domingo, 28 de junho de 2020

CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE. POR QUE JESUS FALA POR PARÁBOLAS.


1. Não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire; mas ela deve ser colocada sobre um velador, a fim de que ilumine aqueles que estão na casa. (Mateus, 5:15)
2. Não há ninguém que, após ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso ou a coloque debaixo da cama; mas deve ser colocada sobre o velador, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz; pois não há nada de secreto que não deva ser descoberto, nem nada de escondido que não deva ser revelado e aparecer publicamente. (Lucas, 8:16 e 17)
3. Seus discípulos, se aproximando, disseram: Por que falais por parábolas? E respondendo, lhes disse: Porque foi dado a vós conhecer os mistérios do reino dos Céus; mas, a eles, isso não lhes foi dado. Porque, àquele que já tem, mais lhe será dado e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. Falo-lhes por parábolas, porque, vendo, não vêem e, ouvindo, não escutam e não compreendem. E neles se cumprirá a profecia de Isaías, que diz: Ouvireis com os vossos ouvidos e não escutareis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo se tornou pesado, seus ouvidos se tornaram surdos, e fecharam os olhos para que seus olhos não vejam e seus ouvidos para que não ouçam, para que seu coração não compreenda e nem se convertam permitindo que eu os cure. (Mateus, 13:10 a 15)
4. Causa estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve colocar a luz debaixo do alqueire, enquanto Ele mesmo encobre, constantemente, o sentido de suas palavras sob o véu alegórico que nem todos podem compreender. Ele se explica, ao dizer a seus apóstolos: Eu lhes falo por parábolas porque não estão ainda à altura de compreender certas coisas; vêem, olham, ouvem e não compreendem. Assim, dizer-lhes tudo seria inútil por enquanto, mas digo-o a vós porque vos foi dado compreender estes mistérios. Ele procedia, perante o povo, como se faz com as crianças cujas ideias ainda não estão desenvolvidas.
Dessa maneira, indica o verdadeiro sentido do seu ensinamento: Não se deve colocar a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o velador, a fim de que todos aqueles que entrem possam ver a luz, isto é, não é prudente revelar precipitadamente todos os conhecimentos, pois o ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem se dirige, porque há pessoas para as quais a luz muito viva ofusca sem esclarecer.
Acontece com a sociedade em geral o mesmo que com os indivíduos.
As gerações passam pela infância, pela juventude e pela idade madura; cada coisa deve vir a seu tempo, já que o grão semeado fora da época do plantio não germina. Mas o que a prudência manda calar momentaneamente deve, cedo ou tarde, ser descoberto, pois, atingindo um certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; as trevas da ignorância lhes pesam. Tendo Deus lhes dado a inteligência para compreender, e para se guiarem por entre as coisas da Terra e do Céu, eles tratam de raciocinar, refletir sobre a sua fé; por isso é que não se deve colocar a candeia debaixo do alqueire, pois, sem a luz da razão, a fé se enfraquece.
5. Se, em sua prudente sabedoria, a Providência só revela as verdades gradualmente, sempre as desvendará à medida que a Humanidade esteja madura para recebê-las. Mantendo-as em reserva e não debaixo do alqueire. Porém, quando os homens as possuem, as escondem do povo a maior parte do tempo, apenas com o intuito de dominá-lo, são estes os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. Foi por isso que todas as religiões tiveram seus mistérios cujo exame proíbem. Mas, enquanto essas religiões permaneciam atrasadas, a Ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu dos mistérios. O povo, atingindo a maturidade, quis conhecer os mistérios a fundo, e então eliminou de sua fé o que era contrário à observação.
Não pode haver mistérios absolutos, e Jesus está com a razão quando diz que não há nada de secreto que não deva ser revelado.
Tudo o que está oculto será um dia descoberto, e o que o homem ainda não pode compreender na Terra lhe será sucessivamente revelado em mundos mais avançados e quando estiver purificado. Aqui, na Terra, ele ainda está em meio ao nevoeiro.
6. Pergunta-se: Que proveito o povo poderia tirar dessa quantidade de parábolas cujo sentido era indecifrável? Devemos considerar que apenas nas questões de mais difícil compreensão da sua doutrina Jesus falou de modo velado, principalmente por parábolas. Mas, a respeito da caridade para com o próximo e da humildade, em tudo o que disse, foi claro e objetivo, não deixando dúvidas, já que elas são condições básicas de salvação. Devia ser assim porque se tratava de uma regra de conduta, regra que todos deviam compreender para poder cumpri-la.
Era o essencial para um povo inculto ao qual se limitava a dizer: Eis o que é preciso fazer para ganhar o reino dos Céus. Sobre as outras partes, Ele desenvolvia seu pensamento apenas junto aos discípulos, que estavam mais avançados moral e intelectualmente, e Jesus podia ensinar-lhes conhecimentos mais avançados. Foi assim que disse: Àqueles que já têm, será dado ainda mais. (Veja nesta obra Cap. 18:15.)
Entretanto, Jesus, mesmo com os seus apóstolos, tratou de modo vago muitos pontos, cuja completa compreensão estava reservada a tempos futuros. Foram estes pontos que deram lugar a interpretações tão diversas, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da Natureza, possibilitando a compreensão do verdadeiro sentido das suas parábolas.
7. O Espiritismo vem lançar luz sobre uma série de pontos de difícil entendimento. Entretanto, não o faz imprudentemente. Os Espíritos, em suas instruções, procedem com uma admirável prudência: apenas sucessiva e gradualmente abordam as diversas partes já conhecidas da Doutrina, e é assim que as outras partes serão ainda reveladas, à medida que o momento de fazê-las vir à luz tiver chegado. Se a houvessem revelado completa desde o início, seria acessível apenas a um pequeno número de pessoas, e assim teria assustado e afastado aqueles que não estivessem preparados para entendê-la, o que teria prejudicado a sua propagação. Se os Espíritos ainda não dizem tudo abertamente, não é por que haja na Doutrina mistérios reservados a privilegiados, nem por que coloquem a candeia debaixo do alqueire.
Mas porque cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles dão a cada ideia o tempo de amadurecer e de se propagar antes de apresentarem uma outra, e dão aos acontecimentos o tempo de lhes preparar a aceitação.

