domingo, 31 de maio de 2020

QUEM NÃO ODIAR SEU PAI E SUA MÃE


1. Havia uma grande multidão acompanhando Jesus, e, voltando para eles, lhes disse: Se alguém vier a mim e não odiar a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e, até mesmo, sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Assim, todo aquele que não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo, e todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo. (Lucas, 14:25 a 27, 33)
2. Aquele que ama mais seu pai ou sua mãe do que a mim, não é digno de mim; aquele que ama mais a seu filho ou à sua filha do que a mim, não é digno de mim. (Mateus, 10:37)
3. Certas palavras, aliás, muito raras, fazem um contraste tão estranho na linguagem atribuída ao Cristo que, instintivamente, repelimos o seu sentido literal sem que a perfeição de sua doutrina nada sofra com isso. Escritas após sua morte, uma vez que nenhum Evangelho foi escrito enquanto vivia, podemos supor que, nesses casos, a ideia principal do seu pensamento não foi bem traduzida ou, o que não é menos provável, que o sentido original tenha sofrido alguma alteração ao passar pela tradução de uma língua para outra. Basta que um erro tenha sido cometido uma só vez para que fosse repetido pelos copistas, como se vê, com frequência, nos fatos históricos.
A palavra odiar, nesta frase do evangelista Lucas: Se alguém vier a mim e não odiar seu pai e sua mãe, está nesse caso. Ninguém pode ter a ideia de atribuí-la a Jesus. Seria inútil discuti-la e, pior ainda seria procurar justificá-la. Seria preciso saber inicialmente se Ele a pronunciou e, em caso afirmativo, saber se, na língua em que falava, essa palavra tinha o mesmo significado que na nossa. Noutra passagem do evangelista João: Aquele que odeia sua vida neste mundo, conserva-a para a vida eterna, é claro que ela não traduz a ideia que lhe atribuímos.
A língua hebraica era pobre e tinha muitas palavras com diversos significados. É o que acontece, por exemplo, n’A Gênese: a palavra que indica as fases da criação serve, também, para expressar um período de tempo qualquer e, ainda, o período diurno, de que derivou sua tradução para a palavra dia e a crença de que o mundo fora feito em seis dias. Também ocorre o mesmo com a palavra que designava um camelo e um cabo, pois os cabos eram feitos de pêlo de camelo, e que foi traduzida por camelo na alegoria do buraco da agulha.
É preciso, além de tudo, considerar os costumes e o caráter dos povos que influem na natureza particular das línguas. Sem esse conhecimento, o sentido verdadeiro das palavras nos escapa e, de uma língua para a outra, a mesma palavra tem um significado de maior ou menor energia. Pode ser uma injúria ou uma blasfêmia em uma e ter um sentido insignificante em outra, conforme a ideia que se queira exprimir. Numa mesma língua, ocorre também que o sentido de certas palavras se altera com o passar dos séculos, e é por isso que uma tradução rigorosamente ao pé da letra nem sempre revela perfeitamente o pensamento original para manter a exatidão é preciso, às vezes, empregar não as palavras correspondentes à tradução, mas, sim, palavras que sejam equivalentes ou semelhantes.
Estas observações encontram uma aplicação especial na interpretação das Sagradas Escrituras e nos Evangelhos em particular. Se não considerarmos o meio em que Jesus vivia, ficaremos sujeitos a enganos sobre o sentido de certas expressões e de certos fatos, em virtude do hábito de as entendermos de acordo com os nossos pontos de vista atuais. A palavra odiar, empregada neste caso, não pode ser entendida com a sua significação moderna, visto que seria contrária à essência dos ensinamentos de Jesus.

