Vianney, Cura de Ars - Paris, 1863
20. Meus bons amigos, por que me chamastes? Será para que eu imponha as mãos sobre esta pobre sofredora que está aqui e curá-la? Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a visão, e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ore e espere. Não sei fazer milagres sem a vontade do bom Deus. Todas as curas que pude obter e que vos foram anunciadas devem ser atribuídas apenas ao Senhor, Pai de todos nós.
Em vossas aflições, portanto, olhai
sempre o Céu e dizei, do fundo de vosso coração: “Meu Pai, curai-me, mas fazei
com que minha alma doente seja curada antes das enfermidades de meu corpo; que minha
carne seja castigada se for preciso, para que minha alma se eleve até vós com a
brancura que tinha quando a criastes.” Após esta prece, meus bons amigos, que o
bom Deus sempre ouvirá, a força e a coragem vos serão dadas e talvez também a
cura que pedistes apenas timidamente, como recompensa ao vosso devotamento.
Mas, uma vez que estou aqui, em uma
assembleia onde se trata, acima de tudo, de estudos, eu vos direi que aqueles
que estão privados da visão deveriam considerar-se como os bem-aventurados da expiação.
Lembrai-vos de que o Cristo disse que seria preciso arrancar vosso olho se ele
fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo do que ser a causa de vossa
perdição. Quantos há em vossa Terra que amaldiçoarão um dia, nas trevas, terem
visto a luz! Como são felizesos que, na expiação, são atingidos na vista! Seu
olho não será de modo algum motivo de escândalo e de queda. Podem viver inteiramente
a vida das almas; podem ver mais do que vós, que vedes claramente... Quando
Deus me permite abrir as pálpebras de algum desses pobres sofredores e lhes
devolver a visão, digo a mim mesmo: alma querida, por que tu não conheces todas
as delícias do Espírito, que vive de meditação e de amor? Então, não pedirias
para ver imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que podes perceber em
tua cegueira.
Bem-aventurado o cego que quer viver
com Deus! Mais feliz do que vós que estais aqui, ele sente a alegria, pode
tocá-la, vê as almas e pode se lançar com elas nas esferas espirituais, que nem
mesmo os predestinados da Terra conseguem ver. O olho aberto está sempre pronto
a fazer com que a alma caia; o olho fechado, pelo contrário, está sempre pronto
a fazê-la se elevar a Deus. Acreditai em mim, meus bons e caros amigos, a
cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, enquanto a
visão é, frequentemente, o anjo tenebroso que conduz à morte.
E agora, algumas palavras para ti,
minha pobre sofredora: Espera e tem coragem! Se eu te dissesse: Minha filha,
teus olhos vão se abrir, como ficarias feliz! E quem sabe se esta alegria não
te poria a perder? Tem confiança no bom Deus que fez a felicidade e permite a
tristeza! Farei por ti tudo o que me for permitido; mas, por tua vez, ora e
reflete sobre o que acabo de te dizer.
Antes que me afaste, vós que estais
aqui, recebei minha bênção.
21 Nota: Quando
uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, é preciso procurar a
sua causa em uma vida anterior. O que chamamos de caprichos da sorte nada mais
são do que os efeitos da justiça de Deus, que não aplica punições injustas e determina
que, entre a falta e a pena, sempre haja uma relação. Se, em sua bondade,
lançou um véu sobre nossos atos passados, aponta-nos, entretanto, o caminho,
dizendo: “Quem matou pela espada, pela espada morrerá”. Palavras que podem ser
traduzidas assim: “Sempre se é punido naquilo em que se pecou”. Se, porém, alguém
é afligido pela perda da visão, é que a visão foi para ele um motivo de queda.
Talvez também tenha sido o motivo da perda da visão para um outro; talvez
alguém tenha se tornado cego pelo excesso de trabalho que lhe impôs, ou em
consequência de maus tratos, de falta de cuidado, etc. É desse modo que ele
sofre agora a pena de talião. Ele mesmo, em seu arrependimento, pôde escolher essa
expiação, aplicando a si próprio estas palavras de Jesus: Se teu olho é motivo
de escândalo, arranca-o.
* N. E. - “Os erros explicados se transformarão em verdades.” Erros são erros, nunca se transformarão em verdades. O sentido deve ser este: Os erros que vos foram apresentados como verdades cairão. A verdade triunfará.
* N. E. - “E eis aqui o seu enviado, que vai resplandecer...” Também aqui ficamos fiéis ao texto original, porém, o sentido deve ser este: Eis-me aqui (João), como seu enviado, ela, a manifestação Espírita, resplandecerá como o Sol acima das montanhas. (Veja nesta obra Cap.6.6.)
(1) Esta comunicação foi dada a
respeito de uma pessoa cega, para a qual havia sido evocado o Espírito de J. B.
Vianney, Cura de Ars.
NA PRESENÇA DO AMOR
“Aquele que ama a seu irmão está na luz e nele
não há escândalo.”
João. (1ª Epístola de João, 2:10.)
Quem ama o próximo sabe, acima de tudo, compreender. E quem compreende sabe livrar os olhos e os ouvidos do venenoso visco do escândalo, a fim de ajudar, ao invés de acusar ou desservir.
É necessário trazer o coração sob a luz da
verdadeira fraternidade, para reconhecer que somos irmãos uns dos outros,
filhos de um só Pai.
Enquanto nos demoramos na escura fase do
apego exclusivo a nós mesmos, encarceramo-nos no egoísmo e exigimos que os outros
nos amem. Nesse passo infeliz, não sabemos querer senão a nós próprios, tomando
os semelhantes por instrumentos de nossa satisfação.
Mas se realmente amamos o companheiro de
caminho, a paisagem de vida se modifica, de vez que a claridade do amor nos banhará
a visão.
Ama, pois, e assim como a lama jamais ofende
a luz, a ofensa não mais te alcançará.
Saberás que a miséria é fruto da ignorância e
auxiliarás a vítima do mal, nela encontrando o próprio irmão necessitado de apoio
e entendimento.
Aprenderás a ouvir sem revolta, ainda mesmo
que o crime te procure os ouvidos, e cultivarás a ajuda ao adversário, ainda mesmo
quando te vejas dilacerado, porque o perdão com esquecimento absoluto dos
golpes recebidos surgirá espontâneo em teu espírito, assim como a tolerância
aparece natural na fonte que acolhe no próprio seio as pedras que lhe atiram.
Ama e compreenderás.
Compreende e servirás sempre mais cada dia, porque então permanecerás sob a glória da luz, inacessível a qualquer incursão das trevas.
Livro Fonte Viva – Emmanuel – Médium Chico Xavier.
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