domingo, 23 de junho de 2019

PARENTESCO CORPORAL E PARENTESCO ESPIRITUAL


8. Os laços de sangue não determinam necessariamente os laços espirituais. O corpo gera o corpo, porém o Espírito não é gerado pelo Espírito, porque já existia antes da gestação do corpo. Não foram os pais que geraram o Espírito de seu filho, eles apenas forneceram-lhe um corpo carnal. Além disso, devem ajudá-lo no seu desenvolvimento intelectual e moral para fazê-lo progredir.
Os Espíritos que encarnam numa mesma família, principalmente como parentes próximos, são quase sempre ligados por laços de simpatia, unidos por relações anteriores, que são demonstrados na afeição mútua durante a vida terrena. Pode acontecer, também, que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se manifestam por suas aversões na Terra, e elas servirão de provação entre eles. Portanto, os verdadeiros laços de família não são os da consanguinidade, mas sim os da simpatia e da afinidade de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e depois da encarnação. É assim que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue. Eles se querem, se procuram, sentem prazer em estar juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como, aliás, se vê todos os dias, questão que só o Espiritismo pode explicar pela pluralidade das existências.
Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duráveis, se fortificam pela purificação e prosseguirão no mundo dos Espíritos, por meio das muitas migrações da alma; as segundas, frágeis como a própria matéria, acabam com o tempo e, muitas vezes, se desfazem moralmente já na existência atual. Foi isto o que Jesus quis ensinar naquele momento dizendo aos seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos, ou seja, minha família pelos laços do Espírito, pois quem quer que faça a vontade de meu Pai que está nos Céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de São Marcos, que diz terem eles a intenção de prender Jesus sob o pretexto de que estava fora de si. Jesus, informado da chegada de seus parentes e sabedor do que pensavam a seu respeito, aproveita a oportunidade para transmitir aos seus discípulos o ensinamento sobre o ponto de vista da família espiritual: Eis meus verdadeiros irmãos, e, como sua mãe se achava entre eles, generaliza o ensinamento.
Não devemos de nenhuma forma entender, entretanto, que sua mãe, segundo o corpo, não Lhe era nada como Espírito, ou que tinha por ela indiferença; sua conduta, em outras ocasiões, comprova suficientemente o contrário.

