domingo, 28 de abril de 2019

CONVIDAR OS POBRES E OS ESTROPIADOS


7. E Ele também disse àquele que o tinha convidado: Quando derdes um banquete, não convideis nem vossos amigos nem vossos irmãos, nem vossos parentes, nem vossos vizinhos que forem ricos, para que também eles o convidem em seguida, por sua vez, e que assim vos retribuam o que tenham recebido de vós. Mas quando derdes um festim, convidai os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos. E ficareis felizes por eles não terem meios de vos retribuir; isso vos será retribuído na ressurreição dos justos.
Um daqueles que estavam à mesa, tendo escutado estas palavras, Lhe disse: Feliz daquele que comer do pão no reino de Deus! (Lucas, 14:12 a 15)
8. Jesus disse: Quando derdes um banquete, não convideis vossos amigos e sim os pobres e os estropiados. Estas palavras, absurdas se tomadas ao pé da letra, são sublimes se delas entendermos o espírito. Jesus não queria dizer que, ao invés de seus amigos, é preciso reunir à mesa os mendigos da rua. Sua linguagem era quase sempre simbólica, e, para homens incapazes de entender as formas delicadas do pensamento, eram necessárias imagens fortes, que produzissem o efeito semelhante às cores berrantes. A substância de seus pensamentos se revela nestas palavras: Sereis felizes, pois não têm meios de vos retribuir. Isto quer dizer que não se deve de modo algum fazer o bem esperando por retribuição, mas pelo puro prazer de fazê-lo. Para fazer uma comparação surpreendente, Jesus diz: Convidai para vossos banquetes os pobres, pois sabeis que estes não poderão vos retribuir. E por banquetes é preciso entender não a refeição propriamente dita, mas sim a participação na fartura de que desfrutais.
Estas palavras podem, entretanto, ser entendidas num sentido mais literal. Quantas pessoas só convidam à sua mesa aqueles que podem, como dizem, lhes honrar, ou que podem retribuir-lhes o convite! Outras, ao contrário, encontram satisfação em receber seus parentes ou amigos menos afortunados; e quem não os tem entre os seus? É a forma de prestar-lhes um grande serviço discretamente. Estes, sem ir recrutar os cegos e os estropiados, praticam o ensinamento de Jesus, se o fazem por benevolência, sem ostentação, e se sabem disfarçar o benefício com uma sincera cordialidade.

MARCAS

"Desde agora ninguém me moleste, porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus." - Paulo. (GÁLATAS, 6:17.)

Todas as realizações humanas possuem marca própria.
Casas, livros, artigos, medicamentos, tudo exibe um sinal de identificação aos olhos atentos.
Se medida semelhante é aproveitada na lei de uso dos objetos transitórios, não se poderia subtrair o mesmo princípio, na catalogação de tudo o que se refira à vida eterna.
Jesus possui igualmente os sinais dEle.
A imagem utilizada por Paulo de Tarso, em suas exortações aos gálatas, pode ser mais extensa.
As marcas do Cristo não são apenas as da cruz, mas também as de sua atividade na experiência comum.
Em cada situação, o homem pode revelar uma demonstração do Divino Mestre.
Jesus forneceu padrões educativos em todas as particularidades da sua passagem pelo mundo. O Evangelho no-lo apresenta nos mais diversos quadros, junto ao trabalho, à simplicidade, ao pecado, à pobreza, à alegria, à dor, a glorificação e ao martírio. Sua atitude, em cada posição da vida, assinalou um traço novo de conduta para os aprendizes.
Todos os dias, portanto, o discípulo pode encontrar recursos de salientar suas ações mais comuns com os registros de Jesus.
Quando termine cada dia, passa em revista as pequeninas experiências que partilhaste na estrada vulgar. Observa os sinais com que assinalaste os teus atos, recordando que a marca do Cristo é, fundamentalmente, aquela do sacrifício de si mesmo para o bem de todos.