* N. E. - Candeia: pequeno aparelho de iluminação abastecido com óleo.
* N. E. - Velador: suporte alto, onde se põe o candeeiro ou a vela.
* N. E. - "Alqueire" aqui é um uso antiquado para "vaso", "pote" ou "vasilhame".

A CANDEIA VIVA

“Ninguém acende a candeia e a coloca debaixo do médio,
mas no velador, e assim alumia a todos os que estão
na casa.” – Jesus. (Mateus, 5:15.)

Muitos aprendizes interpretaram semelhantes palavras do Mestre como apelo à pregação sistemática e desvairaram-se através de veementes discursos em toda parte. Outros admitiram que o Senhor lhes impunha a obrigação de violentar os vizinhos, através de propaganda compulsória da crença, segundo o ponto de vista que lhes é particular.
Em verdade o sermão edificante e o auxílio fraterno são indispensáveis na extensão dos benefícios divinos da fé.
Sem a palavra, é quase impossível a distribuição do conhecimento.
Sem o amparo irmão, a fraternidade não se concretizará no mundo. A assertiva de Jesus, todavia, atinge mais além.
Atentemos para o símbolo da candeia. A claridade na lâmpada consome força ou combustível.
Sem o sacrifício da energia ou do óleo não há luz.
Para nós, aqui, o material de manutenção é a possibilidade, o recurso, a vida.
Nossa existência é a candeia viva.
É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal.
Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos semelhantes.
Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre somente para si. Cada espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do Amor Universal.
Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais formosas e brilhantes em teus lábios; insta com parentes e amigos para que aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo.
Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa vontade, na renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 21 de junho de 2020