PARENTES

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família,
negou a fé e é pior do que o infiel..” - Paulo. I TIMÓTEO, 5 :8

A casualidade não se encontra nos laços da parentela.
Princípios sutis da Lei funcionam nas ligações consanguíneas.
Impelidos pelas causas do passado a reunir-nos no presente, é indispensável pagar com alegria os débitos que nos imanam a alguns corações, a fim de que venhamos a solver nossas dívidas para com a Humanidade.
Inútil é a fuga dos credores que respiram conosco sob o mesmo teto, porque o tempo nos aguardará implacável, constrangendo-nos à liquidação de todos os compromissos.
Temos companheiros de voz adocicada e edificante na propaganda salvacionista, que se fazem verdadeiros trovões de intolerância na atmosfera caseira, acumulando energias desequilibradas em torno das próprias tarefas.
Sem dúvida, a equipe familiar no mundo nem sempre é um jardim de flores. Por vezes, é um espinheiro de preocupações e de angústias, reclamando-nos sacrifício. Contudo, embora necessitemos de firmeza nas atitudes para temperar a afetividade que nos é própria, jamais conseguiremos sanar as feridas do nosso ambiente particular com o chicote da violência ou com o emplastro do desleixo.
Consoante a advertência do Apóstolo, se nos falha o cuidado para com a própria família, estaremos negando a fé.
Os parentes são obras de amor que o Pai Compassivo nos deu a realizar. Ajudemo-los, através da cooperação e do carinho, atendendo aos desígnios da verdadeira fraternidade. Somente adestrando paciência e compreensão, tolerância e bondade, na praia estreita do lar, é que nos habilitaremos a servir com vitória, no mar alto das grandes experiências.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 24 de maio de 2020

O DIVÓRCIO


5. O divórcio é uma lei humana que tem por objetivo separar legalmente o que, de fato, já está separado. O divórcio não contraria a Lei de Deus, uma vez que apenas corrige o que os homens fizeram e se aplica apenas aos casos em que foi desconsiderada a lei divina. Se fosse contrário a essa lei, a própria Igreja seria forçada a considerar como prevaricadores aqueles dentre seus chefes que, por sua própria autoridade e em nome da religião, impuseram o divórcio em mais de uma ocasião. E dupla seria a prevaricação, porque, nesses casos, foi unicamente com vista aos interesses temporais e não para satisfazer à lei de amor.
Porém, nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento. Ele disse que: Foi devido à dureza de vossos corações que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres. Isto significa que, desde os tempos de Moisés, quando a afeição mútua não fosse o único motivo do casamento, a separação poderia tornar-se necessária.
Mas acrescenta: Isso não foi assim desde o princípio; ou seja, que no início da Humanidade, quando os homens ainda não estavam pervertidos pelo egoísmo e pelo orgulho e que viviam segundo a Lei de Deus, as uniões fundadas sobre simpatia e não sobre a vaidade ou a ambição não davam motivo ao repúdio.
Jesus vai mais longe e especifica o caso em que o repúdio pode ocorrer: o de adultério. Todavia, sabemos que o adultério não existe onde reina uma afeição mútua e sincera. Jesus proíbe, é bem verdade, a todo homem poder casar-se com a mulher repudiada, mas é preciso considerar os costumes e o caráter dos homens daquela época.
A lei mosaica, nesse caso, prescrevia a morte para a mulher adúltera, pelo apedrejamento. Querendo abolir um costume bárbaro como esse, seria preciso naturalmente uma penalidade que o substituísse.
Jesus a encontra na proibição do casamento com a adúltera, considerando-o desonroso. Era, de qualquer maneira, uma lei civil substituída por outra lei civil, mas que, como todas as leis dessa natureza, deveria sofrer a prova do tempo.

