domingo, 30 de junho de 2019

A INGRATIDÃO DOS FILHOS E OS LAÇOS DE FAMÍLIA


Santo Agostinho - Paris, 1862
9. A ingratidão é um dos frutos imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos; mas a dos filhos em relação aos pais tem um caráter ainda mais revoltante. É particularmente sob esse ponto de vista que vamos considerá-la para analisar-lhe as causas e os efeitos.
Também nesta questão, como em tantas outras, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.
Quando o Espírito deixa a Terra leva consigo as paixões ou as virtudes de sua natureza e vai para o Espaço se aperfeiçoar, ou permanece estacionário até que deseje esclarecer-se. Alguns partiram cheios de ódios violentos e desejos de vingança insatisfeitos. Mas, pela compreensão que alguns têm, por estarem mais avançados que os outros, conseguem distinguir algo da verdade e, compreendendo os desastrosos efeitos de suas paixões, tomam então boas resoluções, reconhecendo que, para chegar até Deus, há somente um caminho: a caridade. Acontece que não há caridade sem o esquecimento das ofensas e das injúrias; não há caridade com ódio no coração e não há caridade sem perdão.
Então, com um grande esforço, observam aqueles que odiaram na Terra. Ao vê-los, o rancor é intenso. A ideia de terem de esquecer de si mesmos lhes revolta e revoltam-se ainda mais ao saber que têm que perdoar e, principalmente, amar aos que talvez lhes tenham destruído a honra, a fortuna e a própria família. Assim é que o coração desses infortunados está abalado; hesitam, vacilam, movidos por esses sentimentos opostos. Se a boa resolução triunfa, oram a Deus, imploram aos bons Espíritos para lhes dar forças no momento mais decisivo da prova.
Enfim, após alguns anos de meditações e preces, o Espírito aproveita de um corpo que está em preparo e encarna na família daquele a quem detestou, pede aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens superiores permissão para realizar na Terra os destinos desse corpo que acaba de se formar. Qual será então a sua conduta nessa família? Dependerá da maior ou menor persistência de suas boas resoluções. O contato incessante com os seres a quem odiou é uma prova terrível sob a qual ele, às vezes, fracassa, se a sua vontade não for bastante forte. Desta forma, de acordo com a boa ou má resolução que tomar, será amigo ou inimigo daqueles no meio dos quais terá que viver. Assim se explicam ódios, repulsas instintivas, que se notam em algumas crianças, e que nenhum ato anterior parece justificar; nada, de fato, nessa nova existência pôde provocar essa antipatia. Para compreendê-la, é necessário voltar os olhos ao passado.
Espíritas! Compreendei o grande papel da Humanidade, compreendei que, quando se gera um corpo, a alma que nele reencarna vem do Espaço para progredir. Cumpri vossos deveres e colocai todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: esta é a missão que vos está confiada e recebereis a recompensa se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe dareis, ajudarão o seu aperfeiçoamento e o seu bem-estar futuro. Lembrai-vos de que, a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: “Que fizestes do filho confiado à vossa guarda?” Se permaneceu atrasado por vossa culpa, vosso castigo será vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós a sua felicidade. Então, vós mesmos, atormentados pelo remorso, pedireis para reparar essa falta; solicitareis uma nova encarnação para vós e para ele na qual o rodeareis de melhores cuidados, e ele, cheio de reconhecimento, vos retribuirá com o seu amor.
Não rejeiteis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com ingratidão; não foi o acaso que o fez assim e nem a sorte o enviou para vós. Uma intuição imperfeita do passado se revela e disso podeis deduzir que um ou outro já odiou muito, ou foi muito ofendido; que um ou outro veio para perdoar, ser perdoado ou expiar. Mães! Abraçai o filho que vos causa desgosto e dizei a vós mesmas: um de nós é culpado. Fazei por merecer os prazeres que Deus concede à maternidade, ensinando a vossos filhos que eles estão na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar, porém, muitas dentre vós, ao invés de tirar pela educação os maus princípios inatos, de existências anteriores, mantêm e desenvolvem esses mesmos princípios por culpa da fraqueza com que agem ou por despreocupação, e, mais tarde, vosso coração, amargurado pela ingratidão dos filhos, será para vós, já nesta vida, o começo da vossa expiação.
A tarefa não é tão difícil quanto poderíeis pensar; ela não exige o saber do mundo; tanto o inculto quanto o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, fazendo-nos conhecer a causa das imperfeições da alma humana.
Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existência anterior; é preciso aplicar-se em estuda-los; todos os males têm origem no egoísmo e no orgulho; analisai, portanto, os menores sinais que revelem o gérmen desses vícios, e empenhai-vos em combatê-los sem esperar que criem raízes profundas; fazei como o bom jardineiro, que corta os brotos daninhos à medida que os vê nascer na árvore. Se deixardes desenvolver o egoísmo e o orgulho, não vos espanteis de serdes mais tarde pagos com ingratidão. Quando os pais fizeram tudo o que deviam para o adiantamento moral dos filhos, e, apesar de tudo, não alcançaram êxito, sua consciência poderá ficar tranquila, e é natural o desgosto que sintam por verem fracassados todos os esforços feitos. Deus lhes reserva uma grande, uma imensa consolação, na certeza de que isso é apenas um atraso, e que lhes será permitido terminar, em uma outra existência, a obra começada nesta, e que um dia o filho ingrato os recompensará com seu amor.
Deus não submete a provas aquele que não as pode suportar, apenas permite as que podem ser cumpridas. Se fracassamos, não é por falta de condições, mas por falta de vontade, pois quantos há que, ao invés de resistir aos maus procedimentos, neles se satisfazem e é a estes que estão reservados os choros e os gemidos em suas existências posteriores. Admirai, no entanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chegará o dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho por fim abatido, Deus abre seus braços paternais ao filho pródigo, que se lança a seus pés. As grandes provas, entendei-me bem, são quase sempre o sinal de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando são aceitas por amor a Deus. Para o Espírito, é um momento supremo, e é aí que importa não se lamentar, se não quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Ao invés de lamentardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então, quando sairdes do turbilhão da vida terrena e entrardes no mundo dos Espíritos, sereis lá aclamados como o soldado que sai vitorioso da batalha.
De todas as provas, as mais difíceis são aquelas que afetam o coração; há os que suportam com coragem a miséria e as privações materiais, mas abatem-se sob o peso dos desgostos domésticos, esmagados pela ingratidão dos seus. Que angústia terrível! Mas o que pode, nessas situações, reerguer a coragem moral senão o conhecimento das causas do mal e a certeza de que, se há longas discórdias, não há desesperos eternos, porque Deus não quer que a sua criatura sofra para sempre. O que há de mais consolador e mais encorajador do que o pensamento de que depende só de si mesmo, de seus próprios esforços, abreviar seu sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, não se deve estacionar o olhar na Terra e ver apenas uma existência; é preciso elevar-se, planar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revelará aos vossos olhos e encarareis a vida com paciência, pois tereis a explicação do que vos parecia como monstruosidades na Terra, e as feridas que recebestes apenas vos parecerão arranhões. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro sentido; já não são mais os frágeis laços da matéria que reúnem os seus membros, mas sim os laços duráveis do Espírito, que se perpetuam e se consolidam ao se purificarem, ao invés de se destruírem pelo efeito da reencarnação.
Os Espíritos reúnem-se e formam famílias, induzidos pela identidade de progresso moral, semelhança de gostos e de afeições. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, procuram-se para se agrupar, como o faziam no espaço, originando-se as famílias unidas e homogêneas. Se, nas suas peregrinações, ficarem temporariamente separados, mais tarde eles se reencontram, felizes com seu novo progresso. Entretanto, como não devem trabalhar apenas para si mesmos, Deus permite que Espíritos menos avançados venham encarnar entre eles a fim de receberem conselhos e bons exemplos para progredirem. Causam, por vezes, perturbações no ambiente, mas é aí que está a prova a executar. Recebei-os como irmãos; ajudai-os e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se alegrará por ter salvo alguns náufragos, que, por sua vez, poderão salvar outros.

