domingo, 28 de junho de 2020

CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE. POR QUE JESUS FALA POR PARÁBOLAS.


1. Não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire; mas ela deve ser colocada sobre um velador, a fim de que ilumine aqueles que estão na casa. (Mateus, 5:15)
2. Não há ninguém que, após ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso ou a coloque debaixo da cama; mas deve ser colocada sobre o velador, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz; pois não há nada de secreto que não deva ser descoberto, nem nada de escondido que não deva ser revelado e aparecer publicamente. (Lucas, 8:16 e 17)
3. Seus discípulos, se aproximando, disseram: Por que falais por parábolas? E respondendo, lhes disse: Porque foi dado a vós conhecer os mistérios do reino dos Céus; mas, a eles, isso não lhes foi dado. Porque, àquele que já tem, mais lhe será dado e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. Falo-lhes por parábolas, porque, vendo, não vêem e, ouvindo, não escutam e não compreendem. E neles se cumprirá a profecia de Isaías, que diz: Ouvireis com os vossos ouvidos e não escutareis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo se tornou pesado, seus ouvidos se tornaram surdos, e fecharam os olhos para que seus olhos não vejam e seus ouvidos para que não ouçam, para que seu coração não compreenda e nem se convertam permitindo que eu os cure. (Mateus, 13:10 a 15)
4. Causa estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve colocar a luz debaixo do alqueire, enquanto Ele mesmo encobre, constantemente, o sentido de suas palavras sob o véu alegórico que nem todos podem compreender. Ele se explica, ao dizer a seus apóstolos: Eu lhes falo por parábolas porque não estão ainda à altura de compreender certas coisas; vêem, olham, ouvem e não compreendem. Assim, dizer-lhes tudo seria inútil por enquanto, mas digo-o a vós porque vos foi dado compreender estes mistérios. Ele procedia, perante o povo, como se faz com as crianças cujas ideias ainda não estão desenvolvidas.
Dessa maneira, indica o verdadeiro sentido do seu ensinamento: Não se deve colocar a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o velador, a fim de que todos aqueles que entrem possam ver a luz, isto é, não é prudente revelar precipitadamente todos os conhecimentos, pois o ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem se dirige, porque há pessoas para as quais a luz muito viva ofusca sem esclarecer.
Acontece com a sociedade em geral o mesmo que com os indivíduos.
As gerações passam pela infância, pela juventude e pela idade madura; cada coisa deve vir a seu tempo, já que o grão semeado fora da época do plantio não germina. Mas o que a prudência manda calar momentaneamente deve, cedo ou tarde, ser descoberto, pois, atingindo um certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; as trevas da ignorância lhes pesam. Tendo Deus lhes dado a inteligência para compreender, e para se guiarem por entre as coisas da Terra e do Céu, eles tratam de raciocinar, refletir sobre a sua fé; por isso é que não se deve colocar a candeia debaixo do alqueire, pois, sem a luz da razão, a fé se enfraquece.
5. Se, em sua prudente sabedoria, a Providência só revela as verdades gradualmente, sempre as desvendará à medida que a Humanidade esteja madura para recebê-las. Mantendo-as em reserva e não debaixo do alqueire. Porém, quando os homens as possuem, as escondem do povo a maior parte do tempo, apenas com o intuito de dominá-lo, são estes os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. Foi por isso que todas as religiões tiveram seus mistérios cujo exame proíbem. Mas, enquanto essas religiões permaneciam atrasadas, a Ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu dos mistérios. O povo, atingindo a maturidade, quis conhecer os mistérios a fundo, e então eliminou de sua fé o que era contrário à observação.
Não pode haver mistérios absolutos, e Jesus está com a razão quando diz que não há nada de secreto que não deva ser revelado.
Tudo o que está oculto será um dia descoberto, e o que o homem ainda não pode compreender na Terra lhe será sucessivamente revelado em mundos mais avançados e quando estiver purificado. Aqui, na Terra, ele ainda está em meio ao nevoeiro.
6. Pergunta-se: Que proveito o povo poderia tirar dessa quantidade de parábolas cujo sentido era indecifrável? Devemos considerar que apenas nas questões de mais difícil compreensão da sua doutrina Jesus falou de modo velado, principalmente por parábolas. Mas, a respeito da caridade para com o próximo e da humildade, em tudo o que disse, foi claro e objetivo, não deixando dúvidas, já que elas são condições básicas de salvação. Devia ser assim porque se tratava de uma regra de conduta, regra que todos deviam compreender para poder cumpri-la.
Era o essencial para um povo inculto ao qual se limitava a dizer: Eis o que é preciso fazer para ganhar o reino dos Céus. Sobre as outras partes, Ele desenvolvia seu pensamento apenas junto aos discípulos, que estavam mais avançados moral e intelectualmente, e Jesus podia ensinar-lhes conhecimentos mais avançados. Foi assim que disse: Àqueles que já têm, será dado ainda mais. (Veja nesta obra Cap. 18:15.)
Entretanto, Jesus, mesmo com os seus apóstolos, tratou de modo vago muitos pontos, cuja completa compreensão estava reservada a tempos futuros. Foram estes pontos que deram lugar a interpretações tão diversas, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da Natureza, possibilitando a compreensão do verdadeiro sentido das suas parábolas.
7. O Espiritismo vem lançar luz sobre uma série de pontos de difícil entendimento. Entretanto, não o faz imprudentemente. Os Espíritos, em suas instruções, procedem com uma admirável prudência: apenas sucessiva e gradualmente abordam as diversas partes já conhecidas da Doutrina, e é assim que as outras partes serão ainda reveladas, à medida que o momento de fazê-las vir à luz tiver chegado. Se a houvessem revelado completa desde o início, seria acessível apenas a um pequeno número de pessoas, e assim teria assustado e afastado aqueles que não estivessem preparados para entendê-la, o que teria prejudicado a sua propagação. Se os Espíritos ainda não dizem tudo abertamente, não é por que haja na Doutrina mistérios reservados a privilegiados, nem por que coloquem a candeia debaixo do alqueire.
Mas porque cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles dão a cada ideia o tempo de amadurecer e de se propagar antes de apresentarem uma outra, e dão aos acontecimentos o tempo de lhes preparar a aceitação.

