domingo, 26 de maio de 2019

OS ÓRFÃOS


Um Espírito Familiar - Paris, 1860

18. Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis o quanto é triste estar só e abandonado, principalmente na infância! Deus permite que haja órfãos para nos animar a lhes servir de pais. Que divina caridade é ajudar uma pobre e pequena criatura abandonada, impedi-la de sofrer fome e frio, conduzir sua alma a fim de que ela não se perca no vício! Quem estende a mão à criança abandonada agrada a Deus, pois compreende e pratica sua lei. Considerai também que, muitas vezes, a criança que socorreis vos foi querida noutra encarnação e, se caso pudésseis vos lembrar, isso não seria mais caridade e sim um dever. Assim, portanto, meus amigos, todo ser que sofre é vosso irmão e tem o direito à vossa caridade, mas não aquela caridade que fere o coração, não aquela esmola que queima a mão que a recebe, pois vossas esmolas são, muitas vezes, bem amargas! Quantas vezes seriam recusadas se, em casa, a doença e a miséria não precisassem delas! Dai delicadamente, acrescentai à vossa dádiva o mais precioso de todos os benefícios: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse tom de proteção que fere o coração já aflito e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.

ORFANDADE
(Emmanuel)

Realmente, não há desamparado diante do Senhor, mas há uma espécie de orfandade que nos convoca em toda parte, maiores reflexões, quanto ao dever de amparar a vida que nos cerca.
Referimo-nos às necessidades múltiplas que nos reclamam o esforço e a tolerância na Pratica efetiva do bem.
Em verdade, será sempre louvável a construção de casas e refúgios, creches e hospitais, onde as crianças sem lar encontrem abrigo e medicação.
Todavia, não olvidemos o mundo das criaturas inferiores e das coisas, aparentemente sem importância, que nos rodela.
Aí, vemos quadros inquietantes que efetivamente nos ensombram e afligem.
Não é somente o painel escuro do irmão em Humanidade, que vagueia sem rumo, a única porta de dor a pedir no trabalho assistencial.
É também a terra empobrecida, necessitada de adubo e sementeira vivificante.
É a árvore benfeitora, relegada ao abandono.
É a fonte intoxicada, que nos solicita proteção e carinho.
É a casa desmantelada, rogando atenção e limpeza.
É a via pública que nos compete defender e respeitar, pedindo-nos bondade e higiene.
É o animal que nos auxilia, endereçado por nossa inconsequência ao cansaço, sede e fome, suplicando nos alimento e repouso.
É a ferramenta que sentenciamos à ferrugem e ao esquecimento prejudicial.
A essa orfandade triste, que nos desafia, em todos os setores da luta terrestre, podemos prestar o melhor concurso, — o concurso da bondade silenciosa e diligente, — que nos trará a resposta do progresso e do bem-estar de todos.
Não esquecer que somos responsáveis pela região de serviço que nos sustenta.
Não condenes orfandade os instrumentos de trabalho em que a tua missão na Terra se desenvolve.
Cuida de assistir aos seres e às coisas do próprio caminho, com os mais elevados sentimentos do coração, e receberás a constante assistência da Bondade Divina, — luz da vida a brilhar perenemente no caminho de todos.

Livro Fonte de Paz – Chico Xavier – Espíritos Diversos.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

