domingo, 15 de setembro de 2019

UTILIDADE PROVIDENCIAL DA RIQUEZA. PROVAS DA RIQUEZA E DA MISÉRIA.


7. A riqueza se tornaria um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem se interpretarmos ao pé da letra certas palavras de Jesus e não procurarmos entender o seu sentido. Deus, que a distribuiu, teria colocado nas mãos de alguns um meio inevitável de perdição, pensamento que contraria a razão. A riqueza é, sem dúvida, uma prova bastante arriscada, mais perigosa do que a miséria, em virtude das excitações, das tentações que oferece e da fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual; é o laço mais forte que prende o homem à Terra e desvia seus pensamentos do Céu. Causa tamanha perturbação, que se vê, frequentemente, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer-se depressa da sua condição anterior, daqueles que foram seus companheiros, que o ajudaram, tornando-se insensível, egoísta e fútil. Mas, embora a riqueza dificulte o caminho, não significa que o torne impossível e não possa vir a ser até um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe fazer bom uso, tal como certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados apropriadamente e com equilíbrio.
Quando Jesus responde ao jovem que o interrogava sobre os meios de alcançar a vida eterna: desfazei-vos de todos os vossos bens e segui-me, não pretendia estabelecer como condição absoluta que cada um deva se desfazer do que possui, e que a salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o amor possessivo aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Aquele jovem, de fato, julgava-se quite com a lei, porque havia cumprido certos mandamentos e, no entanto, recua perante a ideia de abandonar seus bens; seu desejo de alcançar a vida eterna não ia até ao sacrifício de desfazer-se do que possuía.
A proposta de Jesus era uma questão decisiva para esclarecer o pensamento do jovem. Ele podia, sem dúvida, ser um padrão de homem honesto perante o mundo, não fazer o mal a ninguém, não maldizer seu próximo, não ser nem leviano, fútil ou orgulhoso, honrar seu pai e sua mãe; mas não possuía a verdadeira caridade, pois sua virtude não chegava até a renúncia em favor do próximo. O que Jesus quis demonstrar era uma aplicação do princípio: fora da caridade não há salvação.
A consequência destas palavras, se consideradas ao pé da letra, em seu exato sentido, seria a abolição da riqueza por ser prejudicial à felicidade futura, e como causa de incontáveis males na Terra. Seria também a condenação do trabalho que a pode conquistar. Isto seria um absurdo, uma vez que reconduziria o homem à vida selvagem, e que estaria em contradição com a lei do progresso, que é uma Lei de Deus.
Se a riqueza é a fonte de muitos males, se provoca tantas más paixões e tantos crimes, não é a ela que devemos culpar, e sim ao homem que dela abusa, como abusa de todos os dons que Deus lhe dá. Esse abuso torna ruim o que lhe poderia ser útil. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza devesse apenas produzir o mal, Deus não a colocaria na Terra; cabe ao homem fazer dela surgir o bem. Se ela não é um elemento direto do progresso moral, é, sem contestação, um poderoso elemento de progresso intelectual.
De fato, o homem tem por missão trabalhar para o melhoramento material da Terra; deve desbravá-la, prepará-la e saneá-la para um dia receber toda a população que sua extensão comporta; para alimentar toda essa população que cresce sem cessar, é preciso aumentar sua produção; se a produção de uma região é insuficiente, é preciso procurá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos tornam-se uma necessidade; para facilitá-las, é preciso destruir os obstáculos materiais que as separam, e tornar as comunicações mais rápidas. Para os trabalhos das gerações, que se realizam no decorrer dos séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da Terra; procurou na Ciência os meios de executá-los mais segura e rapidamente; mas, para fazê-los cumprir, necessitava de recursos: a necessidade fez com que criasse a riqueza, assim como ela o fez descobrir a Ciência. A atividade exigida para esses mesmos trabalhos aumenta e desenvolve sua inteligência; essa inteligência, que ele a princípio concentra na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. Sem a riqueza, que é o principal meio de realização das necessidades do homem, não haveria grandes trabalhos, nem atividades, nem estímulos, nem pesquisas. É, com razão, que ela é considerada um elemento de progresso.

OURO E PODER

Muita gente acredita encontrar na riqueza e no poder sinais de privilégios, quando ouro e influência simplesmente não passam de recursos destinados à aferição do valor que nos assinala.
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Lembremo-nos de que um homem aprisionado à sombra do cárcere é sempre alguém constrangido a mostrar virtudes que raramente possui.
Silencia por impossibilitado de gritar a desesperação que lhe vergasta o peito e revela quietação e tristeza, quais se fossem humildade e compreensão, porquanto, posto a ferros, é compelido a guardar-se em reserva compulsória.
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Assim também ocorre com a enfermidade e o pauperismo, a inibição e o desvalimento na maior parte das circunstâncias.
Segregada, dentro deles, a alma reencarnada não dispõe de outros meios senão o de aceita-los como preço ao resgate das próprias dívidas.
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Entretanto, qual o sentenciado que abandona a cadeia sob exata observação, assim é a criatura que retém os talentos da fortuna e da autoridade, do equilíbrio e da robustez.
Não se encontram aqueles que os desfrutam na Terra contemplados por favores especiais, mas semi libertados pela benção do Céu, em regime de exame, nas escolas do mundo.
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Dessa forma, nos momentos de paz, segurança e alegria, muitos de nós outros apenas respiramos, à luz de experiências novas, nas quais demonstraremos se não mais precisamos da dor e do infortúnio, na construção da estrada de elevação para Deus.

Livro Dinheiro – Médium Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

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