CONVITE AO AMOR

“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros.”
(João: capítulo 13º, versículo 34.)

O amor é o estágio mais elevado do sentimento.
O homem somente atinge a plenitude quando ama. Enquanto anseia e busca ser amado, foge à responsabilidade de amar e padece infância emocional.
No contexto social da atualidade hodierna, todavia, a expressão amor sofre a desvalorização do seu significado para experimentar a decomposição do tormento sexual, que não passa de instinto em desgoverno.
Sem dúvida, o sexo amparado pelo amor caracteriza a superioridade do ser, facultando-lhe harmonia íntima e perfeito intercâmbio de vibrações e hormônios a benefício da existência.
Sexo sem amor, porém, representa regressão da inteligência às formas primeiras do desejo infrene, com o comprometimento das aspirações elevadas em detrimento de si mesmo e dos outros.
Por essa razão, vige em todos os departamentos do Cosmo a mensagem do amor.
Na perfeita identificação das almas o amor produz a bênção da felicidade em regime de paz.
Nem sempre, porém, se encontrará no ser amado a recíproca.
Importa, o que é essencial, amar, sem solicitação.
De todos os construtores do pensamento universal, o amor recebeu a contribuição valiosa de urgência. Isto, porque Deus, Nosso Pai, é a mais alta manifestação do amor.
E Jesus, padronizando as necessidades humanas quanto solucionando-as, sintetizou-as no amor, como única diretriz segura por meio da qual se pode lograr a meta que todos perseguimos nas sucessivas existências.
* * *
Se, todavia, sentes aridez íntima e sombras carregadas de desencantos obnubilam as tuas aspirações, inicia o exercício do amor, entre os que sofrem, através da gentileza, passando do estágio da amizade. Descobrirás, depois, a realidade do amor em blandícia de tranquilidade no país do teu espírito.
Se por acaso o céu dos teus sorrisos está com as estrelas da alegria apagadas, ama, assim mesmo, e clarificarás outros corações que jazem em noites mais sombrias, percebendo que todo aquele que irradia luz e calor aquece-se e ilumina-se, permanecendo feliz em qualquer circunstância.
Haja, pois, o que haja, ama.
Em plena cruz, não obstante o desprezo e a traição, o azorrague e a dor total, Jesus prosseguiu amando e até hoje, fiel ao postulado que elaborou como base do Seu ministério, continua amando-nos sem cansaço.