A PIEDADE


Michel - Bordeaux, 1862

17. A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos, ela é irmã da caridade que vos conduz a Deus. Deixai o vosso coração se comover diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes.
Vossas lágrimas são como uma consolação que lhes aplicais sobre as feridas e, quando, por uma doce simpatia, conseguis lhes dar a esperança e a resignação, que alegria experimentais! Essa ventura, é bem verdade, tem um certo pesar, visto que nasce ao lado da infelicidade; mas, se não possui a ilusão dos prazeres terrenos, não tem as decepções angustiantes do vazio que eles deixam atrás de si. Há uma suavidade penetrante que alegra a alma. A piedade, uma piedade bem sentida, é amor. O amor é devotamento. O devotamento é o esquecimento de si mesmo. Esse esquecimento, essa renúncia em favor dos infelizes, é a virtude no seu mais alto grau; a que o divino Messias praticou durante sua vida e que ensinou em sua doutrina tão santa e tão sublime. Quando esta doutrina for restabelecida na sua pureza primitiva e quando for praticada por todos os povos, garantirá a felicidade à Terra, fazendo, finalmente, reinar a concórdia, a paz e o amor.
A piedade é o sentimento mais apropriado para vos fazer progredir, dominando o vosso egoísmo e vosso orgulho; é o sentimento que prepara vossa alma para a humildade, a beneficência e para o amor ao vosso próximo. Essa piedade vos comove profundamente, diante do sofrimento de vossos irmãos, vos faz estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia. Não oculteis, portanto, jamais em vossos corações essa emoção celeste, não façais como os egoístas
endurecidos que se afastam dos aflitos, porque a visão da miséria perturbaria por instantes sua feliz existência. Temei ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranquilidade comprada a preço de uma indiferença condenável é semelhante a tranquilidade do Mar Morto, que esconde no fundo de suas águas o lodo apodrecido e a corrupção.
Quanto a piedade está longe, entretanto, de causar a perturbação e o aborrecimento que apavoram o egoísta! Sem dúvida, ao tomar contato com a desgraça do próximo e voltando-se para si mesma, a alma experimenta um abalo natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta dolorosamente. Mas a compensação será grande, todas as vezes que conseguirdes devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se emociona com o aperto de mão, e cujo olhar, em lágrimas, ao mesmo tempo de emoção e de reconhecimento, fixar-se docemente em vós, antes de elevar-se ao Céu, em agradecimento por lhe ter enviado um consolador, um apoio. A piedade compadece-se dos males alheios, é a celeste precursora da caridade, a primeira das virtudes, da qual é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece.

CONQUISTA DA COMPAIXÃO

"Exercita-te pessoalmente na piedade”.- PAULO. (I Timóteo, 4:7.).

Não se conhece Nenhuma conquista que chegasse ao espírito sem apoio na prática.
Um grande intérprete da música não se manteria nessa definição, sem longos exercícios com base na disciplina.
Um campeão nas lides esportivas não consegue destacar-se simplesmente sonhando com vitórias.
Nos dons espirituais, os princípios que nos regem as aquisições são os mesmos.
Se quisermos que a piedade nos ilumine, é imperioso exercitar a compreensão. E compreensão não vem a nós sem que façamos esforço para isso.
Aceitemos, assim, as nossas dificuldades por ocasiões preciosas de ensino, sobretudo, no relacionamento uns com os outros.
Nesse sentido, os que nos contrariam se nos mostram como sendo os melhores instrutores.
Se alguém comete uma falta, reflitamos na doença mental que lhe terá ditado o comportamento.
Se um amigo nos abandona, imaginemos quanto haverá sofrido no processo de incompreensão que o levou a se afastar.
Pensa na insatisfação enfermiça dos que se fazem perseguidores ou na dor dos que se entregam a esse ou àquele tipo de culpa.
Compaixão é a porta que se nos abre no sentimento para a luz do verdadeiro amor, entretanto, notemos: ninguém adquire a piedade sem construí-la.

Livro Ceifa de Luz – Chico Xavier – Espírito Emanuel.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

