Um Espírito Israelita - Mulhouse,
1861
9.
Deus é único. Moisés é o Espírito que Deus enviou em missão para torná-lo conhecido,
não somente dos hebreus, mas também dos povos pagãos. Deus serviu-se do povo
hebreu para se revelar aos homens, por Moisés e os profetas. As contrariedades
e o sofrimento da vida por que passavam os hebreus destinavam-se a impressionar
as nações e fazer cair o véu que encobria as coisas divinas aos homens.
Os mandamentos de Deus, revelados por
Moisés, contêm o gérmen da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia
restringiam-lhe o sentido, pois, colocados em prática em toda a sua pureza, não
seriam então compreendidos. Mas os dez mandamentos de Deus nem por isso deixaram
de ser o brilhante frontispício da obra, como um farol que deveria iluminar a
Humanidade, no caminho a percorrer.
A moral, isto é, o conjunto de regras
de conduta, os costumes, bem como os princípios espirituais ensinados por
Moisés, eram apropriados ao estado de adiantamento em que se encontravam os
povos chamados à regeneração. Esses povos, semisselvagens quanto ao
aperfeiçoamento de sua alma, não compreendiam que podiam adorar a Deus, a não
ser por sacrifícios sangrentos, e, muito menos, que fosse preciso perdoar aos
inimigos. Sua inteligência era notável sob o ponto de vista material, das artes
e das ciências, porém, era muito atrasada em moralidade, e não entenderiam uma
religião que fosse inteiramente espiritual. Era-lhes preciso uma representação
semi-material, como a que lhes oferecia a religião hebraica. Assim, enquanto os
sacrifícios falavam aos seus sentidos, a ideia de Deus lhes falava ao Espírito.
O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, mais sublime: a moral evangélico-cristã,
que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve
fazer brotar de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo e criar,
entre todos os homens, uma solidariedade comum; de uma moral perfeita, que deve
transformar a Terra e fazer dela a morada para Espíritos moralmente superiores
aos de hoje. É a lei do progresso, à qual a Natureza está submetida, que se
cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se serve para fazer avançar a
Humanidade.
São chegados os tempos em que as ideias morais devem se desenvolver para que se realize o progresso que está na vontade de Deus. Elas devem seguir o mesmo caminho que as ideias de liberdade percorreram, como suas antecessoras. Não se pense, entretanto, que este desenvolvimento acontecerá sem lutas. Não, pois, para chegar à maturidade elas precisam de abalos e de discussões, a fim de atrair a atenção das massas. Uma vez despertada a atenção, a beleza e a santidade da moral impressionarão os espíritos, que então se dedicarão a uma ciência que lhes dará a chave da vida futura e lhes abrirá as portas da felicidade eterna. Moisés começou, Jesus continuou, o Espiritismo concretizará a obra.
Fénelon - Poitiers, 1861
10.
Um dia, Deus, em sua caridade inesgotável, permitiu ao homem ver a verdade
varar as trevas. Este dia foi a chegada do Cristo.
Depois da luz viva as trevas voltaram.
O mundo, entre alternativas do conhecimento da verdade e obscuridade da
ignorância, perdeu-se novamente. Então, tal como os profetas do Antigo
Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a vos advertir: O mundo está
abalado em suas bases, o trovão provocará estrondo. Sede firmes!
O Espiritismo é de ordem divina, visto
que repousa nas próprias leis da Natureza, e acreditai que tudo o que é de
origem divina tem um objetivo grande e útil. Vosso mundo se perdia. A Ciência,
desenvolvendo-se, à custa dos valores de ordem moral, estava vos conduzindo ao
bem-estar material em proveito do Espírito das trevas. Vós o sabeis, cristãos:
o coração e o amor devem andar unidos à Ciência. O reino do Cristo,
infelizmente, após dezoito séculos, e apesar do sangue de tantos mártires,
ainda não chegou. Cristãos, voltai ao Mestre que vos quer salvar. Tudo é fácil
para aquele que crê e ama. O amor o enche de uma alegria indescritível. Sim,
meus filhos, o mundo está abalado; os bons Espíritos vos dizem sempre;
curvai-vos sob o sopro que anuncia a tempestade a fim de não serdes derrubados,
isto é, preparai-vos e não vos assemelheis às virgens loucas, que foram apanhadas
desprevenidas à chegada do esposo.
A revolução que se prepara é mais moral do que material; os Espíritos, mensageiros do Senhor, inspiram a fé para que todos vós, companheiros da Doutrina, iluminados e ardentes, façais ouvir a vossa voz humilde. Sois o grão de areia, mas, sem grãos de areia, não haveria montanhas, portanto, que estas palavras: “Somos pequenos”, não tenham mais sentido para vós. Cada um tem sua missão, cada um tem seu trabalho. A formiga não constrói seu formigueiro, e os animaizinhos insignificantes não erguem continentes? A nova cruzada começou: apóstolos da paz universal e não da guerra, São Bernardos modernos, olhai e andai para a frente! A lei dos mundos é a lei do progresso.
NO CAMPO SOCIAL
“Ele respondeu e disse-lhes: – Dai-lhes vós de
comer...”
(Marcos, 6:37.)
Diante da multidão fatigada e faminta, Jesus
recomenda aos apóstolos: – “Dai-lhes vós de comer.”
A observação do Mestre é importante, quando
realmente poderia ele induzi-los a recriminar a multidão pela imprudência de uma
jornada exaustiva até o monte, sem a garantia do farnel.
O Mestre desejou, porém, gravar no espírito
dos aprendizes a consagração deles ao serviço popular. Ensinou que aos
cooperadores do Evangelho, perante a turba necessitada, compete tão somente um
dever – o da prestação de auxílio desinteressado e fraternal.
Naquela hora do ensinamento inesquecível, a
fome era naturalmente do corpo, vencido de cansaço, mas, ainda e sempre, vemos
a multidão carecente de amparo, dominada pela fome de luz e de harmonia,
vergastada pelos invisíveis azorragues da discórdia e da incompreensão.
Os colaboradores de Jesus são chamados, não a
obscurecê-la com o pessimismo, não a perturbá-la com a indisciplina ou a imobilizá-la
com o desânimo, mas sim a nutri-la de esclarecimento e paz, fortaleza moral e
sublime esperança.
Se te encontras diante do povo, com o anseio
de ajudá-lo, se te propões contribuir na regeneração do campo social, não te percas
em pregações de rebelião e desespero. Conserva a serenidade e alimenta o
próximo com o teu bom exemplo e com a tua boa palavra.
Não olvides a recomendação do Senhor: – “Dai-lhes vós de comer.”
Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.
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