domingo, 31 de outubro de 2021

BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE TÊM OS OLHOS FECHADOS

Vianney, Cura de Ars - Paris, 1863

20. Meus bons amigos, por que me chamastes? Será para que eu imponha as mãos sobre esta pobre sofredora que está aqui e curá-la? Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a visão, e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ore e espere. Não sei fazer milagres sem a vontade do bom Deus. Todas as curas que pude obter e que vos foram anunciadas devem ser atribuídas apenas ao Senhor, Pai de todos nós.

Em vossas aflições, portanto, olhai sempre o Céu e dizei, do fundo de vosso coração: “Meu Pai, curai-me, mas fazei com que minha alma doente seja curada antes das enfermidades de meu corpo; que minha carne seja castigada se for preciso, para que minha alma se eleve até vós com a brancura que tinha quando a criastes.” Após esta prece, meus bons amigos, que o bom Deus sempre ouvirá, a força e a coragem vos serão dadas e talvez também a cura que pedistes apenas timidamente, como recompensa ao vosso devotamento.

Mas, uma vez que estou aqui, em uma assembleia onde se trata, acima de tudo, de estudos, eu vos direi que aqueles que estão privados da visão deveriam considerar-se como os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse que seria preciso arrancar vosso olho se ele fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo do que ser a causa de vossa perdição. Quantos há em vossa Terra que amaldiçoarão um dia, nas trevas, terem visto a luz! Como são felizesos que, na expiação, são atingidos na vista! Seu olho não será de modo algum motivo de escândalo e de queda. Podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais do que vós, que vedes claramente... Quando Deus me permite abrir as pálpebras de algum desses pobres sofredores e lhes devolver a visão, digo a mim mesmo: alma querida, por que tu não conheces todas as delícias do Espírito, que vive de meditação e de amor? Então, não pedirias para ver imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que podes perceber em tua cegueira.

Bem-aventurado o cego que quer viver com Deus! Mais feliz do que vós que estais aqui, ele sente a alegria, pode tocá-la, vê as almas e pode se lançar com elas nas esferas espirituais, que nem mesmo os predestinados da Terra conseguem ver. O olho aberto está sempre pronto a fazer com que a alma caia; o olho fechado, pelo contrário, está sempre pronto a fazê-la se elevar a Deus. Acreditai em mim, meus bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, enquanto a visão é, frequentemente, o anjo tenebroso que conduz à morte.

E agora, algumas palavras para ti, minha pobre sofredora: Espera e tem coragem! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão se abrir, como ficarias feliz! E quem sabe se esta alegria não te poria a perder? Tem confiança no bom Deus que fez a felicidade e permite a tristeza! Farei por ti tudo o que me for permitido; mas, por tua vez, ora e reflete sobre o que acabo de te dizer.

Antes que me afaste, vós que estais aqui, recebei minha bênção.

21 Nota: Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, é preciso procurar a sua causa em uma vida anterior. O que chamamos de caprichos da sorte nada mais são do que os efeitos da justiça de Deus, que não aplica punições injustas e determina que, entre a falta e a pena, sempre haja uma relação. Se, em sua bondade, lançou um véu sobre nossos atos passados, aponta-nos, entretanto, o caminho, dizendo: “Quem matou pela espada, pela espada morrerá”. Palavras que podem ser traduzidas assim: “Sempre se é punido naquilo em que se pecou”. Se, porém, alguém é afligido pela perda da visão, é que a visão foi para ele um motivo de queda. Talvez também tenha sido o motivo da perda da visão para um outro; talvez alguém tenha se tornado cego pelo excesso de trabalho que lhe impôs, ou em consequência de maus tratos, de falta de cuidado, etc. É desse modo que ele sofre agora a pena de talião. Ele mesmo, em seu arrependimento, pôde escolher essa expiação, aplicando a si próprio estas palavras de Jesus: Se teu olho é motivo de escândalo, arranca-o.

* N. E. - “Os erros explicados se transformarão em verdades.” Erros são erros, nunca se transformarão em verdades. O sentido deve ser este: Os erros que vos foram apresentados como verdades cairão. A verdade triunfará.

* N. E. - “E eis aqui o seu enviado, que vai resplandecer...” Também aqui ficamos fiéis ao texto original, porém, o sentido deve ser este: Eis-me aqui (João), como seu enviado, ela, a manifestação Espírita, resplandecerá como o Sol acima das montanhas. (Veja nesta obra Cap.6.6.)