Desquite e Divórcio

Na sua generalidade o matrimônio é laboratório de reajustamentos emocionais e oficina de reparação moral, através dos quais Espíritos comprometidos se unem para elevados cometimentos no ministério familial.
Sem dúvida, reencontros de Espíritos afins produzem vida conjugal equilibrada, em clima de contínua ventura, através da qual missionários do saber e da bondade estabelecem a união, objetivando nobres desideratos, em que empenham todas as forças.
Outras vezes, programando a elaboração de uma tarefa relevante para o futuro deles mesmos, se penhoram numa união conjugal que lhes enseje reparação junto aos desafetos e às vítimas indefesas do passado, para cuja necessidade de socorrer e elevar compreendem ser inadiável.
Fundamental, entretanto, em tais conjunturas, a vitória dos cônjuges sobre o egoísmo, granjeando recursos que os credenciem a passos mais largos, na esfera das experiências em comum.
Normalmente, porém, através do consórcio matrimonial, exercitam-se melhor as virtudes morais, que devem ser trabalhadas a benefício do lar e da compreensão de ambos os comprometidos na empresa redentora. Nessas circunstâncias a prole, quase sempre vinculada por desajustes pretéritos, é igualmente convocada ao buril da lapidação, na oficina doméstica, de cujos resultados surgem compromissos vários em relação ao futuro individual de cada membro do clã, como do grupo em si mesmo.
Atraídos por necessidades redentoras, mas despreparados para elas, os membros do programa afetivo, não poucas vezes, descobrem, de imediato a impossibilidade de continuarem juntos.
De certo modo, a precipitação resultante do imediatismo materialista que turba o discernimento, quase sempre pelo desequilíbrio no comportamento sexual, é responsável pelas alianças de sofrimento, cuja harmonia difícil, quase sempre, culmina em ódios ominosos ou tragédias lamentáveis.
Indispensável, no matrimônio, não se confundir paixão com amor, interesse sexual com afeição legítima.
Causa preponderante nos desajustes conjugais o egoísmo, que se concede valores e méritos superlativos em detrimento do parceiro a quem se está vinculado.
Mais fascinados pelas sensações brutalizantes do que pelas emoções enobrecidas, fogem os nubentes desavisados um do outro a princípio pela imaginação e depois pela atitude, abandonando a tolerância e a compreensão, de pronto iniciando o comércio da animosidade ou dando corpo às frustrações, que degeneram em atritos graves e enfermidades perturbadoras.
Comprometessem-se, realmente, a ajudar-se com lealdade, estruturassem-se nos elementos das lições evangélicas, compreendessem e aceitassem como legítimas a transitoriedade do corpo e o valor da experiência provacional, e se evitariam incontáveis dramas, inumeráveis desastres do lar, que ora desarticulam as famílias e infelicitam a sociedade.
O casamento é contrato de deveres recíprocos, em que se devem empenhar os contratantes a fim de lograrem o êxito do cometimento.
A sociedade materialista, embora disfarçada de religiosa, facilita o rompimento dos liames que legalizam o desposório por questões de somenos importância, facultando à grande maioria dos comprometidos perseguirem sensações novas, com que desbordam pela via de alucinações decorrentes de Sutis como vigorosas obsessões resultantes do comportamento passado e do desassisamento do presente O divórcio como o desquite são, em consequência soluções legais para o que moralmente já se encontra separado.
Evidente, que, tal solução é sempre meritória, por evitar atitudes mais infelizes que culminam em agravamento de conduta para os implicados na trama dos reajustamentos de que não se evadirão.
Volverão a encontrar-se, sem dúvida, quiçá em posição menos afortunada, oportunamente Imprescindível que, antes da atitude definitiva para o desquite ou o divórcio, tudo se envide em prol da reconciliação, inda mais considerando quanto os filhos merecem que os pais se imponham uma união respeitável, de cujo esforço muito dependerá a felicidade deles.
Períodos difíceis Ocorrem em todo e qualquer empreendimento humano.
Na dissolução dos vínculos matrimoniais, o que padeça a prole, será considerado como responsabilidade dos genitores, que se somassem esforços poderiam ter contribuído com proficiência, através da renúncia pessoal, para a dita dos filhos.
*
Se te encontras na difícil conjuntura de uma decisão que implique em problema para os teus filhos, para e medita. Necessitam de tu, mas, também do outro membro-base da família.
Não te precipites, através de soluções que às vezes complicam as situações.
Dá tempo a que a outra parte desperte, concedendo-lhe ensancha para o reajustamento.
De tua parte permanece no posto.
Não sejas tu quem tome a decisão.
A humildade e a perseverança no dever conseguem modificar comportamentos, reacendendo a chama do entendimento e do amor, momentaneamente apagada.
Não te apegues ao outro, porém, até a consumação da desgraça.
Se alguém não mais deseja, espontaneamente, seguir contigo, não te transformes em algema ou prisão.
Cada ser ruma pela rota que melhor lhe apraz e vive conforme lhe convém.
Estará, porém, onde quer que vá, sob o clima que merece.
Tem paciência e confia em Deus.
Quando se modifica uma circunstância ou muda uma situação, não infiras disso que a vida, a felicidade, se acabaram.
Prossegue animado de que aquilo que hoje não tens será fortuna amanhã em tua vida.
Se estiveres a sós e não dispuseres de forças, concede-te outra oportunidade, que enobrecerás pelo amor e pela dedicação.
Se te encontrares ao lado de um cônjuge difícil ama-o, assim mesmo, sem deserção, fazendo dele a alma amiga com quem estás incurso pelo pretérito, para a construção de um porvir ditoso que a ambos dará a paz, facultando, desse modo, a outros Espíritos que se revincularão pela carne, a ocasião excelente para a redenção.

