdadeiro espírita, o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma coisa.
O Espiritismo não estabelece nenhuma nova ordem moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, dando a fé inabalável e esclarecida àqueles que duvidam ou vacilam.
Muitos daqueles que acreditam nos fatos das manifestações espíritas não compreendem nem suas consequências, nem seu alcance moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos. Por que isso acontece? Será falta de clareza da Doutrina? Não. A Doutrina Espírita não contém nem alegorias, nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é sua própria essência, e é de onde vem a sua força, pois vai diretamente à inteligência. Ela não tem nada de misteriosa, e seus seguidores não estão de posse de nenhum segredo oculto ao povo.
É preciso, então, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não. Há homens de uma reconhecida capacidade que não a compreendem, enquanto inteligências simples, até mesmo jovens, mal saídos da adolescência, apreendem-na com uma admirável exatidão, nos seus mais delicados detalhes. Isso acontece porque a parte por assim dizer material da Ciência não requer mais do que olhos para ser observada. Enquanto a parte essencial do Espiritismo exige um certo grau de sensibilidade, que independe da idade ou do grau de instrução da criatura, ao qual podemos chamar de maturidade do senso moral, essa maturidade lhe é própria porque, de certa forma, corresponde ao grau de desenvolvimento que o Espírito encarnado já possui.
Os laços da matéria, em alguns, estão ainda muito fortes para permitir ao Espírito libertar-se das coisas da Terra; o nevoeiro que o envolve impede-lhe a visão do infinito. Eis porque ele não rompe facilmente nem com seus gostos, nem com seus hábitos, não percebendo que possa haver qualquer coisa de melhor do que aquilo que possui. A crença nos Espíritos é, para eles, um simples fato, que modifica muito pouco, ou quase nada, suas tendências instintivas.
Numa palavra: vêem apenas um raio de luz, insuficiente para orientá-los e lhes dar uma vontade determinada, capaz de vencer suas tendências. Eles prendem-se mais aos fenômenos do que à moral, que lhes parece banal e monótona; pedem aos Espíritos para ter acesso de imediato aos novos mistérios, sem perguntar a si mesmos se são dignos para penetrar nas vontades e mistérios do Criador. São espíritas imperfeitos, alguns deles estacionam no caminho ou se distanciam de seus irmãos em crença, pois recuam diante da obrigação de se reformarem, ou então reservam suas simpatias para aqueles que compartilham das suas fraquezas e prevenções. Entretanto, a aceitação dos princípios da Doutrina Espírita é um primeiro passo que lhes permitirá um segundo mais fácil numa outra existência.
Aquele que pode, com razão, ser qualificado como verdadeiro e sincero espírita está num grau superior de adiantamento moral; o Espírito, já dominando mais completamente a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina Espírita fazem nele vibrar os sentimentos, que permanecem adormecidos nos outros; em uma palavra, foi tocado no coração e a sua fé é inabalável. Um é como o músico que se comove com os acordes, enquanto o outro ouve apenas sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más tendências; enquanto um se satisfaz em seu horizonte limitado, o outro, que compreende um pouco mais, esforça-se para se libertar dele e sempre o consegue, quando tem uma vontade firme.

O OBREIRO DO SENHOR

Cada criatura mora espiritualmente na seara a que se afeiçoa.
É assim que, se o justo arrecada prêmios da retidão, o delinquente, em qualquer parte, recolhe os frutos do crime.
O obreiro do Senhor, por isso mesmo, onde surja, é conhecido por traços essenciais.
Não cogita do próprio interesse.
Não exige cooperação para fazer o bem.
Não cria problemas.
Não suspeita mal.
Não cobra tributos de gratidão.
Não arma ciladas.
Não converte o serviço em fardo insuportável nos ombros do companheiro.
Não transforma a verdade em lâmina de fogo no peito dos semelhantes.
Não reclama santidade nos outros, para ser útil.
Não fiscaliza o vintém que dá.
Não espia os erros do próximo.
Não promove o exame das consciências alheias.
Não se cansa de auxiliar.
Não faz greve por notar-se desatendido.
Não desconhece as suas fraquezas.
Não cultiva espinheiros de intolerância.
Não faz coleção de queixas.
Não perde tempo em lutas desnecessárias.
Não tem a boca untada com veneno.
Não sente cóleras sagradas.
Não ergue monumentos ao derrotismo.
Não se impacienta.
Não se exibe.
Não acusa.
Não critica.
Não se ensoberbece.
Entretanto, frequentemente aparece na Seara Divina quem condene os outros e iluda a si mesmo, supondo-se na posse de imaginária dominação.
O obreiro do Senhor, todavia, encarnado ou desencarnado, em qualquer senda de educação e em qualquer campo religioso, segue à frente, ajudando e compreendendo, perdoando e servindo, para cumprir-lhe, em tudo, a sacrossanta Vontade.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier.

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