Livro Convites da Vida – Médium Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

domingo, 23 de junho de 2019

PARENTESCO CORPORAL E PARENTESCO ESPIRITUAL


8. Os laços de sangue não determinam necessariamente os laços espirituais. O corpo gera o corpo, porém o Espírito não é gerado pelo Espírito, porque já existia antes da gestação do corpo. Não foram os pais que geraram o Espírito de seu filho, eles apenas forneceram-lhe um corpo carnal. Além disso, devem ajudá-lo no seu desenvolvimento intelectual e moral para fazê-lo progredir.
Os Espíritos que encarnam numa mesma família, principalmente como parentes próximos, são quase sempre ligados por laços de simpatia, unidos por relações anteriores, que são demonstrados na afeição mútua durante a vida terrena. Pode acontecer, também, que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se manifestam por suas aversões na Terra, e elas servirão de provação entre eles. Portanto, os verdadeiros laços de família não são os da consanguinidade, mas sim os da simpatia e da afinidade de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e depois da encarnação. É assim que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue. Eles se querem, se procuram, sentem prazer em estar juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como, aliás, se vê todos os dias, questão que só o Espiritismo pode explicar pela pluralidade das existências.
Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duráveis, se fortificam pela purificação e prosseguirão no mundo dos Espíritos, por meio das muitas migrações da alma; as segundas, frágeis como a própria matéria, acabam com o tempo e, muitas vezes, se desfazem moralmente já na existência atual. Foi isto o que Jesus quis ensinar naquele momento dizendo aos seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos, ou seja, minha família pelos laços do Espírito, pois quem quer que faça a vontade de meu Pai que está nos Céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de São Marcos, que diz terem eles a intenção de prender Jesus sob o pretexto de que estava fora de si. Jesus, informado da chegada de seus parentes e sabedor do que pensavam a seu respeito, aproveita a oportunidade para transmitir aos seus discípulos o ensinamento sobre o ponto de vista da família espiritual: Eis meus verdadeiros irmãos, e, como sua mãe se achava entre eles, generaliza o ensinamento.
Não devemos de nenhuma forma entender, entretanto, que sua mãe, segundo o corpo, não Lhe era nada como Espírito, ou que tinha por ela indiferença; sua conduta, em outras ocasiões, comprova suficientemente o contrário.