A BENEFICÊNCIA


Adolfo, Bispo de Argel - Bordeaux, 1861
11. A beneficência, meus amigos, vos proporcionará neste mundo os mais puros e os mais doces prazeres, as alegrias do coração que não são abaladas nem pelo remorso, nem pela indiferença. Se pudésseis compreender tudo o que existe de grande e doce na generosidade das belas almas, esse sentimento que faz com que vejamos nosso próximo como a nós mesmos, com que nos dispamos com alegria para cobrir nosso irmão. Pudésseis, meus amigos, não ter outra ocupação senão a de fazer os outros felizes! Quais as festas do mundo que poderíeis comparar a essas festas alegres, quando, como representantes da Divindade, dais alegria a essas pobres famílias, que conhecem da vida apenas dificuldades e decepções. Quando vedes subitamente essas faces descoradas ficarem iluminadas de esperança, pois não tinham pão, esses infelizes e seus filhos pequenos, ignorando que viver é sofrer, choravam, gritavam e repetiam estas palavras, que penetravam como punhais agudos no coração maternal: “Estou com fome!...” Compreendei o quanto são deliciosas as impressões daquele que encontra a alegria onde, no momento anterior, só havia desespero! Entendei quais são vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide! Ide ao encontro do infortúnio. Ide em socorro, principalmente, das misérias escondidas, pois essas são as mais dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: Quando vestirdes um destes pequenos, pensai que é a mim que estais vestindo!
Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes, és tu que deves conduzir os povos à felicidade! Praticando-te, terão prazeres infinitos no futuro e, durante seu exílio na Terra, tu serás sua consolação, a antecipação das alegrias que provarão mais tarde, quando se abraçarão todos juntos no amor de Deus. Foste tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de alegria que senti na Terra. Que meus amigos encarnados possam acreditar na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio contra as aflições da vida. Quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar abaixo de vós e vereis quanta miséria há para aliviar, quantas pobres crianças sem família, quantos velhos que não têm uma mão amiga para os amparar e, na morte, lhes fechar os olhos! Quanto bem a ser feito! Não vos lamenteis, mas, pelo contrário, agradecei a Deus e distribuí sem limites, à vontade, vossa simpatia, vosso amor, vosso dinheiro, a todos que, pobres dos bens deste mundo, se enfraquecem no sofrimento e na solidão. Colhereis aqui na Terra alegrias muito doces e mais tarde... apenas Deus o sabe!...

São Vicente de Paulo - Paris, 1858

12. Sede bons e caridosos: esta é a chave dos Céus que tendes em vossas mãos. Toda felicidade eterna está contida neste ensinamento de Jesus: Amai-vos uns aos outros. A alma somente pode se elevar às regiões espirituais pelo devotamento ao próximo e apenas encontra felicidade e consolo na prática da caridade. Sede bons, amparai vossos irmãos, deixai de lado a terrível chaga do egoísmo. Se cumprido, este dever abrirá o caminho da felicidade eterna para vós. Quem dentre vós não sentiu seu coração pulsar, sua alegria interior se ampliar ao relato de uma boa ação, de uma obra verdadeiramente caridosa? Se procurásseis apenas o prazer que proporciona uma boa ação, estaríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Os exemplos não vos faltam. O que falta é a boa vontade, que é rara. Notai que a história guarda lembranças de amor e respeito por muitos homens de bem.
Não vos ensinou o Cristo tudo o que diz respeito a essas virtudes de caridade e de amor? Por que deixar de lado os seus divinos ensinamentos? Por que fechar os olhos e os ouvidos às suas divinas palavras e o coração às suas bondosas recomendações? Gostaria que se desse mais importância, mais fé, às leituras evangélicas. No entanto, abandona-se esse livro, faz-se dele uma palavra vazia, uma carta fechada, deixa-se esse código admirável no esquecimento. Vossos males são consequência apenas do abandono voluntário desses resumos das leis divinas. Lede essas páginas ardentes do devotamento de Jesus e meditai sobre elas.
Homens fortes, armai-vos. Homens fracos, fazei de vossa doçura e de vossa fé armas decisivas; sede mais determinados e mais constantes na propagação de vossa nova doutrina. O que viemos vos dar é apenas um encorajamento. É apenas para estimular vosso zelo e vossas virtudes que Deus nos permite esta manifestação, porém, já vos bastaria a ajuda de Deus e da vossa própria vontade, pois as manifestações espíritas se produzem especialmente para aqueles que têm os olhos fechados e os corações indóceis. A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar todo o edifício das virtudes terrenas. Sem ela, as outras não existem. Sem a caridade não existe esperança num futuro melhor, não existe interesse moral que nos guie. Sem caridade não há fé, pois a fé é apenas um raio de luz que faz brilhar uma alma caridosa.
A caridade é a âncora eterna de salvação em todos os mundos. É a mais pura emanação do próprio Criador; é sua própria virtude dada por Ele à criatura. Como desconhecer esta suprema bondade? Qual seria o pensamento, o coração suficientemente perverso para reprimir e expulsar este sentimento inteiramente divino? Qual seria o filho suficientemente mau para se rebelar contra esse doce carinho: a caridade? Não ouso falar do que fiz, pois os Espíritos também são modestos quanto às suas obras. Mas acredito naquela que comecei como uma das que mais devem contribuir para o alívio dos vossos semelhantes. Vejo, freqüentemente, os Espíritos pedirem que lhes seja dada por missão continuar a minha tarefa. Eu as vejo, minhas doces e caras irmãs, em sua piedosa e divina missão, vejo-as praticar a virtude que eu recomendei, com toda alegria que proporciona essa existência de devotamento e sacrifícios. É uma grande alegria para mim ver o quanto seu caráter é honrado, o quanto sua missão é amada e docemente protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa dessa virtude no seu próprio exercício; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede unidos; amai-vos uns aos outros conforme os ensinamentos do Cristo. Que assim seja!

