domingo, 16 de fevereiro de 2020

PODER DA FÉ


1. Quando se dirigia ao povo, um homem se aproximou d'Ele,  ajoelhou-se a seus pés e disse: Senhor, tende piedade de meu filho que está lunático, sofre muito e frequentemente cai, ora no fogo ora na água. Apresentei-o a vossos discípulos, mas não puderam curá-lo. E Jesus respondeu dizendo: Oh, raça incrédula e depravada! Até quando vos sofrerei? Até quando deverei ficar convosco? Trazei-me até aqui essa criança. E Jesus, tendo ameaçado o demônio, fez com que ele saísse da criança, que foi curada no mesmo instante. Então, os discípulos vieram encontrar Jesus em particular, e Lhe disseram: Por que nós mesmos não pudemos tirar esse demônio? Jesus lhes respondeu: É por causa de vossa pouca fé. Pois eu vos digo em verdade que, se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daqui até lá, e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (Mateus, 17:14 a 19)
2. É certo que a confiança do homem em suas próprias forças o torna capaz de realizar coisas materiais que não se podem fazer quando se duvida de si mesmo; mas, aqui, é unicamente no sentido moral que é preciso entender estas palavras. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade, que se encontram entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os preconceitos rotineiros, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas são também montanhas que barram o caminho de todo aquele que trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem vencer os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé, que é vacilante, provoca incerteza, hesitação, de que se aproveitam os adversários que devemos combater; ela não procura os meios de vencer, porque não crê na possibilidade de vitória.
3. Noutro sentido, entende-se como fé a confiança que se tem no cumprimento de uma coisa, na certeza de atingir um objetivo. Ela dá uma espécie de lucidez, que faz ver, pelo pensamento, os fins que se tem em vista e os meios para atingi-los, de modo que quem a possui caminha, por assim dizer, com total segurança. Num como noutro caso, ela leva a realizar grandes coisas.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma, dá a paciência que sabe esperar, porque, apoiando-se na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de atingir o objetivo. A fé vacilante sente sua própria fraqueza; quando é estimulada pelo interesse, torna-se enfurecida e acredita que, aliando-se à violência, obterá a força que não tem. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, é uma prova de fraqueza e dúvida de si mesmo.
4. É preciso não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se alia à humildade; aquele que a possui confia mais em Deus do que em si mesmo; sabe que, simples instrumento da vontade de Deus, nada pode sem Ele e é por isso que os bons Espíritos o ajudam. A presunção é mais orgulho do que fé, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos fracassos que lhe são impostos.
5. O poder da fé é demonstrado direta e especialmente no magnetismo. Por ele, o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Aquele que, a um grande poder fluídico normal, juntar uma fé ardente pode, unicamente pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos especiais de cura e outros mais que antigamente eram tidos como prodígios e, no entanto, são apenas o efeito de uma lei natural. Este é o motivo pelo qual Jesus disse a seus apóstolos: Se não o curastes, é porque não tínheis fé.

FÉ E AÇÃO

“Não basta dizer – Senhor! Senhor!” – equivale a assegurar que a fé não satisfaz, só por si, em nossa suspirada ascensão às bênçãos da vida imperecível.
Observações simples da experiência vulgar, confirmam-nos o asserto.
O edifício para erguer-se com segurança exige plano adequado, mas não basta o projeto valioso para que a obra se concretize.
O lavrador sem a preparação justa do campo, não se abalançará naturalmente à sementeira, mas não vale tão somente o amanho do solo para que a colheita farta lhe coroe a tarefa.
No levantamento da casa, é imperioso que o arquiteto mobilize com atenção os materiais e instrumentos imprescindíveis, aproveitando a cooperação de braços obedientes, a fim de que a construção se materialize e, na lavoura comum, é indispensável que o operário da gleba se consagre ao suor, dia a dia, com a sustentação da semente escolhida, para que o pão, mais tarde, lhe sirva à mesa.
Nas esferas do espírito prevalecem os mesmos princípios e vigem as mesmas leis.
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Cada criatura renasce na carne com um plano de ação a executar nas linhas do Eterno Bem.
Não bastará se refugie na certeza da Bondade Divina, para atender às obrigações que lhe cabem.
Não é suficiente a visão do Céu para equacionar as exigências do aprimoramento a que deve afeiçoar-se na Terra.
É inadiável a consagração de cada um de nós à obra viva da própria iluminação, para que a nossa confiança não seja infortunado jardim e entorpecer-se nas trevas.
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Compreendamos que se Jesus admitisse a fé inoperante como penhor de vitória na vida, não teria descido da Glória Celestial para sofrer o convívio humano, testemunhando no próprio sacrifício as suas grandes lições!...
E, abraçando o serviço da redenção que nos é necessária, estejamos empenhados à edificação do bem de todos, porque ajudar a todos é auxiliar a nós próprios e educar-nos, - a preço de trabalho e abnegação, - e acender em favor dos outros, com a sublimação de nós mesmos, a bênção da própria luz.