(1) Esta comunicação foi dada a respeito de uma pessoa cega, para a qual havia sido evocado o Espírito de J. B. Vianney, Cura de Ars.

NA PRESENÇA DO AMOR

“Aquele que ama a seu irmão está na luz e nele não há escândalo.”

João. (1ª Epístola de João, 2:10.)

Quem ama o próximo sabe, acima de tudo, compreender. E quem compreende sabe livrar os olhos e os ouvidos do venenoso visco do escândalo, a fim de ajudar, ao invés de acusar ou desservir.

É necessário trazer o coração sob a luz da verdadeira fraternidade, para reconhecer que somos irmãos uns dos outros, filhos de um só Pai.

Enquanto nos demoramos na escura fase do apego exclusivo a nós mesmos, encarceramo-nos no egoísmo e exigimos que os outros nos amem. Nesse passo infeliz, não sabemos querer senão a nós próprios, tomando os semelhantes por instrumentos de nossa satisfação.

Mas se realmente amamos o companheiro de caminho, a paisagem de vida se modifica, de vez que a claridade do amor nos banhará a visão.

Ama, pois, e assim como a lama jamais ofende a luz, a ofensa não mais te alcançará.

Saberás que a miséria é fruto da ignorância e auxiliarás a vítima do mal, nela encontrando o próprio irmão necessitado de apoio e entendimento.

Aprenderás a ouvir sem revolta, ainda mesmo que o crime te procure os ouvidos, e cultivarás a ajuda ao adversário, ainda mesmo quando te vejas dilacerado, porque o perdão com esquecimento absoluto dos golpes recebidos surgirá espontâneo em teu espírito, assim como a tolerância aparece natural na fonte que acolhe no próprio seio as pedras que lhe atiram.

Ama e compreenderás.

Compreende e servirás sempre mais cada dia, porque então permanecerás sob a glória da luz, inacessível a qualquer incursão das trevas.                                                     

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 24 de outubro de 2021

ESCÂNDALOS. SE VOSSA MÃO É MOTIVO DE ESCÂNDALO, CORTAI-A.

11. Aquele que escandalizar, porém, a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande mó* e o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é necessário que sucedam escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo. Ora, se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-o e lança-o fora de ti. Melhor te é entrar na vida manco ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo do inferno. E se o teu olho te escandaliza, tira-o, e lança-o fora de ti. Melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois, seres lançado no fogo do inferno. Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos declaro que os seus anjos no Céu, incessantemente, estão vendo a face de meu Pai, que está nos Céus. Porque o Filho do Homem veio salvar o que havia perecido. (Mateus, 18: 6 a 11)

E se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti; porque melhor te é que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo ser lançado no inferno. E se a tua mão direita te serve de escândalo, corta-a e lança-a fora de ti; porque melhor te é que se perca um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. (Mateus, 5: 29 e 30)

12. No sentido vulgar, escândalo é tudo aquilo que choca a moral ou as regras da sociedade de uma maneira evidente, que atrai as atenções. O escândalo não está na ação em si mesma e sim na repercussão que ela pode ter. A palavra escândalo está sempre associada à ideia de um certo tumulto e alvoroço. Muitas pessoas se contentam em evitar o escândalo, pois seu orgulho sofreria com isso, sua reputação seria diminuída entre os homens. Contanto que suas maldades sejam ocultadas, isso lhes basta e sua consciência fica tranquila. Estes são, conforme as palavras de Jesus, sepulcros caiados por fora, mas cheios de podridão por dentro; vasos limpos por fora e sujos por dentro. É muito amplo o significado da palavra escândalo, tantas vezes usada no Evangelho, e precisamos compreender o seu alcance. Escândalo não é somente o que ofende a consciência dos outros, é também tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições dos homens, toda reação má de indivíduo para indivíduo, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o resultado efetivo do mal moral.

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA

“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.”

(TIAGO, capítulo 4, versículo 8.)

Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.

O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.

Em regra geral somos todos portadores de graves deficiências íntimas, necessitadas de retificação.

Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.

Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.

O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão-somente à custa de palavras brilhantes.

Livro Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 17 de outubro de 2021

VERDADEIRA PUREZA. MÃOS NÃO LAVADAS.

8. Então os escribas e os fariseus que tinham vindo de Jerusalém se aproximaram de Jesus e disseram: Por que vossos discípulos violam a tradição dos antigos? Por que eles não lavam as mãos quando tomam suas refeições?