PROVAS E EXPIAÇÕES NO LAR

Sendo o planeta terrestre um mundo ainda relativamente primitivo de provas e expiações, é natural que, na maioria dos grupamentos familiares, apresentem-se os sofrimentos de vária ordem, convidando a reflexões e ao trabalho de iluminação interior.
Como a reencarnação tem por finalidade o desenvolvimento dos valores que dormem inatos no espírito, os equívocos e as mazelas que o acompanham como resultado das experiências infelizes do passado, apresentam-se como necessitados de retificação, expressando-se em forma de sofrimentos os mais diversos.
Podem manifestar-se em caráter expiatório, através dos processos mais graves das enfermidades degenerativas, na surdez, na cegueira, na mudez, na paralisia, nos distúrbios mentais irreversíveis, ou em forma de provações de que se fazem instrumento as doenças infecto-contagiosas, os acidentes, as dores morais, os distúrbios psicológicos, os transtornos de conduta, a solidão, os conflitos...
São poucas as famílias, nas quais a dor não se apresenta convidando ao amadurecimento espiritual e à compreensão mais profunda a respeito da superior finalidade existencial.
Muitas pessoas supõem que a existência terrestre é uma encantadora viagem ao país da ilusão, uma experiência enriquecida somente de prazeres e de gozos, sem recordar-se da sua transitoriedade, dos fenômenos que a todos se apresentam, diluindo as fantasias e convocando à realidade.
Desse modo, o sofrimento é o amigo silencioso que se infiltra no espírito, a fim de que o mesmo se eduque ou se reeduque, desenvolvendo-lhe os latentes sentimentos do amor, da compaixão e da caridade, a fim de enriquecer-se dos tesouros inalienáveis que conduzirá após o decesso tumular. São esses recursos que constituem propriedade real, porque acompanham aqueles que os possuem, enquanto todos os outros ficam transformados em lembranças na memória de quem os utilizou, passando de mãos na Terra.
Constitui, portanto, dever dos pais, o esclarecimento aos filhos sobre as vicissitudes do caminho evolutivo.
As conversações edificantes em torno da Divina Justiça, dos compromissos morais que são assumidos pelos que se encontram reencarnados, as provas e os testemunhos que todos experimentam, são de alta significação moral e espiritual para a saudável formação da personalidade da prole.
Demonstrar que essas ocorrências são perfeitamente normais, nunca se tratando de punições estabelecidas por Deus, que se comprazeria em ver sofrer aqueles que se encontram desequipados de valores para os procedimentos corretos, é dever inadiável.
Quando, por acaso, na constelação familiar exista algum exemplo de expiação, deve-se torná-lo preciosa lição de vida, não apenas para o padecente, mas para todos os membros, que se deverão unir, a fim de atenuar os sofrimentos daquele que se encontra necessitado de ajuda. Essa providência desenvolve em todos a coragem e o respeito à vida, eliminando temores e diluindo ilusões em torno da matéria, principalmente quanto à sua fragilidade.
Tal comportamento serve de lição viva para aqueles que fazem parte da família, compreendendo que, a avezita tombada do ninho pelo infortúnio aparente, encontra-se no hospital da solidariedade, no qual receberá apoio e compreensão, a fim de recuperar-se da melhor maneira possível, para os futuros vôos que deverá alçar...
Não foi uma injunção casual que trouxe o ser amado com limites, tornando-o encarcerado numa prisão sem grades, mas acontecimentos que tiveram lugar em tempo próximo ou remoto, no qual os atuais familiares desempenharam papel importante. Ninguém renasce num grupo consangüíneo, em situação penosa, sem que existam razões preponderantes para o cometimento libertador.
Esse, que ora jaz no leito, em processo depurativo, liderou cometimentos infelizes, havendo atraído para a ação nefasta, essoutros que agora o recebem e devem auxiliá-lo na libertação.
Tudo se enquadra com perfeição nos processos iluminativos através das aflições.
Ninguém, portanto, que experimente qualquer tipo de dor sem uma causa anterior que o explique, que o justifique.
O lar, desse modo, é o santuário de união, no qual se retificam situações penosas e ações odientas.
Aquele familiar que, de certa forma, inspira animosidade, que se faz perverso, agressivo, em relação aos demais membros, solicita, sem o pedir, compaixão e misericórdia, por cuja aplicação os seus sentimentos doentios são minorados pelas vibrações emitidas pelos demais membros do clã. Ao invés da revolta e do desejo de desforço, que muitas vezes despertam nos demais, a caridade deve ser a reação, como bálsamo para quem a oferece e bênção em favor daquele a quem é dirigida.
Não poucas vezes, sob expiações as famílias desagregam-se, quando mais deveriam estruturar-se, em face da ignorância espiritual que representam essas ocorrências, que dão lugar a ódios e lutas penosas entre os seus membros.
Sob outro aspecto, à medida que as provações ocorrem em muitos lares, a revolta se aninha nos corações e o desapontamento invade o pensamento daqueles que as experimentam, quando deveriam meditar em torno do fato, procurando entender-lhe a razão, para melhor enfrentar a situação perturbadora.
A família é reduto de trabalho coletivo, no qual todos têm o dever de ajudar-se. Quem se encontra melhor informado, mais facilidade dispõe para contribuir em favor do esclarecimento daquele que ignora.
O lar, nem sempre se apresenta como um reino de júbilos, mas quase sempre como um campo de batalha no qual espíritos litigantes, adversários de"ontem ou amantes frustrados do passado, reencontram-se para as transformações emocionais que se fazem necessárias sob a inspiração do amor.
Filhos ingratos e calcetas são antigas vítimas do desequilíbrio dos pais atuais, que os recebem, a fim de santificarem o relacionamento pela paciência e pela afabilidade, compreendendo-lhes as ofensas e as rebeldias em que se comprazem. Isto, porém, não justifica que os mesmos sejam cobradores impenitentes, porque não estão isentos também de culpa e de gravames.
É por isso que a lei da caridade deve viger em todas as situações difíceis.
Quando não se sabe como agir em relação aos graves desafios do ódio e da agressão, que se pergunte à caridade qual o melhor procedimento a aplicar.
Com essa disposição, a família consegue desempenhar o papel de lar, de escola, de oficina, de hospital, de santuário, onde os espíritos se recuperam, aprimorando o caráter e fortalecendo as energias para cometimentos ainda mais severos no futuro.
A conscientização dos filhos pelos pais devotados, em torno dos processos de dor e de angústia, de ocorrências infelizes e de insucessos de qualquer procedência, contribui valiosamente para a harmonia doméstica e a preparação das gerações novas em relação ao porvir.
Provas e expiações são programas estabelecidos pela lei de Causa e de Efeito, para o progresso do espírito, nunca se olvidando que o ser pequenino, assinalado por umas ou outras conjunturas penosas, é viajante antigo do carreiro evolutivo, agora em fase infantil, no rumo do futuro.