Cáritas - Martirizada, em Roma, Lyon, 1861

13. Meu nome é Caridade, sou o caminho principal que leva a Deus; segui-me, pois sou o objetivo a que todos deveis visar.
Fiz esta manhã minha caminhada habitual e, com o coração aflito, vos digo: Meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas e quanto tendes a fazer para secá-las! Procurei em vão consolar pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há bons corações que vos protejem. Não sereis abandonadas. Paciência! Deus está aí, sois suas amadas, sois suas eleitas. Elas pareciam ter me ouvido e voltavam para mim os seus grandes olhos ansiosos. Via-se em seus pobres rostos que o corpo, esse tirano do Espírito, estava com fome e que, se minhas palavras tranquilizavam um pouco seu coração, não enchiam seu estômago. Eu repetia ainda: Coragem! Coragem! Então uma pobre mãe, bem jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a em seus braços e a estendeu no espaço vazio, como a me pedir para proteger esse pobre e pequeno ser, que se alimentava ao seio estéril apenas de um alimento insuficiente.
Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho e também sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade e envergonhados da sua miséria, sem coragem, eles, que nunca mendigaram, a implorar a piedade dos passantes. Eu, com o coração tomado de compaixão e que nada tenho, fiz-me de mendiga para eles e vou por toda parte estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e sensíveis. Por isso, venho até vós, meus amigos, e vos digo: Há por aí infelizes cujo prato não tem pão, cuja lareira não tem fogo e cuja cama não tem cobertor. Não vos digo o que deveis fazer. Deixo a iniciativa aos vossos bons corações. Se vos ditasse vossa linha de conduta, não teríeis o mérito de vossa boa ação. Apenas vos digo: Eu sou a caridade e vos estendo a mão pelos vossos irmãos sofredores.
Mas se peço, também dou e dou muito. Convido-vos a um grande banquete e vos forneço a árvore onde vos fartareis! Vede como é bela, como está carregada de flores e frutos! Vinde, colhei, pegai todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. No lugar dos ramos que tirardes dela, fixarei todas as boas ações que fizerdes e levarei essa árvore até Deus para que a carregue de novo, pois a beneficência é inesgotável. Segui-me, portanto, meus amigos, a fim de que sejais anotados entre aqueles que se alistam sob minha bandeira. Nada receeis: eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, pois sou a Caridade.