Jesus lhes respondeu: Por que, vós mesmos, violais o mandamento de Deus para seguir a vossa tradição? Porque Deus disse: Honra a teu pai e à tua mãe, e o que amaldiçoar a seu pai ou à sua mãe, morra de morte. Vós outros, porém, dizeis: Qualquer um que disser a seu pai ou à sua mãe: toda oferta que faço a Deus te aproveitará a ti, está cumprindo a lei. Pois é certo que o tal não honrará a seu pai ou à sua mãe. Assim é que vós tendes feito vão o mandamento de Deus, pela vossa tradição.

Hipócritas, bem profetizou Isaías de vós outros, quando disse: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens.

E chamando a si o povo, lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem. Então, chegando-se a Ele, os discípulos disseram: Os fariseus, depois que ouviram o que disseste, ficaram escandalizados. Ele lhes disse: Toda planta que meu Pai não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os; são cegos e condutores de cegos. E se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no abismo. E Pedro Lhe disse: Explica-nos essa parábola. E respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência? Não compreendeis que tudo que entra pela boca desce ao ventre e se lança depois num lugar escuso? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo; porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O comer, porém, com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem. (Mateus, 15:1 a 20)

9. Enquanto falava, um fariseu pediu-Lhe que jantasse em sua casa; e Jesus, indo até lá, colocou-se à mesa. O fariseu começou então a dizer a si próprio: Por que Ele não lavou as mãos antes do jantar? Mas o Senhor lhe disse: Vós outros, fariseus, tendes grande cuidado em limpar o exterior do copo e do prato, mas o interior de vossos corações está repleto de

roubos e iniqüidades. Como sois insensatos! Aquele que fez o exterior também não fez o interior? (Lucas, 11:37 a 40)

10. Os judeus haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus, para se apegarem à prática dos regulamentos estabelecidos pelos homens, fazendo da sua prática rígida caso de consciência.

Qualquer ensinamento, ainda que fosse de compreensão simples, tornava-se complicado por causa das exigências formais exteriores. Como era mais fácil seguir essa práticas do que realizar a reforma moral e íntima, isto é, lavar as mãos do que limpar seu coração, os homens se iludiam a si mesmos e acreditavam estar quites para com Deus.

Acomodavam-se, assim, às práticas exteriores, continuando a ser como eram, já que era-lhes ensinado que Deus não pediria mais nada do que isso. Eis porque o profeta dizia: É em vão que este povo me honra com os lábios, ensinando mandamentos e leis dos homens. (Isaías, 29:13)

Assim também aconteceu com a doutrina moral do Cristo, que acabou sendo colocada para trás, esquecida, a exemplo do que haviam feito os antigos judeus, que acreditavam que sua salvação era mais garantida pelas práticas exteriores do que pelas morais. É a esses acréscimos, feitos pelos homens à Lei de Deus, que Jesus se refere quando disse: Toda planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada pela raiz.

O propósito da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem só chega a Deus quando está perfeito; portanto, toda religião que não torna o homem melhor não atinge seu objetivo, e aquela sobre a qual o homem pensa poder se apoiar para fazer o mal ou é falsa, ou foi falsificada em seus fundamentos, e é esse o resultado a que chegam todas aquelas em que a forma se impõe ao fundo*. A crença, seja ela qual for, na eficiência dos símbolos exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios, roubos, calúnias e o mal ao

próximo. Ela faz supersticiosos, hipócritas ou fanáticos; mas não faz homens de bem.

Não basta, portanto, ter aparência de pureza; é preciso, antes de mais nada, ter a pureza de coração.

REPAREMOS NOSSAS MÃOS

“... Mostrou-lhes as suas mãos...” – (João, 20:20.)

Reaparecendo aos discípulos, depois da morte, eis que Jesus, ao se identificar, lhes deixa ver o corpo ferido, mostrando-lhes destacadamente as mãos...

As mãos que haviam restituído a visão aos cegos, levantado paralíticos, curado enfermos e abençoado velhinhos e crianças, traziam as marcas do sacrifício.

Traspassadas pelos cravos da cruz, lembravam-lhe a suprema renúncia.

As mãos do Divino Trabalhador não recolheram do mundo apenas calos do esforço intensivo na charrua do bem. Receberam feridas sanguinolentas e dolorosas...

O ensinamento recorda-nos a atividade das mãos em todos os recantos do Globo.

O coração inspira.

O cérebro pensa.

As mãos realizam.

Em toda parte, agita-se a vida humana pelas mãos que comandam e obedecem.