Livro Constelação Familiar – Médium Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

domingo, 16 de junho de 2019

QUEM É MINHA MÃE E QUEM SÃO MEUS IRMÃOS?


5. Chegando a casa, lá reuniu-se uma multidão tão grande de pessoas que nem mesmo puderam completar sua refeição. Quando seus parentes ouviram isto, saíram para o prender, pois diziam: Ele tinha perdido o espírito.
Entretanto, sua mãe e seus irmãos chegaram, ficando do lado de fora, e o mandaram chamar. O povo estava sentado ao seu redor, e disseram-Lhe: Vossa mãe e vossos irmãos que estão lá fora vos chamam. Mas Jesus lhes responde: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E olhando para aqueles que estavam ao seu redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; pois quem quer que faça a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (Marcos, 3:20 e 21, 31 a 35; Mateus, 12:46 a 50)
6. Certas palavras ditas por Jesus soam estranhas, parecendo contraditórias com sua bondade e sua inalterável benevolência para com todos. Os incrédulos não perderam a oportunidade de fazer disto uma arma, dizendo que Jesus se contradizia. Um fato irrecusável é que sua doutrina tem por pedra angular, por base principal, a lei de amor e de caridade; não poderia destruir de um lado o que tinha estabelecido do outro, de onde é preciso tirar esta consequência rigorosa: que certos ensinamentos estão em contradição com aquele princípio básico porque as palavras que se Lhe atribuíram foram mal reproduzidas, mal compreendidas, ou nem são d'Ele.
7. Causa estranheza, com razão, Jesus mostrar neste caso tanta indiferença para com seus parentes e, além do mais, renegar sua mãe.
Em relação a seus irmãos, sabemos que nunca tiveram simpatia por Ele; espíritos pouco avançados, não compreendiam sua missão.
A conduta de Jesus, conforme entendiam, era esquisita, e os seus ensinamentos não os tinham convencido, já que nenhum deles tornou-se seu discípulo. Parece que, até certo ponto, partilhavam das prevenções dos inimigos d'Ele. O fato é que eles O tinham mais como a um estranho do que como a um irmão, quando se apresentava em família, e São João afirma positivamente: Não acreditavam Nele. (Veja João, 7:5)
Quanto à sua mãe, ninguém poderá contestar sua ternura para com o filho, mas é preciso deixar claro que também ela parecia não fazer uma ideia muito exata de sua missão, pois, ao que se sabe, nunca seguiu seus ensinamentos, nem lhes deu testemunho, como fez João Batista. A atenção maternal era nela o sentimento dominante.
Quanto a Jesus, supor-se que houvesse renegado sua mãe seria desmerecer-Lhe o caráter; tal pensamento não pode ser d'Aquele que disse: Honrai vosso pai e vossa mãe. É preciso, portanto, procurar um outro significado para estas palavras de Jesus, quase sempre encobertas sob forma simbólica.
Jesus não perdia nenhuma ocasião para dar um ensinamento, aproveitou, então, a chegada de sua família para estabelecer a diferença que existe entre parentesco corporal e parentesco espiritual.

EM FAMÍLIA

“Aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família e a recompensar seus pais, porque isto é bom e agradável diante de Deus.” — Paulo. (1ª Epístola à Timóteo, Capítulo 5, Versículo 4.)

A luta em família é problema fundamental da redenção do homem na Terra. Como seremos benfeitores de cem ou mil pessoas, se ainda não aprendemos a servir cinco ou dez criaturas? Esta é indagação lógica que se estende a todos os discípulos sinceros do Cristianismo.
Bom pregador e mau servidor são dois títulos que se não coadunam.
O apóstolo aconselha o exercício da piedade no centro das atividades domésticas, entretanto, não alude à piedade que chora sem coragem ante os enigmas aflitivos, mas àquela que conhece as zonas nevrálgicas da casa e se esforça por eliminá-las, aguardando a decisão divina a seu tempo.
Conhecemos numerosos irmãos que se sentem sozinhos, espiritualmente, entre os que se lhes agregaram ao círculo pessoal, através dos laços consanguíneos, entregando-se, por isso, a lamentável desânimo.
É imprescindível, contudo, examinar a transitoriedade das ligações corpóreas, ponderando que não existem uniões casuais no lar terreno. Preponderam aí, por enquanto, as provas salvadoras ou regenerativas. Ninguém despreze, portanto, esse campo sagrado de serviço por mais se sinta acabrunhado na incompreensão.
Constituiria falta grave esquecer-lhe as infinitas possibilidades de trabalho iluminativo.
É impossível auxiliar o mundo, quando ainda não conseguimos ser úteis nem mesmo a uma casa pequena — aquela em que a Vontade do Pai nos situou, a título precário.
Antes da grande projeção pessoal na obra coletiva, aprenda o discípulo a cooperar, em favor dos familiares, no dia de hoje, convicto de que semelhante esforço representa realização essencial.