NÃO VIM TRAZER A PAZ, MAS A DIVISÃO


9. Não penseis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz e, sim, a espada; pois vim separar o homem de seu pai, a filha de sua mãe e a nora da sogra; e o homem terá como inimigos aqueles de sua casa. (Mateus, 10:34 a 36)
10. Vim lançar o fogo à Terra; e o que mais desejo senão que ele se acenda? Devo ser batizado com um batismo, e quão grande é minha angústia até que ele se cumpra!
Acreditais que vim trazer a paz à Terra? Não, eu vos asseguro, mas, pelo contrário, a divisão; pois, de hoje em diante, se se encontrarem cinco pessoas em uma casa, ficarão umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. O pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra. (Lucas, 12:49 a 53)
11. Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, aquele que sempre pregou o amor ao próximo, tenha dito: Não vim trazer a paz, e sim a espada; vim separar o filho do pai, o esposo da esposa; vim lançar o fogo à Terra e tenho pressa de que ele se acenda? Estas palavras não estão em flagrante contradição com seu ensinamento? Não é uma blasfêmia atribuir-lhe a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não. Não há blasfêmia nem contradição nestas palavras, pois foi exatamente Ele quem as pronunciou, e elas testemunham sua alta sabedoria. Apenas a forma causa estranheza, por não expressar exatamente seu pensamento, o que provocou enganos quanto ao seu verdadeiro sentido. Tomadas ao pé da letra, tenderiam a transformar sua missão, totalmente pacífica, em uma missão de perturbação e discórdias, consequência absurda que o bom-senso descarta, pois Jesus não podia contradizer-se.
12. Toda ideia nova encontra forçosamente oposição, e não houve uma única que se estabelecesse sem lutas. Nestes casos, a resistência é proporcional à importância dos resultados previstos, pois, quanto maior for a ideia, tanto maior será o número de interesses ameaçados. Se for notoriamente falsa, considerada sem consequências, ninguém se perturbará com ela, e a deixam passar, sabendo que não tem vitalidade. Mas se for verdadeira, se assentada em uma base sólida, se preveem futuro para ela, um secreto pressentimento adverte seus opositores de que ela é um perigo para eles e para a ordem das coisas em cuja manutenção estão interessados. Eis por que se lançam contra ela e contra seus seguidores.
A medida da importância e dos resultados de uma ideia nova se encontra, assim, na agitação emocional que seu aparecimento provoca, na violência da oposição que ela desperta, na intensidade e persistência da raiva de seus adversários.
13. Jesus vinha proclamar uma doutrina que destruiria pelas bases os abusos nos quais viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes de seu tempo; por isso o fizeram morrer, acreditando que, matando o homem, matariam a ideia, mas a ideia sobreviveu, porque era verdadeira.
Cresceu, porque estava nos desígnios de Deus, e, nascida numa pequena vila da Judéia, foi plantar sua bandeira na própria capital do mundo pagão de frente a seus inimigos mais sanguinários, daqueles que tinham o maior interesse em combatê-la, pois aniquilava as crenças seculares a que muitos se apegavam, mais por interesse do que por convicção. Lutas das mais terríveis esperavam aí seus apóstolos; as vítimas foram inumeráveis, mas a ideia cresceu sempre e saiu triunfante porque superava, como verdade, suas antecessoras.
14. É preciso observar que o Cristianismo apareceu quando o paganismo estava em decadência e se debatia contra as luzes da razão. Praticavam-no ainda por formalidade, mas a crença havia desaparecido e apenas o interesse pessoal o sustentava. O interesse é persistente; ele nunca cede à evidência; irrita-se cada vez mais, quanto mais claros e objetivos são os raciocínios que se lhe opõem e que melhor demonstram seu erro. Sabe muito bem que está errado, mas isso não o abala, visto que na sua alma não há verdadeira fé. O que mais o amedronta é a luz que abre os olhos aos cegos. O erro lhe é proveitoso; eis por que se aferra a ele e o defende.
Sócrates também não tinha formulado uma doutrina semelhante, até certo ponto, à do Cristo? Por que ela não prevaleceu naquela época, em meio a um dos povos mais inteligentes da Terra? É porque o tempo ainda não havia chegado; ele semeou em uma terra não preparada; o paganismo não estava suficientemente desgastado. O Cristo recebeu sua missão providencial no tempo determinado. Nem todos os homens de seu tempo estavam à altura das ideias cristãs, mas havia um clima mais favorável para assimilá-las, porque já se começava a sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão haviam aberto o caminho e preparado os Espíritos.