PROVAS E EXPIAÇÕES NO LAR

Sendo o planeta terrestre um mundo ainda relativamente primitivo de provas e expiações, é natural que, na maioria dos grupamentos familiares, apresentem-se os sofrimentos de vária ordem, convidando a reflexões e ao trabalho de iluminação interior.
Como a reencarnação tem por finalidade o desenvolvimento dos valores que dormem inatos no espírito, os equívocos e as mazelas que o acompanham como resultado das experiências infelizes do passado, apresentam-se como necessitados de retificação, expressando-se em forma de sofrimentos os mais diversos.
Podem manifestar-se em caráter expiatório, através dos processos mais graves das enfermidades degenerativas, na surdez, na cegueira, na mudez, na paralisia, nos distúrbios mentais irreversíveis, ou em forma de provações de que se fazem instrumento as doenças infecto-contagiosas, os acidentes, as dores morais, os distúrbios psicológicos, os transtornos de conduta, a solidão, os conflitos...
São poucas as famílias, nas quais a dor não se apresenta convidando ao amadurecimento espiritual e à compreensão mais profunda a respeito da superior finalidade existencial.
Muitas pessoas supõem que a existência terrestre é uma encantadora viagem ao país da ilusão, uma experiência enriquecida somente de prazeres e de gozos, sem recordar-se da sua transitoriedade, dos fenômenos que a todos se apresentam, diluindo as fantasias e convocando à realidade.
Desse modo, o sofrimento é o amigo silencioso que se infiltra no espírito, a fim de que o mesmo se eduque ou se reeduque, desenvolvendo-lhe os latentes sentimentos do amor, da compaixão e da caridade, a fim de enriquecer-se dos tesouros inalienáveis que conduzirá após o decesso tumular. São esses recursos que constituem propriedade real, porque acompanham aqueles que os possuem, enquanto todos os outros ficam transformados em lembranças na memória de quem os utilizou, passando de mãos na Terra.
Constitui, portanto, dever dos pais, o esclarecimento aos filhos sobre as vicissitudes do caminho evolutivo.
As conversações edificantes em torno da Divina Justiça, dos compromissos morais que são assumidos pelos que se encontram reencarnados, as provas e os testemunhos que todos experimentam, são de alta significação moral e espiritual para a saudável formação da personalidade da prole.
Demonstrar que essas ocorrências são perfeitamente normais, nunca se tratando de punições estabelecidas por Deus, que se comprazeria em ver sofrer aqueles que se encontram desequipados de valores para os procedimentos corretos, é dever inadiável.
Quando, por acaso, na constelação familiar exista algum exemplo de expiação, deve-se torná-lo preciosa lição de vida, não apenas para o padecente, mas para todos os membros, que se deverão unir, a fim de atenuar os sofrimentos daquele que se encontra necessitado de ajuda. Essa providência desenvolve em todos a coragem e o respeito à vida, eliminando temores e diluindo ilusões em torno da matéria, principalmente quanto à sua fragilidade.
Tal comportamento serve de lição viva para aqueles que fazem parte da família, compreendendo que, a avezita tombada do ninho pelo infortúnio aparente, encontra-se no hospital da solidariedade, no qual receberá apoio e compreensão, a fim de recuperar-se da melhor maneira possível, para os futuros vôos que deverá alçar...
Não foi uma injunção casual que trouxe o ser amado com limites, tornando-o encarcerado numa prisão sem grades, mas acontecimentos que tiveram lugar em tempo próximo ou remoto, no qual os atuais familiares desempenharam papel importante. Ninguém renasce num grupo consangüíneo, em situação penosa, sem que existam razões preponderantes para o cometimento libertador.
Esse, que ora jaz no leito, em processo depurativo, liderou cometimentos infelizes, havendo atraído para a ação nefasta, essoutros que agora o recebem e devem auxiliá-lo na libertação.
Tudo se enquadra com perfeição nos processos iluminativos através das aflições.
Ninguém, portanto, que experimente qualquer tipo de dor sem uma causa anterior que o explique, que o justifique.
O lar, desse modo, é o santuário de união, no qual se retificam situações penosas e ações odientas.
Aquele familiar que, de certa forma, inspira animosidade, que se faz perverso, agressivo, em relação aos demais membros, solicita, sem o pedir, compaixão e misericórdia, por cuja aplicação os seus sentimentos doentios são minorados pelas vibrações emitidas pelos demais membros do clã. Ao invés da revolta e do desejo de desforço, que muitas vezes despertam nos demais, a caridade deve ser a reação, como bálsamo para quem a oferece e bênção em favor daquele a quem é dirigida.
Não poucas vezes, sob expiações as famílias desagregam-se, quando mais deveriam estruturar-se, em face da ignorância espiritual que representam essas ocorrências, que dão lugar a ódios e lutas penosas entre os seus membros.
Sob outro aspecto, à medida que as provações ocorrem em muitos lares, a revolta se aninha nos corações e o desapontamento invade o pensamento daqueles que as experimentam, quando deveriam meditar em torno do fato, procurando entender-lhe a razão, para melhor enfrentar a situação perturbadora.
A família é reduto de trabalho coletivo, no qual todos têm o dever de ajudar-se. Quem se encontra melhor informado, mais facilidade dispõe para contribuir em favor do esclarecimento daquele que ignora.
O lar, nem sempre se apresenta como um reino de júbilos, mas quase sempre como um campo de batalha no qual espíritos litigantes, adversários de"ontem ou amantes frustrados do passado, reencontram-se para as transformações emocionais que se fazem necessárias sob a inspiração do amor.
Filhos ingratos e calcetas são antigas vítimas do desequilíbrio dos pais atuais, que os recebem, a fim de santificarem o relacionamento pela paciência e pela afabilidade, compreendendo-lhes as ofensas e as rebeldias em que se comprazem. Isto, porém, não justifica que os mesmos sejam cobradores impenitentes, porque não estão isentos também de culpa e de gravames.
É por isso que a lei da caridade deve viger em todas as situações difíceis.
Quando não se sabe como agir em relação aos graves desafios do ódio e da agressão, que se pergunte à caridade qual o melhor procedimento a aplicar.
Com essa disposição, a família consegue desempenhar o papel de lar, de escola, de oficina, de hospital, de santuário, onde os espíritos se recuperam, aprimorando o caráter e fortalecendo as energias para cometimentos ainda mais severos no futuro.
A conscientização dos filhos pelos pais devotados, em torno dos processos de dor e de angústia, de ocorrências infelizes e de insucessos de qualquer procedência, contribui valiosamente para a harmonia doméstica e a preparação das gerações novas em relação ao porvir.
Provas e expiações são programas estabelecidos pela lei de Causa e de Efeito, para o progresso do espírito, nunca se olvidando que o ser pequenino, assinalado por umas ou outras conjunturas penosas, é viajante antigo do carreiro evolutivo, agora em fase infantil, no rumo do futuro.

Livro Constelação Familiar – Médium Divaldo Franco – Espírito Joanna de Ângelis.

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