segunda-feira, 20 de maio de 2019

A PIEDADE


Michel - Bordeaux, 1862

17. A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos, ela é irmã da caridade que vos conduz a Deus. Deixai o vosso coração se comover diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes.
Vossas lágrimas são como uma consolação que lhes aplicais sobre as feridas e, quando, por uma doce simpatia, conseguis lhes dar a esperança e a resignação, que alegria experimentais! Essa ventura, é bem verdade, tem um certo pesar, visto que nasce ao lado da infelicidade; mas, se não possui a ilusão dos prazeres terrenos, não tem as decepções angustiantes do vazio que eles deixam atrás de si. Há uma suavidade penetrante que alegra a alma. A piedade, uma piedade bem sentida, é amor. O amor é devotamento. O devotamento é o esquecimento de si mesmo. Esse esquecimento, essa renúncia em favor dos infelizes, é a virtude no seu mais alto grau; a que o divino Messias praticou durante sua vida e que ensinou em sua doutrina tão santa e tão sublime. Quando esta doutrina for restabelecida na sua pureza primitiva e quando for praticada por todos os povos, garantirá a felicidade à Terra, fazendo, finalmente, reinar a concórdia, a paz e o amor.
A piedade é o sentimento mais apropriado para vos fazer progredir, dominando o vosso egoísmo e vosso orgulho; é o sentimento que prepara vossa alma para a humildade, a beneficência e para o amor ao vosso próximo. Essa piedade vos comove profundamente, diante do sofrimento de vossos irmãos, vos faz estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia. Não oculteis, portanto, jamais em vossos corações essa emoção celeste, não façais como os egoístas
endurecidos que se afastam dos aflitos, porque a visão da miséria perturbaria por instantes sua feliz existência. Temei ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranquilidade comprada a preço de uma indiferença condenável é semelhante a tranquilidade do Mar Morto, que esconde no fundo de suas águas o lodo apodrecido e a corrupção.
Quanto a piedade está longe, entretanto, de causar a perturbação e o aborrecimento que apavoram o egoísta! Sem dúvida, ao tomar contato com a desgraça do próximo e voltando-se para si mesma, a alma experimenta um abalo natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta dolorosamente. Mas a compensação será grande, todas as vezes que conseguirdes devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se emociona com o aperto de mão, e cujo olhar, em lágrimas, ao mesmo tempo de emoção e de reconhecimento, fixar-se docemente em vós, antes de elevar-se ao Céu, em agradecimento por lhe ter enviado um consolador, um apoio. A piedade compadece-se dos males alheios, é a celeste precursora da caridade, a primeira das virtudes, da qual é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece.

CONQUISTA DA COMPAIXÃO

"Exercita-te pessoalmente na piedade”.- PAULO. (I Timóteo, 4:7.).

Não se conhece Nenhuma conquista que chegasse ao espírito sem apoio na prática.
Um grande intérprete da música não se manteria nessa definição, sem longos exercícios com base na disciplina.
Um campeão nas lides esportivas não consegue destacar-se simplesmente sonhando com vitórias.
Nos dons espirituais, os princípios que nos regem as aquisições são os mesmos.
Se quisermos que a piedade nos ilumine, é imperioso exercitar a compreensão. E compreensão não vem a nós sem que façamos esforço para isso.
Aceitemos, assim, as nossas dificuldades por ocasiões preciosas de ensino, sobretudo, no relacionamento uns com os outros.
Nesse sentido, os que nos contrariam se nos mostram como sendo os melhores instrutores.
Se alguém comete uma falta, reflitamos na doença mental que lhe terá ditado o comportamento.
Se um amigo nos abandona, imaginemos quanto haverá sofrido no processo de incompreensão que o levou a se afastar.
Pensa na insatisfação enfermiça dos que se fazem perseguidores ou na dor dos que se entregam a esse ou àquele tipo de culpa.
Compaixão é a porta que se nos abre no sentimento para a luz do verdadeiro amor, entretanto, notemos: ninguém adquire a piedade sem construí-la.

Livro Ceifa de Luz – Chico Xavier – Espírito Emanuel.

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