Cáritas - Lyon, 1861

14. Há muitas maneiras de se fazer a caridade, que muitos de vós julgais ser somente a esmola, mas entre esmola e caridade há uma grande diferença. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, pois dá alívio aos pobres, mas é quase sempre humilhante tanto para quem a dá quanto para quem a recebe. A caridade, ao contrário, une o benfeitor ao ajudado e, além disso, disfarça-se de todas as maneiras! Pode-se ser caridoso até mesmo com os nossos familiares, com nossos amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando as fraquezas, tendo cuidado para não ferir o amor-próprio de ninguém, e para vós, espíritas, em vossa maneira de agir para com aqueles que não pensam como vós; levando os menos esclarecidos a crer e isso sem ofendê-los, sem alterar sua maneira de pensar, mas levando-os alegremente a reuniões onde poderão nos ouvir e onde saberemos encontrar a brecha do coração por onde poderemos penetrar. Eis também uma das formas da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, esses deserdados aqui da Terra, mas recompensados por Deus, e que, dependendo do que vós fizerdes por eles, saberão aceitar suas misérias sem queixumes. Vou vos esclarecer com um exemplo.
Observo, algumas vezes na semana, uma reunião de senhoras, de todas as idades, que, para nós, como sabeis, são todas irmãs. O que estão fazendo? Elas trabalham muito rápido. Os dedos são ágeis; vejo também como seus rostos estão radiantes e como seus corações vibram todos juntos! Mas qual é seu objetivo? É que elas vêem se aproximar o inverno, que será rude para as pobres famílias. As formigas não puderam guardar, durante o verão, o alimento necessário para o sustento, e a maior parte de seus pertences está empenhada. As pobres mães se preocupam e choram pensando nas suas criancinhas que, neste inverno, passarão frio e fome! Mas, paciência, minhas pobres mulheres! Deus inspirou a outras, mais afortunadas do que vós; elas estão reunidas e vos confeccionarão roupinhas, depois, num destes dias, quando a neve tiver coberto a terra e murmurardes dizendo: “Deus não é justo”, que esta é a expressão comum nos vossos períodos de sofrimento, então vereis aparecer um dos filhos dessas boas trabalhadoras, que se constituíram em operárias dos pobres. Era para vós que elas trabalhavam, e vossas lamentações se transformarão em bênçãos, porque, no coração dos infelizes, o amor aparece bem perto do ódio.
Como é preciso a todas essas trabalhadoras um estímulo, vejo as comunicações dos bons Espíritos lhes chegar de todas as partes. Os homens que fazem parte dessa sociedade trazem também sua ajuda, fazendo uma dessas leituras que tanto agradam. E nós, para recompensar o cuidado de todos e de cada um em particular, prometemos a essas trabalhadoras laboriosas uma boa clientela, que lhes pagará, à vista, em bênçãos, a única moeda que tem valor nos Céus, assegurando-lhes ainda, e sem temor de errar, que estas bênçãos jamais lhes faltarão.

Um Espírito Protetor - Lyon, 1861

15. Meus caros amigos, a cada dia ouço dentre vós os que dizem: “Sou pobre, não posso fazer a caridade”, e a cada dia vos vejo faltar com a indulgência para com os vossos semelhantes. Não lhes perdoais nada e vos colocais como juízes muitas vezes severos, sem vos perguntar se ficaríeis satisfeitos que fizessem o mesmo convosco. A indulgência também não é caridade? Vós que podeis fazer apenas a caridade indulgente, fazei pelo menos essa, mas fazei-a sem limitações. Em relação à caridade material, vou lhes contar uma história do outro mundo.
Dois homens acabavam de morrer. Deus tinha dito: “Enquanto esses dois homens viverem, serão colocados, em sacos separados, cada uma de suas boas ações e, quando de sua morte, serão pesados os sacos. Quando esses dois homens chegaram à sua hora final, Deus fez com que trouxessem os dois sacos. Um estava pesado, grande, bem cheio, nele ressoava o metal que o enchia. O outro era muito pequeno e tão fino que podiam-se ver as poucas moedas que continha. Cada um daqueles homens reconheceu seu saco: Eis o meu, disse o primeiro, posso reconhecê-lo; fui rico e dei muito. Eis o meu, disse o outro, sempre fui pobre. Não tinha quase nada para repartir. Mas que surpresa! Quando os dois sacos foram colocados na balança, o maior tornou-se leve e o menor ficou pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança. Então Deus disse ao rico: Tu deste muito, é verdade, mas deste por exibicionismo e vaidade e para ver teu nome figurar em todos os templos do orgulho, e, ainda que doando, não te privaste de nada. Vai para a esquerda e fica satisfeito que a esmola ainda te seja contada como alguma coisa. Depois disse ao pobre: Deste pouco, meu amigo, mas cada uma destas moedas que estão nesta balança representam uma privação para ti. Se não deste esmola, fizeste a caridade e, o que é melhor: fizeste a caridade naturalmente, sem pensar que a levariam em conta. Foste indulgente e não julgaste teu semelhante; pelo contrário, desculpaste-o de todas suas ações. Passa à direita e vai receber tua recompensa”.