15. Infelizmente os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, a maior parte dissimulada por alegorias e figuras de linguagem. Daí nasceram, de imediato, numerosas seitas que pretendiam ter, com exclusividade, a verdade, e por séculos não puderam entrar em acordo. Esquecendo-se do mais importante dos ensinamentos divinos, aquele sobre o qual Jesus havia feito a pedra angular do seu edifício e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor ao próximo, essas seitas se amaldiçoaram mutuamente e arremeteram-se umas contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as no sangue, nas torturas e na chama das fogueiras. Os cristãos, vencedores do paganismo, de perseguidos passaram a perseguidores; foi a ferro e fogo que plantaram a cruz do Cordeiro sem mácula nos dois mundos. É um fato comprovado que as guerras religiosas foram mais cruéis e fizeram mais vítimas do que as guerras políticas; nelas cometeram-se mais atrocidades e barbarismo do que em qualquer outra.
Estaria o erro na doutrina do Cristo? Não, certamente, pois ela condena formalmente toda violência. Disse Ele alguma vez, aos seus discípulos: Ide matar, massacrar, queimar aqueles que não acreditarem como vós? Não. Ele lhes disse exatamente o contrário: Todos os homens são irmãos, e Deus é soberanamente misericordioso; amai vosso próximo; amai vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos perseguem. Ele ainda lhes disse mais: Quem matar pela espada perecerá pela espada. A responsabilidade não está, portanto, na doutrina de Jesus, mas naqueles que a interpretaram falsamente e dela fizeram um instrumento para servir às suas paixões, ignorando estas palavras: Meu reino não é deste mundo.
Jesus, em sua profunda sabedoria, previu o que devia acontecer. Estas coisas eram inevitáveis, pois decorriam da inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se instantaneamente. Foi preciso que o Cristianismo passasse por essa longa e cruel prova de dezoito séculos para mostrar toda sua força, porque, apesar de todo mal cometido em seu nome, dela saiu puro; nunca esteve em questão. A censura sempre recaiu sobre aqueles que dele abusaram e, a cada ato de intolerância, sempre se disse: Se o Cristianismo fosse melhor compreendido e melhor praticado, isso não teria acontecido.
16. Quando Jesus disse: Não acrediteis que vim trazer a paz, e sim a divisão, seu pensamento era este:
“Não acrediteis que minha doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não terão me compreendido ou não terão querido me compreender. Os irmãos, separados por suas crenças, lançarão a espada uns contra os outros, e a divisão reinará entre os membros de uma mesma família que não tiverem a mesma fé. Vim lançar o fogo à Terra para limpá-la dos erros e dos preconceitos, como se coloca fogo em um campo para destruir as ervas ruins, e tenho pressa de que se acenda para que a purificação seja mais rápida, pois a verdade sairá triunfante desse conflito. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida. Então, quando o campo estiver preparado, Eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, fazer conhecer o verdadeiro sentido de minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão, enfim, compreender, pondo fim às lutas fratricidas* que dividem os filhos do mesmo Deus. Cansados, enfim, de um combate sem solução, que só acarreta desolação e leva o distúrbio até o seio das famílias, os homens reconhecerão onde estão seus verdadeiros interesses para este mundo e para o outro. Eles verão de que lado estão os amigos e os inimigos de sua tranquilidade. Todos então virão se abrigar sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra de acordo com a verdade e os princípios que vos ensinei.”
17. O Espiritismo vem realizar no tempo determinado as promessas do Cristo. Entretanto, não pode fazê-lo sem antes destruir os erros. Como Jesus, ele encontra o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cobiça, o fanatismo cego que, cercados em suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e erguem obstáculos, entraves e perseguições; eis porque também ele precisa combater. O tempo das lutas e das perseguições sangrentas acabou, porém aquelas que ele terá de enfrentar são todas de ordem moral, e o fim de todas elas se aproxima.
As primeiras lutas do Cristianismo duraram séculos. Estas que o Espiritismo enfrentará durarão apenas alguns anos, porque a luz, ao invés de partir de um único foco, surge de todos os pontos do Globo e abrirá mais depressa os olhos aos cegos.
18. As palavras de Jesus devem, portanto, ser entendidas como referentes às discórdias que Ele previa, que sua doutrina iria provocar, aos conflitos momentâneos que surgiriam como consequência, e às lutas que teria de enfrentar antes de firmar-se, tal como aconteceu aos hebreus antes de sua entrada na Terra da Promissão, e não como decorrência de um propósito premeditado de sua parte para semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não d'Ele. Era como o médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, removendo os males do doente.

