domingo, 31 de maio de 2020

QUEM NÃO ODIAR SEU PAI E SUA MÃE


1. Havia uma grande multidão acompanhando Jesus, e, voltando para eles, lhes disse: Se alguém vier a mim e não odiar a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e, até mesmo, sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Assim, todo aquele que não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo, e todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo. (Lucas, 14:25 a 27, 33)
2. Aquele que ama mais seu pai ou sua mãe do que a mim, não é digno de mim; aquele que ama mais a seu filho ou à sua filha do que a mim, não é digno de mim. (Mateus, 10:37)
3. Certas palavras, aliás, muito raras, fazem um contraste tão estranho na linguagem atribuída ao Cristo que, instintivamente, repelimos o seu sentido literal sem que a perfeição de sua doutrina nada sofra com isso. Escritas após sua morte, uma vez que nenhum Evangelho foi escrito enquanto vivia, podemos supor que, nesses casos, a ideia principal do seu pensamento não foi bem traduzida ou, o que não é menos provável, que o sentido original tenha sofrido alguma alteração ao passar pela tradução de uma língua para outra. Basta que um erro tenha sido cometido uma só vez para que fosse repetido pelos copistas, como se vê, com frequência, nos fatos históricos.
A palavra odiar, nesta frase do evangelista Lucas: Se alguém vier a mim e não odiar seu pai e sua mãe, está nesse caso. Ninguém pode ter a ideia de atribuí-la a Jesus. Seria inútil discuti-la e, pior ainda seria procurar justificá-la. Seria preciso saber inicialmente se Ele a pronunciou e, em caso afirmativo, saber se, na língua em que falava, essa palavra tinha o mesmo significado que na nossa. Noutra passagem do evangelista João: Aquele que odeia sua vida neste mundo, conserva-a para a vida eterna, é claro que ela não traduz a ideia que lhe atribuímos.
A língua hebraica era pobre e tinha muitas palavras com diversos significados. É o que acontece, por exemplo, n’A Gênese: a palavra que indica as fases da criação serve, também, para expressar um período de tempo qualquer e, ainda, o período diurno, de que derivou sua tradução para a palavra dia e a crença de que o mundo fora feito em seis dias. Também ocorre o mesmo com a palavra que designava um camelo e um cabo, pois os cabos eram feitos de pêlo de camelo, e que foi traduzida por camelo na alegoria do buraco da agulha.
É preciso, além de tudo, considerar os costumes e o caráter dos povos que influem na natureza particular das línguas. Sem esse conhecimento, o sentido verdadeiro das palavras nos escapa e, de uma língua para a outra, a mesma palavra tem um significado de maior ou menor energia. Pode ser uma injúria ou uma blasfêmia em uma e ter um sentido insignificante em outra, conforme a ideia que se queira exprimir. Numa mesma língua, ocorre também que o sentido de certas palavras se altera com o passar dos séculos, e é por isso que uma tradução rigorosamente ao pé da letra nem sempre revela perfeitamente o pensamento original para manter a exatidão é preciso, às vezes, empregar não as palavras correspondentes à tradução, mas, sim, palavras que sejam equivalentes ou semelhantes.
Estas observações encontram uma aplicação especial na interpretação das Sagradas Escrituras e nos Evangelhos em particular. Se não considerarmos o meio em que Jesus vivia, ficaremos sujeitos a enganos sobre o sentido de certas expressões e de certos fatos, em virtude do hábito de as entendermos de acordo com os nossos pontos de vista atuais. A palavra odiar, empregada neste caso, não pode ser entendida com a sua significação moderna, visto que seria contrária à essência dos ensinamentos de Jesus.

PARENTES

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família,
negou a fé e é pior do que o infiel..” - Paulo. I TIMÓTEO, 5 :8

A casualidade não se encontra nos laços da parentela.
Princípios sutis da Lei funcionam nas ligações consanguíneas.
Impelidos pelas causas do passado a reunir-nos no presente, é indispensável pagar com alegria os débitos que nos imanam a alguns corações, a fim de que venhamos a solver nossas dívidas para com a Humanidade.
Inútil é a fuga dos credores que respiram conosco sob o mesmo teto, porque o tempo nos aguardará implacável, constrangendo-nos à liquidação de todos os compromissos.
Temos companheiros de voz adocicada e edificante na propaganda salvacionista, que se fazem verdadeiros trovões de intolerância na atmosfera caseira, acumulando energias desequilibradas em torno das próprias tarefas.
Sem dúvida, a equipe familiar no mundo nem sempre é um jardim de flores. Por vezes, é um espinheiro de preocupações e de angústias, reclamando-nos sacrifício. Contudo, embora necessitemos de firmeza nas atitudes para temperar a afetividade que nos é própria, jamais conseguiremos sanar as feridas do nosso ambiente particular com o chicote da violência ou com o emplastro do desleixo.
Consoante a advertência do Apóstolo, se nos falha o cuidado para com a própria família, estaremos negando a fé.
Os parentes são obras de amor que o Pai Compassivo nos deu a realizar. Ajudemo-los, através da cooperação e do carinho, atendendo aos desígnios da verdadeira fraternidade. Somente adestrando paciência e compreensão, tolerância e bondade, na praia estreita do lar, é que nos habilitaremos a servir com vitória, no mar alto das grandes experiências.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

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