João - Bordeaux, 1861

16. A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de empregar seu tempo com o trabalho de casa, não pode dedicar algumas horas em benefício dos seus semelhantes? Compre, com as sobras do seus gastos desnecessários, algum agasalho para os que, infelizes, não têm o que vestir; que confeccione, com as suas delicadas mãos, alguma roupa que, embora simples, seja um aconchegante agasalho para quem precisa, e ajude a uma pobre mãe a vestir o filho que vai nascer e, ainda que o seu próprio filho fique sem algum pequeno enfeite de renda, o pobre, agasalhado, não ficará esquecido. Isto é trabalhar na seara do Senhor.
E tu, pobre trabalhadora, que não tens sobras, mas que queres, por amor aos teus irmãos, também dar do pouco do que possuis, dedica algumas horas de teu dia, de teu tempo, que é o teu único tesouro. Faze alguns trabalhos delicados que chamam a atenção dos mais afortunados. Com o produto do teu esforço poderás também proporcionar aos teus irmãos tua parte de consolo. Terás, talvez, algumas fitas a menos, mas darás sapatos àqueles que têm os pés descalços.
E vós, mulheres devotas a Deus, trabalhai também em sua obra, mas que vossos trabalhos delicados e dispendiosos não sejam feitos apenas para enfeitar vossas capelas, para chamar atenção sobre vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o produto do vosso trabalho seja destinado ao socorro dos vossos irmãos, os pobres, que como vós são filhos bem-amados de Deus. Trabalhar por eles é glorificá-Lo. Sede para eles a Providência que diz: Às aves do céu, Deus dá seu alimento. Que o ouro e a prata, tecidos pelas vossas mãos, se transformem em roupas e em alimentos para os necessitados. Fazei isso e vosso trabalho será abençoado.
E todos vós que podeis produzir, dai. Dai vosso talento, vossas inspirações, vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que sois lidos pelas pessoas da sociedade, satisfazei o gosto deles, mas que o produto de alguma de vossas obras seja consagrado ao consolo dos infelizes. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros, que vossa inteligência também venha em ajuda dos vossos irmãos, não tereis por isso diminuído a vossa glória e tereis aliviado o sofrimento de muitos.
Todos vós podeis dar. Qualquer que seja a vossa condição, tendes alguma coisa que podeis dividir. De tudo o que Deus vos tenha dado, disso deveis uma parte àquele que não tem nem o necessário, pois, em seu lugar, ficaríeis felizes se alguém dividisse convosco. Vossos tesouros na Terra serão um pouco menores, mas vossos tesouros no Céu serão maiores e lá colhereis cem vezes mais o que tiverdes semeado e ajudado aqui na Terra.