Livro Pão Nosso – Médium Chico Xavier – Espírito Emmanuel.

domingo, 9 de junho de 2019

PIEDADE FILIAL


1. Vós sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis; não dareis falso testemunho; não fareis mal a ninguém, honrai vosso pai e vossa mãe. (Marcos, 10:19; Lucas, 18:20; Mateus, 19:19)
2. Honrai vosso pai e vossa mãe a fim de viverdes por muito tempo na Terra que o Senhor vosso Deus vos dará. (Decálogo; Êxodo, 20:12)
3. O mandamento “Honrai vosso pai e vossa mãe” é uma decorrência da lei geral de caridade e de amor ao próximo, pois não podemos amar ao nosso próximo sem amar a nosso pai e a nossa mãe. Porém, a palavra honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Deus quis mostrar que ao amor é preciso acrescentar o respeito, as atenções, a submissão e a concordância, o que resulta na obrigação de fazer aos pais, com maiores cuidados, tudo o que a caridade ordena para com o próximo. Este dever se estende, naturalmente, às pessoas que assumem o compromisso de pais, e que tão maior mérito terão quanto menos obrigatório for o seu devotamento. Deus sempre pune de uma maneira rigorosa toda violação a este mandamento.
Honrar pai e mãe não é apenas respeitá-los, é também ajudá-los na necessidade; é proporcionar-lhes o repouso em seus dias de velhice e rodeá-los de atenções como fizeram conosco em nossa infância.
Principalmente para com os pais sem recursos é que se demonstra a verdadeira piedade filial. Acaso julgam que cumprem este mandamento aqueles que pensam estar fazendo muito, dando-lhes apenas o necessário para que não morram de fome, enquanto eles mesmos não se privam de nada? Deixando-os nos piores cômodos da casa, só para não deixá-los na rua, enquanto reservam para si o que há de melhor e de mais confortável? Menos mal, quando não o fazem de má-vontade, obrigando os pais a viverem o resto de suas vidas fazendo os trabalhos de casa! Caberá aos pais, velhos e fracos, serem os servidores dos filhos jovens e fortes? Sua mãe, ao embalá-los no berço, cobrou-lhes o leite com que os alimentava? Contou suas vigílias quando estavam doentes e passos que deu para lhes proporcionar o de que tinham necessidade? Não, não é só o estritamente necessário que os filhos devem a seus pais pobres; devem-lhes também, enquanto puderem, as pequenas doçuras dos agrados, as atenções, os cuidados carinhosos, que são apenas a retribuição do amor que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Essa é a única piedade filial aceita por Deus.
Infeliz daquele que esquece o que deve aos que o sustentaram em sua infância, que, com a vida material, deram-lhe a vida moral e muitas vezes se obrigaram a duras privações para assegurar seu bem estar.
Infeliz do ingrato, porque será punido com a ingratidão e o abandono; será atingido em suas mais caras afeições, algumas vezes já na vida presente, mas, com toda a certeza, numa outra existência, em que sofrerá o que fez os outros sofrerem.
Alguns pais, é bem verdade, descuidam-se dos seus deveres, e não são para seus filhos o que deveriam ser. Cabe a Deus puni-los e não aos filhos. Não cabe a estes censurá-los, porque talvez eles mesmos merecessem que assim fosse. Se a lei de caridade estabelece pagar o mal com o bem, ser indulgente para com as imperfeições dos outros, não maldizer seu próximo, esquecer e perdoar as faltas, até mesmo amar aos inimigos, quanto maior não é esta obrigação em relação aos pais! Os filhos devem, portanto, tomar por regra de conduta para com os pais todos os ensinamentos de Jesus para com o próximo, dizendo a si mesmos que todo procedimento reprovável em relação a estranhos é ainda mais condenável em relação aos pais, e o que pode ser apenas uma falta no primeiro caso pode, no segundo, considerar-se um crime, porque à ingratidão junta-se a falta de caridade.
4. Deus disse: Honrai vosso pai e vossa mãe, a fim de viverdes por muito tempo na Terra que o Senhor vosso Deus vos dará; por que então promete como recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “que Deus vos dará”, que foram suprimidas na forma moderna do Decálogo e por isso alteram-lhe completamente a significação. Para compreender estas palavras, é preciso voltar às idéias, aos pensamentos dos hebreus naquela época em que foram ditas. Como não sabiam nada sobre a vida futura, sua visão não se estendia além da vida corporal; deviam, portanto, ser impressionados mais com o que viam do que com o que não viam. É por isto que a mensagem de Deus lhes fala numa linguagem ao alcance do que podiam compreender, como se falasse a crianças, e lhes faz uma promessa que poderia satisfazê-los. Eles estavam ainda no deserto; a terra que Deus dará a eles é a Terra da Promissão, objetivo de seus desejos. Eles nada desejavam, além disso, e Deus lhes diz que viveriam lá por muito tempo, ou seja, que eles a possuiriam se cumprissem seus mandamentos.
Mas, quando da vinda de Jesus, as ideias deles já estavam mais desenvolvidas e o momento de lhes dar um alimento menos grosseiro era chegado. Ele os inicia na vida espiritual dizendo: Meu reino não é deste mundo; é nele, e não na Terra, que recebereis a recompensa das vossas boas obras. Com estas palavras, a Terra da Promissão passa a ser uma pátria celeste; assim, quando lhes recomenda o respeito ao mandamento: Honrai vosso pai e vossa mãe, já não é mais a Terra que lhes promete, mas sim o Céu. (Veja nesta obra Caps. 2 e 3.)