Livro SOS – Espírito Joanna de Ângelis – Divaldo Pereira Franco.

sábado, 16 de maio de 2020

INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO


1. Os fariseus também vieram a Jesus para tentá-lo, e Lhe disseram: É permitido a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele lhes respondeu: Não lestes que aquele que criou o homem desde o início, os criou macho e fêmea? E disse: Por esta razão, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e farão os dois uma só carne. Assim eles não serão mais dois e, sim, uma só carne. Que o homem, pois, não separe o que Deus uniu.
Mas por que razão, disseram eles, Moisés ordenou que se entregue à mulher uma carta de separação e que a repudie? Jesus lhes respondeu: É devido à dureza de vossos corações que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas isso não aconteceu desde o início. Eu também vos declaro que todo aquele que repudiar sua mulher, se não for por causa de adultério, e se casar com outra, comete adultério; e que aquele que se casar com aquela que um outro repudiou, também comete adultério. (Mateus, 19:3 a 9)
2. Nada é imutável, a não ser o que vem de Deus. Toda obra que é dos homens está sujeita a mudanças. As leis da Natureza são as mesmas em todos os tempos e em todos os países; as leis humanas transformam-se de acordo com o tempo, com os lugares e com o progresso da inteligência.
No casamento, o que é de ordem divina é a união dos sexos para permitir a renovação dos seres que morrem, mas as condições que regulam essa união são de tal modo humanas que não há em todo o mundo, e até mesmo na cristandade, dois países em que elas sejam rigorosamente as mesmas, e nem há um sequer em que essas condições não tenham sofrido mudanças impostas pelo tempo. O resultado disso é que pela lei civil o que é legítimo num país e numa época, é adultério noutro e em outro tempo; isto, em razão de ter a lei civil, por objetivo, regular os interesses das famílias na sociedade, e esses interesses variam de acordo com os costumes e as necessidades locais. Assim é, por exemplo, que em certos países apenas o casamento religioso é legítimo e, em outros, é preciso acrescentar-lhe o casamento civil e, em outros, enfim, o casamento civil é o bastante.
3. Mas, na união dos sexos, a par da lei divina material, comum a todos os seres vivos, existe uma outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral: é a lei do amor. Deus quis que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transmitisse aos filhos, e que fossem dois, ao invés de um, a amá-los, a cuidar deles e fazê-los progredir. Nas condições normais do casamento, a lei do amor foi sempre levada em conta? De maneira nenhuma. O que se leva em conta não é a afeição de dois seres que se atraem mutuamente, eis porque, na maioria das vezes, esse sentimento é rompido. O que se procura não é a satisfação do coração e, sim, a do orgulho, da vaidade e da ambição; em resumo: a satisfação de todos os interesses materiais. Se tudo corre bem, segundo esses interesses, diz-se que o casamento é conveniente e, quando as bolsas estão bem cheias, diz-se que os esposos estão bem, e que por isso devem ser bem felizes.
Contudo, nem a lei civil, nem tampouco os compromissos que ela determina podem suprir a lei de amor, se esta lei não presidir à união. Disso resultará que, muitas vezes, o que se uniu à força se separa por si mesmo, e que o juramento que se pronuncia aos pés de um altar se torna uma falsidade, se é dito como uma fórmula banal e, então, surgem as uniões infelizes que acabam por se tornar criminosas. Infelicidade dupla, que seria evitada se, nas condições do casamento, não se esquecesse da única lei que o torna legítimo aos olhos de Deus: a lei de amor. Quando Deus disse: Sereis somente uma só carne; e quando Jesus disse: Não separareis o que Deus uniu, isso deve ser entendido segundo a Lei de Deus que não se altera jamais, e não conforme a lei variável dos homens.
4. Será então supérflua e desnecessária a lei civil, e deveríamos voltar aos casamentos segundo a Natureza? Certamente que não. A lei civil tem por objetivo reger as relações da sociedade e os interesses das famílias de acordo com as exigências da civilização, e eis porque ela é útil, necessária, porém, variável, devendo ser previdente, porque o homem civilizado não pode mais viver como selvagem. Levando-se em conta tudo isto, nada, absolutamente nada, se contrapõe para que ela seja a decorrência e a confirmação da Lei de Deus. Os obstáculos ao cumprimento da lei divina decorrem dos preconceitos humanos e não da lei civil. Estes preconceitos, ainda que muito ativos, já perderam a sua força junto aos povos esclarecidos. Eles desaparecerão totalmente com o progresso moral, que abrirá, definitivamente, os olhos aos homens para os males incontáveis, as faltas e até mesmo os crimes que resultam de uniões contraídas visando apenas interesses materiais; e um dia se perguntará se é mais humano, mais caridoso, mais moral unirem-se, um ao outro, dois seres que não podem viver juntos ou restituir-lhes a liberdade e, ainda, se a perspectiva de uma aliança indissolúvel não aumenta o número das uniões irregulares.