Livro Escrínio de Luz – Emmanuel – Chico Xavier.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

RECONHECE-SE O CRISTÃO POR SUAS OBRAS


INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
RECONHECE-SE O CRISTÃO POR 
SUAS OBRAS
Simeão - Bordeaux, 1863

16. Nem todos que dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino dos Céus, mas apenas aqueles que fizerem a vontade de meu Pai que está nos Céus.
Escutai estas palavras do Mestre, todos vós que rejeitais a Doutrina Espírita como obra do demônio.
Abri os ouvidos, pois chegou o momento de ouvir.
Basta trazer os sinais do Senhor para ser um fiel servidor? Basta dizer: “sou cristão”, para ser seguidor do Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e os reconhecereis por suas obras. Eis as palavras do Mestre: Uma boa árvore não pode dar maus frutos, nem uma árvore ruim dar frutos bons. Toda árvore que não dá bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Discípulos de Cristo, compreendei-as bem. Quais são os frutos que deve produzir a árvore do Cristianismo, árvore majestosa, cujos ramos frondosos cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigaram todos aqueles que devem se reunir ao seu redor? Os frutos da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé. O Cristianismo, tal como tem feito há muitos séculos, continua a pregar as divinas virtudes; procura distribuir seus frutos, mas poucos os colhem! A árvore é sempre boa, mas os jardineiros são maus. Eles a moldaram à sua vontade; talharam-na de acordo com suas necessidades; cortaram-na, diminuíram-na, mutilaram-na; seus ramos estéreis já nem maus frutos produzem, porque não produzem nada mais. O viajante cansado que para, procurando em sua sombra o fruto da esperança que deve lhe dar força e coragem, encontra apenas ramos áridos que prenunciam a tempestade. Pede em vão o fruto de vida à árvore da vida: as folhas caem secas; a mão do homem as manuseou e remanejou tanto que as secou! Abri, pois, vossos ouvidos e vossos corações, meus bem-amados! Cultivai essa árvore da vida cujos frutos dão a vida eterna. Aquele que a plantou vos convida a cuidar dela com amor, e a vereis dar ainda, com abundância, seus frutos divinos. Deixai-a tal como o Cristo vô-la deu: não a mutileis; ela quer estender sobre o Universo sua imensa sombra: não corteis seus ramos. Seus frutos generosos caem em abundância para sustentar o viajante faminto que quer atingir o seu objetivo; não os amontoeis para guardá-los e deixá-los apodrecer para que não sirvam a ninguém. Muitos são os chamados e poucos os escolhidos; é que existem monopolizadores do pão da vida, como os há do pão material. Não vos coloqueis dentre eles; a árvore que dá bons frutos deve distribuí-los para todos. Ide, então, procurar aqueles que estão famintos; trazei-os para a sombra da árvore e partilhai com eles o abrigo que ela vos oferece. Não se colhem uvas dos espinheiros. Meus irmãos, afastai-vos daqueles que vos chamam para vos arrastar para os espinheiros do caminho, e segui aqueles que vos conduzem à sombra da árvore da vida.
O Divino Salvador, o justo por excelência, disse, e suas palavras não passarão: Nem todos aqueles que me dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino dos Céus, mas só aqueles que fizerem a vontade de meu pai que está nos Céus.
Que o Senhor de bênçãos vos abençoe; que o Deus de luz vos ilumine; que a árvore da vida vos ofereça seus frutos com abundância!
Crede e orai.

PELAS OBRAS

"E que os tenhais em grande estima e amor por causa da sua obra". -
Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:13).

Esta passagem de Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, é singularmente expressiva para a nossa luta cotidiana.
Todos experimentamos a tendência de consagrar a maior estima apenas àqueles que leiam a vida pela cartilha dos nossos pontos de vista. Nosso devotamento é sempre caloroso para quantos nos esposem os modos de ver, os hábitos enraizados e os princípios sociais; todavia, nem sempre nossas interpretações são as melhores, nossos costumes os mais nobres e nossas diretrizes as mais elogiáveis.
Daí procede o impositivo de desintegração da concha do nosso egoísmo para dedicarmos nossa amizade e respeito aos companheiros, não pela servidão afetiva com que se liguem ao nosso roteiro pessoal, mas pela fidelidade com que se norteiam em favor do bem comum.
Se amamos alguém tão-só pela beleza física, é provável encontremos amanhã o objeto de nossa afeição a caminho do monturo.
Se estimamos em algum amigo apenas a oratória brilhante, é possível esteja ele em aflitiva mudez, dentro em breve.
Se nos consagramos a determinada criatura só porque nos obedeça cegamente, é provável estejamos provocando a queda de outros nos mesmos erros em que temos incidido tantas vezes.
É imprescindível aperfeiçoar nosso modo de ver e de sentir, a fim de avançarmos no rumo da vida Superior.
Busquemos as criaturas, acima de tudo, pelas obras com que beneficiam o tempo e o espaço em que nos movimentamos, porque, um dia, compreenderemos que o melhor raramente é aquele que concorda conosco, mas é sempre aquele que concorda com o Senhor, colaborando com ele, na melhoria da vida, dentro e fora de nós.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Chico Xavier.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