Vida em Família

Os filhos não são cópias xerox dos pais, que apenas produzem o corpo, graças aos mecanismos do atavismo biológico.
As heranças e parecenças físicas são decorrências dos gametas, no entanto, o caráter, a inteligência e o sentimento procedem do Espírito que se corporifica pela reencarnação, sem maior dependência dos vínculos genéticos com os progenitores.
Atados por compromissos anteriores, retornam, ao lar, não somente aqueles seres a quem se ama, senão aqueloutros a quem se deve ou que estão com dívidas....
Cobradores empedernidos surgem na forma fisiológica, renteando com o devedor, utilizando-se do processo superior das Leis de Deus para o reajuste de contas, no qual, não poucas vezes, se complicam as situações, por indisposições dos consortes...
Adversários reaparecem como membros da família para receber amor, no entanto, na batalha das afinidades padecem campanhas de perseguição inconsciente, experimentando o pesado ônus da antipatia e da animosidade.
A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na qual a felicidade e a dor se alternam, programando a paz futura.
Nem é o grupo da bênção, nem o élan da desdita.
Antes é a escola de aprendizagem e redenção futura.
Irmãos que se amam, ou se detestam, pais que se digladiam no proscênio doméstico, genitores que destacam uns filhos em detrimento dos outros, ou filhos que agridem ou amparam pais, são Espíritos em processo de evolução, retornando ao palco da vida física para a encenação da peça em que fracassaram, no passado.
A vida é incessante, e a família carnal são experiências transitórias em programação que objetiva a família universal.
*
Abençoa, desse modo, com a paciência e o perdão, o filho ingrato e calceta.
Compreende com ternura o genitor atormentado que te não corresponde às aspirações.
Desculpa o esposo irresponsável ou a companheira leviana, perseverando ao seu lado, mesmo que o ser a quem te vinculas queira ir-se adiante.
Não o retenhas com amarras de ódio ou de ressentimento. Irá além, sim, no entanto, prossegue tu, fiel, no posto, e amando...
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Não te creias responsável direto na provação que te abate ante o filho limitado, física ou mentalmente.
Tu e ele sois comprometidos perante os códigos Divinos pelo pretérito espiritual.
O teu corpo lhe ofereceu os elementos com que se apresenta, porém, foi ele, o ser espiritual, quem modelou a roupagem na qual comparece para o compromisso libertador.
Ante o filhinho deficiente não te inculpes. Ama-o mais e completa-lhe as limitações com os teus recursos, preenchendo os vazios que ele experimenta.
Suas carências são abençoados mecanismos de crescimento eterno.
Faze por ele, hoje, o que descuidaste antes.
A vida em família é oportunidade sublime que não deve ser descuidada ou malbaratada.
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Com muita propriedade e irretorquível sabedoria, afirmou Jesus, ao doutor da Lei:
“Ninguém entrará no reino dos céus, se não nascer de novo... E a Doutrina Espírita estabelece com segurança: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre — é a lei. Fora da caridade não há salvação.”