Responsabilidade no Matrimônio

Interrogam, muitos discípulos do Evangelho: não é mais lícito o desquite ou o divórcio, em considerando os graves problemas conjugais, à manutenção de um matrimônio que culmine em tragédia? Não será mais conveniente uma separação, desde que a desinteligência se instalou, ao prosseguimento de uma ida impossível? Não têm direito, ambos os cônjuges, a diversa tentativa de felicidade, ao lado de outrem, já que se não entendem?
E muitas outras inquirições surgem, procurando respostas honestas para o problema que dia-a-dia mais se agrava e avulta.
Inicialmente, deve ser examinado que o matrimônio em linhas gerais é uma experiência de reequilíbrio das almas no orçamento familiar. Oportunidade de edificação sob a bênção da prole — e, quando fatores naturais coercitivos a impedem, justo se faz abrir os braços do amor espiritual às crianças que gravitavam ao abandono— para amadurecer emoções, corrigindo sensações e aprendendo fraternidade.
Não poucas vezes os nubentes, mal preparados para o consórcio matrimonial, dele esperam tudo, guindados ao paraíso da fantasia, esquecidos de que esse é um sério compromisso, e todo compromisso exige responsabilidades recíprocas a benefício dos resultados que se deseja colimar.
A “lua de mel” é imagem rica da Ilusão, porquanto, no período primeiro do matrimônio, nascem traumas e desajustes, Inquietações e receios, frustrações e revoltas, que despercebidos, quase a Princípio, espocam mais tarde em surdas guerrilhas ou batalhas lamentáveis no lar, em que o ódio e o ciúme explodem, descontrolados, impondo soluções, sem dúvida, que sejam menos danosas do que as trágicas.
Todavia, há que meditar, no que concerne aos compromissos de qualquer natureza, que a sua interrupção, somente adia a data da justa quitação. No casamento, não raro, o adiamento promove o ressurgir do pagamento em circunstâncias mais dolorosas no futuro em que, a pesadas renúncias e a fortes lágrimas, somente, se consegue a solução.