* N. E. - Fratricida: assassinato entre irmãos.

Diante da multidão

“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte...” –
(Mateus, 5:1.)

O procedimento dos homens cultos para com o povo experimentará elevação crescente à medida que o Evangelho se estenda nos corações.
Infelizmente, até agora, raramente a multidão tem encontrado, por parte das grandes personalidades humanas, o tratamento a que faz jus.
Muitos sobem ao monte da autoridade e da fortuna, da inteligência e do poder, mas simplesmente para humilhá-la ou esquecê-la depois.
Sacerdotes inúmeros enriquecem-se de saber e buscam subjugá-la a seu talante.
Políticos astuciosos exploram-lhe as paixões em proveito próprio.
Tiranos disfarçados em condutores envenenam-lhe a alma e arrojam-na ao despenhadeiro da destruição, à maneira dos algozes de rebanho que apartam as reses para o matadouro.
Juizes menos preparados para a dignidade das funções que exercem, confundem-lhe o raciocínio.
Administradores menos escrupulosos arregimentam-lhe as expressões numéricas para a criação de efeitos contrários ao progresso.
Em todos os tempos, vemos o trabalho dos legítimos missionários do bem prejudicado pela ignorância que estabelece perturbações e espantalhos para a massa popular.
Entretanto, para a comunidade dos aprendizes do Evangelho, em qualquer clima da fé, o padrão de Jesus brilha soberano.
Vendo a multidão, o Mestre sobe a um monte e começa a ensinar...
É imprescindível empenhar as nossas energias, a serviço da educação.
Ajudemos o povo a pensar, a crescer e a aprimorar-se.
Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se elevem, tanto quanto nós desejamos melhoria e prosperidade para nós mesmos, constitui para nós a felicidade real e indiscutível.
Ao leste e ao oeste, ao norte e ao sul da nossa individualidade, movimentam-se milhares de criaturas, em posição inferior à nossa.
Estendamos os braços, alonguemos o coração e irradiemos entendimento, fraternidade e simpatia, ajudando-as sem condições.
Quando o cristão pronuncia as sagradas palavras “Pai Nosso”, está reconhecendo não somente a Paternidade de Deus, mas aceitando também por sua família a Humanidade inteira.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

domingo, 14 de junho de 2020

DEIXAI OS MORTOS ENTERRAR SEUS MORTOS


7. Ele disse a um outro: Segui-me. Ele Lhe respondeu: Senhor, permiti que eu vá primeiro enterrar meu pai. Jesus lhe respondeu: Deixai os mortos enterrar seus mortos; mas, quanto a vós, ide anunciar o reino de Deus. (Lucas, 9:59 e 60)
8. O que podem significar estas palavras: Deixai os mortos enterrar seus mortos? As considerações anteriores já nos mostraram, antes de tudo, que, na ocasião em que foram pronunciadas, não podiam ser uma censura àquele que considerava um dever de piedade filial enterrar o corpo de seu pai. Portanto, elas contêm um significado mais profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual pode fazer compreender.
A vida espiritual é, de fato, a verdadeira vida, é a vida do Espírito. Sua existência terrena é apenas transitória e passageira, espécie de morte, se a compararmos ao esplendor e a atividade da vida espiritual.
O corpo é apenas uma vestimenta grosseira que reveste temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena e da qual fica feliz em se libertar. O respeito que se tem pelos mortos não se refere à matéria, mas, sim, à lembrança, ao Espírito ausente. É semelhante àquele que se tem pelos objetos que lhe pertenceram, que tocou, e os que lhe querem bem os guardam como objetos de estima. Era isso o que aquele homem não podia compreender por si mesmo, e Jesus o ensina dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, preocupai-vos antes com o Espírito; ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que sua pátria não está na Terra e sim no Céu, pois é lá que está a verdadeira vida.

O MUNDO E O MAL

“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.” —
Jesus. (JOÃO, capítulo 17, versículo 15.)

Nos centros religiosos, há sempre grande número de pessoas preocupadas com a ideia da morte. Muitos companheiros não creem na paz, nem no amor, senão em planos diferentes da Terra. A maioria aguarda situações imaginárias e injustificáveis para quem nunca levou em linha de conta o esforço próprio.
O anseio de morrer para ser feliz é enfermidade do espírito.
Orando ao Pai pelos discípulos, Jesus rogou para que não fossem retirados do mundo, e, sim, libertos do mal.
O mal, portanto, não é essencialmente do mundo, mas das criaturas que o habitam.
A Terra, em si, sempre foi boa. De sua lama brotam lírios de delicado aroma, sua natureza maternal é repositório de maravilhosos milagres que se repetem todos os dias.
De nada vale partirmos do planeta, quando nossos males não foram exterminados convenientemente. Em tais circunstâncias, assemelhamo-nos aos portadores humanos das chamadas moléstias incuráveis. Podemos trocar de residência; todavia, a mudança é quase nada se as feridas nos acompanham. Faz-se preciso, pois, embelezar o mundo e aprimorá-lo, combatendo o mal que está em nós.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