Livro Vinha de Luz – Chico Xavier – Espírito Emanuel.

sábado, 20 de abril de 2019

O ÓBOLO DA VIÚVA


5. Jesus, estando sentado em frente ao gazofilácio, observava como o povo nele deitava o dinheiro, como as pessoas ricas davam muito. Veio então uma pobre viúva que colocou apenas duas pequenas moedas. Então Jesus, tendo chamado seus discípulos, lhes disse: Eu vos digo, em verdade, que essa pobre viúva deu mais do que todos os que colocaram no gazofilácio, pois todos os outros deram o que era de sua abundância, mas esta deu de sua penúria, até mesmo tudo o que tinha e tudo o que lhe restava para viver. (Marcos, 12:41 a 44; Lucas, 21:1 a 4)
6. Muitas pessoas lamentam não poder fazer todo o bem que desejariam por falta de recursos suficientes e desejam a riqueza, dizem elas, para fazer da fortuna um bom uso. Sem dúvida a intenção é louvável e talvez muito sincera em alguns, mas será que é totalmente desinteressada em todos? Não há aqueles que, desejando fazer o bem aos outros, ficariam felizes se começassem primeiro a fazer o bem para si mesmos? Se permitirem mais prazeres, se proporcionarem um pouco mais do luxo que lhes falta, com a condição de darem o resto aos pobres? Esta segunda intenção, oculta, disfarçada, que encontrariam no fundo de seus corações se o interrogassem, anula o mérito da intenção, visto que a verdadeira caridade faz o homem pensar primeiro nos outros, para depois pensar em si mesmo. O sublime da caridade, neste caso, seria procurar em seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência e de seus talentos, os recursos que faltam para realizar suas intenções generosas. Aí estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor. Infelizmente a maior parte das pessoas sonha com meios fáceis de se enriquecer rapidamente e sem trabalho, correndo atrás de ilusões, como as descobertas de tesouros, uma oportunidade favorável, recebimento de heranças inesperadas, etc. O que dizer daqueles que esperam encontrar auxiliares, entre os Espíritos, para ajudá-los nas pesquisas dessa natureza? Certamente não conhecem o objetivo sagrado do Espiritismo, muito menos a missão dos Espíritos, a quem Deus permite se comunicar com os homens. Decorre, por isso, serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, questões 294 e 295)
Aqueles cuja intenção está isenta de todo interesse pessoal devem se consolar com a sua impossibilidade em fazer o bem que gostariam, sabendo que a dádiva do pobre, como no caso da viúva no ensinamento de Jesus, que deu do pouco que possuía, pesou mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de nada. Sem dúvida, seria grande a satisfação de poder socorrer largamente a pobreza; mas, se isso é impossível, é preciso se submeter e se limitar a fazer o que se pode. Aliás, não é apenas com dinheiro que se podem secar as lágrimas e não é preciso ficar inativo por não possuí-lo! Aquele que quer, sinceramente, ser útil aos seus irmãos encontra mil ocasiões para fazê-lo. Quem as procura, as encontrará, seja de uma maneira ou de outra, pois não há ninguém que, dentro de um padrão de vida normal, não possa prestar um serviço, prestar-se a uma consolação, aliviar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Na falta de dinheiro, cada um não possui seu trabalho, seu tempo, seu repouso, dos quais pode dar uma pequena parte? Aí também está a dádiva do pobre, o óbolo, a esmola da viúva.

CARIDADE E VOCÊ

Acredita você que só a caridade pode salvar o mundo; entretanto, não se demore na posição de comentarista.
Não nos diga que é pobre e incapaz de contribuir na campanha renovadora da sublime virtude.
Senão vejamos.
Se você destinar a quantia correspondente a um refrigerante ou um aperitivo em cinco doses, segundo os seus hábitos, aos serviços de qualquer hospital, no fim de um mês haverá mais decisiva medicação para certo doente.
Se você renunciar ao cinema de uma vez em cada cinco, endereçando o dinheiro respectivo a uma creche, ao término de duas ou três semanas, a instituição contará com mais leite em favor das crianças necessitadas.
Se você suprimir um maço de cigarros em cada cinco de seu uso particular, dedicando o fruto dessa renúncia a uma casa erguida para os irmãos distanciados do conforto doméstico, em breve tempo o agasalho devido a eles será mais rico.
Se você economizar as peças do vestuário, guardando a importância equivalente a uma delas em cada cinco, para socorro ao próximo menos feliz, no fim de um ano disporá você mesmo de recursos suficientes para vestir alguém que a nudez ameaça.
Não espere pela bondade dos outros.
Lembre-se daquela que você mesmo pode fazer.
É possível que você nos responda que o supérfluo é seu próprio suor, que não nos cabe opinar em seu caminho e que o copo e o filme, o fumo e a moda são movimentados à sua custa.
Você naturalmente está certo na afirmativa e não seremos nós quem lhe contestará semelhante direito.
A vontade é sagrado atributo do espírito, dádiva de Deus a nós outros, para que decidamos, por nós, quanto à direção do próprio destino.
Todavia, nosso lembrete é apenas uma sugestão aos companheiros que acreditam na força da caridade e só ganhará realmente algum valor se houver algum laço entre a caridade e você.