Beneficência e a Caridade

A beneficência alivia a provação.
A caridade extingue o mal.
A beneficência auxilia.
A caridade soluciona.
Distribuirás a mancheias algo do ouro que se te derrama da bolsa, entretanto, se nesse algo não puseres a luz de teu amor, em forma de respeito e carinho, ante as chagas do semelhante, não terás construído nele a compreensão que o fará reconciliar-se consigo próprio.
Oferecerás de tua inteligência preciosos recursos aos que desesperam na ignorância, mas, se furtas à lição a benção da simpatia, não estenderás ao companheiro que o sofrimento enceguece a claridade precisa.
Não é dádiva de tua abastança ou o valor de tua cultura que importam no serviço de elevação e aprimoramento da paisagem que te rodeia.
É o modo com que passas a exprimi-los, cedendo de ti mesmo naquilo que o Senhor te emprestou para distribuir, porquanto a atitude é o fator de fixação desse ou daquele sentimento no vasto caminho humano.
Vale mais o exemplo vivo de compaixão que a frase adornada de exaltação à virtude pronunciada tão-somente com a boca e aparece com mais beleza o gesto de fraternidade que a esmola reconfortante suscetível de ser espalhada por ti simplesmente com o esforço mecânico do braço.
Isso, porque todos precisamos de renovação interior para o acesso aos tesouros do espírito e, fazendo o bem, com o impulso de nossas próprias almas, valorizaremos a palavra com que venhamos a emiti-lo, edificando a vida em nós e junto de nós, com o próximo e conosco, realizando sempre o melhor.

Livro Dinheiro – Chico Xavier – Espírito Emanuel.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

A CARIDADE MATERIAL E A CARIDADE MORAL


Irmã Rosália - Paris, 1860

9. “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que gostaríamos que nos fizessem”. Toda religião e toda moral se encontram nesses dois ensinamentos. Se eles fossem seguidos aqui na Terra, seríeis todos perfeitos, sem ódios, sem conflitos. Direi mais ainda: sem pobreza, visto que, do excesso das sobras da mesa dos ricos, muitos pobres se alimentariam e não veríeis mais nos sombrios bairros em que vivi, durante a minha última encarnação, pobres mulheres, arrastando consigo crianças miseráveis precisando de tudo.
Ricos! Pensai um pouco nisto. Ajudai com o melhor de vós os infelizes. Dai, para que um dia Deus vos retribua o bem que fizerdes, para que encontreis, quando desencarnardes, um cortejo de Espíritos agradecidos, que vos receberão no limiar de um mundo mais feliz.
Se pudésseis saber a alegria que senti ao reencontrar no Além aqueles a quem pude ajudar em minha última encarnação terrena!...
Amai, portanto, ao vosso próximo. Amai-o como a vós mesmos, porque sabeis agora que este infeliz que afastais talvez seja um irmão, um pai, um amigo que rejeitais para longe de vós. E qual não será então vosso desespero ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!
Espero que tenhais entendido bem o que deve ser a caridade moral, aquela que qualquer um pode praticar, porque não custa nada de material e, no entanto, é a mais difícil de se pôr em prática.
A caridade moral consiste em tolerardes uns aos outros. E isto é o que menos fazeis, neste mundo inferior onde estais encarnados no momento. Há um grande mérito, acreditai em mim, em saber calar-se para deixar falar a um mais tolo. Isto também é uma forma de caridade. Fazer-se de surdo quando uma palavra de menosprezo escapa de uma boca habituada a zombar, não ver o sorriso desdenhoso que vos recepciona nas casas de pessoas que, frequentemente, sem razão, acreditam ser superiores a vós, quando na vida espírita, a única real, estão algumas vezes bem longe disso: eis um merecimento, não de humildade, mas de caridade, pois não observar os erros dos outros é caridade moral.
Entretanto, esta caridade não deve impedir a outra. Pensai especialmente em não desprezar vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que vos tenho dito: O pobre rejeitado talvez seja um Espírito que vos foi caro e que se encontra, momentaneamente, em uma posição inferior à vossa. Reencontrei, na vida espiritual, um dos pobres de vossa Terra, a quem pude, por felicidade, ajudar algumas vezes e a quem me cabe agora implorar, por minha vez.
Lembrai-vos de que Jesus disse que somos irmãos e pensai sempre nisso antes de rejeitar o indigente ou o mendigo. Adeus, pensai naqueles que sofrem e orai!
Um Espírito Protetor - Lyon, 1860
10. Meus amigos, tenho ouvido muitos dentre vós dizerem: Como posso fazer caridade se muitas vezes nem mesmo tenho o necessário?
A caridade, meus amigos, é feita de muitas maneiras. Podeis praticá-la em pensamentos, em palavras e em ações. Em pensamentos, orando pelos pobres abandonados que desencarnaram sem mesmo terem visto a luz, uma prece de coração os alivia. Em palavras, ao dirigir aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos. Aos homens aflitos pelo desespero, pelas privações, e que ofendem o nome do Altíssimo, dizei-lhes: “Eu era como vós; sofria, era infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora sou feliz”. Aos velhos que vos disserem: “É inútil, estou no fim do meu caminho, morrerei como vivi”, respondei: “Deus tem para todos nós uma justiça igual. Lembrai-vos dos trabalhadores da última hora”. Às criancinhas que, já viciadas pela maldade dos mais velhos, vão se perder pelos caminhos, prestes a ceder às más tentações, dizei-lhes: “Deus toma conta de vós, meus queridos pequenos”, e não temais em repetir-lhes sempre estas doces palavras. Elas acabarão por germinar em sua jovem inteligência, e, em vez de pequenos desocupados e viciosos, tereis feito homens. Isso também é uma forma de caridade.
Muitos dentre vós também dizem: “Somos tantos na Terra, Deus não pode ver a cada um de nós”. Escutai bem isto, meus amigos: quando estais no alto de uma montanha, vosso olhar não abrange milhares de grãos de areia que a cobrem? Pois bem! Deus vos observa da mesma maneira. Ele vos deixa usar o vosso livre-arbítrio, como deixais esses grãos de areia se moverem ao sabor do vento que os dispersa. A diferença é que Deus, em sua misericórdia infinita, colocou no fundo de vosso coração uma sentinela vigilante que se chama consciência. Escutai-a. Ela vos dará somente bons conselhos. Às vezes podereis entorpecê-la opondo-lhe o espírito do mal. Então ela se cala. Mas ficai certos de que a pobre desprezada se fará ouvir, assim que deixardes que ela perceba em vós a sombra do remorso. Escutai-a, interrogai-a, e com frequência achareis consolo no conselho que dela tiverdes recebido.
Meus amigos, a cada novo regimento o general fornece uma bandeira. Eu vos dou a minha, este ensinamento do Cristo: Amai-vos uns aos outros. Praticai-o. Reuni-vos ao redor desta bandeira e recebereis a felicidade e a consolação.