Indispensável que para o êxito matrimonial sejam exercitadas singelas diretrizes de comportamento amoroso.
Há alguns sinais de alarme que podem informar a situação de dificuldade antes de agravar a União conjugal:
Silêncios injustificáveis quando os esposos estão juntos;
Tédio inexplicável ante a presença do companheiro ou da companheira;
Ira disfarçada quando o Consorte ou a consorte emite uma opinião;
Saturação dos temas habituais, versados em casa, fugindo para intérminas leituras de jornais ou inacabáveis novelas de televisão;
Irritabilidade contumaz sempre que se avizinha do lar;
Desinteresse pelos problemas do outro;
Falta de intercâmbio de opiniões;
Atritos contínuos que ateiam fagulhas de irascibilidade, capazes de provocar incêndios em forma de agressão desta ou daquela maneira...
E muitos outros mais.
Antes que as dificuldades abram distâncias e os espinhos da incompreensão produzam feridas, justo que se assumam atitudes de lealdade, fazendo um exame das ocorrências e tomando-se providências para sanar os males em pauta.
Assim, a honestidade lavrada na sensatez, que manda “abrir-se o coração” um para com o outro, consegue corrigir as deficiências e reorganizar o panorama afetivo.
É natural que ocorram desacertos. Ao invés, porém, de separação, reajustamento.
A questão não é de uma “nova busca”, mas de redescobrimento do que já possui.
Antes da decisão precipitada, ceder cada um, no que lhe concerne, a benefício dos dois.
Se o companheiro se desloca, lentamente, da família, refaça a esposa o lar, tentando nova fórmula de reconquista e tranquilidade.
Se a companheira se afasta, afetuosamente, pela irritação ou pelo ciúme, tolere o esposo, conferindo-lhe confiança e renovação de ideias.
O cansaço, o cotidiano, a apatia são elementos constritivos da felicidade.
Nesse sentido, o cultivo dos ideais nobilitantes consegue estreitar os laços do afeto e os objetivos superiores unem os corações, penetrando-os de tal forma, que os dois se fazem um, a serviço do bem. E em tal particular, o Espiritismo — a Doutrina do Amor e da Caridade por excelência — consegue renovar o entusiasmo das criaturas, já que desloca o indivíduo de si mesmo, ajuda-o na luta contra o egoísmo e concita-o à responsabilidade ante as leis da vida, impulsionando-o ao labor incessante em prol do próximo. E esse próximo mais próximo dele é o esposo ou a esposa, junto a quem assumiu espontaneamente o dever de amar, respeitar e servir.
Assim, considerando, o Espiritismo, mediante o seu programa de ideal cristão, é senda redentora para os desajustados e ponte de união para os cônjuges, em árduas lutas, mas que não encontraram a paz.

Livro SOS – Espírito Joanna de Ângelis – Divaldo Pereira Franco.