André Luiz

Livro O Espírito Verdade – Chico Xavier – Espíritos Diversos.

domingo, 14 de abril de 2019

OS INFORTÚNIOS OCULTOS


4. Nas grandes calamidades, a caridade se manifesta e veem-se campanhas nobres e generosas para remediar os desastres. Mas, ao lado dessas tragédias gerais, existem milhares de tragédias particulares, que passam despercebidas: é o caso das pessoas que jazem num leito de dor sem se queixarem. São a esses desventurados discretos e ocultos que a verdadeira generosidade sabe procurar sem esperar que lhe venham pedir assistência.
Quem é esta mulher com ar distinto, vestida de modo simples, embora com distinção, seguida de uma jovem também vestida modestamente? Ela entra numa casa de miserável aspecto, onde, sem dúvida, é conhecida, pois, à porta, saúdam-na com respeito. Onde ela vai? Sobe até um quarto humilde. Ali mora uma mãe de família cercada de criancinhas. Com sua chegada, a alegria brilha nas faces enfraquecidas. É porque ela vem acalmar todas as dores. Traz o necessário, acompanhada de doces e consoladoras palavras, que fazem aceitar o benefício sem se sentirem envergonhados, uma vez que esses infortunados não são de maneira alguma profissionais da mendicância. O pai está no hospital e, durante esse tempo, a mãe não pode suprir as necessidades da família. Graças a esta senhora, as pobres crianças não sofrerão nem com o frio nem com a fome. Irão à escola bem agasalhadas, no seio da mãe haverá o sustento para amamentar os pequeninos e, se entre elas alguma adoece, a boa senhora nenhuma dúvida terá em tratá-la em tudo o que necessite. Dali se dirigirá ao hospital para levar ao pai algum consolo e tranquilizá-lo sobre a situação de sua família. Na esquina, um veículo a espera, verdadeiro depósito de tudo o que doa a seus protegidos, que visita sucessivamente. Ela não lhes pergunta a sua crença nem sua opinião, pois, para ela, todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Quando termina a visita, diz a si mesma: Comecei bem o meu dia. Qual é seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que não revela nada, mas é o anjo da consolação. E, à noite, um cântico de bênçãos se eleva por ela até o Criador: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.
Por que se veste de uma maneira tão simples? É que não quer insultar a miséria com seu luxo. Por que sua jovem filha a acompanha? É para ensinar-lhe como se deve praticar o bem. Sua filha também quer fazer a caridade, mas sua mãe lhe diz: “O que podes dar, minha filha, se nada tens de teu? Se te dou algo para dar aos outros que mérito terás? Na realidade serei eu quem estará fazendo a caridade, e tu terás o mérito. Isso não é justo. Quando formos visitar os doentes, tu me ajudarás, já que cuidar deles é dar alguma coisa. Isso não te parece suficiente? Nada é mais simples: aprende a fazer coisas úteis, e confeccionarás roupinhas para essas crianças. Dessa maneira, darás algo que vem de ti”. É assim que essa mãe verdadeiramente cristã forma sua filha para a prática das virtudes, ensinadas pelo Cristo. É espírita? O que importa!
Para a sociedade, é a mulher do mundo, pois sua posição o exige. Mas ninguém sabe o que ela faz, pois não quer outra aprovação senão a de Deus e da sua consciência. Entretanto, um dia, um acontecimento imprevisto conduziu até sua casa uma de suas protegidas a oferecer-lhe serviços manuais. Esta a reconheceu e quis pedir a bênção à sua benfeitora. “Silêncio!”, disse-lhe ela. “Não diga nada a ninguém”. Assim também falava Jesus.