Livro SOS Família – Médium Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

BENEFÍCIOS PAGOS COM A INGRATIDÃO e BENEFICÊNCIA EXCLUSIVA


BENEFÍCIOS PAGOS COM A INGRATIDÃO
Guia Protetor - Sens, 1862

19. O que pensar das pessoas que, recebendo a ingratidão em troca de um benefício prestado, negam-se a fazer outra vez o bem com temor de encontrar pessoas ingratas?
Tais pessoas são mais egoístas do que caridosas, pois fazer o bem esperando reconhecimento não é fazê-lo com desinteresse. O benefício desinteressado é o único que agrada a Deus. São também orgulhosas, pois se envaidecem pela humildade do beneficiado, que deve vir fazer o reconhecimento a seus pés. Aquele que procura na Terra a recompensa do bem que faz, não a receberá no Céu; Deus recompensará aquele que não a procura na Terra.
É preciso sempre ajudar os fracos, mesmo sabendo antecipadamente que aqueles a quem fazemos o bem não nos agradecerão.
Sabei que se aquele a quem ajudais esquece o benefício, Deus levará isso mais em conta do que se já fôsseis recompensados pela gratidão.
Deus permite que às vezes sejais pagos com a ingratidão, para provar vossa perseverança em fazer o bem.
Como podeis saber se esse benefício, esquecido no momento, não trará mais tarde bons frutos? Ficai certos de que é uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, vedes apenas o presente.
Trabalhais para vós e não para os outros. Os favores acabam por abrandar os corações mais endurecidos; podem até ser esquecidos aqui na Terra, mas, quando o Espírito se livrar de seu envoltório carnal, ele se lembrará, e esse será o seu castigo. Então, lamentará sua ingratidão e desejará reparar sua falta, pagar sua dívida em uma outra existência, até mesmo, muitas vezes, aceitando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. É assim que, sem suspeitardes, tereis contribuído para seu adiantamento moral e reconhecereis mais tarde toda verdade desse ensinamento: um benefício jamais se perde. Mas tereis também trabalhado para vós, pois tereis o mérito de ter feito o bem com desinteresse e sem vos deixar desencorajar pelas decepções.
Meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que, na vida presente, vos unem às vossas existências anteriores, e se pudésseis entender a grande multiplicidade de relações que unem os seres uns aos outros para o progresso de todos, admiraríeis ainda muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos permite reviver para chegar até Ele.

BENEFICÊNCIA EXCLUSIVA
São Luís - Paris, 1860

20. É correta a beneficência quando é exclusivamente praticada entre pessoas de uma mesma opinião, da mesma crença ou de um mesmo grupo social?
Não, pois é principalmente o espírito de seita e de grupo que é preciso eliminar, porque todos os homens são irmãos. Aquele que crê, o cristão, vê irmãos em todos seus semelhantes e, quando socorre aquele que está necessitado, não lhe interessa nem crença, nem opinião, no que quer que seja. Estaria ele seguindo o preceito de Jesus Cristo, que diz para amar até mesmo aos inimigos, se rejeitasse um infeliz por ele ter uma crença diferente da sua? Portanto, que o socorra sem lhe interrogar a consciência, porque, se ele for um inimigo da religião, será um meio de fazer com que ele a ame. Repelindo-o, fará com que ele a odeie.

Página de Amor
(Emmanuel)

Amar ainda e sempre para nós todos, os obreiros da terra, é incessante desafio. Isso porque amar é dar-se, no que possuamos ou sejamos de melhor.
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A beneficência é a preciosa iniciação. Entregamos o que nos sobre em reconforto e, ao adiantar-nos em sentimento, dividimos com os outros aquilo que se nos faça desnecessário, até mesmo em nos referindo aos recursos primários que se nos mostram indispensáveis à vida.
Surge, porém, para cada um do nós o momento de dar-se. Dar-se nos mais íntimos pontos de vista. Doar-se em bondade e desprendimento, compreensão e renúncia sem nada pedir em troca. Abençoar a felicidade da pessoa ou das pessoas a quem mais amamos, mesmo quando a felicidade delas não se padronize pelos modelos em que se nos configura a alegria.
Se erguidos à semelhante prova, recusamos sofrimento e mudança, conformidade e reajuste, exigindo algo em nosso favor, efetivamente não estaremos amando ou então amando muito imperfeitamente ainda. Mas se aceitamos amar como se deve amar, surpreendemos a fonte da paz no imo do nosso próprio espírito, porquanto libertando e amparando aos nossos simultaneamente estaremos amparando e libertando a nós mesmos.
***
O amor imaginário, a basear-se no egoísmo, cria desilusão e enfermidade, desequilíbrio e morte.
O amor autêntico, no entanto, dando o melhor de si sem cogitar de si, gera grandeza e paz, aperfeiçoamento e alegria. Isso acontece porque toda vez que amamos particularmente a alguém que se encontra muito longe de responder-nos com qualquer migalha de compreensão e de afeto, elevamo-nos ao amor de Cristo que nos ama sem que realmente o amemos ainda, reconhecendo por fim, que esse alguém, refratário ao nosso amor, é, tanto quanto nós, um ser de origem divina, profundamente amado e constantemente sustentado por Deus.

Livro Encontro de Paz – Chico Xavier – Espíritos Diversos.