domingo, 10 de maio de 2020

NÃO ACREDITEIS EM TODOS OS ESPÍRITOS


6. Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (João, 1ª. Epístola, 4:1)
7. Os fenômenos espíritas, longe de confirmarem os falsos cristos e os falsos profetas, como algumas pessoas gostam de dizer, vêm, ao contrário, dar-lhes o golpe mortal. Não peçais ao Espiritismo milagres nem prodígios, pois ele declara formalmente que não os produz. Assim como a Física, a Química, a Astronomia e a Geologia vieram revelar as leis do mundo material, ele vem revelar outras leis desconhecidas, aquelas que regem as relações entre o mundo corporal e o mundo espiritual, e que, tanto quanto as leis científicas, são leis da Natureza.
Ao explicar uma certa ordem de fenômenos até então incompreendidos, o Espiritismo destrói o que ainda permanecia sob o domínio do maravilhoso. Aqueles que estivessem tentados a explorar esses fenômenos em seu proveito, fazendo-se passar por messias de Deus, não poderiam abusar por muito tempo da credulidade, e logo seriam desmascarados. Aliás, como já ficou dito, só esses fenômenos por si mesmos nada provam: a missão se prova por efeitos morais que nem todos podem produzir. Eis um dos resultados do desenvolvimento da Ciência Espírita; pesquisando a causa de certos fenômenos, ela levanta o véu de muitos mistérios. Aqueles que preferem a obscuridade à luz são os únicos interessados em combatê-la; mas a verdade é como o sol: dissipa os nevoeiros mais densos.
O Espiritismo vem revelar uma outra categoria bem mais perigosa de falsos cristos e de falsos profetas, que se encontram não entre os homens, mas entre os desencarnados: é a dos Espíritos embusteiros, hipócritas, orgulhosos e falsos sábios, que, da Terra, passaram para a erraticidade, e se disfarçam com nomes veneráveis para procurar, disfarçados pela máscara com que se cobrem, tornar suas ideias aceitáveis, frequentemente as mais extravagantes e absurdas. Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles atuavam com menos ostentação, menos pompa, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, auditiva ou de incorporação. O número daqueles que, em diversas épocas, mas principalmente nesses últimos tempos, se apresentaram como uns dos antigos profetas, como o Cristo, como Maria, mãe do Cristo, e até mesmo como Deus, é considerável. O apóstolo João nos previne contra eles quando diz: Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus; pois muitos falsos profetas têm surgido no mundo. O Espiritismo dá os meios de pô-los à prova ao indicar as características pelas quais se reconhecem os bons Espíritos, características sempre morais e nunca materiais. É para distinguir entre os bons e os maus Espíritos que podem, sobretudo, se aplicar estas palavras de Jesus: Reconhece-se a qualidade da árvore pelo seu fruto; uma boa árvore não pode produzir maus frutos, e uma árvore má não pode produzir bons frutos. Julgam-se os Espíritos pela qualidade de suas obras, como a uma árvore pela qualidade de seus frutos.

ORAÇÃO DA MULHER
(Meimei)

Missionária da vida! Ampara o homem para o homem te ampare!
Não te corrompas no prazer e nem te mergulhes no vício.
A felicidade da Terra depende de ti, como fruto depende da árvore.
Mãe – sê o anjo do lar.
Esposa – auxilia sempre.
Companheira – acende o lume da esperança.
Irmã – sacrifica-te e ajuda.
Mestra – ilumina o caminho.
Enfermeira – compadece-te.
Fonte sublime, se as feras do mal te poluírem as águas, imita a corrente cristalina que, no serviço infatigável a todos, expulsa do próprio seio a lama que lhe atiram.
Por mais que te aflijam as dificuldades, não te entregues à tristeza ou ao desânimo.
Lembra os órfãos, os doentes, os velhos e os desvalidos da estrada, que esperam por teus braços; e sorri com serenidade para a luta.
Deixa que o trabalho tanja as cordas celestes do teu sentimento para que não falte a música da harmonia aos pedregosos trilhos da existência terrestre.
Teu coração é uma estrela encarcerada.
Não lhe apague a luz, para que o amor resplandeça sobre as trevas.
- Eleva-te, elevando-nos...
Não te esqueças de que trazes nas mãos a chave da vida, porque a chave da vida é a glória de Deus!

Livro Mãe – Espíritos Diversos – Chico Xavier.