sábado, 6 de junho de 2020

ABANDONAR PAI, MÃE E FILHOS

4. Todo aquele que por amor ao meu nome deixar sua casa, seus irmãos, irmãs, pai e mãe, mulher, filhos e suas terras, receberá o cêntuplo e terá como herança a vida eterna. (Mateus, 19:29)
5. Então Pedro Lhe disse: Quanto a nós, vede que deixamos tudo e vos seguimos. Jesus lhes disse: Eu vos digo, em verdade, que não há ninguém, que tenha deixado pelo reino de Deus sua casa, pai e mãe, irmãos, mulher e seus filhos, que não receba deste mundo muito mais, e, no século futuro, a vida eterna. (Lucas, 18:28 a 30)
6. Um outro Lhe disse: Senhor, eu a vós seguirei, mas permiti-me ir primeiro dispor do que tenho em minha casa. Jesus lhe respondeu: Todo aquele que, tendo a mão no arado, olhar para trás, não é digno do reino de Deus. (Lucas, 9:61 e 62)
Sem discutir as palavras, é preciso procurar aqui o pensamento, que era evidentemente este: Os interesses da vida futura estão acima de todos os interesses e de todas as considerações humanas, porque está de acordo com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a ideia de renúncia à família seria sua negação.
Não temos, aliás, sob nossos olhos a aplicação destes ensinamentos no sacrifício dos interesses e das afeições da família pela Pátria? Condena-se um filho por deixar seu pai, mãe, irmãos, mulher e seus filhos para marchar em defesa de seu país? Não lhe é dado, ao contrário, um grande mérito por deixar as doçuras do lar, o calor das amizades, para cumprir um dever? Há, pois, deveres que se sobrepõem a outros. A lei não diz da obrigação da filha deixar seus pais e seguir seu esposo? O mundo está repleto de casos em que as separações mais dolorosas são necessárias; mas as afeições nem por isso se rompem; o afastamento não diminui nem o respeito, nem a dedicação que se deve aos pais, nem a ternura para com os filhos. Vê-se, portanto, que, até mesmo tomadas ao pé da letra, salvo a palavra odiar, aquelas expressões não seriam a negação do mandamento que determina honrar pai e mãe, nem do sentimento de ternura fraternal e, com mais forte razão ainda, se as analisarmos quanto ao seu espírito.
Elas tinham por objetivo mostrar, de forma propositadamente exagerada, o quanto era importante para o homem o dever de ocupar-se da vida futura, considerando que elas deviam ser menos chocantes para um povo e uma época em que, por força das circunstâncias, os laços de família tinham menos força do que numa civilização moralmente mais avançada. Esses laços, muito fracos nos povos primitivos, se fortificam com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral.
As separações são necessárias ao progresso, tanto nas famílias quanto nas raças, pois elas se degeneram se não há cruzamentos, se não se mesclam umas com as outras. É uma lei da Natureza, que tanto interessa ao progresso moral quanto ao progresso físico.
As coisas estão encaradas aqui somente sob o ponto de vista terreno. O Espiritismo faz com que as vejamos de maneira mais elevada, ao nos mostrar que os verdadeiros laços de afeição são os do Espírito e não os do corpo; que esses laços não se rompem nem com a separação, nem mesmo com a morte do corpo; que eles se fortificam na vida espiritual pela purificação do Espírito, verdade consoladora que nos dá uma grande força para suportar as contrariedades da vida. (Veja nesta obra Caps. 4:18; e 14:8.)

POR AMOR A DEUS

“Servindo de boa-vontade ao Senhor...”
– PAULO. (Efésios, 6:7.)

Não importa que o filho-problema te arranque lágrimas de aflição se o abraças na condição da criatura eterna que Deus te deu a encaminhar.
Não existe sofrimento na abnegação, em favor de pais incompreensivos, se a eles te consagras na certeza de que os encontraste por benfeitores a que Deus te guiou, a fim deque os entendas e auxilies no reajustamento necessário.
Não há dor no sacrifício por alguém no lar ou no grupo social se temos nesse alguém a presença de uma criatura difícil que Deus colocou em nosso caminho, para que lhe sirvamos de apoio.
Não existem lágrimas nos encargos de auxílio ao próximo, bastas vezes inçadas de aversões gratuitas, se as acolhemos por serviço que Deus nos entrega, no qual se nos apagam os impulsos da personalidade, a fim de que nos transformemos em auxílio aos semelhantes.
Aceita a responsabilidade em tuas mãos ou as provas que o tempo te trouxe por trabalho que Deus te confia, trabalhando e servindo, compreendendo e auxiliando aos outros, por amor a Deus e mais depressa te desfarás de quaisquer sombras do passado, liquidando débitos e culpas, em serviço de amor a Deus, porque o amor a Deus se te fará luz no coração, fazendo-te viver ao sol do porvir.

Livro Ceifa de Luz – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.