domingo, 9 de outubro de 2022

UTILIDADE PROVIDENCIAL DA RIQUEZA. PROVAS DA RIQUEZA E DA MISÉRIA.

7. A riqueza se tornaria um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem se interpretarmos ao pé da letra certas palavras de Jesus e não procurarmos entender o seu sentido. Deus, que a distribuiu, teria colocado nas mãos de alguns um meio inevitável de perdição, pensamento que contraria a razão. A riqueza é, sem dúvida, uma prova bastante arriscada, mais perigosa do que a miséria, em virtude das excitações, das tentações que oferece e da fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual; é o laço mais forte que prende o homem à Terra e desvia seus pensamentos do Céu. Causa tamanha perturbação, que se vê, frequentemente, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer-se depressa da sua condição anterior, daqueles que foram seus companheiros, que o ajudaram, tornando-se insensível, egoísta e fútil. Mas, embora a riqueza dificulte o caminho, não significa que o torne impossível e não possa vir a ser até um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe fazer bom uso, tal como certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados apropriadamente e com equilíbrio.

Quando Jesus responde ao jovem que o interrogava sobre os meios de alcançar a vida eterna: desfazei-vos de todos os vossos bens e segui-me, não pretendia estabelecer como condição absoluta que cada um deva se desfazer do que possui, e que a salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o amor possessivo aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Aquele jovem, de fato, julgava-se quite com a lei, porque havia cumprido certos mandamentos e, no entanto, recua perante a ideia de abandonar seus bens; seu desejo de alcançar a vida eterna não ia até ao sacrifício de desfazer-se do que possuía.

A proposta de Jesus era uma questão decisiva para esclarecer o pensamento do jovem. Ele podia, sem dúvida, ser um padrão de homem honesto perante o mundo, não fazer o mal a ninguém, não maldizer seu próximo, não ser nem leviano, fútil ou orgulhoso, honrar seu pai e sua mãe; mas não possuía a verdadeira caridade, pois sua virtude não chegava até a renúncia em favor do próximo. O que Jesus quis demonstrar era uma aplicação do princípio: fora da caridade não há salvação.

A consequência destas palavras, se consideradas ao pé da letra, em seu exato sentido, seria a abolição da riqueza por ser prejudicial à felicidade futura, e como causa de incontáveis males na Terra. Seria também a condenação do trabalho que a pode conquistar. Isto seria um absurdo, uma vez que reconduziria o homem à vida selvagem, e que estaria em contradição com a lei do progresso, que é uma Lei de Deus.

Se a riqueza é a fonte de muitos males, se provoca tantas más paixões e tantos crimes, não é a ela que devemos culpar, e sim ao homem que dela abusa, como abusa de todos os dons que Deus lhe dá. Esse abuso torna ruim o que lhe poderia ser útil. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza devesse apenas produzir o mal, Deus não a colocaria na Terra; cabe ao homem fazer dela surgir o bem. Se ela não é um elemento direto do progresso moral, é, sem contestação, um poderoso elemento de progresso intelectual.

De fato, o homem tem por missão trabalhar para o melhoramento material da Terra; deve desbravá-la, prepará-la e saneá-la para um dia receber toda a população que sua extensão comporta; para alimentar toda essa população que cresce sem cessar, é preciso aumentar sua produção; se a produção de uma região é insuficiente, é preciso procurá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos tornam-se uma necessidade; para facilitá-las, é preciso destruir os obstáculos materiais que as separam, e tornar as comunicações mais rápidas. Para os trabalhos das gerações, que se realizam no decorrer dos séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da Terra; procurou na Ciência os meios de executá-los mais segura e rapidamente; mas, para fazê-los cumprir, necessitava de recursos: a necessidade fez com que criasse a riqueza, assim como ela o fez descobrir a Ciência. A atividade exigida para esses mesmos trabalhos aumenta e desenvolve sua inteligência; essa inteligência, que ele a princípio concentra na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. Sem a riqueza, que é o principal meio de realização das necessidades do homem, não haveria grandes trabalhos, nem atividades, nem estímulos, nem pesquisas. É, com razão, que ela é considerada um elemento de progresso.

"Mas os cuidados deste mundo, os enganos das riquezas e as ambições doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, que fica infrutífera." - Jesus. (MARCOS, 4:19.)

A árvore da fé viva não cresce no coração, miraculosamente.

Qual acontece na vida comum, o Criador dá tudo, mas não prescinde do esforço da criatura.

Qualquer planta útil reclama especial atenção no desenvolvimento.

Indispensável cogitar-se do trabalho de proteção, auxílio e defesa.

Estacadas, adubos, vigilância, todos os fatores de preservação devem ser postos em movimento, a fim de que o vegetal precioso atinja os fins a que se destina.

A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço.

A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.

Isso, contudo, é um equívoco de lamentáveis consequências.

A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo.

Não se faz possível a realização, quando excessivas ansiedades terrestres, de parceria com enganos e ambições inferiores, torturam o campo íntimo, à maneira de vermes e malfeitores, atacando a obra.

A lição do Evangelho é semente viva.

O coração humano é receptivo, tanto quanto a terra.

É imprescindível tratar a planta divina com desvelada ternura e instinto enérgico de defesa.

Há muitos perigos sutis contra ela, quais sejam os tóxicos dos maus livros, as opiniões ociosas, as discussões excitantes, o hábito de analisar os outros antes do autoexame.

Ninguém pode, pois, em sã consciência, transferir, de modo integral, a vibração da fé ao espírito alheio, porque, realmente, isso é tarefa que compete a cada um.

Livro Vinha de Luz – Médium Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

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