sábado, 2 de maio de 2020

PRODÍGIOS DOS FALSOS PROFETAS


5. Surgirão falsos cristos e falsos profetas que farão grandes prodígios e coisas surpreendentes para enganar os escolhidos. Estas palavras alertam para o verdadeiro sentido da palavra prodígio. No sentido teológico, os prodígios e os milagres são fenômenos excepcionais, fora das leis da Natureza. Estas leis, sendo obra unicamente de Deus, são passíveis de serem modificadas, sem dúvida, se Ele quiser. O simples bom-senso nos diz que Ele não pode ter dado a seres perversos e inferiores um poder igual ao seu e, ainda menos, o direito de desfazer o que Ele fez. Jesus não pode ter consagrado tal princípio. Se, pois, segundo o sentido que se atribui àquelas palavras, o Espírito do mal tem o poder de fazer tais prodígios, que até mesmo os eleitos seriam enganados, disso resultaria que, podendo fazer o que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégio exclusivo dos enviados de Deus e, por isso, nada provam, uma vez que nada distingue os milagres dos santos dos milagres dos demônios. É preciso, pois, procurar um sentido mais racional para essas palavras de Jesus.
Aos olhos do povo, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por algo sobrenatural, maravilhoso e miraculoso. Conhecida a causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário que possa parecer, nada mais é do que a aplicação de uma lei da Natureza.
Assim, o círculo dos fatos sobrenaturais se restringe à medida que se alarga o conhecimento das leis científicas. Em todos os tempos, os homens têm explorado, em benefício de sua ambição, de seu interesse e de seu desejo de dominação, certos conhecimentos que possuíam, a fim de usufruírem de um prestígio e de um poder supostamente sobre-humano, ou que uma pretensa missão divina lhes daria. Estes são os falsos Cristos e os falsos profetas. A propagação dos conhecimentos acaba por desacreditá-los, e eis por que seu número diminui, à medida que os homens se esclarecem. O fato de operarem o que, aos olhos de algumas pessoas, passa por prodígios não é, portanto, sinal de uma missão divina, uma vez que pode resultar de conhecimentos que qualquer um pode adquirir, ou capacidades orgânicas especiais, que tanto o mais digno quanto o mais indigno podem possuir. O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias e, exclusivamente, de ordem moral.

ANTE FALSOS PROFETAS

Acautela-te em atribuir aos falsos profetas o fracasso de teus empreendimentos morais.
Recorda que todos somos tentados, segundo a espécie de nossas imperfeições.
Não despertarás a fome do peixe com uma isca de ouro, nem atrairás a atenção do cavalo com um prato de pérolas, mas, sim, ofertando-lhes à percepção leve bocado sangrento ou alguma concha de milho.
Desse modo, igualmente, todos somos induzidos ao erro, na pauta de nossa própria estultícia.
Dominados de orgulho, cremos naqueles que nos incitam à vaidade e, sedentos de posse, assimilamos as sugestões infelizes de quantos se proponham explorar-nos a insensatez e a cobiça.
É preciso lembrar que todos somos, no traje físico ou dele desenfaixados, espíritos a caminho, buscando na luta e na experiência os fatores da evolução que nos é necessária, e que, por isso mesmo, se já somos aprendizes do Cristo, temos a obrigação de buscar-lhe o exempio parametro ideal de nossa conduta.
Não vale, assim, alegar confiança na palavra de quantos nos sustentem a fantasia, com respeito a fictícios valores de que sejamos depositários, no pressuposto de que venham até nós, na condição de desencarnados; pois que a morte do corpo é, no fundo, simples mudança de vestimenta, sem afetar, na maioria das circunstâncias, a nossa formação espiritual.
Não creias, desse modo, em todo Espírito — diz-nos o Apóstolo —, porquanto semelhante atitude envolveria a crença cega em nossos próprios enganos, com a exaltação de reiterados caprichos.
O ouvido que escuta é irmão da boca que fala.
Ilusão admitida é nossa própria ilusão.  
Apetite insuflado é apetite que acalentamos.
Mentira acreditada é a própria mentira em nós.
Crueldade aceita é crueldade que nos pertence.
De alguma sorte, somos também a força com a qual entramos em sintonia.
Procuremos, pois, o Mestre dos mestres como sendo a luz de nosso caminho. E cotejando, com as lições dEle, avisos e informes, mensagens e advertências que nos sejam endereçados, desse ou daquele setor de esclarecimento, aprenderemos, sem sombra, que a humildade e o serviço são nossos deveres de cada hora, para que a verdade nos ilumine e para que o amor puro nos regenere, preservando-nos, por fim, contra o assédio de todo mal.

Livro Religião dos Espíritos – Emmanuel – Chico Xavier.