AUXILIAR E SERVIR

"... E amarás o teu próximo como a ti mesmo". – Jesus (Lucas, 10:27)

Irmãos!

Quando estiverdes à beira do desânimo porque alfinetadas do mundo vos hajam ferido o coração; quando o desespero vos ameace, à vista das provações que se vos abatem na senda, reflitamos naqueles companheiros outros que se agoniam, junto de nós, em meio dos espinheiros que nos marginam a estrada; nos que foram relegados à solidão sem voz de amigo que os reconforte; nos que tateiam, a pleno dia, ansiando por fio de luz que lhes atenue a cegueira; nos que perderam o lume da razão e se despencaram na vala da loucura; nos que foram arrojados à orfandade quando a existência na Terra se lhes esboça em começo; naqueles que estão terminando a romagem no mundo atirados à ventania; nos que desistiram do refúgio na fé e se encaminham, desorientados, para as trevas do suicídio; nos que se largaram à delinquência comprando arrependimentos e lágrimas na segregação em que expiam as próprias faltas; nos que choram escravizados à penúria, a definharem de inanição!...

Façamos isso e aprenderemos a agradecer a Bondade de Deus que a todos nos reúne em sua bênção de amor, de vez que a melancolia se nos transformará, no ser, em clarão de piedade, ensinando-nos a observar que por mais necessitados ou sofredores estejamos dispomos ainda do privilégio de colaborar com Jesus na edificação do Mundo Melhor, pela felicidade de auxiliar e pelo dom de servir.

Livro Segue-me – Chico Xavier – Espírito Emanuel.