CARIDADE DO ENTENDIMENTO

"Agora, pois, permanecem estas três, a fé, a esperança e a caridade; porém, a maior destas é a caridade". - PAULO (I Corintíos, 13:13.)

Na sustentação do progresso espiritual precisamos tanto da caridade quanto do ar que nos assegura o equilíbrio orgânico.
Lembra-te de que a interdependência é o regime instituído por Deus para a estabilidade de  todo o Universo e não olvides a compreensão que devemos a todas as criaturas.
Compreensão que se exprima, através de tolerância e bondade incessantes, na sadia convicção de que ajudando aos outros é que poderemos encontrar o auxílio indispensável à própria segurança.
À frente de qualquer problema complexo naqueles que te rodeiam, recorda que não seria justa a imposição de teus pontos de vista para que se orientem na estrada que lhes é própria.
O criador não dá cópias e cada coração obedece a sistema particular de impulsos evolutivos.
Só o amor é o clima adequado ao entrelaçamento de todos os seres da Criação e somente através dele integrar-nos-emos na sintonia excelsa da vida.
Guarda, em todas as fases do caminho, a caridade que identifica a presença do Senhor nos caminhos alheios, respeitando-lhes a configuração com que se apresentam.
Não te esqueças de que ninguém é ignorante porque o deseje e, estendendo fraternos braços aos que respiram atribulados na sombra, diminuirás a penúria que se extinguirá, por fim, no mundo, quando cada consciência ajustar-se à obrigação de servir sem mágoa e sem reclamar é que permaneceremos felizes na ascensão para Deus.

Livro Ceifa de Luz – Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 7 de abril de 2019

FAZER O BEM SEM OSTENTAÇÃO


1. Tomai cuidado para não fazer vossas boas obras serem vistas diante dos homens; de outro modo, não recebereis recompensa alguma de vosso Pai que está nos Céus. Quando derdes esmola, não façais soar a trombeta diante de vós, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens. Eu vos digo, em verdade, que já receberam sua recompensa. Mas, quando derdes uma esmola, que vossa mão esquerda não saiba o que faz a vossa mão direita, a fim de que a esmola fique em segredo. E vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos dará a recompensa. (Mateus, 6:1 a 4)
2. Uma grande multidão seguia Jesus quando este descia do monte; e ao mesmo tempo um leproso veio a Ele e o adorou dizendo: Senhor, se quiseres podes me curar. Jesus estendendo a mão tocou-o e disse-lhe: Assim o quero, fique curado. E nesse momento a lepra foi curada. Depois Jesus lhe disse: Não diga isso a ninguém; mas vá mostrar aos sacerdotes e ofereça o donativo prescrito por Moisés, a fim de que isso lhes sirva de testemunho. (Mateus, 8:1 a 4)
3. Fazer o bem sem se exibir, sem ostentação, é um grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais louvável. É o sinal indiscutível de uma grande superioridade moral, porque, para compreender além da vulgaridade comum as coisas do mundo, é preciso elevar-se acima da vida presente e se identificar com a vida futura. É preciso, em uma palavra, colocar-se acima da Humanidade para renunciar à satisfação que o aplauso dos homens proporciona e pensar na aprovação de Deus. Aquele que estima mais a aprovação dos homens do que a de Deus prova que tem mais fé nos homens do que em Deus e que a vida presente vale mais do que a vida futura. Se disser o contrário, age como se não acreditasse no que diz. Quantos ajudam apenas na esperança de que essa ajuda tenha grande repercussão; que, em público, dão uma grande soma e que ocultamente não dariam nem um centavo! Eis porque Jesus disse: Aqueles que fazem o bem com ostentação já receberam sua recompensa. De fato, aquele que procura sua glorificação na Terra pelo bem que faz já se pagou a si mesmo. Deus não lhe deve mais nada. Resta-lhe apenas receber a punição do seu orgulho.
Que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita é um ensinamento que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se existe a modéstia real, há também a fingida, isto é: a simulação da modéstia. Há pessoas que escondem a mão que dá, tendo o cuidado de deixar à mostra uma parte da sua ação, para que alguém observe o que fazem. Ridícula comédia dos ensinamentos do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são desconsiderados entre os homens, muito mais o serão diante de Deus! Estes também já receberam sua recompensa na Terra. Foram vistos; ficaram satisfeitos por terem sido vistos: é tudo o que terão.
Qual será, portanto, a recompensa daquele que faz pesar seus benefícios sobre o beneficiado, que lhe obriga, de alguma maneira, os testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir sua posição realçando as dificuldades e os sacrifícios a que se impôs por ele? Para este, nem mesmo existe a recompensa terrena, pois ele é privado da doce satisfação de ouvir abençoar seu nome. E aí está o primeiro castigo de seu orgulho. As lágrimas que ele seca em benefício de sua vaidade, ao invés de subirem ao Céu, recaem sobre o coração do aflito e o ferem. O bem que ele faz não lhe traz o menor proveito, pois, ele o lamenta, e todo benefício lamentado é moeda falsa e sem valor.
A beneficência sem exibicionismo tem um duplo mérito: além de ser caridade material é caridade moral. Ela respeita os sentimentos do beneficiado. Faz com que, em aceitando o benefício, seu amor próprio não seja atingido, protegendo assim sua dignidade de homem, pois este poderá aceitar um serviço, mas não uma esmola. Acontece que converter um serviço em esmola, conforme a maneira como é proposto que se faça, é humilhar aquele que o recebe e sempre há orgulho e maldade em humilhar alguém. A verdadeira caridade, pelo contrário, é delicada, habilidosa e sutil em disfarçar o benefício, em evitar até as menores aparências que ferem, pois toda contrariedade moral aumenta o sofrimento do necessitado. Ela sabe encontrar palavras doces e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em face do benfeitor, enquanto a caridade orgulhosa o humilha. O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor, invertendo os papéis, encontra um meio de parecer ser ele próprio o beneficiado frente àquele a quem presta um favor. Eis o que querem dizer estas palavras: Que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita.

