Erasto, Protetor do Médium - Paris, 1863
4. Não percebeis desde já a formação da tempestade que deve arrebatar
o velho mundo e reduzir ao nada a soma das perversidades terrenas? Louvai ao
Senhor, vós que colocastes vossa fé na sua soberana justiça e que, novos
apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar e
ensinar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos à
medida que cumpram bem ou mal as suas missões e tenham suportado suas provas
terrenas.
Nada de temor! As línguas de fogo* estão
sobre vossas cabeças.
Verdadeiros adeptos do Espiritismo, vós
sois os eleitos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que
deveis sacrificar, em favor da sua divulgação, hábitos, trabalhos, ocupações
fúteis. Ide e pregai: os Espíritos elevados estão convosco. Certamente falareis
com pessoas que não quererão ouvir a palavra de Deus, pois ela recomenda a
renúncia constante. Pregareis o desinteresse aos avarentos, a abstinência aos
devassos, a mansidão aos tiranos domésticos e aos opressores. Palavras
perdidas? Talvez, mas o que importa! É preciso regar com vosso suor o terreno
que deveis semear, pois ele apenas frutificará e produzirá sob os constantes
esforços da enxada e do arado evangélicos. Ide e pregai!
Sim, todos vós, homens de boa-fé, que
sabeis da vossa pequenez observando os mundos espaciais no Infinito, parti em
cruzada contra a injustiça e a maldade. Ide e aniquilai esse culto ao bezerro
de ouro, que se expande dia após dia. Ide, Deus vos conduz! Homens simples e ignorantes,
vossas línguas se soltarão, e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai,
as populações atentas recolherão com alegria vossas palavras de consolação,
fraternidade, esperança e paz.
Que importam as ciladas que armarem no
vosso caminho! Apenas os lobos caem na armadilha de lobos, pois o pastor saberá
defender suas ovelhas das fogueiras do sacrifício.
Ide, homens confiantes perante Deus,
mais felizes do que São Tomé, que acreditais sem precisar ver e aceitais os
fatos da mediunidade até mesmo quando nunca conseguistes obtê-los por vós mesmos.
Ide, o Espírito de Deus vos guia!
Marchai, pois, adiante, legião
majestosa pela vossa fé! Os grandes batalhões dos incrédulos se desmancharão
perante vós como as névoas da manhã aos primeiros raios do sol matinal.
A fé é a virtude que transporta
montanhas, disse Jesus. Porém, mais pesadas que as maiores montanhas são as
jazidas da impureza e de todos os vícios que dela derivam no coração humano.
Parti, com coragem, para remover essas montanhas de maldades das quais as gerações
futuras ouvirão referências apenas como lenda, tal como vós conheceis, muito
vagamente, os tempos que antecederam à civilização pagã.
Sim, as revoluções morais e filosóficas
surgirão em todos os pontos da Terra. Aproxima-se a hora em que a luz divina
brilhará sobre os dois mundos.
Ide, pois, levando a palavra divina aos
grandes, que a desprezarão; aos sábios, que exigirão provas; aos simples e
pequeninos, que a aceitarão, porque, principalmente entre os mártires do
trabalho, desta provação terrena, encontrareis entusiasmo e fé. Eles a
receberão alegremente, agradecendo, louvando a Deus a consolação divina que lhes
oferecerdes e, baixando a fronte, renderão graças pelas aflições que a Terra
lhes reservou.
Arme-se de decisão e coragem a vossa
legião! Mãos à obra! O arado está pronto e a terra preparada: Arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa
tarefa que vos confiou. Mas, cuidado: entre os chamados para o Espiritismo,
muitos se desviaram do caminho! Alerta, pois, no vosso caminho, buscai a
verdade.
Perguntareis: Se entre os chamados para
o Espiritismo, muitos se desviaram, como reconhecer os que se acham no bom
caminho?
Responderemos: Podeis reconhecê-los
pelo ensino e pela prática dos princípios verdadeiros da caridade; pela
consolação que distribuírem aos aflitos; pelo amor que dedicarem ao próximo;
pela sua renúncia, pela dedicação ao próximo. Podeis reconhecê-los, finalmente,
pela vitória dos seus princípios divinos, porque Deus quer que a sua lei
triunfe; os que a seguem são os escolhidos que vencerão.
Os que, porém, falseiam o espírito
dessa lei, para satisfazer à sua vaidade e à sua ambição, esses serão
destruídos.
* N. E. - Línguas de fogo: referência à
manifestação dos Espíritos em que os apóstolos falavam línguas desconhecidas e
que ocorreu no dia de Pentecostes. Os videntes atestaram o fenômeno hoje
perfeitamente explicado pela Doutrina Espírita. (Veja no Novo Testamento Atos,
2:2 a 13 e 3:17.)
NA GLEBA DO MUNDO
"Mas o que foi semeado em boa terra é o que
ouve a palavra e a compreende.
Este frutifica e produz a cem, a sessenta e a
trinta por um”.
- JESUS. (Mateus, 13:23.).
Efetivamente, a vida é comparável ao trato de solo
que nos é concedido cultivar.
Ergue-te, cada dia, e ampara o teu campo de
serviço, a fim de que te incumbes. O terreno é o próximo que te propicia
colheita.
Lavrar o talhão é dar de nós sem pensar em nós.
Basta plantes o bem para que o bem te responda.
Para isso, no entanto, é imperioso agir e perseverar no trabalho.
Nunca esmorecer.
Qual ocorre na lavoura comum, é preciso contar com
aguaceiro e canícula, granizo e vento, praga e detrito.
Não valem reclamações. Remova a dificuldade e
prossegue firme.
Acima de tudo, importa o rendimento da produção
para o benefício de todos.
Se alguém te despreza, menoscabando a suposta
singeleza do encargo que te coube, esquece a incompreensão alheia e continua
plantando para abastança geral.
Muita gente não se recorda de que o pão alvo sobe à
mesa à custa do suor de quantos mergulham as mãos no barro da gleba, a fim de
que a semente possa frutificar.
Quando essa ou aquela pessoa te requisite a
descanso, sem que a tua consciência acuse fadiga, não acredites nessa ilusão.
A ferrugem do ócio consome o arado muito mais que a
movimentação no serviço.
Trabalha e confia, na certeza de que o Senhor da
Obra te observa e segue vigilante.
Não duvides, nem temas.
Dá o melhor de ti mesmo a Seara da vida, e o Divino
Lavrador, sem que percebas, pendurará nas frondes do teu ideal a floração da
esperança e a messe do triunfo.
Livro Ceifa de Luz – Emmanuel – Chico Xavier.