Mãos que dirigem, que constroem, que semeiam, que afagam, que ajudam e que ensinam... E mãos que matam, que ferem, que apedrejam, que batem, que incendeiam, que amaldiçoam ...

Todos possuímos nas mãos antenas vivas por onde se nos exterioriza a vida espiritual.

Reflete, pois, sobre o que fazes, cada dia.

Não olvides que, além da morte, nossas mãos exibem os sinais da nossa passagem pela Terra.

As do Cristo, o Eterno Benfeitor, revelavam as chagas obtidas na divina lavoura do amor. As tuas, amanhã, igualmente falarão de ti, no mundo espiritual, onde, interrompida a experiência terrestre, cada criatura arrecada as bênçãos ou as lições da vida, de acordo com as próprias obras.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.

domingo, 10 de outubro de 2021

PECADO POR PENSAMENTO. ADULTÉRIO.

5. Vós aprendestes o que foi dito aos antigos: Não cometereis adultério. Mas eu vos digo que qualquer um que tiver olhado para uma mulher cobiçando-a, já, em seu coração, cometeu adultério. (Mateus, 5:27 e 28)

6. A palavra adultério não deve ser entendida aqui no sentido que lhe é próprio, mas sim num sentido mais geral. Jesus empregou-a, muitas vezes, com um sentido mais amplo se referindo ao mal, ao pecado, e todo e qualquer mau pensamento, como ocorre, por exemplo, nesta passagem: Porque, se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras dentre esta geração adúltera e pecadora, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai. (Marcos, 8:38)

A verdadeira pureza não está apenas nos atos; está também no pensamento, pois, aquele que tem puro o coração nem mesmo pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer ao condenar o pecado, mesmo em pensamento, porque é um sinal de impureza.

7. Este ensinamento levanta uma questão, e se pergunta: Sofremos as consequências de um mau pensamento que não produziu nenhum efeito?

Cabe fazer aqui uma importante distinção. À medida que a alma, comprometida no mau caminho, avança na vida espiritual, vai-se esclarecendo e se desfaz pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor boa-vontade que o homem emprega, em razão do seu livre-arbítrio. Todo mau pensamento é, portanto, o resultado da imperfeição da alma, mas, de acordo com o desejo que tiver de se purificar, até mesmo este mau pensamento torna-se para ela um motivo de progresso, pois o repele com energia. É um sinal de esforço para se apagar uma imperfeição. Desta forma, não cederá à tentação de satisfazer um mau desejo e, após ter resistido, se sentirá mais forte e alegre com a sua vitória.

Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções e ainda procura a ocasião de realizar um mau ato, se não o fizer, não será por não querer, mas, sim, pela falta de oportunidade favorável; ela é, assim, tão culpada quanto se o tivesse praticado.

Resumindo: a pessoa que nem sequer tem o pensamento do mal já realizou um progresso; para aquela que tem esse pensamento, mas o repele, o progresso está em vias de realizar-se. Aquela que, enfim, tem esse pensamento, e nele se satisfaz, é porque o mal ainda exerce nela toda a sua influência. Numa, o trabalho está feito; na outra, está por fazer. Deus, que é justo, leva em conta todas essas diferenças, ao responsabilizar os atos e os pensamentos do homem.


IMPEDIMENTOS

“Deixemos todo impedimento e pecado que tão de perto nos rodeiam e corramos com perseverança à carreira que nos está proposta.” – Paulo. (Hebreus, 12:1.)

O grande apóstolo da gentilidade figura o trabalho cristão como sendo uma carreira da alma, no estádio largo da vida.

Paulo, naturalmente, em recorrendo a essa imagem, pensava nos jogos gregos de sua época e, sem nos referirmos ao entusiasmo e à emulação benéfica que devem presidir semelhante esforço, recordemos tão-somente o ato inicial dos competidores.

Cada participante do prélio despia a roupagem exterior para disputar a partida com indumentária tão leve quanto possível.

Assim, também, na aquisição de vida eterna, é imprescindível nos desfaçamos da indumentária asfixiante do espírito.

É necessário que o coração se faça leve, alijando todo fardo inútil.

Na claridade da Boa Nova, o discípulo encontra-se à frente do Mestre, investido de obrigações santificantes para com todas as criaturas.

As inibições contra a carreira vitoriosa costumam aparecer todos os dias. Temo-las, com frequência, nos mais insignificantes passos do caminho.

A cada hora surge o impedimento inesperado.

É o parente frio e incompreensivo.