Trabalha servindo

Reunião pública de 26/6/59
Questão nº 676

A cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a bênção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação.
Não permitas, portanto, que o repouso excessivo te anule a divina oportunidade.
Assim como o relaxamento é ferrugem na enxada, a benefício do joio que te prejudica a seara, o tempo vazio é flagelo na alma, em favor das energias perniciosas que devastam a vida.
Não há corrosivo da ociosidade que possa resistir aos antídotos da ação.
Não acredites, desse modo, no poder absoluto das circunstâncias adversas, a se mostrarem, constantes, nos eventos da marcha.
Se a injúria te persegue, trabalha servindo, e o sarcasmo far-se-á reconhecimento.
Se a calúnia te apedreja, trabalha servindo, e a ofensa converter-se-á em louvor.
Se a mágoa te alanceia, trabalha servindo, e a dor erguer-se-á por utilidade.
Se o obstáculo te aborrece, trabalha servindo, e o embaraço surgirá por lição.
No trabalho em que possas fazer o melhor para os outros, encontrarás a quitação do passado, as realizações do presente e os créditos do futuro. E é ainda por ele que conquistarás o respeito dos que te cercam, a riqueza da experiência, a láurea da cultura, o tesouro da simpatia, a solução para o tédio e o socorro a toda dificuldade.
Importa anotar, porém, que há trabalho nas faixas superiores e inferiores do mundo. Movimento que aprisiona e atividade que liberta, atração para o abismo e impulso para o Céu...
O egoísmo trabalha para si mesmo.
A vaidade trabalha para a ilusão.
A usura trabalha para o azinhavre.
O vício trabalha para o lodo.
A indisciplina trabalha para a desordem.
O pessimismo trabalha para o desânimo.
A rebeldia trabalha para a violência.
A cólera trabalha para a loucura.
A crueldade trabalha para a queda.
O crime trabalha para a morte.
Todas essas monstruosidades do campo moral representam fruto amargo e venenoso de audiências da alma com a inteligência das trevas, no palácio deserto das horas perdidas.
Todavia, o trabalho dos que trabalham servindo chama-se humildade e benevolência, esperança e otimismo, perdão e desinteresse, bondade e tolerância, caridade e amor, e, somente através dele, o espírito caminha, na senda de ascensão, em harmonia com as leis de Deus.

Livro Religião dos Espíritos – Chico Xavier – Espíritos Diversos.