* N. E. - Candeia: pequeno aparelho de iluminação abastecido com óleo.
* N. E. - Velador: suporte alto, onde se põe o candeeiro ou a vela.
* N. E. - "Alqueire" aqui é um uso antiquado para "vaso", "pote" ou "vasilhame".

A CANDEIA VIVA

“Ninguém acende a candeia e a coloca debaixo do médio,
mas no velador, e assim alumia a todos os que estão
na casa.” – Jesus. (Mateus, 5:15.)

Muitos aprendizes interpretaram semelhantes palavras do Mestre como apelo à pregação sistemática e desvairaram-se através de veementes discursos em toda parte. Outros admitiram que o Senhor lhes impunha a obrigação de violentar os vizinhos, através de propaganda compulsória da crença, segundo o ponto de vista que lhes é particular.
Em verdade o sermão edificante e o auxílio fraterno são indispensáveis na extensão dos benefícios divinos da fé.
Sem a palavra, é quase impossível a distribuição do conhecimento.
Sem o amparo irmão, a fraternidade não se concretizará no mundo. A assertiva de Jesus, todavia, atinge mais além.
Atentemos para o símbolo da candeia. A claridade na lâmpada consome força ou combustível.
Sem o sacrifício da energia ou do óleo não há luz.
Para nós, aqui, o material de manutenção é a possibilidade, o recurso, a vida.
Nossa existência é a candeia viva.
É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal.
Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos semelhantes.
Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre somente para si. Cada espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do Amor Universal.
Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais formosas e brilhantes em teus lábios; insta com parentes e amigos para que aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo.
Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa vontade, na renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar.

Livro Fonte Viva – Espírito Emmanuel – Médium Francisco Cândido Xavier.

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