A secura dos corações ao redor de nós.

O companheiro que desertou.

A mulher que desapareceu, perseguindo objetivos inferiores.

O amigo que se iludiu nas ilhas de repouso, deliberando atrasar a jornada.

O cooperador que a morte levou consigo.

O ódio gratuito.

A indiferença aos apelos do bem.

A perseguição da maldade.

A tormenta da discórdia.

A Boa Nova, porém, oferece ao cristão a conquista da glória divina.

Se quisermos alcançar a meta, ponhamos de lado todo impedimento e corramos, com perseverança, na prova de amor e luz que nos está proposta.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier. 

domingo, 3 de outubro de 2021

DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS

1. Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. (Mateus, 5:8)

2. Apresentaram a Jesus então umas criancinhas, a fim de que Ele as tocasse. E como seus discípulos repelissem com palavras rudes aqueles que as apresentavam, Jesus vendo isso repreendeu-os e lhes disse: Deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçais; pois o reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham. Eu vos digo, em verdade, que todo aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará. E tendo-as abraçado, abençoou-as impondo-lhes as mãos*. (Marcos, 10:13 a 16)

3. A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Ela exclui todo pensamento egoísta e orgulhoso. É por isso que Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza, como a tinha tomado para o da humildade.

Esta comparação poderia parecer injusta, se considerássemos que o Espírito da criança pode ser muito antigo e que traz ao renascer, para a vida corporal, as imperfeições das quais não se libertou nas existências anteriores. Somente um Espírito que tivesse atingido a perfeição poderia nos dar o modelo da verdadeira pureza. Mas ela é exata do ponto de vista da vida presente, pois a criança, não podendo ainda manifestar nenhuma tendência perversa, oferece-nos a imagem da inocência e da candura. Além do que, Jesus não diz de uma maneira categórica e absoluta que o reino de Deus é para elas, mas sim para aqueles que se lhes assemelham.

4. Uma vez que o Espírito da criança já viveu outras encarnações, por que não se mostra, desde o nascimento, tal como é? Tudo é sabedoria na obra de Deus. A criança tem necessidade de cuidados delicados que somente a ternura maternal pode lhe dar, e essa ternura se torna mais necessária diante da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo, e é preciso que seja assim para cativar sua solicitude. Ela não teria o mesmo devotamento se, no lugar da graça ingênua, sentisse, sob traços infantis, um caráter viril e as ideias de um adulto, e muito menos se conhecesse o seu passado.

Aliás, é preciso que a atividade do princípio inteligente seja proporcional à fraqueza do corpo, que não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, assim como vemos nas crianças precoces.

É por isso que, na proximidade da encarnação, o Espírito, entrando em perturbação, perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, durante um certo período, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas capacidades permanecem adormecidas. Esse estado transitório é necessário para dar ao Espírito um novo ponto de partida e fazê-lo esquecer, em sua nova existência terrena, as coisas que pudessem atrapalhá-lo. Entretanto, seu passado reage sobre ele e, desse modo, renasce para uma vida maior, mais forte moral e intelectualmente, sustentado e acompanhado pela intuição que conserva da experiência adquirida.

A partir do nascimento, suas ideias retomam gradualmente seu impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos. Daí pode-se dizer que, durante os primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, pois as ideias que formam a qualidade de seu caráter ainda estão adormecidas.

Durante esse tempo em que seus instintos dormitam, ele é mais flexível e, por isso mesmo, mais acessível às impressões que podem modificar sua natureza e fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa dos pais. O Espírito veste, pois, por um tempo, a roupagem da inocência, e Jesus sabe dessa verdade quando, apesar da anterioridade da alma, toma a criança como símbolo da pureza e da simplicidade.

NÃO SOMENTE

“Nem só de pão vive o homem.” – Jesus. (Mateus, 4:4.)

Não somente agasalho que proteja o corpo, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma.

Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos.

Não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras.

Não somente a cirurgia que extirpa o defeito orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito íntimo.

Não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável.

Não apenas os títulos honrosos que ilustram a personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta objetiva, que enriqueçam a consciência eterna.

Não somente claridade para os olhos mortais, mas também luz divina para o entendimento imperecível.

Não só aspecto agradável, mas igualmente utilidade viva.

Não apenas flores, mas também frutos. Não somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa.

Não só teoria excelente, mas também prática santificante.

Não apenas nós, mas igualmente os outros.

Disse o Mestre: – “Nem só de pão vive o homem.”

Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo.

Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.

Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.