SERÁ DADO ÀQUELE QUE TEM


INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
SERÁ DADO ÀQUELE QUE TEM
Um Espírito Amigo - Bordeaux, 1862

13. Seus discípulos, se aproximando, Lhe disseram: Por que falais por parábolas? E lhes respondendo disse: É porque vos foi permitido conhecer o reino dos Céus, mas, quanto a eles, não lhes foi permitido. Pois a todo aquele que já tem será dado ainda mais, e ficará na abundância; mas daquele que nada tem será retirado até mesmo o que tem. Eis por que falo por parábolas; porque, ao ver, nada veem, e, ao ouvir, nada entendem nem compreendem. E a profecia de Isaías neles se cumpre quando disse: Escutareis com vossos ouvidos e não entendereis; olhareis com vossos olhos e não vereis. (Mateus, 13:10 a 14)
14. Prestai atenção ao que ouvis. Com a medida com que medirdes, medir-vos-ão a vós, e ainda darão de acréscimo. Porque, a quem tem dar-se-lhe-á, mas de quem não tem tirar-se-lhe-á ainda aquilo que possui. (Marcos, 4:24 e 25)
15. Dá-se àquele que tem e retira-se daquele que não tem; meditai sobre este grande ensinamento que, muitas vezes, vos parece contraditório. Aquele que recebeu é aquele que possui o sentido da palavra divina; recebeu porque tentou tornar-se digno disso, e porque o Senhor, em seu amor misericordioso, encoraja-lhe os esforços que tendem para o bem. Estes esforços contínuos, perseverantes, atraem as graças do Senhor; são como um ímã que atrai as melhoras progressivas, as graças abundantes que vos tornam fortes para subir a montanha sagrada, no cume da qual se encontra o repouso após o trabalho.
Tira-se daquele que nada tem, ou tem pouco; tomai isso como um ensinamento figurado. Deus não retira de suas criaturas o bem que se dignou a fazer-lhes. Homens cegos e surdos! Abri vossas inteligências e vossos corações; vede pelo Espírito, entendei pela alma, e não interpreteis de uma maneira tão grosseiramente injusta as palavras d’Aquele que fez resplandecer aos vossos olhos a justiça do Senhor. Não é Deus que retira daquele que recebeu pouco, é o próprio Espírito que, dispersivo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, na fecundidade, a dádiva semeada no seu coração.
Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai conquistou e do qual é herdeiro vê esse campo cobrir-se de ervas daninhas. É seu pai culpado pelas colheitas que ele não quis preparar? Se deixou esses grãos destinados a produzir nesse campo morrerem por falta de cuidado, deve acusar a seu pai se eles nada produzem? Não, não; ao invés de acusar ao pai que tudo lhe deu, e que agora lhe retoma os bens, deve acusar-se a si mesmo por ser o verdadeiro autor do seu fracasso e, então, arrependido e com fé, entregar-se ao trabalho com coragem. Que prepare o solo estéril pelo esforço de sua vontade; que o lavre até o coração com a ajuda do arrependimento e da esperança; que lance com confiança a semente que tiver escolhido como boa entre as más, que o regue com seu amor e sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já tem. Então, verá seus esforços coroados de sucessos, e um grão produzir cem, e outro, mil. Coragem, trabalhadores! Pegai vossas grades e vossos arados; arai vossos corações; arrancai deles o joio, o mal; semeai neles o bom grão, o bem, que o Senhor vos confia, e o orvalho do amor os fará produzir frutos de caridade.



QUITAÇÃO

Todas as contas a resgatar pedem relação direta entre credores e devedores.
É por isso que te vês, frequentemente, na Terra, diante daqueles a quem deves algo.
No lar ou nas linhas que o margeiam, é fácil reconhecê-los, quando entregas desinteresse e dedicação, recolhendo aspereza e indiferença.
Muitas vezes, trazem nomes queridos no recinto doméstico, e assemelham-se a impassíveis verdugos, apresando-te o coração nas grades do sofrimento.
Em muitos lances da estrada, são amigos a quem te dás, sem reserva, e que te arrastam a dificuldades de longo curso.
Em várias ocasiões, são pessoas das quais enxugaste as lágrimas, situando-as na intimidade da própria vida, e que, de inesperado, te agridem a confiança com as pedras do desapreço.
Noutras circunstâncias, são companheiros de experiência que, de súbito, se transformaram em adversários gratuitos de teu caminho, hostilizando-te, em toda parte.
Entretanto, se defrontado por semelhantes problemas, é indispensável te municies de amor e paciência, tolerância e serenidade, para desfazeres a trama da incompreensão.
Guarda a consciência no dever lealmente cumprido e, haja o que houver, releva os golpes com que te firam, ofertando-lhes o melhor sentimento, a melhor ideia, a melhor palavra e a melhor atitude.
Água cristalina, pingando, gota a gota, converte o vaso de vinagre em vaso de água pura.

E, se depois de todos os teus gestos de fraternidade e benevolência, ainda te perseguem ou te injuriam, abençoa-os em prece e continua, adiante, fiel a ti mesmo, na certeza de que humildade, na hora de crise, é nota de quitação.

Livro Justiça Divina – Emmanuel – Chico Xavier.